22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental



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Transcrição:

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina VI-051 BARRAGEM DO RIO PIRAPAMA-PE: ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL NA FASE DE CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO Clélia Freitas de Araujo(1) Engenheira Civil UFPE, Especialização em Recursos Hídricos UFPE, Especialização em Gestão e Controle Ambiental UPE, Mestranda em Tecnologia Ambiental UFPE. Gerente de Controle de Qualidade e Coordenadora do Grupo de Meio Ambiente da Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA. Maria do Carmo Sobral(2) Engenheira Civil UFPE. Especialização em Planejamento Urbano e Regional (Universidade de Dortmund, Alemanha). Mestre em Saneamento (Universidade Waterloo, Canadá). Doutorado em Planejamento Ambiental (Universidade Técnica de Berlim, Alemanha). Professora do Departamento de Engenharia Civil da UFPE. Vice- Coordenadora do Mestrado de Gestão e Políticas Ambientais da UFPE. Fábio Henrique Soares de Oliveira(3) Engenheiro Civil pela UNCAP. Pós-graduado em Recursos Hídricos pela UFPE e Gestão e Controle Ambiental pela UPE; Treinamento no Reino Unido em Monitoramento Hidrológico; Engenheiro da Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA, atualmente desenvolvendo atividades nas áreas de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Empresa. José Carlos de Oliveira(4) Técnico em Química pela ETEPAM. Curso de Avaliação de Impacto Ambiental em Obras de Saneamento pela CPRH. Técnico da Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA. Integrante do grupo de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da COMPESA.

Endereço(1): Av. 17 de Agosto, 742 apto 2101, Casa Forte, Recife-PE CEP: 52060-590 Brasil Fone: (81)3441.4093/2596 Fax: (81)3441.2596 e-mail: cleliafreitas@terra.com.br RESUMO Este trabalho apresenta a experiência de Pernambuco no processo de gestão ambiental referente à construção e operação da barragem do rio Pirapama, que tem como objetivo assegurar o adequado abastecimento de água da Região Metropolitana do Recife. A análise da situação amb iental das medidas propostas nos estudos e programas ambientais realizados possibilita identificar os ganhos obtidos, bem como verificar o que ainda precisa ser feito para a melhoria da gestão ambiental da área em foco. PALAVRAS-CHAVE: Gestão ambiental, gestão participativa, construção de barragem. INTRODUÇÃO A Região Metropolitana do Recife apresenta, atualmente, um déficit de 40% no abastecimento de água. Para suprir essa demanda, a Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA construiu a barragem sobre o rio Pirapama que vai regularizar uma vazão de 5,13 m3/s. A bacia do Pirapama caracteriza-se por sua singularidade ao apresentar balanço hídrico crítico em certas épocas do ano, propiciando a existência de conflitos pelo uso das águas, até porque há 24 indústrias ali estabelecidas. Além do mais, cerca de 90% da área da bacia hidrográfica - que originalmente era de Mata Atlântica, foi desmatada para dar lugar à cultura da cana de açúcar. Outro fator preocupante é a qualidade das águas, comprometida por descartes de efluentes industriais e esgotos sanitários sem tratamento no rio. Salientase, ainda, que 248 famílias residiam na área em que o lago foi formado, necessitando a relocação das mesmas. Diante desse cenário, a obra foi realizada e, em atend imento às exigências do órgão ambiental, foram elaborados, além do Estudo de Impactos Ambientais EIA, o Plano Básico Ambiental - PBA, contendo 5 (cinco) programas ambientais e 3 (três) estudos ambientais específicos sobre a qualidade da água do rio Pirapama. É importante salientar que a existência do Comitê de bacia hidrográfica do rio Pirapama permitiu que o licenciamento ambiental desta obra fosse realizado conjuntamente com discussão com os seus membros, fato pioneiro no estado de Pernambuco. Além do mais, o referido Comitê teve um papel fundamental como facilitador dos conflitos sociais existentes devido à desapropriação e remanejamento da população.

Assim sendo, o presente trabalho tem por intuito apresentar sucintamente os programas e estudos, realizando uma análise do desenvolvimento dos mesmos. A partir dessa avaliação, procurou-se mostrar os benefícios e resultados alcançados dos programas que foram realizados e, finalmente, sugerir ações para a implementação dos demais, de forma que haja uma contribuição efetiva para o desenvolvimento sustentável da região. METODOLOGIA UTILIZADA O trabalho iniciou-se com a caracterização da área de estudo e do perfil sócio-econômico da população atingida com a construção da barragem. Em seguida, foi realizada uma consulta à legislação ambiental vigente, enfocando as Leis e Resoluções do CONAMA que versam sobre as questões ambientais inerentes ao tema. Após diversas visitas ao local do empreendimento e à área afetada pelo mesmo, procurouse verificar quais os programas propostos que foram implantados, após uma análise detalhada dos programas e estudos elaborados. Finalmente, diante do levantamento realizado, o trabalho foi concluído com a apresentação das medidas indicadas para promover melhores condições amb ientais ao território em que a barragem do Pirapama está inserida. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO EMPREENDIMENTO O rio Pirapama possui uma extensão aproximada de 80 km e com uma bacia hidrográfica na ordem de 600 km2, ocupando parte dos municípios de Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca, Moreno, Escada, Vitória de Santo Antão e Pombos. Tem sua nascente acerca de 450 m de altitude, no município de Pombos (Agreste Pernambucano), sendo formado por vários tributários, destacando-se por suas dimensões os rios Gurjaú, Cajabuçu, Macacos, Utinga de Cima e Arariba. Os dados gerais do empreendimento estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1: Características Gerais do Empreendimento Curso d água barrado Rio Pirapama Área da bacia hidrográfica 341,5 Km2 Área da bacia hidráulica

689,7 há Volume de acumulação 60.937.000 m3 Vazão regularizada total 6,93 m3/s Vazão regularizada para a RMR 5,13 m3/s Tipo do Barramento C.C.R. - Concreto Compactado a Rolo Extensão pelo coroamento 195,0 m Largura do coroamento 4,0 m Altura máxima com fundação 42,0 m Tipo do vertedor Central Largura do vertedouro 73,0 m Volume do maciço 74.000 m3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As obras para a construção da barragem sobre o rio Pirapama, iniciadas ao final da década de 80, tiveram uma duração de três anos, quando os trabalhos foram suspensos e somente retomados no início do ano de 2000, sendo concluída em novembro de 2001. O Estudo de Impacto Ambiental EIA da barragem, elaborado em 1989, já apontava como principais impactos negativos os conflitos sociais devido à desapropriação e relocação da população a ser remanejada; a alteração na qualidade da água em decorrência das fontes poluentes, fertirrigação e utilização de agrotóxicos, principalmente na atividade sucroalcooleira; o assoreamento do reservatório e os danos à flora e à fauna. Com o reinício da obra, foram elaborados os programas e estudos ambientais apresentados, a seguir, com o intuito de minimizar aqueles impactos previstos. A situação atual quanto à implantação dos programas encontra-se na Tabela 2 e os mesmos encontram-se detalhados a seguir. Tabela 2: Implantação dos Programas Ambientais. Programas Em andamento Concluído Reassentamento da população local X Limpeza da Área a ser Inundada X Recuperação da Mata Ciliar X Enchimento do Reservatório X Monitoramento da Qualidade da Água

X PROGRAMA DE REASSENTAMENTO DA POPULAÇÃO LOCAL Os trabalhos foram dirigidos para: apoio na decisão de reassentamento de pessoas para outras localidades; suporte técnico para encaminhamento da burocracia necessária à adesão ao programa governamental para aquisição de terras; identificação das condições sócio - econômicas das comunidades atingidas pela barragem através de pesquisa contratada; identificação dos plantios e benfeitorias existentes para embasamento das indenizações, através de levantamento cadastral e elaboração de tabelas com valores para indenização das culturas identificadas pelo cadastro; treinamento para a população atin gida em gestão participativa e acompanhamento de um consultor com doutorado em gerenciamento de conflitos. A negociação com os moradores em relação ao pagamento das benfentorias não aconteceu de uma forma tranqüila. Nas primeiras reuniões ocorridas com representantes da COMPESA e os agricultores, os ânimos eram muito acirrados; entretanto, nos encontros subseqüentes, representantes do Comitê de Bacia do Rio Pirapama se integraram ao processo, mediando a gestão dos conflitos e conseguiu-se, finalmente, chegar a um entendimento. Nesta 2ª etapa da obra, a COMPESA pagou cerca de dois milhões de reais em indenizações de plantios e benfeitorias. Como resultados obtidos, 234 famílias foram reassentadas em outras localidades do estado, sendo que 123 delas aderiram ao programa governamental intitulado Cédula da Terra. As 14 famílias restantes foram relocadas próxima à área da barragem e criaram, com o apoio da COMPESA, a Eco-Pirapama Associação dos Produtores Rurais de Pirapama que dentre as suas finalidades está o gerenciamento de recursos para a fiscalização e preservação da área. PROGRAMA DE LIMPEZA DA ÁREA INUNDADA As atividades previstas para este programa ambiental objetivaram promover a limpeza de toda a extensão da área a ser inundada pelo reservatório, a partir da retirada de todas as possíveis fontes de contaminação. Para a prevenção de problemas afetos à qualidade da água do reservatório, foi realizada a remoção da cobertura vegetal existente em toda bacia hidráulica, incluindo as culturas e outras fontes de nutrientes, em particular a retirada das socas, decorrentes da existência da cana de açúcar. O programa também incluiu a remoção de todas as formas de edificações, como: casas, estábulos, fossas, escombros e outras formas de entulhos porventura existentes.

PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR Este programa foi concebido respeitando as determinações da legislação das diversas instâncias pertinentes. A faixa determinada para a mata ciliar no entorno de toda a bacia hidráulica da barragem foi de 100 metros, totalizando uma área em torno de 600 ha. O programa está em andamento e, para a sua execução, a COMPESA implantou uma Sementeira, com a construção de uma sede, para a produção das mudas. Em outubro de 2002, através de um Termo de Comodato, a COMPESA cedeu a área destinada ao reflorestamento para a Associação Eco-Pirapama e celebrou um convênio com a mesma, para que as ações de recomposição da mata ciliar fossem realizadas. Já foram produzidas cerca de 20.000 mudas. PROGRAMA DE ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO Este programa contemplou o planejamento de medidas de segurança que garantem as perfeitas condições físicas da obra, bem como estabeleceu parâmetros de controle de vazões que permitiram o atendimento dos usuários a jusante do reservatório, além da manutenção de uma vazão ecológica. Desde a época da construção da barragem que está sendo mantida, no mínimo, uma descarga a jusante de 1,8 m3/s, em concordância com o Termo de Outorga emitido pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos. PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA Esse programa teve como objetivo promover o acompanhamento dos padrões quantitativos e qualitativos da água, com avaliações periódicas dos parâmetros físico-químicos, bacteriológicos e hidrobiológicos. Desde 1997, a COMPESA vem realizando periodicamente campanhas de medição de descarga, tendo sido instalados cinco equipamentos de registro de nível (data-logger). Concomitantemente, iniciou-se o monitoramento qualitativo, tendo sido incorporada a análise da água do reservatório quando do seu enchimento. ESTUDOS PARA AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE EUTROFIZAÇÃO DAS ÁGUAS DA BARRAGEM PIRAPAMA

Foram realizados estudos para avaliação dos impactos na qualidade da água da barragem do rio Pirapama, decorrentes da fertirrigação e do assoreamento do reservatório, com aquisição e aplicação de um modelo matemático. Obteve-se com resultado que a qualidade da água do reservatório do rio Pirapama está intrinsecamente relacionada aos aportes de cargas orgânicas. Desta forma, foram recomendadas as seguintes medidas: aumento da freqüência de amostragem espacial e temporal de dados da qualidade da água, utilização de descarregadores de fundo para a liberação dos excessos de volumes acumulados no reservatório e desenvolvimento de ações de controle e redução de aporte de cargas orgânicas (domésticas e industriais) e inorgânicas (fertirrigação). Ressalta-se que esta última ação ainda não foi atendida. ESTUDO DA HIDRODINÂMICA DO BAIXO-PIRAPAMA (A JUSANTE DA REPRESA) Inicialmente, foram avaliadas as alterações da qualidade e quantidade da água a jusante da barragem até o estuário. O estudo mostrou que as piores situações em termos de sua qualidade da água estão sistematicamente associadas ao período de estiagem. Durante o verão, observaram-se baixas capacidades de diluições dos efluentes orgânicos e inorgânicos lançados no manancial. Já no inverno, estes aportes são bastante reduzidos, pois há uma maior diluição das cargas geradas. Foram sugeridas ações para minimizar os possíveis impactos ambientais da regulagem da vazão do rio a jusante: aumentar o número de estações de monitoramento, inclusive dentro da região estuarina, bem como a freqüência de coleta para que o modelo utilizado seja aferido sistematicamente; diminuir os aportes de cargas orgânicas e inorgânicas no manancial. Essas recomendações ainda não foram colocadas em prática. ESTUDO DA HIDRODINÂMICA DO ALTO -PIRAPAMA (A MONTANTE DA REPRESA) O trabalho teve como objetivo a realização dos estudos de modelagem da qualidade das águas do trecho do rio localizado a montante do barramento. Foi utilizado um modelo matemático para análise da capacidade de autodepuração de corpos d água submetidos aos efeitos do lançamento intenso de cargas orgânicas e inorgânicas. Foram consideradas cinco cargas pontuais e quatro aportes distribuídos ao longo do trecho do Alto-Pirapama. As etapas de calibração e validação do modelo foram realizadas, utilizando-se informações obtidas em campo e características dos períodos seco e chuvoso. Em seguida, foi possível obter uma primeira adequação do código numérico às condições reais de funcionamento do trecho do rio Pirapama situado a montante do barramento. Para dar continuidade ao processo de calibração e validação, foi recomendado um aumento, tanto na freqüência espacial das estações fixas de monitoramento, quanto na freqüência temporal da coletas.

A utilização desta ferramenta, devidamente calibrada e validada com dados atualizados em campo, será de grande importância na análise de alternativas de contro le e redução gradual dos aportes poluentes ao reservatório da barragem do rio Pirapama. CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES O aproveitamento do rio Pirapama para reforço do abastecimento integrado da Região Metropolitana do Recife é bastante necessário. No entanto, é muito importante também a execução de todas as ações que visem uma gestão adequada da sua bacia hidrográfica, não somente devido à necessidade de se ter água com uma qualidade dentro dos padrões aceitáveis para o abastecimento humano e com garantia da sua quantidade prevista, mas também para contribuir com a conservação e gestão dos recursos hídricos, assegurando a proteção florestal e o adequado uso e ocupação do solo. Para tanto, recomenda-se que os estudos relativos à qualidade da água ora apresentados sejam efetivamente utilizados pelo órgão de controle ambiental como instrumento para avaliação e fiscalização do grau de poluição do rio Pirapama e dos seus tributários, tanto a jusante como a montante do barramento, tendo em vista que os modelos matemáticos utilizados podem ser realimentados com os dados obtidos através do monitoramento quantitativo e qualitativo, o que torna imperativa a implantação de novas estações, conforme indicado nos estudos de hidrodinâmica do Alto e Baixo -Pirapama. Propõe-se que além do tratamento do esgoto doméstico, ações voltadas para redução do aporte de cargas orgânicas e inorgânicas industriais sejam efetivamente realizadas pelo órgão ambiental competente em parceria com as fontes poluidoras. Outra sugestão é incentivar a integração da Associação Eco-Pirapama com o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Pirapama na busca de linhas de financiamento específicas para a proteção ambiental; pois, unindo-se os esforços de todos os atores envolvidos, é possível alcançar uma gestão ambiental adequada, com ganhos nos mais diversos segmentos, caminhando na direção do desenvolvimento sustentável e, conseqüentemente, na melhoria da qualidade de vida da população. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMPANHIA PERNAMBUCANA DE SANEAMENTO COMPESA. Estudos de impacto ambiental da barragem do rio Pirapama. Recife: COMPESA 2v. 1989. GAMA, a. M. de F. Diagnóstico ambiental integrado da bacia do Pirapama. Recife: CPRH/DFID, 1999.

LOFEC/DOCEAN Laboratório de Oceanografia Física, Estuarina e Costeira do Departamento de Oceanografia da UFPE. Estudos da dinâmica do rio Pirapama -PE a montante e a jusante da barragem e de modelagem matemática para avaliação da fertirrigação e de seu impacto na qualidade da água da barragem do rio Pirapama PE. Recife, 2000. GEOSISTEMAS - Engenharia e Planejamento, Plano básico ambiental - PBA da barragem do rio Pirapama. Recife: 2001.