Palavras-chaves: Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA); Ensino de Jovens e Adultos; Permanência de jovens na escola.



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Transcrição:

TECENDO ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Rafaela dos Santos Alves Oliveira Este trabalho apresenta observações e reflexões construídas acerca do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) baseadas na inserção, como bolsista de iniciação à docência do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), do Curso de Pedagogia da UERJ/Maracanã, na área de Educação de Jovens e Adultos, através da qual pude observar, e participar, do cotidiano e das práticas docentes e discentes de uma escola da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, parceira do PIBID. A pesquisa empreendida na escola parceira tem como subsídio estudos de autores que abordam o PEJA, desde sua criação como Projeto de Educação de Jovens - PEJ, e outros que analisam o processo de ensino de jovens e adultos inseridos no PEJA, como também, os resultados, ou os impactos, do PEJA considerando sua dimensão como política pública do campo de Educação de Jovens e Adultos. A metodologia adotada para a obtenção de dados é a abordagem qualitativa desenvolvida através da realização de trabalho de campo e observação participante de atividades no espaço de sala de aula, bem como entrevistas semiestruturadas com participantes selecionados. As análises empreendidas até o momento indicam que há dificuldades que dizem respeito à permanência de alunos, principalmente dos jovens, que evadem da escola contribuindo, desse modo, para uma alternância de alunos no Programa de Educação Jovens e Adultos. A partir das observações três pontos foram destacados neste trabalho: o motivo da criação do Programa de Educação de Jovens e Adultos - PEJA; como acontece o programa nas escolas e quais são as suas questões atuais. Este trabalho pretende contribuir para as reflexões em relação às problemáticas encontradas na Educação de Jovens e Adultos no município do Rio de Janeiro. Palavras-chaves: Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA); Ensino de Jovens e Adultos; Permanência de jovens na escola.

2 1. Do PEJ ao PEJA O PEJA, Programa de EJA do município do Rio de Janeiro, surgiu em 1985 como PEJ (Projeto de Educação Juvenil).Segundo Ribeiro (1986), a proposta inicial do PEJ era não apenas deflagrar um processo de alfabetização que leve a uma utilização consciente do código gráfico, mas formar, entre jovens, uma consciência crítica do mundo e da sociedade (p. 77). O objetivo do PEJ era atender os jovens das classes populares, entre 15 e 20 anos, que nunca estudaram e/ou abandonaram a escola com o antigo primário incompleto. Em concordância com a nova demanda, que era a procura do adulto para iniciar ou concluir o Ensino Fundamental, o Conselho Municipal publicou o Parecer 06/2005 que incluiu o adulto, motivou a ampliação da oferta de vagas e contribuiu para o oferecimento do Programa de Jovens e Adultos - PEJA, no horário diurno. O PEJA atende tanto o jovem quanto o adulto mantendo a função de reparação, voltada para aqueles indivíduos que, no seu tempo, não tiveram acesso democrático à educação básica. Este atendimento destina-se a pessoas a partir dos 14 anos de idade que possuem interesse em iniciar ou continuar o Ensino Fundamental. O PEJA é organizado da seguinte forma: PEJA I BLOCO I BLOCO II Corresponde do 1º ao 5º Ano do Ensino Fundamental PEJA II BLOCO I BLOCO II Corresponde do 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental

3 Cada bloco possui a duração de 9 (nove) meses. No PEJA II cada bloco possui 3 (três) Unidades de Progressão (UPs), com duração de 3 (três) meses cada. Vale ressaltar que é opção da Direção implantar o programa na escola, ou seja, nem todas as escolas do município do Rio de Janeiro oferecem o PEJA. O espaço físico, o calendário escolar e o uso do uniforme seguem o padrão do ensino regular. O diferencial é que os alunos podem realizar matrícula em qualquer período do ano letivo. O horário de entrada é flexível, embora com limites, pois há muito alunos que trabalham e não possuem autorização para sair mais cedo. A compreensão da escola permite que esses alunos tenham um horário de tolerância maior que o comum do ensino regular. 2. Questões atuais A partir de entrevistas semiestruturadas com participantes selecionados de uma escola que oferece PEJA e a participação como ouvinte do Curso de Formação Continuada para Professores do PEJA, oferecido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, na qual a maioria dos professores possui mais de 8 (oito) anos na EJA e pertencem a diversas Coordenadorias Regionais de Educação do município do Rio de Janeiro - CRE's, foi possível perceber que algumas questões são pertinentes na EJA. Na apresentação que farei de trechos das entrevistas realizadas com esses professores, os nomes dos entrevistados e da unidade escolar foram preservados. Uma das problemáticas encontradas no PEJA é a presença do aluno adolescente que, muitas vezes, mostra desinteresse e não possui a ideia de pertencimento à EJA. Pesquisadora: Há dificuldades em lidar com alunos adolescentes no PEJA? Diretora Adjunta: Sim. Uma questão que vem complicando é a questão dos menores de 18 anos e assim, por conta de que, muitos não querem, vem porque os pais estão obrigando... Uma coisa é ensinar quem quer e quando se quer fica tudo mais fácil. Outra coisa é conseguir fazer com que esse aluno sinta interesse em aprender... (Rio de Janeiro, noite de 21 de agosto de 2014, entrevista com a diretora adjunta de uma unidade escolar que oferece o PEJA)

4 Esses adolescentes, oriundos do ensino regular, geralmente ficam retidos no 6ª ano do Ensino Fundamental, em defasagem série e idade, e são incentivados, pela Direção escolar, a passarem para o noturno. No PEJA eles não possuem uma ideia de pertencimento pois vieram do ensino diurno, em que o cotidiano escolar se difere do noturno. Muitas vezes esses alunos possuem potencial no aprendizado, mas, por não possuírem a frequência mínima para a aprovação, são reprovados. Os professores sentem dificuldade para lidar com esses alunos. Na participação do Centro de Estudos, em que os professores da U.E se reúnem para dialogar sobre as problemáticas da escola e suas possíveis soluções, o grande questionamento da professora de Matemática, PEJA II, era que: se o PEJA tem como objetivo de reparar, por que reter esses alunos que possuem grande potencial? (Rio de Janeiro 15 de agosto de 2014 sexta-feira). Na escola pesquisada vemos a divisão entre o docente que possui um olhar de reparação, com metodologia voltada pra EJA, e outros engessados nas práticas de ensino. Apesar da proposta de avaliação afirmar que a mesma deve ser contínua, percebi que alguns professores adotam, como instrumento de avaliação, testes e provas, em que o método se aproxima do ensino regular. A questão da aprendizagem também necessita ser observada quando se trata dos alunos matriculados na EJA. Alguns deles encontram-se há dois, quatro, cinco anos no mesmo bloco/série e, muitas vezes não há esperança, neles e em seus professores, de que sejam aprovados ao final do ano letivo. Isto significa que estar na escola para estes alunos serve muito mais como um modo de socialização do que como oportunidade de realizar aprendizagens significativas almejadas por todos aqueles que retornam à escola na idade adulta ou nela ingressam pela primeira vez (SILVA, 2012, p. 2).. O professor possui dificuldades em adaptar a aula que atenda a todos os ritmos de aprendizagem, pois são diversas faixas etárias e isso influencia, pois há os alunos adolescentes e jovens que vieram, há pouco tempo, do ensino regular diurno e precisam estudar à noite por ter alcançado a idade máxima no Ensino Fundamental regular, ou seja, estão dando continuidade ao seu processo de escolarização. Por outro lado têm os

5 alunos adultos e os alunos idosos que estão há anos e/ou décadas sem estudar. Como estão retornando aos estudos, possuem maiores dificuldades e necessitam de mais tempo para compreender determinados conteúdos. Os motivos que levam o adolescente e/ou o jovem a estudar no PEJA se difere das necessidades dos adultos e/ou dos idosos, que, por sua vez, procuram a escola por necessidades de alfabetização, promoção no trabalho e até mesmo por socialização, o "estudo por estudar". De acordo com Fávero e Brenner (2007) O desafio de construir um trabalho pedagógico que possa atender todas as expectativas e condições destas diferentes faixas etárias não está dissociado do desafio de criar condições favoráveis para que o relacionamento entre estes sujeitos seja positivo e produtivo. A presença crescente de jovens na EJA tem trazido novas questões que demandam preparo dos professores para enfrentá-las. Uma destas questões diz respeito a adolescentes e jovens em conflito com a lei que precisam, obrigatoriamente, voltar a estudar (p. 12) Pesquisadora: Na escola há alunos que são encaminhados do DEGASE ou outro Abrigo? Diretora Adjunta: Sim. Pesquisadora: Quais são as problemáticas relacionadas a esses alunos? Diretora Adjunta: A dificuldade em lidar com esses adolescentes do PEJA que vem do Abrigo com ordem judicial, é o receio dos professores desses alunos influenciarem os outros, embora muitos desses alunos não são delinquentes. A maioriasão realmente abandonados pelas famílias, ou porque os pais morreram ou são usuários de drogas, mas infelizmente depois que são matriculados não chegam a cinco aulas assistidas, sempre evadem...o Abrigo que estão com a guarda desses adolescentes fazem a matrícula e os levam no primeiro dia, ficando a cargo do próprio aluno nos dias seguintes ir e voltar sozinho da escola, o abrigo não acompanha a frequência escolar desses alunos. (Rio de Janeiro, noite de 21 de agosto de 2014, entrevista com a diretora adjunta de uma unidade escolar que oferece o PEJA)

6 A escola possui dificuldades em lidar com esses alunos do Abrigo, no entanto não há suporte da Secretaria Municipal de Educação. A direção dos Abrigos é falha, não acompanha o cotidiano escolar desses sujeitos e sabem-se da ausência do aluno pelo fato da escola procurar saber o que está ocorrendo. A alternância de alunos do Programa faz com que se tenha matrículas abertas durante todo o ano. A relação de frequência e permanência do adulto e idoso se difere do jovem. As dificuldades encontradas pelos adultos e idosos se diferem dos adolescentes/jovens. 5 Pesquisadora: Qual é a relação de frequência e permanência dos alunos do PEJA? Diretora Adjunta: A permanência é o trabalho e saúde em relação aos adultos e idosos e a frequência tem muito mais problema com o aluno novo, que geralmente vem ao portão a escola e voltam pra casa... Muitos chegam em casa falando que não tem aula... (Rio de Janeiro, noite de 21 de agosto de 2014, entrevista com a diretora adjunta de uma unidade escolar que oferece o PEJA) No cotidiano da escola pude perceber que há maior índice de adultos e idosos no PEJA I, na qual os professores relataram que esses sujeitos permanecem a mais de 8 (oito) anos na mesma classe. As especificidades do PEJA precisam ter um olhar crítico, não apenas pelos docentes como, também, pela S.M.E. Os adultos e idosos insistem em seu aprendizado, enquanto os jovens desistem pois ainda não têm a consciência da importância da escola para sua vida. [...] o PEJA também apresenta taxas importantes de evasão e retenção, tal como ocorre na modalidade EJA de modo geral (SILVA, BONAMINO E RIBEIRO, 2012, p. 373). Outra questão preocupante no PEJA é a inclusão dos alunos com necessidades especiais que não possuem laudos. O professor não possui auxiliar na turma e esses sujeitos que não possuem laudo não estão amparados pela lei. No entanto, a escola consegue perceber que esse discente necessita de atendimento especializado, ou o aluno se nega a procurar ajuda ou família finge não perceber que se precisa de ajuda

7 médica. A escola possui sala de recursos em que podem participar alunos que possuem laudo ou não, porém as aulas são no contra turno, dificultando a ida do aluno noturno. Os professores do PEJA não possuem nenhum curso de formação para esta atendendo este aluno da inclusão. Ao participar de uma aula do PEJA I Bloco II, a professora logo me diz que possui três alunos com necessidades especiais porém sem laudo e com olhar desesperado ela me pergunta: Como eu avalio estes alunos sem laudo? A única forma que encontro é trabalharem grupos... Não posso alfabetizar todos os dias, tenho que caminhar com a matéria. Rio de Janeiro, 5 de junho de 2014, conversa com uma professora do PEJA II, Bloco I. Os professores se sentem frustrados por não alcançar esses alunos com êxito, além das dificuldades cotidianas que o aluno possui em permanecer na escola, há a questão dos alunos com necessidades especiais, que precisam de uma atenção especializada e o docente de mãos atadas dá continuidade ao ano letivo enquanto estes sujeitos permanecem por anos na mesma turma, despercebidos pela Secretária de Educação. A escola não possui infraestrutura física e pedagógica para esta atendendo os alunos da inclusão. Não há rampas de acesso, saída de emergência, banheiro para deficiente físico, a sala de recurso foi improvisada pela escola na qual as sextas feiras é usada para os centros de estudos. A Secretaria de Educação não fornece materiais pedagógicos para que se faça um trabalho apropriado com os alunos especiais, pois consideram uma sala pequena e inadequada para ser considerada uma sala de recurso. Os materiais pedagógicos são confeccionados pelos professores e/ou comprados por eles e pela coordenação da escola. A escola apresenta um número significativo de alunos com necessidades especiais no PEJA que, em sua maioria, não possuem laudos médicos. A ausência de suporte pedagógico para os professores em relação aos alunos com necessidades especiais faz diferença no desenvolvimento da aula. De acordo com Silva (2010)

8 Mais do que o esforço individual das escolas, é preciso que as secretarias forneçam subsídios matérias e pedagógicos para que as escolas façam suas escolhas e trilhem um caminho de adequação às necessidades dos seus alunos e reconhecimento de seu papel como instituição capas de fazer a diferença nas trajetórias escolares dos mesmos (p.10). O trabalho em conjunto das secretarias com as escolas é essencial para que a escola, não só com estrutura física, mas também com o pedagógico consolidado, para que os professores tenham confiança em desenvolver um trabalho articulado com os alunos do PEJA. Pesquisadora: Na sua visão, qual a importância do PEJA para esta Comunidade Escolar? Diretora Adjunta: Toda né! É um resgate... Minha surpresa maior foi logo que eu entrei. No início do ano em fevereiro a gente comemora o aniversário da cidade, e ai... Quem aqui é carioca? Levanta o dedo. Era eu e mais um. A ingenuidade minha foi perguntar quem era carioca, depois eu perguntei quem era de outro estado que não fosse Rio ou São Paulo e foi uma chuva de alunos da região Nordeste. E pra minha surpresa no PEJA há muitos nordestinos e mineiros, cariocas são alguns. O PEJA é um resgate de vida de muitos que não tiveram oportunidades... Fiz um trabalho de poesia em que as mãos falavam e falei que iria fazer igual a Educação Infantil. E quando eu ia pegando na mão de cada um vinham as histórias... ah professora essas mãos já mexeram muita massa / ah professora! essa aqui já usou muita enxada... Ou seja, uma atividade que tinha uma importância e um significado tornou-se um relato, um simples gesto de esticar a mão e passar a tinha... Foi tão significativo que esquecerei jamais... (Rio de Janeiro, noite de 21 de agosto de 2014, entrevista com a diretora adjunta de uma unidade escolar que oferece o PEJA) A participação da diretora Adjunta é contínua nesta Unidade Escolar, no entanto a vejo como a equipe pedagógica que é ausente na escola, não há Orientadora Educacional e Pedagógica no PEJA. Segundo Silva (2010)

9 [...] Não basta somente administrar burocraticamente a escola, preenchendo quadros e assinando papéis, é preciso também conhecer o funcionamento da escola e intervir nele. Isso não quer dizer que as questões administrativas (administração dos recursos pedagógicos, por exemplo) não tenham sua importância na escola, mas a gestão pedagógica (capacidade de envolver toda a escola no processo de ensino e aprendizagem) é considerada decisiva para a verificação da capacidade de liderança (p.4). A escola deverá trabalhar para que a dicotomia que a sociedade impõe seja desfeita e questionada, sempre é a escola, pois ela tem uma função imprescindível no meio social, é ela que qualifica, conscientiza o indivíduo para as questões atuais. As práticas escolares contribuem para a socialização dos conhecimentos e valores, devendo ela atingir cada um com êxito, valorizando e compreendendo a realidade da EJA. O sucesso escolar estar conectado com a construção da democracia de vida social. Os alunos do PEJA vem com a auto estima muito lá embaixo... Ou sofreram na vida escolar quando pequenos as frustrações de não ter aprendido ou de repente ouviram professores e falas que os levaram a desistir ou realmente não tiveram a chance de estar numa escola na época que deveriam... (Rio de Janeiro, noite de 21 de agosto de 2014, entrevista com a diretora adjunta de uma unidade escolar que oferece o PEJA) 3. Conclusões finais O PEJA possui suas falhas e suas demandas, é necessário que a Secretária Municipal de Educação trabalhe em conjunto com as Unidades Escolares. A EJA tem carência de espaço físico para práticas educacionais fora da sala de aula, projetos educacionais que atendam às necessidades dos discentes. Os alunos do PEJA possuem baixa autoestima e há o abandono das políticas governamentais para atender esses sujeitos que chegam cansados do trabalho e insistem em seu aprendizado. O fracasso escolar no PEJA é camuflado, não há preocupação com o sucesso escolar desses alunados. O corpo docente da escola é solitário, pois não há retorno da CRE quando a escola precisa de alguma ajuda para atender a Comunidade Escolar.

10 As histórias de vida que se encontram no PEJA precisam ser valorizadas. Os alunos carregam consigo mais conhecimento do que a escola pode oferecer. Deve ser uma troca de saberes em que ninguém sai perdendo. Cada sujeito possui sua peculiaridade que deve ser respeitada. O PEJA não poderá ser igual ao Ensino Fundamental Regular, pois essas especificidades serão normatizadas e o objetivo do Programa será perdido. Referencias Bibliográficas FÁVERO, Osmar & BRENNER, Ana Karina. Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA).Caxambu, ANPED, 2006. RIBEIRO, Darcy. O livro dos CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1986. SILVA, Jaqueline Luzia; BONAMINO, Alicia Maria Catalano de e RIBEIRO, Vera Masagão. Escolas eficazes na educação de jovens e adultos: estudo de casos na rede municipal do Rio de Janeiro. Educ. rev. vol.28 n.2. Belo Horizonte. Jun. 2012.pp.367-392. SILVA, Jaqueline Luzia. Eficácia Escolar na Educação de Jovens e Adultos: Um Estudo Sobre Permanência e Desempenho no PEJA do Município do Rio de Janeiro.Disponível em: <www.catedraunescoeja.org/gt01/com/com019.pdf> Acesso em: 30de agosto de 2014

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