Processo nº 0000229-80.2016.8.16.0194 Visto. MELTON ADMINISTRADORA DE BENS LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob nº 05.152.363/0001-66, com sede na Rua Marechal Deodoro, n.º 869, 19º andar, Cj. 1901, Curitiba, ingressou em Juízo com a presente AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO com pedido liminar em face da ORGANIZAÇÃO DO EVENTO VILEIROS DE CURITIBA E OUTROS. Vejamos. Trata-se de ação de interdito proibitório, requerendo a empresa autora o deferimento de liminar para determinar ao movimento réu, seus líderes, integrantes e aderentes que se abstenham de prática de atos de vandalismo, arruaça e ilícitos penais tendo em vista o iminente risco de dano ao patrimônio e de violência gratuita contra os frequentadores do shopping center, e até porque tais atos ilícitos já ocorreram recentemente. Sílvio de Salvo Venosa: A respeito do interdito proibitório, disserta "O interdito proibitório é remédio concedido ao possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse (art. 932 do CPC). De acordo com o mesmo dispositivo, o juiz ao expedir mandado proibitório, comina ao réu pena pecuniária na hipótese de
transgressão do preceito. [...]. Sua particularidade é o caráter preventivo. Busca-se evitar a ofensa à posse. Tem por finalidade afastar, com a proibição emanada do comando judicial, a ameaça de turbação ou esbulho. Se esta ocorreu, a ação será de manutenção ou reintegração. [...] Por sua natureza somente se impetra o interdito nas situações de força nova. Se a situação de fato já se estabilizou com a turbação ou esbulho, iniciou-se o prazo de ano e dia referido no art. 924. O interdito é remédio de força iminente. [...] O justo receio é requisito a ser demonstrado no caso concreto: temor justificado de violência iminente contra a posse. Uma missiva ameaçando tomar a coisa pode tipificar a situação. Atos preparatórios de invasão de imóvel também" (Direito Civil, Atlas, 2001, v. 4, p. 126-127). Então, importa ressaltar que o artigo 932 do CPC dispõe que o interdito proibitório pode ser manejado pelo possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse, por turbação ou esbulho iminente, objetivando o mandado proibitório. Mas é preciso que o autor tenha fundado receio de que a violência virá, cumprindo-lhe, pois, provar os requisitos: posse, ameaça de moléstia, probabilidade de que venha a verificar-se. E tal receio encontra-se plenamente justificado. Os fatos alegados na petição inicial ocorreram no domingo passado, inclusive fartamente noticiados nos meios de comunicação. As filmagens realizadas e juntadas no processo demonstram a confusão e o tumulto que se criaram
nas dependências do shopping, inclusive com cenas de agressão e violência. E, além disso, há convocação nas redes sociais dentre os participantes para nova arruaça ou arrastão, inclusive com data já agendada para o próximo domingo. A situação apresentada contraria toda a lógica da diversão, já que o shopping center é local de lazer. Ora, quem de nós não se sentiria acuado ao pensar em frequentar qualquer shopping na data do evento agendada pelos réus? Ainda não se sabe o motivo certo destas manifestações. A liminar deve ser deferida porque tais reuniões agregam violência e pavor para os demais cidadãos frequentadores do shopping, repita-se. Contudo, ainda que exista motivação dos réus, é irrelevante que seja ela ideológica, política, social ou qualquer outra, até porque, a toda evidência, os corredores de shopping não podem ser equiparados a ruas, avenidas e praças, nem são projetados para suportar manifestações públicas. E sem deixar de mencionar que os shoppings centers não são espaços públicos, já que não se pode confundir espaço público com espaço com acesso ao público. Resta claro que além da ausência aparente de interesse legítimo às pretensões dos réus, a
manifestação programada para o próximo domingo oferece risco à integridade física dos frequentadores do shopping center e representa ofensa ao direito de propriedade. Incabível que se exija da parte autora, quer para garantir o direito à propriedade, quer a integridade física de seus frequentadores e a proteção dos lojistas, que feche as portas do Shopping Center, como tem ocorrido. Na opinião de Maria Helena Diniz, para propor esta ação, basta que o autor tenha um receio fundado ou justo de que a violência virá, pouco importando a intenção do réu em praticar ou não a turbação ou esbulho, evitando, dessa forma, a consumação do fato não querido" (Curso de Direito Civil Brasileiro, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, v. 4, p. 80-81). Da mesma forma, também o Professor Sílvio de Salvo Venosa em sua obra "Direito Civil", assim discorre, in verbis: "O justo receio é requisito a ser demonstrado no caso concreto: temor justificado de violência iminente contra a posse. Uma missiva ameaçando tomar a coisa pode tipificar a situação. Atos preparatórios de invasão de imóvel também. Apontar arma para o possuidor já transpassa o limite do iminente para se tornar agressão atual. Não é necessário prever o acontecimento futuro. Importa isto sim o temor de que algo suceda contra a posse." (grifo) (grifo nosso) (Direito Civil: Direitos Reais, 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2004, p. 157) Assim, o receio do autor é concreto. A confusão já ocorreu domingo passado. Há especulação nas redes sociais agendando nova confusão e tumulto para o próximo domingo.
Diante do exposto, defiro liminarmente a expedição do mandado proibitório (CPC, artigo 932) para: a) PROÍBO a repetição do evento denominado Vileiros de Curitiba, no empreendimento SHOPPING PALLADIUM, bem como qualquer outro evento congênere, na data agendada para 17/01/2016 pelos réus, abstendo-se os mesmos da prática de atos que impeçam o exercício da posse pela autora e lojistas, bem como que possam gerar risco a integridade física e psíquica dos frequentadores do shopping e até dos próprios menores que venham a participar do referido encontro; b) DETERMINO que os réus se abstenham de praticar quaisquer atos que caracterizem ameaça à segurança dos frequentadores e funcionários do shopping center, assim como de seu patrimônio, tais como tumultos, algazarras, correrias, arrastões, delitos, brigas, rixas, utilização de equipamentos de som em altos volumes, vandalismo e manifestações, de qualquer ordem, dentro do
shopping center, ilegais ou ofensivas aos presentes no local; c) PROÍBO o ingresso ou permanência de menores desacompanhados dos pais e/ou responsáveis; FACULTO aos funcionários e seguranças a requisição de identificação das pessoas que pretendam ingressar no interior do estabelecimento; d) DETERMINO a expedição de Ofício à Vara da Infância e Juventude e ao Conselho Tutelar competente, para que tomem as providências que entenderem cabíveis; e) OFICIE-SE à Secretaria de Justiça do Estado, ao Comando da Policia Civil e da Policia Militar e à Guarda Municipal para que realizem as fiscalizações pertinentes e disponibilizem efetivo suficiente para o cumprimento da decisão judicial e, f) CUMPRA-SE por, pelo menos, 02 (dois) Oficiais de Justiça que deverão citar os réus e identificar os demais manifestantes para posterior citação, autorizando-se, desde já, o concurso da força policial.
Citem-se os requeridos para, querendo, contestarem a ação (CPC, arts. 931 e 933). Expeçam-se mandados. Int. Cumpra-se. Int. Curitiba, 14 de janeiro de 2016. PAULO B. TOURINHO Juiz de Direito