Como as grandes empresas poupam na energia



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Transcrição:

ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 5460 DE 5 DE JULHO E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Eficiência ENERGÉTICA Como as grandes empresas poupam na energia Chev Wilkinson/cultura/Corbis/VMI As dez formas para poupar energia Governo apresenta em Setembro novo plano para eficiência energética Opinião de oito responsáveis que traçam a estratégia para Portugal PUB

II Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA É JÁ AMANHÃ que vai decorrer no Hotel Tivoli Lisboa a partir das nove horas a conferência Redes do Futuro, promovida pela Rede Eléctrica Nacional (REN). A iniciativa, que tem o apoio do Diário Económico, conta com a participação de George Gross, especialista em Energias Renováveis, e ainda de Artur Trindade, Secretário de Estado da Energia (na imagem). Governo apresenta em Setembro novo plano eficiência energética O objectivo é adaptar as novas metas à conjuntura económica, reforçando a aposta nesta área de negócio. Da União Europeia vêm também ventos de mudança. ANA MARIA GONÇALVES ana.goncalves@economico.pt Aaposta na eficiência energética é uma inevitabilidade. Quer por imposição comunitária, quer para fazer face à actual crise económica. A revisão do Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE), aprovado em 2008, encontra-se com um ano de atrasado e só será apresentado em Setembro, depois de concluída a consulta pública que está a decorrer, avança a Agência para a Energia (ADENE). O Governo quer adequá-lo à nova realidade (redução do consumo, excesso de oferta e restrições de financiamento), sem comprometer os objectivos fixados pela União Europeia, os mesmos que se preparam agora para também ser revistos em baixa. A palavra de ordem do Executivo é eliminar as medidas ou metas que nunca foram cumpridas ou que tiveram baixo impacto e recentrar esforços em medidas actuais ou novas de baixo investimento e alto impacto. O novo alvo recai num corte do consumo total de energia em 25% (o equivalente a 22,5 milhões de tonedas de petróleo), com o Estado a dar o exemplo, prevendo uma redução de 30%. Até agora, o PNAEE previa uma meta ambiciosa:10%deaumentodeeficiênciaenergética entre 2008 e 2015 em Portugal, contra 9% da União Europeia, para o mesmo horizonte temporal. A fasquia de Bruxelas, para 2020, era de 20%. O último relatório de execução do PNAEE, divulgado pela ADENE e datado de Maio de 2011, revela que dos 12 programas que o integravam foi possível quantificar, em 2010, poupanças em 37 das 48 medidas. Estas resultaram na economia de 345.786 tonelada de petróleo equivalente, representando 19,3% do objectivo de 2015. A sua intervenção abrangia desde a área dos transportes, residencial e serviços, passando pela indústria, Estado e aquilo que é designado por comportamentos. A implementação acumulada das medidas, nos anos 2008, 2009 e 2010, traduziu-se na redução de 657.244 tonelada de petróleo equivalente, o que permite concluir, segundo a ADENE, que já se atingiu 36,7% do objectivo para 2015. O reiterado recurso à importação de combustíveis de origem fósseis como o carvão, o gás ouopetróleo, sujeitos a grandes oscilações de preços, obriga Portugal a racionalizar o consumo de energia. Os números falam por si: Portugal apenas produz cerca de 15% da energia que consome. Para esta performance contribuiu sobretudo a área dos transportes e residencial e serviço. O Estado, por seu turno, é um dos campos onde tarda a introdução de medidas de eficiência energética. O programa Eco AP, que pretende reduzir a factura energética dos edifícios do Estado, está parado há mais de um ano. A sua publicação em Diário da República ocorreu em finais de 2010. A Associação Portuguesa de Empresas de Serviços de Energia defende que o Estado poderia poupar um milhão de euros porsemanasejátivesselançadooecoap. O reiterado recurso à importação de combustíveis de origem fósseis como o carvão, o gás ou o petróleo, sujeitos a grandes oscilações de preços, obriga assim Portugal a introduzir medidas adicionais para diminuir e racionalizar o consumo de energia. Os números falam por si: Portugal apenas produz cerca de 15% da energia que consome. Eficiência energética negligenciada, afirmam especialistas A eficiência energética, por ser um processo moroso, com pouca visibilidade imediata e implicar uma mudança de mentalidades, tem sido, segundo várias fontes contactas pelo Diário Económico, negligenciado pelos diversos governos e encarada como um parente pobre nas opções de política energética. A ameaça de esgotamento das reservas de combustíveis fósseis, a pressão dos resultados económicos e as preocupações ambientais fazem com que a eficiência energética seja encarada como uma das soluções para equilibrar o modelo de consumo existente e para combater as alterações climáticas. Segundo fonte oficial da Quercus, Portugal e outros Estados-membros tentaram enfraquecer as recentes propostas da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu nesta matéria. A proposta de Directiva de eficiência energética, apresentada pela Comissão Europeia e aprovada pelo Parlamento Europeu, apresentava um objectivo de redução do consumo de energia primária de 20%, em 2020, muito acima dos 14,5% sugeridos pelo Conselho Europeu. O acordo alcançado, que deverá ser votado em Julho pelo Parlamento Europeu, fixou esta meta em 15%. NASA

Quinta-feira 5 Julho 2012 Diário Económico III AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PME) portuguesas são as que mais tomam medidas para poupar energia, de acordo com o Eurobarómetro que avalia a sustentabilidade nestas companhias. Segundo o documento, 88% das PMEs portuguesas estão a tomar medidas de eficiência energética a percentagem mais alta de toda a Europa, à frente de Espanha (87%) e Reino Unido (83%). A CONFEDERAÇÃO Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) rejeita o aumento das tarifas de electricidade e gás natural a que as micro, pequenas e médias empresas vão estar sujeitas com a liberalização do mercado, alegando que consubstanciam um forte constrangimento à sua subsistência, aumentando as insolvências, cujos efeitos são incontroláveis. Mundo MONITORIZAR O AMBIENTE A Agência Europeia do Ambiente (AEA), a Esri e a Microsoft apresentaram recentemente na Cimeira Eye on Earth, que decorreu no Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a Rede Eye on Earth (Eye on Earth Network). O projecto visa criar uma comunidade online para desenvolvimento de serviços inovadores que mapeiam parâmetros ambientais. No seu lançamento, esta nova comunidade online vai fornecer três serviços: o WaterWatch que utiliza os dados da AEA sobre a água e os recursos hídricos; o AirWatch, que utiliza os dados da AEA sobre a qualidade do ar, e o NoiseWatch que combina os dados ambientais com a informação fornecida pelos cidadãos utilizadores. Rio+20 reforça aposta na economia verde O encontro envolveu 193 nações, que terão ainda de formalizar os pontos aprovados. >> CORTES NA ILUMINAÇÃO Portugal estará certamente maisescurodoquenestafotografia de satélite publicada pela Nasa em 2005. São hoje várias as autarquias que tiveram de cortar na iluminação pública para poupar nos gastos energéticos. Mas não só. A eficiência forçada devido ao aumento dos preços da energia e ao contexto económico também levou empresas e consumidores agastarmenos. Os resultados da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que se realizou em Junho, não são consensuais, apesar de esta ter conseguido colocar a temática na agenda política e mediática. Do encontro era esperado um impulso para a erradicaçãodapobrezaeatransiçãomundial para uma economia verde. Ficou-se pela definição de 281 pontos que precisam agora de ser assinados pelas delegações presentes. Apesar de reconhecerem avanços, ambientalistas,governoeuealegamqueoencontroonde estiveram as 193 nações que compõe a ONU pecou por falta de medidas que favorecessem a implementação de planos de actuação concretos. A anfitriã do evento, a chefe de Estado brasileira, Dilma Rousseff, garante, no entanto, que foi dado um passo histórico na criação de um mundo mais justo, para que a pobreza seja erradicada, e o meio ambiente protegido. Já o primeiro-ministro português, Passos Coelho, aproveitou a cimeira do Rio+20 para realçar que, em anos recentes, 50% da electricidade foi proveniente de fontes de energia renováveis e que várias empresas nacionais estão hoje entre as mais avançadas em termos de ecoeficiência e ecoinovação. Da lista de medidas destacou as políticas ambientais destinadas a uma maior eficiência energética, a aplicação de critérios ambientais nas políticas de taxação relativas a veículos automóveis e uma política de contratação pública mais verde, bem como a incorporação de biocombustíveis nos transportes. A.M.G. Recuperar a economia é fácil A economia verde é um conceito que já entrou no vocabulário dos governantes internacionais. É o caso do presidente dos EUA. No ano passado, Barack Obama lançou o desafio e disponibilizou dois mil milhões de dólares para que os edifícios do governo federal introduzuissem medidas de eficiência energética. Medidas estas que irão auto-sustentar-se. Esta e outras iniciativas de Obama seguem o lema de que a eficiência energétca é a forma mais fácil, rápida e barata de criar emprego, poupar dinheiro e cortar na poluição. I.M.

IV Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA O PRESIDENTE DA COMISSÃO Europeia, José Manuel Durão Barroso, elogiou esta semana a presidência dinamarquesa por ter colocado na agenda um pacto que confirma a necessidade do crescimento acompanhar a estabilidade, e ainda o trabalho em termos de crescimento verde, designadamente os avanços em matéria de eficiência energética, escreve a agência Lusa. Custo vai continuar a subir, com ou sem défice tarifário A Plataforma Mais Eficiência Energética para Portugal revela as dez medidas que considera essenciais no caminho para a eficiência. IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt S ão oito associações na área da eficiência energética que se batem por mais e melhores medidas nesta área. A Plataforma Mais Eficiência Energética para Portugal, que reúne as representantes de cerca de 700 empresas com um volume de negócios na ordem dos 1.000 milhões de euros, quer ajudar na definição de estratégias de actuação e intervenção pública na área da eficiência energética e também na produção descentralizada de fontes renováveis. A constituição da plataforma que reúne associações de sectores diversos como o solar, fotovoltaico ou até mesmo das janelas eficientes, decorreu em Abril deste ano. Na altura, anunciavam como uma das iniciativas mais urgentes uma reunião com o secretário de Estado da Energia. Porém, três meses volvidos a reunião ainda não foi marcada. Ao Diário Económico, em entrevista por escrito e assinada pelas oito associações, revelaram quais são as dez medidas que consideram ser essenciais para tornar o país mais eficiente a nível energético: 1 Conhecer detalhadamente os consumos de energiaeacontribuiçãodaproduçãolocalpara satisfazer esses consumos. É necessário medir mais e melhor o nosso consumo e produção energética nos edifícios uma vez que só se consegue gerir o que se conhece. Nas nossas casas ou empresas, raramente sabemos quanto consumimos para os diferentes serviços de energia de que gozamos; no entanto sabemos quanto gastamos em mobilidade. 2 Objectivo de total liberdade de escolha pelo consumidor, capacitando-o para se tornar num prosumer consumidor e produtor com ou sem investimento partilhado e motivando-o a fazer o melhor uso possível da sua energia. 3 Informar de forma transparente os consumidores sobre as tendências de evolução dos preços da energia. Os tempos da energia barata terminaram e o custo vai continuar a subir, com ou sem défice tarifário; com ou sem liberalização de mercado. 4 Assumir a reabilitação urbana como objectivo estratégico de renovação nas cidades: sem novas construções, devemos aproveitar os recursos disponíveis para melhorar o edificado, intervindo sobreasuaenvolventeesobreossistemasdeprodução local de energia; 5 Publicar os regulamentos de desempenho energético (RCCTE e RSECE) revistos, acautelan- EMPRESAS APlataformaparaa Eficiência Energética reúne oito associações que representam um universo de 700 empresas. 700 empresas VOLUME DE NEGÓCIOS Estas 700 empresas têm um volume de negócios na ordem dos mil milhões de euros. Todas actuam na área da eficiência energética. 1.000 milhões de euros APLATAFORMA Sãooitoasassociaçõesna Plataforma para a Eficiência Energética: APISOLAR, ANFAJE, APESF, AGEFE, APIRAC, AFIQ, ANPEB e APESEnergia. 8associações do as recomendações das empresas do sector. É fundamental que os nossos edifícios consigam responder ao desafio do conforto térmico com o menor recurso possível a tecnologias activas pela intervenção em elementos da sua envolvente, como as janelas ou os isolamentos. 6 Rever, publicar e fiscalizar a implementação do Sistema de Gestão de Consumos Intensivos deenergianaindústria.oâmbitodeveser alargado, aumentando o número de empresas que ficam sujeitas à condição de melhorarem o seu desempenho energético. Deve-se também assegurar que é preferencial a introdução de tecnologias que façam uso dos recursos endógenos nacionais. Finalmente, é necessária mais e melhor fiscalização: a certificação energética e o cumprimento ou não das normas para grandes consumidores passarão a ser motivo de competitividade, sendo essencial promover o mérito e a excelência de processos. Sem fiscalização quem ganha são os incumpridores; 7 Criar linhas de crédito de apoio ao investimento para implementar medidas de eficiência energética e de produção local de energia. O fomento à produção de negawatts e de watts verdes tem retorno garantido e valoriza os edifícios, pelo que deveriam ser suficientes garantias do próprio edifício para as executar; 8 Manter o Fundo de Eficiência Energética (FEE) activo e com dotação. Foram lançados esta semana os primeiros avisos para o FEE. É uma notícia esperada há mais de um ano. Esperemos que seja possível concentrar no FEE os fundos do QREN, JESSICA e do PPEC por utilizar. 9 Operacionalizar o programa ECO.AP. Os edifícios do Estado poderiam poupar cerca de 1 milhão de euros por semana com medidas de EE, no entanto o programa ECO.AP continua sem ter o quadro regulamentar fechado, apesar do decreto-lei ter já ter sido publicado há mais de um ano. É essencial este arranque mas com disponibilidade de linhas de crédito ou do FEE para as ESE poderem assumir riscos; 10 Qualificar e credibilizar as ESE. As Empresas de Serviços de Energia (ESE) são essenciais para intermediar o financiamento e credibilizar a obtenção de poupanças garantidas, através dos contratos de performance. É essencial que este sistema seja publicado e possa ser utilizado para agilizar a selecção e execução de projectos. Paulo Figueiredo

Quinta-feira 5 Julho 2012 Diário Económico V DESDE 29 de Junho que estão abertas candidaturas para o desenvolvimento de projectos e iniciativas que promovam a eficiência energética nas áreas Residencial e Indústria. As candidaturas vêm na sequência da aprovação do Plano de Atividades do Fundo de Eficiência Energética. O enfoque será sobre a instalação de colectores solares térmicos e de janelas eficientes para edifícios com certificado energético. SÃO ELEVADORES eficientes que prometem fazer reduzir a factura ds electricidade em 75%. O grupo Ascensores Enor lançou em Portugal um leque de soluções que tanto pode ser utilizado em elevadores novos como adaptado nos já existentes. Deve-se a um sistema que consiste na última geração de máquinas de tracção, associadas a um sistema de regeneração. A presidente da APISOLAR, Maria João Rodrigues, é uma das participantes da Plataforma Mais Eficiência Energética para Portugal. PME MELHORIA E EFICIÊNCIA O projecto Efinerg foi lançado no ano passado em co-promoção pelo IAPMEI, AEP e o LNEG e é dirigido às PME com consumos anuais de energia situados entre as 250 e as 500 tep (tonelada equivalente de petróleo), localizadas nas regiões Norte, Centro e Alentejo e dos sectores metalomecânico, agro-alimentar, têxtil e vestuário, cerâmica e vidro e madeira, mobiliário e cortiça. Entre os objectivos do projecto estão o lançamento de uma estratégia sectorial que facilite a implementação das medidas para melhorar a eficiência energética das empresas, bem como o apoio a estas para a concretização das metas fixadas no PNAEE (Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética). As 10 formas de poupar energia Plataforma para a Eficiência revela quais são as melhores formas para as empresas não gastarem tanto. Concentre-se no seu negócio. Desafie os especialistas em energia. Existem empresas portuguesas com credenciais internacionais prontas a responder ao seu desafio. Use a Plataforma para as contactaresaberquemsão; Conheça os seus consumos. Realize uma auditoria energética externa; Implemente um sistema de gestão de energia que o apoie a analisar consumos e a optar pelas soluções mais eficientes; Certifique-se energeticamente. Conheça em detalhe as medidas de racionalização de consumos aplicáveis e siga os planos resultantes. Seja ambicioso, ouse ser uma empresa A++; Desligue tudo o que não está a usar. Ficará espantado com o que lhe custam os aparelhos em standby, os elevadores sem regras, a iluminação permanente nas casas de banho ou garagens... A energia maisbarataéaenergiaquenãosegasta; Ligue tudo... o que precisa para garantir qualidade nos seus produtos ou serviços; ou a criação de ambientes propícios à optimização da produtividade dos seus trabalhadores. Eficiência energética não significa perda de qualidade, mas sim a suamanutençãoouatémesmoaumento reduzindo o consumo de energia; Não ponha os ovos todos no mesmo cesto. Em matéria de energia é bom garantir alguma independência nas suas decisões pelo que suspeite de planos que o aprisionam a fornecedores de energia base (electricidade, gás, diesel) e que o obrigam a uma fidelização superior a 12 meses. Pode estar a hipotecar o seu futuro e a possibilidade de ser mais eficiente e mais eficaz nas suas escolhas; Considere produzir a sua própria energia. Valide se consegue produzir parte ou a totalidade da energia que precisa de forma renovável; Implemente um Programa de Alteração Comportamental face ao desperdício de energia na sua empresa. Se já conseguiu implementar a reciclagem agora é altura de ser mais eficiente com a energia. Existem dezenas de medidas a propor. Como ponto de partida investigue as boas práticas dos finalistas do concurso Green Campus (www.greencampusportugal.info); Partilhe o risco com uma ESE. As ESE, além de especialistas de energia que o ajudam a escolher a melhor solução, estão disponíveis para arriscar consigo no seu programa de melhoria, prestando garantias das poupanças a atingir. I.M.

VI Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA O que fazem as maiores consumidoras As indústrias que mais consomem energia estão sempre atentas a tudo quanto as possa ajudar a poupar. IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt SAIBA O QUE FAZEM E QUANTO POUPAM AS GRANDES EMPRESAS PONTOS-CHAVE 1. Na SN Longos, há vários responsáveis com acesso online ao consumo energético da empresa. 59% CIMPOR Grande consumidora de energia, a Cimpor tem uma empresa própria que ajuda a desenvolver projectos de poupança: a CimporTec. Ao longo dos anos foram inúmeros os projectos que ajudaram nesta busca pela eficiência. Em 2011, o peso da energia eléctrica nos custos variáveis de produção da empresa era de 22% e o peso da energia térmica 59%. Enquanto a electricidade é adquirida à rede, a térmica é conseguida através da queima de coque de petróleo e de combustíveis alternativos como farinhas animais ou pneus usados. Em Souselas e em Alhandra prevê-se que durante o primeiro semestre deste ano a taxa de subsitituição térmica chegue aos 20%. As medidas de eficiência são inúmeras e decorrem desde os anos 80. 20% PORTUCEL-SOPORCEL A energia pesa 20% nos custos de produção da papeleira. Mas a Portucel-Soporcel é simultaneamente responsável por cerca de 4% da produção, a partir de biomassa, do total de energia eléctrica em Portugal. Também no grupo a biomassa é a fonte mais utilizada (70% do total), seguida do gás natural com mais de 26% e pelo fuel. Para poupar, o grupo tem adoptado equipamentos mais eficientes no desenvolvimento de novos projectos. A eficiência é fulcral para a empresa, e é por essa razão que está a desenvolver um programa de eficiência energética com uma consultora internacional um projecto que permitirá atingir uma poupança de energia eléctrica superior a 8.400 MWh e de cerca de 50 mil GJ/ano em combustíveis. 2. A Solvay afirma que com os aumentos que a energia eléctrica tem tido em Portugal, há um perigo real de deslocalização de produções para Espanha. 3. Na Cimpor a utilização de 91.500t de combustíveis alternativos em 2011 levou a uma redução de 155.000t de CO2. 4. Na Portucel Soporcel foram instaladas caldeiras e turbinas de elevada eficiência e é usada a biomassa como fonte energética. 50% SOLVAY Nos processos electrolíticos da Solvay Portugal, o peso da energia eléctrica chega a ultrapassar os 50%. A Solvay Portugal, que tem uma fábrica que trabalha em contínuo na produção de produtos químicos de base para indústrias como a da pasta do papel, do vidro ou do têxtil utiliza electricidade e vapor, mas também antracite, coque e fuel óleo. A competitividade da empresa tem sido conseguida através do recurso à eficiência energética, utilizando equipamentos e processos muitas vezes antes dos outros países europeus. Entre as tecnologias mais utilizadas pela empresa está o das células de electrólise, que recorrem à tecnologia de membrana, muito mais eficientes na utilização da energia eléctrica. 43% SIDERURGIA NACIONAL Na SN Longos, no Seixal, a energia pesa 43% dos custos de transformação. As duas fábricas da SN, no Seixal e na Maia, funcionam em contínuo com paragens nas horas de ponta do calendário eléctrico. Todos os consumos são controlados informaticamente e analisados de forma contínua, estando toda a informação disponível em rede para análise em qualquer ponto das fábricas. Com os aumentos dos custos, a energia eléctrica passou a representar cerca de 30% dos custos de transformação. Ao longo dos anos instalaram-se sistemas de controlo dos consumos de todas as energias consumidas, instalaram-se equipamentos com variadores de frequência, recuperadores de calor nos gases dos fornos, entre muitos outros. ENTREVISTA OLIVEIRA BAPTISTA, DIRECTOR EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS INDUSTRIAIS GRANDES CONSUMIDORES DE ENERGIA ELÉCTRICA Liberalização do mercado energético é um logro O representante das grandes empresas industriais consumidoras de energia eléctrica revela que a liberalização do mercado em nada ajudou a aumentar a concorrência entre as eléctricas. Como se caracteriza a Associação? A associação reúne empresas que devido ao peso da energia que gastam têm uma preocupação muito grande com esta área. Quanta energia eléctrica consomem as empresas que fazem parte da associação? Oconsumonacionaldeenergiaeléctricaéactualmente da ordem de 50 TWh por ano. As nossas associadas consomem 9% deste valor. Ou seja, 4.500 GWh, o que corresponde também a 25% do consumo industrial em Portugal. Os consumos já foram maiores. Tem, no entanto, havido decréscimo devido ao contexto económico. Qual é o peso que a energia tem nas vossas associadas? Ocustodaenergiaédepelomenos10%do custo final de produção. Porém, em alguns A APIGCEE abrange empresas como a Cimpor, a Cuf, a Portucel, a Repsol Polímeros a Secil, a Siderurgia Nacional, a Solvay ou a Sociedade Mineira de Neves Corvo. Em 2011 a factura anual de energia eléctrica destas empresas foi superior a 270 milhões de euros. sectores e produtos, constitui uma matériaprima e chega a ultrapassar 50%. É um factor de custo pesado e o facto da energia ser mais cara em Portugal coloca estas empresas em desvantagem com as de outros países. Em Portugal, as nossas empresas pagam pela energia eléctrica mais 20 a 25% que em Espanha. As estatísticas do Eurostat confirmam-no? Os consumos dos grandes consumidores industriais não constam do Eurostat. Além disso, as estatísticas utilizam preços de referência. E não incluem as remunerações por interruptibilidade, que em Portugal podem atingir um máximo de 15 euros por MWh, enquanto em Espanha podem atingir 20 euros/mwh. Os máximos são mais fáceis de atingir em Espanha porque estão indexados ao preço de mercado de electricidade, o que não acontece em Portugal. Em Portugal, a possibilidade de atingir o máximo é por isso muito mais difícil, o que só por si provoca agravamentos na ordem dos sete ou oito euros por MWh. Como comenta o aumento de preços e a próxima liberalização do mercado? A nós já não nos atinge porque o nosso mercado já tinha sido liberalizado. Vai atingir sim os pequenos consumidores. Mas para nós a liberalização do mercado é um logro. Primeiro, porque não existe um mercado. Não basta que haja consumidores. Na verdade não existe mercadoporquesóhámercadoseexistirconcorrência. Em minha opinião, o mercado só poderá existir se houver um importante reforço da interligação entre a Espanha e a França, no quadro dum futuro mercado interno europeu. Por outro lado, somos contra a forma como é determinado o preço da energia eléctrica, segundo a qual, em cada hora, todas as centrais são remuneradas pela que apresenta preço mais caro e que fecha o preço horário. Esta forma só serve o interesse das companhias eléctricas. Em que sectores acha que ainda pode haver ganhos energéticos? Fundamentalmente nos transportes, no sector público e no sector residencial, ainda há muito por fazer. No entanto, são os sectores onde foi sempre mais difícil intervir. I.M.

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VIII Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A instalação de contadores inteligentes é uma forma de controlar os gastos energéticos. Arquivo Económico Cortar nos consumos não é se faz com passes de mágica. A Galp Energia tem projectos concretos e um deles prevê que seja desenvolvido um campus sustentável juntamente com o Instituto Superior Técnico. Paulo Alexandre Coelho Produtoras de energia apostam em eco-soluções A Galp e a EDP tem vindo ao longo dos últimos anos a colocar o mercado da eficiência energética no seu radar. ELISABETE FELISMINO elisabete.felismino@economico.pt Omercado da eficiência energética aparece cada vez mais na cartilha das empresas nacionais. Quem parece estar atenta a esta realidade são as grandes produtoras energéticas, casos da Galp e da EDP. A petrolífera nacional, tendo em conta o desenvolvimento de projectos de eficiência energética, lançou Galp Soluções de Energia em 2009. Esta unidade do grupo Galp Energia está orientada para a redução dos custos energéticos e das emissões de Co2 dos seus clientes. A Galp garante que os benefícios dos projectos implementados até agora, nos sectores de actividade mais diversos, são partilhados com os seus clientes permitindo inclusive minimizar o investimento inicial desses mesmos clientes. A empresa garante que tem vindo a conquistar cada vez maior número de clientes nos mais diversos sectores de actividade. Entre os clientes estão o hotel Corinthia, o primeiro energeticamente eficiente é a Emel, com a qual a Galp desenvolveu o primeiro parque de estacionamento energeticamente eficiente e ainda o Instituto Superior Técnico, com o qual celebrou um protocolo para o desenvolvimento de um campus energeticamente sustentável. Mas as iniciativas da empresa liderada por Ferreira de Oliveira não se ficam por aqui. Já em EDP A empresa liderada por António Mexia acaba de anunciar um investimento de 20 milhões para a eficiência energética. 20 milhões de euros GALP O Ecoposto assegura, de acordo com o projecto piloto, uma poupança energética de 20%. 20% de poupança energética PROGRAMA ESTATAL O Eco.AP, programa estatal, contempla 330 intervenções até 2015. 330 edifícios 2007 a empresa desenvolveu o programa Galp 20-20-20 que coloca bolseiros de mestrado nas áreas de engenharia em mais de 100 empresas portuguesas clientes da Galp. Também a nível interno a petrolífera tem adoptado medidas de eficiência energética através da modernização de tecnologias, que permitem a redução do consumo de energia e de emissão de gases poluentes. Em Junho de 2009, a Galp lançou o Ecoposto, cujo objectivo é desenvolver e implementar medidas de optimização energética nas estações de serviços através de soluções sustentáveis. A aplicação do Ecoposto assegura, de acordo com o projecto piloto, uma poupança energética de 20%. No caso da EDP, a mais recente aposta na área da eficiência energética passa pelo save to compete, um programa que visa promover e apoiar a implementação de grandes projectos de eficiência energéticas nas empresas nacionais. Para este programa a EDP disponibilizou 20 milhões de euros. Tendo em conta a dinamização deste programa, a EDP e a CIP assinaram um protocolo de cooperação. O save to compete assenta num modelo no qual cada projecto é pago por parte das poupanças geradas, sem que a empresa beneficiária tenha a necessidade de investir directamente, não comprometendo, recursos financeiros necessários para a sua actividade. Ainda no âmbito deste projecto, foi também assinado um protocolo entre a EDP e o BPI tendo em vista a criação de mecanismos facilitadores do acesso opcional a financiamento bancário para projectos de eficiência energética. Este protocolo é ainda extensível a outras iniciativas desta área da EDP. Para além desta recente aposta, a EDP - cujas sedesdoportoeafuturadelisboapodemser apontadas como edifícios sustentáveis a nível energético (ver página 16) - lançou em 2007 o ECO EDP. O ECO EDP integra ferramentas, simuladores e medidas de eficiência energética implementadas pela empresa de Mexia ao abrigo do plano de promoção da eficiência no consumo de energia eléctrica (PPEC), promovido pelo regulador energético nacional (ER- SE). A EDP tem levado a cabo projectos ao abrigo do PPEC que envolvem famílias, empresas e a sociedade em geral. Na área da administração pública há também um importante projecto de eficiência energética. A provar esta realidade está a adesão ao programa estatal Eco.AP - programa de eficiência energética na administração pública por parte de uma centena de empresas interessadas em investir em soluções energéticas na Administração Pública. O Eco.AP pretende aumentar em 20% a eficiência energética nos serviços públicos, equipamentos e organismos de administração pública, no horizonte de 2020. Para este ano o programa estatal contempla intervenções em 30 edifícios do Estado e 300 até 2015.

Quinta-feira 5 Julho 2012 Diário Económico IX PUB Indústria automóvel com projectos que ajudam a poupar Gás Natural Fenosa e FIAPAL encabeçam projectos. IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt Vinte empresas da indústria automóvel estão a ser alvo de auditorias energéticas. O projecto chama-se Auto.AR, é direccionado à indústria automóvel e incentivado pela Gás Natural Fenosa (GNF), que avalia assim a pertinência do ar comprimido no contexto da eficiência energética e na redução na factura da electricidade. De acordo com o comunicado da GNF, as análises preliminares efectuadas revelam que 20% da energia usada nos sistemas de ar comprimido é desperdiçada devido a fugas, má utilização ou falta de manutenção. Numa indústria consumidora de média dimensão de ar comprimido, a implementação dos planos de eficiência apontam para uma redução do consumo de energia em 15%, valor que representa 1.884,5 MWh por ano, no universo das vinte empresas inseridas no projecto. Este valor equivale a uma poupança total anual de 140 mil euros. Em termos de emissões de CO2, a poupança é de 33 mil euros em dois anos. Também na área da indústria automóvel mas ainda sem dados concrectos sobre poupanças efectuadas está o projecto que o Fiapal (Fórum da Indústria Automóvel de Palmela), que envolve empresas como a Autoeuropa, está a desenvolver em coordenação com a ENA (Agência de Energia e Ambiente da Arrábida). Ambas as entidades têm conceido apoio às empresas essencialmente ao nível da procura de soluções para o incremento da sua eficiência energética, como afirmou ao Diário Económico fonte do Fiapal. Este apoio tem sido dado na implementação do istema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia e acompanhamento dos respetivos Planos de Racionalização Energética, na realização de seminários que abordam temas como os sistemas de gestão de energia (ISO 50001), o SGCIE ou as energias renováveis, no aconselhamento sobre as melhores práticas ao nível da utilização racional de energia e na analise das condições de funcionamento da rede de distribuição de energia eléctrica. Grande parte das empresas apoiadas são PME. Foi o caso da Imeguisa, PME da região de Palmela. O Fiapal coordenou um projecto de desenvolvimento e configuração de uma plataforma para gestão industrial em que numa das aplicações desenvolvidas pela ISA monitoriza os consumos energéticos em tempo real. Foi ainda implementada uma ferramenta informática da SAP e que na altura ainda não tinha sido lançada no mercado. O projecto foi efectuado no âmbito do plano europeu Apollon, coordenado em Portugal pelo Fiapal. Ainda nesta área, o Fiapal quer ser o consultor da eficiência energética das PME nacionais, tendo com essa perspectiva feito chegar à Comissão Europeia uma candidatura com vista à introdução da norma ISO 50001 - que ainda não foi aprovada - nas PME nacionais. O que é o Auto.AR OAuto.ARéumprojecto criado pela Gás Natural Fenosa, em parceria com a INTELI, o Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel, financiado pelo Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Elétrica e promovido pela ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos. Depois das auditorias, as empresas envolvidas recebem um relatório com as medidas de eficiência energética a implementar, a poupança estimada e o período de recuperação do investimento. O que é o FIAPAL O FIAPAL é o Fórum da Indústria Automóvel de Palmela. Tem cerca de 60 associados, dos quais se destacam a VW Autoeuropa, a Câmara Municipal de Palmela, a Autovision, a Benteler, a Webasto, a Schnellecke, a Continental Lemmerz, o Porto de Setúbal, a Vanpro, a Imeguisa, a T-Systems, a Inapal Plásticos, a Atec, a Dura, entre outros.

X Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA OPINIÃO Eficiência energética para um futuro sustentável A Inteligent Sensing Anywhere nasceu em Coimbra. Hoje, tem escritórios em Espanha, França, Brasil, ReinoUnido,EUAeEgipto. As emissões de CO2 poderiam ser reduzidas de 7,6 gigatoneladas em 2030. Aeficiência energética (EE) apresenta-se como uma ferramenta poderosa e custo eficaz para um futuro sustentável. O incremento em EE pode representar menos investimento em infra-estruturas de energia, redução dos custos com combustível, aumento da competitividade e melhoria do bem-estar do consumidor. A estes benefícios acrescem os ambientais que se traduzem na redução das emissões de gases de efeito estufa e poluição do ar local. A segurança energética através da diminuição da dependência de combustíveis fósseis importados constitui uma outra vantagem. Por estas razões, a eficiência energética tem recebido atenções acrescidas e recomendações de políticas para a sua promoção nos países da Comissão Europeia e da Agência Internacional de Energia (AIE). Uma avaliação da AIE estima que se as medidas previstas forem implementadas globalmente as emissões de CO2 poderiam ser reduzidas de 7,6 gigatoneladas em 2030. Estas políticas incidem fundamentalmente na de eficiência energética e tecnologia em edifícios, equipamentos, transportes e indústria, bem como aplicações de uso final, tais como iluminação. Nesta abordagem são ainda identificadas as melhores práticas. O relatório Energy Technology Perspectives da AIE conclui que sem uma aposta forte na Eficiência Energética o mundo não conseguirá cumprir o cenário 2DS (BlueMap Scenario) que implica permitir apenas um aumento de 2ºC no aquecimento global. Também o RoadMap 2050 da European Climate Foundation chega a conclusões semelhantes. São necessárias políticas indutoras de boas práticas, seja através de incentivos, medidas fiscais ou através de acções que visem a mudança de mentalidades incluindo disseminação direccionada e perceptível pelas diferentes audiências. Todas estas vias são cruciais para o incremento da EE. É preciso transportar esta mensagem para as políticas e que os países consigam, de forma devidamente avaliada, quantificando os impactos, tomar as medidas mais correctas em função das realidades locais e regionais em função do retorno económico e ambiental de médio, longo prazo. Apesar do difícil contexto em que nos inserimos precisamos de fazer um esforço para articular de forma coerente todos os instrumentos que temos à nossa disposição. Inovar pela partilha consciente e responsável do conhecimento com origem nos diferentes actores sejam dos governos, dos reguladores, das autarquias, das agências ou do sistema científico. A partilha da informação e do conhecimento é um bom ponto de partida para o alavancar de resultados. TERESA PONCE DE LEÃO Presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia Apesar do difícil contexto em que nos inserimos precisamos todos fazer um esforço para articular de forma coerente todos os instrumentos que temos à nossa disposição. A cotada que torna as empresas mais eficientes A PME cotada em bolsa ajuda a monitorizar consumos. IRINA MARCELINO irina.marcelino@gmail.com FoiaprimeiraPMEasercotada na bolsa Alternext. E é uma empresa que ajuda outras a tornarem-se mais eficientes a nível energético. Para José Basílio Simões, CEO da Inteligent Sensing Anywhere (ISA), o Estado tem de ser o primeiro a dar o exemplo, implementando medidas que reduzam os seus consumos energéticos. Existe um potencial enorme de poupanças em todos os edifícios do Estado cujo potencial tem vindo a ser adiado com atrasos sucessivos do projecto ECO AP, que pretendia a definição e implementação de políticas de eficiência energética em todos os edifícios do Estado, afirma. Por outro lado, defende, tem que haver maior sensibilidade e informação para esta temática. A educação energética ainda é uma realidade muito distante em Portugal. Nesta área, a empresa tem desenvolvido alguns projectos, como é o caso de um realizadonasescolas comummistodeformaçãoe interacção com software de gestão energética específicos para esta realidade. Temos sentido um efeito muito bom com os alunos a levarem para casa o que lhes é ensinado na escola conduzindo os pais e restante agregado familiar a adoptarem comportamentos energeticamente eficientes. Nas empresas, o responsável da ISA, cuja área dedicada à eficiência energética tem um volume de ne- gócios na ordem dos três milhões de euros, afirma observar uma maior sensibilidade para esta temática com muito empresários sensíveis e dispostos a investir. Para ajudar, a empresa e tem criado modelos de financiamento às soluções que comercializa. A ISA tem vindo a ganhar vários projectos de referência nesta área. Um deles, recente, foi um sistema de monitorização dos consumos energéticos em 20 edifícios e 400 agências de um banco português, através do qual é possível ver os consumos, verificar ineficiências e implementar medidas correctivas. O projecto, revela José Basílio Simões, tem permitido ao cliente obter poupanças superiores a 12% sem que tenham sido necessários investimentos em medidas adicionais. Para o responsável, a aposta na monitorização é, ao contrário de algumas tecnologias denominadas eficientes, um investimento seguro com um payback inferior a dois anos, impensável na maioria da oferta que existe no mercado. A ISA desenvolve soluções de monitorização consumos para o sector residencial e empresarial, que ajudam a perceber o consumo real em cada momento e de cada equipamento. Dentro desta área, a ISA tem apostado em produtos inovadores. O Cloogy, solução para o mercado residencial, e o KiSense, uma plataforma de software para clientes comerciais gerirem todo o seu portfolio de energia, foram tecnologias desenvolvidas em Portugal. Hernâni Pereira

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XII Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Um carro eléctrico não tem a mesma performance que um automóvel movido a gasolina. Veículos REDES INTELIGENTES O projecto Redes Eléctricas Inteligentes com Veículos Eléctricos, desenvolvido pelo LNEG, desenvolve estratégias integradas de gestão e controlo da rede eléctrica e protótipos pré-industriais de dispositivos de interface para os veículos eléctricos (VE) e para os sistemas de microgeração, de modo a potenciar a integração de energias renováveis e de VE no sistema electroprodutor português, sem provocar impactos negativos na exploração do sistema. OPINIÃO Rentabilizar o consumo É essencial limitar os custos energéticos em nome de uma economia competitiva. As empresas confrontam-se com vários desafios, sendo um deles o custo da energia, cuja redução passa pela sua eficiente utilização, eliminando todo o desperdício. Uma gestão energética eficiente, permite assim uma redução dos seus custos operacionais e melhoria da sua rentabilidade. Nos últimos anos um dos factores importantes, com impacto no preço de energia, resultou do significativo aumento das Tarifas de Acesso às Redes. É essencial limitar estes custos, que significam mais de 40% da factura da energia eléctrica, para assegurar uma economia competitiva, nomeadamente no que toca à indústria transformadora. O conjunto de medidas de redução das rendas do sector eléctrico, anunciado pelo governo, quanto ao regime legal da cogeração edagarantiadepotência,entreoutras,éjá um passo nesse sentido. Com o aumento significativo dos custos de energia, as organizações têm portanto de gerir cuidadosamente a sua utilização, estabelecendo os sistemas e processos necessários para a melhoria do seu desempenho energético global, ou seja, na utilização, no consumo e na eficiência energética de uma forma contínua. Amelhoriadaeficiênciapoderáserfeitaatravés de investimentos, por vezes elevados, em equipamentos que utilizem as melhores tecnologias, contudo, é também possível reduzir os consumos, sem investimento, mudando a atitude diária das pessoas. Esta mudança cultural necessita de sensibilização, não necessita de aplicação de capital. Para desenvolver o processo de redução dos consumos energéticos é importante começar pelo Diagnóstico, ou seja, uma caracterização das instalações consumidoras de energia, em todas as suas formas, e identificação dos respetivos potenciais de poupança. Segue-se a realização de uma Auditoria Energética para identificação das condições de utilização de energia e de oportunidades de melhoria do desempenho energético da instalação, com a elaboração e implementação de um plano de racionalização. Assim, a implementação de um sistema de Gestão de Consumos é fundamental para reduzir, monitorizar e controlar os consumos de energia. Aracionalização do consumo de energia nas empresas, mais do que importante, é obrigatória, para que estas se mantenham competitivas, situação essencial para a sua sobrevivência. FILIPE VILLAS-BOAS Vice-presidente da AFIA A racionalização do consumo de energia nas empresas, mais do que importante, é obrigatória, para que estas se mantenham competitivas, situação essencial para a sua sobrevivência. Mobi.e está a exportar para a Noruega Vendas ao exterior devem atingir 50 milhões de euros até 2015. ANTÓNIO FREITAS DE SOUSA antonio.sousa@economico.pt Mesmo não sendo para já, é para muitos a solução do futuro: veículos automóveis movidos a electricidade. E como quem dirige um sector é normalmente aquele que arrisca dar os primeiros passos, o consórcio Mobi.e composto pela Inteli (e o CEIIA), Novabase, Efacec e Cristal Software decidiu avançar com a criação de uma rede de abastecimento de automóveis eléctricos. A estratégia é mais abrangente. Queremos criar um cluster de mobilidade, informa fonte oficial da Inteli, através do qual seja possível mesurar a racionalidade do negócio em termos de criação de empresas, emprego gerado, exportações, projectos internacionais. Para já, os números que a Inteli actualizou a 25 de Junho passado são positivos: Geração de novos negócios da ordem dos 65 milhões de euros até 2015; 15 milhões de investimento em investigação e desenvolvimento público e privado; e redução das emissões de CO2 e da importação de petróleo de 78 milhões até 2020. A rede Mobi.e que inicialmente previa a instalação de 1.300 postos até finais de 2011, o que não foi possível é actualmente composta por 12 empresas envolvidas directamente no desenvolvimento de soluções técnicas; mais dez indirectamente; cinco operadores; 300 pessoas; e conta com o envolvimento da Renault, Nissan e Peugeot e parcerias com a Siemens e a Oracle. Ao mesmo tempo que desenvolve a rede nacional, a Mobi.e já se virou para o estrangeiro, onde tem um projecto em execução na Noruega (instalação de 250 postos de abastecimento) e abordagens aos mercados da China, Brasil, Lituânia e Letónia. A internacionalização já deu os primeiros resultados. Foram gerados cerca de 12 milhões de euros em exportações até 2012 e 50 milhões são estimados até 2015, informa a mesma fonte. Mas o sucesso do sistema ou mais propriamente dos automóveis eléctricos ainda não está garantido: a poderosa indústria dos componentes automóveis (acompanhada pelo sector do petróleo) olha ainda com desconfiança para estes veículos, cuja versatilidade em termos de utilização diária está muito longe de atingir a das viaturas tradicionais. Enquanto as vantagens da electricidade na mobilidade automóvel não estiverem claras para todos, é possível diz a indústria automóvel que o mercado passe por um momento misto: os automóveis híbridos, onde se juntam os motores de explosão com os movidos a electricidade. Seja como for, tanto para a fase híbrida quanto para a fase da electricidade, a Mobi.e está no mercado para dar uma resposta à altura da procura. Paulo Alexandre Coelho

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XIV Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A Revigrés desenvolveu produtos como o Ecotech,, em que 90% das matérias-primas resultam de reaproveitamentos do processo produtivo. 1,7milhões PAINÉIS SOLARES NA RL A Rodoviária de Lisboa instalou painéis solares que dão informação aos passageiros em tempo real do destino e hora de chegada dos autocarros. Ao serem accionados por um comando, prestam informação sonora a quem não consegue ler. Este projecto venceu um prémio do IMTT na área da acessibilidade e soluções inovadoras para os cidadãos com necessidades especiais. Na área da poupança do combustível a RL conseguiu desde 2004, ano em que foi instalado o Gisfrot, poupar 1,7 milhões de litros de combustível e 4.726 toneladas de emissões de CO2. OPINIÃO Utilização racional de energia é prioridade O custo da energia é um dos maiores constrangimentos à actividade da cerâmica. A indústria de cerâmica olha para as questões energéticas com especial sensibilidade, e reage a estes custos com grande preocupação. Embora variando a incidência de custos de energia eléctrica e de gás natural combustível principal, ou biomassa, consoante os diversos sectores desta indústria, ela é sempre elevada. Por esta razão e desde logo, a utilização racional de energia constitui uma prioridade da gestão, que por isso multiplica esforços no sentido de monitorizar a eficiência dos equipamentos e assegurar o melhor rendimento energético. Num passado muito recente a evolução tecnológica não criou grandes avanços que criassem entre os vários países produtores com acesso às tecnologias mais desenvolvidas grandes diferenças de consumos, e as diferenças de custos manifestam-se pelas diferentes tarifas entre países. Não será por isso de estranhar que as empresas de cerâmica em Portugal considerem presentemente a energia, quer no que respeita à qualidade da sua distribuição, quer no que respeita à formação do seu preço e à sua regulação, um dos maiores constrangimentos à sua actividade. A energia usada em Portugal, proveniente em mais de 80% de fontes primárias de origem fóssil, tem sofrido progressivamente aumentos consideráveis no seu preço, com fortes impactos na competitividade das empresas, em particular das PME. Na indústria cerâmica, consumidora intensiva de recursos energéticos, a componente de custos energéticos representa em média mais de 30% do total dos custos industriais, de onde advém, consequentemente, uma forte dependência do custo da energia na economia destas empresas. As políticas públicas têm vindo a focar-se crescentemente na promoção da eficiência energética e na introdução de energias renováveis no sistema energético nacional. Neste cenário, a utilização racional de energia, com a eventual introdução de cenários de cogeração, e o aproveitamento de energias renováveis constituirão sempre uma prioridade para a Indústria. DUARTE GARCIA Presidente da Direcção da APICER Na indústria cerâmica, uma indústria consumidora intensiva de recursos energéticos, a componente de custos energéticos representa em média mais de 30% do total dos custos industriais. Revigrés no caminho da sustentabilidade A cerâmica de Águeda apostou no desenvolvimento de produtos amigos do ambiente e eficientes ao nível energético. SÓNIA SANTOS PEREIRA sonia.pereira@economico.pt ARevigrés, indústria de produtos cerâmicos, imprime no seu quotidiano uma política de sustentabilidade que vai desde a optimização da produção ao desenvolvimento de produtos que garantam uma maior eficiência energética. A competitividade da empresa nos mercados internacionais exige uma atenção constante aos factores energéticos. Afinal, o custo da factura energética pesa cerca de 16% no preço do produto à saída da fábrica. No actual contexto de quebra no crescimento das economias mais desenvolvidas e do abrandamento no crescimento das economias emergentes, os custos energéticos assumem um papel determinante na competitividade das empresas de cerâmica nos mercados internacionais, sublinha a Revigrés. Em Maio, o preço do gás e da electricidade sofreu um agravamento de 24% e 25% respectivamente face ao período homólogo de 2011. A estes aumentos soma-se o impacto dos custos logísticos, fortemente dependente da cotação dos combustíveis, sublinha a empresa. Uma das medidas implementadas para reduzir o valor da factura com a electricidade foi a instalação de uma subestação de energia eléctrica, que permite obter preços mais baixos com um retorno do investimento num prazo de três anos, avança. A Revigrés desenvolve também estratégias de melhorias na gestão, planeamento, processo e logística, com o objectivo de eliminar o desperdício e que lhe têm permitido assegurar a liderança no mercado. A gestão da empresa tem por base o estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras. Segundo adianta, existe a preocupação de adequar os recursos às exigências dos clientes, com a racionalização do plano de produção em função da procura, com a consequente redução do nível de stock e melhoria da sua utilidade, redução do desperdício, optimização dos consumos energéticos e redução das emissões. A cerâmica de Águeda tem também apostado no desenvolvimento de produtos eco inovadores. São produtos que visam promover a sustentabilidade na construção e reabilitação urbana e, por isso, conjugam as funções estéticas com as funções técnicas de eficiência energética, protecção do ambiente e preservação da saúde e bem-estar. Exemplos disso são o Light Tile (metade da espessura e metade do peso do produto tradicional) e o Ecotech (90% das matérias-primas resultam de reaproveitamentos do processo). A Revigrés, que emprega 259 pessoas, facturou no ano passado 36,5 milhões de euros, sendo que as exportações representaram 36% das vendas. Foto cedida por Revigrés

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XVI Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A sede de Lisboa da EDP vai ser construída naavenida24dejulhoeestaráprontaem2013. zero CONSUMO ZERO Este projecto internacional desenvolvido pela Agência Internacional de Energia, visa desenvolver o conceito NZEB-Net Zero-Energy Buildings, de edifícios de consumo zero, estabelecendo os critérios técnicos ao nível da componente do edifício e sua concepção, bem como na integração de sistemas de energias renováveis de forma a perspectivar a sua integração na componente regulamentar de acordo com os desenvolvimentos exigidos pela revisão das Directivas Europeias. OPINIÃO Eficiência energética na construção Em domínios como a competitividade a eficiência energética assume especial relevância. Aeficiência energética ocupa um lugar central nas políticas de desenvolvimento económico, tanto ao nível nacional, como europeu. Esta é uma realidade que, em muito, se deve à dependência energética da Europa, que, só em 2011, importou 280 mil milhões de euros de petróleo. Trata-se de um motivo que contribuiu para o estabelecimento das ambiciosas metas que, até 2020, deverão ser cumpridas, numa estratégia que não visa, apenas, objetivos de poupança ambiental e financeira, mas também a competitividade e a criação de emprego. A própria Comissão Europeia aponta para um potencial de criação de dois milhões de postos de trabalho, com a concretização das referidas metas. Estamos, assim, perante um desafio que, partindo de edifícios mais eficientes do ponto de vista energético, é também uma oportunidade para desenvolver uma área com um elevado potencial.em Portugal, o mercado da construção está em crise profunda, particularmente sentida no segmento habitacional. Em 2011, os fogos licenciados reduziram-se em 32,3%, situação que, fruto da atual conjuntura, se agravou substancialmente. O segmento da reabilitação de edifícios é visto como uma aposta estratégica, capaz de incentivar e de valorizar o mercado imobiliário, com o desenvolvimento de estratégias de eficiência energética. A intervenção de reabilitação é, comprovadamente, o momento mais adequado e eficaz para a introdução de soluções de melhoria do desempenho energético sobre o edificado. Porém, para que assim seja e porque é exigido um relevante esforço financeiro é, não só, essencial a criação de um eficaz sistema de incentivos, como é, de igual modo, fundamental acautelar a implementação das soluções legais, designadamente ao nível do arrendamento, que garantam a sua dinamização. E um verdadeiro mercado do arrendamento exige, tal como sempre tenho afirmado, a agilização dos processos de despejo por incumprimento, que devem correr de forma célere, de modo a dar segurança a quem pretende investir e a implementação de uma taxa liberatória para o arrendamento, garantindo a atratividade deste mercado. Em suma, também a renovação do parque habitacional, energeticamente mais eficiente, faz da reabilitação urbana uma verdadeira prioridade nacional, que não pode continuar adiada. REIS CAMPOS Presidente da Direção da AICCOPN Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas Estamos perante um desafio que, partindo de edifícios mais eficientes do ponto de vista energético, é também uma oportunidade para desenvolver uma área com um elevado potencial. Duas sedes amigas do ambiente EDP aposta na eficiência em Lisboa e no Porto. IRINA MARCELINO irina.marcelino@economico.pt AEDPpretendequeasua nova sede em Lisboa seja ummarcoaníveldesustentabilidade. Para isso ajudaaobtençãodacertificação do Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), sistema de certificação de mérito ambiental líder a nível mundial. O futuro edifício com a assinatura dos arquitectos Carrilho da Graça e Manuel Aires Mateus, vai ter iluminação eficiente, com regulação de fluxo em articulação com a iluminação natural, utilização do potencial geotérmico para a climatização do edifício, painéis solares e ainda um sistema de reaproveitamento de águas pluviais. Queríamos que fosse um dos edifícios de referência na área da sustentabilidade e eficiência energética, afirmou António Mexia, CEO da EDP, em entrevista recente à revista Fora de Série, revista publicada no Diário Económico. O edifício-sede da eléctrica nacional, que será construído na Avenida 24 de Julho e estará pronto no próximo ano, terá oito pisos acima do solo e seis em cave. Da área total de construção, 46.258 metros quadrados, 13.967 metros quadrados são destinados a escritórios, onde se concentrarão cerca de 750 colaboradores. O edifício terá ainda 481 lugares de estacionamento, sendo 172 de utilização pública. TambémasededaempresalideradaporAntónio Mexia no Porto é considerado sustentável: as água subterrâneas são aproveitadas para rega automática, águas sanitárias e lavagens do parqueamento. As casas-de-banho estão equipadas com fluxómetros e torneiras temporizadas para redução de consumos. No querespeitaaoaproveitamenodaenergiasolar e fotovoltaica, há painéis solares térmicos para aquecimento de águas para o restaurante e para os balneários do ginásio e painéis fotovoltaicos aplicados na cobertura e fachada. Nas fachadas deste edifício inaugurado a 13 deabriljuntoàcasadamúsica,hálâminas sombreadoras nas fachadas, motorizadas, que contribuem para a minimização dos consumos energéticos através de ganhos pela redução da iluminação artificial e pela redução das necessidades de arrefecimento ambiente. No novo edifício constituído por dois blocos, com uma área de construção acima do solo de 18.545 m2, onde vão trabalhar 1.100 colaboradores, a iluminação será feita com aparelhos de lâmpadas de baixo consumo, lâmpadas fluorescentes ou led e o a refrigeração com ar condicionado que recupera energia e cujo calor das máquinas ajuda a aquecer a água utilizada. EDP

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XVIII Diário Económico Quinta-feira 5 Julho 2012 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA 3.600 euros TAXIS ELÉCTRICOS Lisboa tornou-se no início do mês na primeira cidade do mundo a incorporar veículos eléctricos na sua frota de táxis. Os dois veículos Renault Fluence Z.E. podem ser vistos nas ruas da capital nos próximos dois meses. Esta iniciativa tem com pano de fundo um protocolo entre a Câmara de Lisboa e a Autocoope, cooperativa de táxis de Lisboa, que escolheram o eléctrico da Renault como veículo para testar em utilização real. A Autocoope prevê poupar seis cêntimos por km e 3.600 euros por ano, aproveitando para testar alternativas aos grandes problemas dos táxis eléctricos: tempo de carga e limitações na autonomia dos veículos. OPINIÃO O último recurso para melhorar a competitividade A indústria do têxtil e vestuário poderia reduzir em 20% os custos em energia. Aindústria do têxtil e vestuário é constituída por subsectores trabalhando em cadeia. Todos com elevados consumos de electricidade e um deles de calor, sendo este propício à instalação de cogerações. A forte componente em renováveis, o acumular de défices tarifários e a grande utilização de gás liquefeito tornam a energia cara. A eficiência energética (EE) resta como último recurso para melhorar a competitividade. A indústria está envelhecida, descapitalizada e desconfiada. Por isso as oportunidades para melhorar a EE são grandes mas os obstáculos também. Destaco os investimentos elevados, com períodos longos de retorno; dificuldade em medir as poupanças. As reduções energéticas são difíceis de quantificar; desatenção. Ao contrário de outros factores, a eficiência energética é relegada para um plano menor; barreiras comportamentais. A habituação a equipamentos obsoletos e o receio dos desafios técnicos; os custos de estudos técnicos para melhorias; os obstáculos criados pelos grandes fornecedores de electricidade, ciosos de manter o seu monopólio, em relação às cogerações; a animosidade contra a cogeração, tentando imputar-lhe a responsabilidade de sobrecustos sem contabilizar os benefícios. Para contrariar estas dificuldades, sugiro para as grandes empresas fundos destinados a financiar investimentos na área energética, após avaliação, empresa a empresa, do potencial de benefício. Para as PME, onde os potenciais de poupança são maiores, fundos geridos pela banca, com o mesmo objectivo, mas baseado num esquema simplificado de avaliação por agentes qualificados; informação e formação para gestores e operadores; promoção do fácil e universal acesso à rede pelos cogeradores; reconhecimento de que a cogeração é omeiomaiseficientedetransformação de energia, certificando-se que as instalações sejam dimensionadas para assegurar as necessidades térmicas. A ITV consome anualmente 330.000 tep s, 6% da indústria transformadora. Uma redução de 20% pouparia 32 milhões de euros. JOÃO PERES GUIMARÃES Associação Têxtil e Vestuário de Portugal A indústria do têxtil e vestuário está envelhecida, descapitalizada e desconfiada. Por isso as oportunidades para melhorar a eficiência energética são grandes mas os obstáculos são-no também. Polopique aposta em painéis fotovoltaicos A têxtil procura reduzir os custos energéticos em todos os investimentos produtivos. SÓNIA SANTOS PEREIRA sonia.pereira@economico.pt APolopique, uma das três maiores exportadoras do sector têxtil português, está a estudar a instalação de painéis fotovoltaicos, medida que irá implicar uma diminuição do peso dos custos energéticos da actividade, avança Teresa Portilha, directora da têxtil. A par desse investimento, a Polopique está prestes a arrancar com a segunda unidade de fiação neste momento em fase final de testes, unidade onde a empresa apostou na aquisição de máquinas novas com consumos de energia optimizados com vista a obter maior produtividade com menor consumo de energia, adianta ainda. Nos últimos anos, todos os investimentos produtivos são pensados para reduzir custos energéticos, seja através da compra de equipamentos mais eficientes ou pela adopção de medidas no processo produtivo que permitam essa poupança, salienta Teresa Portilha. A empresa, especializada em vestuário em malha para senhora, está inserida num grupo económico que integra as áreas de fiação, tecelagem, tinturaria e acabamentos. Como salienta Teresa Portilha, o custo energético pode ter um peso de 25% no produto no caso da tinturaria e acabamentos e a rondar os 20% no caso da tecelagem e fiação. Os custos da energia em Portugal, a par com a A Polopique tem como cliente o grupo espanhol Inditex (que detém a Zara). carga fiscal, são seguramente os dois maiores constrangimentos ao desenvolvimento e crescimento económico do País, frisou a responsável. Por isso, a Polopique promove também auditorias energéticas, seguindo as suas recomendações, o que tem permitido poupanças significativas nos custos de energia. Como adianta Teresa Portilha, a empresa já avançou com várias acções tendo em vista uma melhoria da eficiência energética, como são exemplos a aquisição de equipamentos como permutadores para a recuperação do calor de exaustão, colocação de economizadores de vapor nas caldeiras, aproveitamento de águas quentes, instalação de lâmpadas de baixo consumo, entre outras medidas. Os 150 colaboradores da Polopique são também sensibilizados para as questões energéticas, nomeadamente no âmbito do processo produtivo e em particular nas unidades de fiação. Como realça Teresa Portilha, também é feita sensibilização dos colaboradores para as boas práticas em termos de eficiência energética. A Polopique registou um volume de negócios de 71,5 milhões de euros em 2011, um crescimentode6%faceaoanoanterior.maisde 99% da facturação é proveniente das exportações, sendo Espanha o principal mercado e o grupo Inditex (que detém a Zara) um dos mais relevantes clientes. Albert Gea/Reuters

Quinta-feira 5 Julho 2012 Diário Económico XIX OPINIÃO A caminho da eficiência e da economia verde Quercus defende que é o momento de Portugal mostrar que está ao lado da eficiência energética. Durante o mês de Junho estiveramemdiscussão pública conjunta as linhas de orientação do Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE) e do Plano Nacional de Acção para as Energias Renováveis (PNAER). Embora seja positivo que estes dois planos tivessem sido articulados, pois de um depende a execução do outro, é também fundamental que estejam em sintonia com o Roteiro de Baixo Carbono para Portugal que terá metas para 2020 e 2050 e que ainda não é conhecido. O PNAEE tem uma meta traçada para 2015 de melhoria de eficiência energética equivalente a 10% do consumo final de energia, inserido no objetivo europeu de reduzir o consumo em 1% ao ano, assumindo um objetivo de 25% até 2020. No mês de Junho também teve lugar a discussão da nova Diretiva de Eficiência Energética com metas para 2020 e que, supostamente, deveria levar ao cumprimento da meta definida no chamado Pacote 20-20-20, de aumentar aeficiênciaenergéticanoespaçodaunião Europeia em 20%, a par de um aumento do peso FRANCISCO FERRREIRA Coordenador da área da energia e alterações climáticas da Quercus Precisamos de um país menos dependente do exterior, e é fundamental fazermos as mudanças estruturantes que nos permita ter menores necessidades energéticas. das energias renováveis para 20% e duma redução de emissões de gases com efeito de estufa em 20% entre 1990 e 2020. Este objetivo falhou: o Conselho Europeu conseguiu enfraquecer a proposta da Comissão e do Parlamento Europeu, justificando o facto com a crise económica e a falta de vontade política dos Estados-membros em apostar na eficiência energética. Na área residencial é necessário um incentivo à reabilitação urbana, onde existe um potencial elevado de crescimento de mercado, estimado em cerca de 28 mil milhões de euros, só na componente de reabilitação do edificado habitacional, que pode representar a curto prazo a manutenção dos cerca de 140 mil postos de trabalho que o sector tem neste momento emrisco,eumarecuperaçãodopesodosector no PIB nacional. Os incentivos fiscais que se propõem existiram já em sede de IRS e infelizmente foram retirados no quadro da execução orçamental recente. O programa Eco.AP, para o sector público, prevê um aumento de eficiência energética de 30% nos edifícios do Estado até 2020, em consonância com os objetivos definidos no Programa deste Governo. O Estado tem aqui um papel fundamental de actuação. No que à mobilidade diz respeito, as medidas mais importantes são aquelas que apostam no transporte de mercadorias através da ferrovia, proporcionando uma intermodalidade que não é prática no nosso país, onde à escala doméstica e internacional a carga é ainda transportada em grande parte através das vias rodoviárias. O retomar de incentivos para a aquisição de veículos eléctricos, mesmo que em valor menor ao inicialmente existente, seria também importante. É o momento de Portugal mostrar que está do lado da eficiência energética e da economia verde, tendo objetivos importantes que não se traduzam em reduções de consumo apenas devidas à crise económica, que sejam devidamente monitorizados, e que junto de Bruxelas, Portugal saiba defender posições ambiciosas para dinamizar um potencial que poderá evitar o recurso ao uso de combustíveis fósseis. Precisamos de um país menos dependente do exterior, e é fundamental fazermos as mudanças estruturantes que nos permita ter menores necessidades energéticas e uma produção maior a partir de fontes renováveis. PUB

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