Acidente com material pérfuro-cortante



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Transcrição:

Acidente com material pérfuro-cortante Cássia de Lima Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Isabel Cristina Kowal Olm Cunha Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMO Existem fatores que levam os profissionais de enfermagem, a não usar as precauções universais para desenvolver suas ações e procedimentos e quando ocorre algum acidente o mesmo não é notificado. Este trabalho tem como objetivo caracterizar os técnicos e auxiliares de enfermagem de um Hospital Privado da zona Sul da Cidade de São Paulo, que sofreram acidente com material perfuro cortante e a sua notificação. O estudo caracteriza-se como exploratório e quantitativo. Através da coleta de dados a amostra constitui-se de 7 técnicos e/ou auxiliares de enfermagem. Os resultados obtidos mostram que apesar dos altos índices de acidentes, as precauções universais não são utilizadas corretamente e os números de notificações são reduzidos. Descritores: Saúde ocupacional; Fatores de risco; Acidentes. Lima C, Cunha ICKO. Acidente com material pérfuro-cortante. Rev Enferm UNISA 00; 4: 4-8. INTRODUÇÃO Existem fatores que levam os profissionais da área da saúde, a não usar as precauções universais para desenvolver suas ações e procedimentos e quando ocorre algum acidente o mesmo não é notificado. Constantemente durante a agitação do dia-a dia os profissionais de enfermagem por vários motivos deixam de usar os equipamentos de proteção individual (EPIs) e acabam se acidentando com material pérfuro-cortante facilitando o contato direto com sangue e/ou fluídos corporais dos pacientes. Muitas vezes os acidentes não são notificados e os profissionais não fazem os exames necessários. Alguns dos motivos que envolvem a falta de notificação é a burocracia, o stress e a insegurança. Quando ocorre um acidente há uma situação de stress muito grande, onde os profissionais de enfermagem se vêem preocupados com sua própria saúde, e para não se exporem para colegas e chefias, muitos preferem deixar passar desapercebido o acidente, a se submeterem a fazer exames laboratoriais e ficarem esperando por seis meses os resultados de exames para confirmarem se adquiriram ou não alguma patologia durante esse contato. Com o passar dos anos esses acidentes podem resultar em patologias e por não terem sido notificados, não se sabe explicar ao certo sua origem (1). As últimas estatísticas da Previdência Social mostraram que no período de um ano ocorreram 400 mil acidentes sendo que destes, 400 resultaram em morte do trabalhador (). A Associação Brasileira de normas técnicas () define acidente de trabalho como a ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que provoca lesão pessoal ou que decorre de risco próximo ou remoto da lesão. Estudo demonstra que nos acidentes com perfurocortante, os mais altos índices foram encontrados na categoria de auxiliar de enfermagem o que nos mostra mais uma vez que estes trabalhadores muitas vezes não utilizam os equipamento de proteção individual, mesmo quando fornecidos pelos locais de trabalho (4). A precaução universal prévia do Center for Disease Control dos Estados Unidos (5) aplica-se ao sangue, líquidos corporais, secreções e excreções, exceto o suor (independente desses líquidos, secreções ou excreções conterem ou não sangue visível), pele não intacta e mucosa. 4 Rev Enferm UNISA 00; 4: 4-8.

Ainda segundo esta normatização estas técnicas gerais de barreira visam reduzir a exposição dos profissionais de saúde a líquidos corporais contendo o vírus da imunodeficiência humana e outros patógenos hematogênicos. As precauções básicas podem reduzir a transmissão de microorganismos a partir de pacientes que não são reconhecidos como portadores de patógenos em potencial, como as bactérias resistentes a antibióticos. As precauções básicas incluem, lavagem das mãos, uso de luvas, máscaras, aventais e óculos (5). Essas Precauções Universais são medidas profiláticas, que devem ser empregadas a todos os que lidam ou tem contato com pacientes, independente do diagnóstico ou estado presumido de infecção (6). Apesar de serem regimes jurídicos diferenciados que regem a categoria dos trabalhadores públicos e privados, em ambas as codificações, há a necessidade de ser feita a comunicação do acidente de trabalho, sendo que para a legislação privada essa comunicação deverá ser feita em 4 hs, por meio de formulário denominado CAT Comunicação de Acidente de Trabalho. O Regime Jurídico Único (RJU) dos funcionários da União regula o acidente de trabalho, sendo que o fato classificado como acidente de trabalho deverá ser comunicado até (dez) dias após ter ocorrido. Os funcionários dos Estados e dos Municípios devem observar Regimes Jurídicos Únicos que lhes são específicos. Os medicamentos para a quimioprofilaxia, para eventuais doenças são a vacina para hepatite B e a gamaglobulina hiperimune para hepatite B, que devem ser disponibilizadas pelos locais de trabalho públicos ou privados. Essa é uma exigência amparada pela Legislação Trabalhista Brasileira no âmbito da iniciativa privada, assim como pela União. As unidades hospitalares do setor privado deverão ter os medicamentos de quimioprofilaxia e a vacina para hepatite adquirida sob suas expensas (7). Diante de todos esses riscos aos quais estão expostos os trabalhadores, existe grande necessidade de conscientização dos profissionais, afim de que se notifiquem as ocorrências, promovendo o tratamento precoce e objetivando a reivindicação de melhorias em suas condições de trabalho (8). Neste contexto, conhecer a realidade de como se acidentaram Técnicos e Auxiliares de Enfermagem em hospitais tem sido preocupação dos enfermeiros. Assim, propusemos este estudo que pretende trazer contribuição nesta área do conhecimento. OBJETIVOS Caracterizar os Técnicos e Auxiliares de Enfermagem de um Hospital Privado de São Paulo que sofreram acidente com material perfuro cortante quanto ao tipo de acidente e notificação. METODOLOGIA O estudo caracterizou-se como exploratório e quantitativo (9) com os objetivos de caracterizar os Técnicos e Auxiliares de enfermagem que sofreram acidentes de trabalho nesta instituição e a sua notificação. A instituição campo de estudo foi um Hospital Privado da zona sul da Cidade de São Paulo. Após autorização da instituição e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, foi iniciada a coleta de dados, através de questionário contendo 1 perguntas abertas e fechadas que foi aplicado no período de maio e junho de 00 pela própria autora. Os sujeitos da pesquisa após terem tomado conhecimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e terem concordado em participar do estudo receberam o questionário. A população foi composta por 147 trabalhadores, sendo que a amostra constitui-se de 7 Técnicos e/ou Auxiliares de Enfermagem. A pesquisa foi aplicada para todos os funcionários que estavam de plantão nos dias da coleta de dados, sendo que os que estavam de folga foram excluídos, bem como aqueles que relatarem não terem sofrido acidente de trabalho. A instituição pesquisada segue uma rotina para acidentes com material perfuro cortante onde em todos os setores há comunicado interno sobre esse tipo de acidente, portanto espera-se que todo o funcionário ao sofrer algum tipo de acidente saiba como agir. É indispensável fazer uma comunicação a sua chefia direta para que as medidas legais possam ser tomadas através da abertura do Comunicado de Acidente de Trabalho - CAT. O colaborador é encaminhado para o pronto socorro, onde abre uma ficha para ser atendido pelo médico, o mesmo deve escrever tanto na ficha do pronto socorro, quanto no receituário onde faz a solicitação de teste-rápido acidente de trabalho. O teste rápido é solicitado ao paciente-fonte e só poderá ser feito com o seu consentimento, informando-o sobre a natureza do teste. O achado de um resultado não reagente evita o inicio da quimioprofilaxia anti-retroviral para o profissional de saúde acidentado. O hospital não possui retrovirais, e ao ser questionado sobre isso, foi relatado pela enfermeira do Serviço de controle de Infecção Hospitalar - SCIH que isto se da em função do custo elevado e por não ser usado freqüentemente acabam vencendo o seu prazo de validade. Por essa questão os colaboradores são encaminhados para o hospital Emílio Ribas que é o hospital de referência, onde o colaborador é novamente reavaliado pelo médico que dependendo do grau de lesão, solicitará sorologia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Da população de 147 técnicos e/ou auxiliares de enfermagem da instituição, a amostra da pesquisa foi de 7 funcionários, que relataram ter sofrido algum tipo de acidente com material perfuro cortante e concordaram em participar do estudo. Os resultados foram analisados e distribuídos em tabelas apresentadas a seguir.os dados obtidos através da pesquisa nos mostram que a maioria da população estudada pertence à categoria de auxiliar de enfermagem e são do sexo feminino, a maior parte é casada e trabalha no horário diurno. Pode-se constatar que os funcionários que trabalham Rev Enferm UNISA 00; 4: 4-8. 5

durante a noite sofrem menos acidentes do que os funcionários que trabalham durante o dia. Este dado chama a atenção uma vez que se sabe que durante o dia a demanda de pacientes e/ou clientes é maior e conseqüentemente o número de funcionários também é maior e durante a noite o quadro de funcionário é reduzido pela metade. Assim podese inferir que o sono e o cansaço não são necessariamente fatores determinantes para que haja acidente de trabalho. Através dos dados apresentados nas tabela e podemos observar que 5% dos funcionários que relataram ter sofrido acidente com material perfuro cortante tem um tempo de formado de 1 a 14 anos e o tempo de trabalho na instituição varia de 1 a 9 anos. A faixa etária predominante esta entre 0 e 4 anos com um total de 45% dos funcionários entrevistados. Durante a coleta de dados pode-se observar que os funcionários que tem menos experiência e menos tempo de serviço sofre menos acidente de trabalho, porque estão em fase de adaptação e conhecimento da rotina, sendo assim durante a realização dos procedimentos a atenção é maior. Já os que estão mais adaptados a rotina e a instituição sofrem mais acidentes, pois deixam de dar valor a algumas medidas de segurança, porque tem como seu aliado a experiência e acham que por esse motivo dificilmente vão sofrer algum acidente e/ou contato com fluidos corporais. Portanto, o fato de maior número de acidentes entre profissionais que trabalham há um período longo pode ter como justificativa educação continuada insuficiente, falta de sensibilização e conscientização pessoal, supervisão contínua e sistemática da prática insuficiente a percepção individual sobre o risco, a desvalorização das ações preventivas e consequentemente a qualidade de vida (GIR, COSTA, SILVA, 1998). A tabela 4 mostra que 75% dos funcionários relataram ter no seu setor luvas/ máscaras disponíveis para seu uso. Apenas 4% relataram ter disponível no seu setor só luvas de procedimentos. A maioria dos funcionários usa apenas luvas e máscaras. Novamente ao observar a tabela podemos notar que ninguém informou usar óculos, o que confirma a falta de material básico para o desenvolvimento das atividades no setor de trabalho, conforme as Precauções Universais. Ainda segundo Gir et al (6) antes do conhecimento da AIDS no mundo, os acidentes de trabalho em hospitais com agulhas não tinham muito valor, embora soubessem que poderiam contribuir para a transmissão de muitos patógenos veiculados pelo sangue que igualmente conferem agravos importantes à saúde. Podemos observar acima que 65% dos funcionários relataram ter sofrido ferimento com material perfuro cortante contaminado e 5% com material não contaminado. A região do corpo mais atingida com 86% foi à mão. O risco médio de infecção, após exposição de membrana mucosa e pele íntegra é de 0,1% respectivamente. Estudos recentes tem demonstrado uma redução na já pequena taxa de infecciosidade associada a estes tipos de exposição ocupacional. Os fatores de maior risco estão relacionados à carga viral e são similares aos da exposição percutânea, sendo o risco aumentado se a área e o tempo de exposição forem grandes e se a pele tiver sua integridade visivelmente comprometida, por exemplo, eczemas, dermatites (BRASIL, 1998). O uso de testes rápidos no paciente-fonte do material biológico ao qual o profissional da saúde foi exposto se justifica pelo fato de haver um curto período de tempo para se iniciar a terapêutica profilática com anti-retroviral no acidentado, que reduz o risco de infecção pelo menos em 80%. Nesses casos, a terapêutica anti-retroviral deve ser iniciada preferencialmente entre 1 e horas após a exposição de risco mantida por um período de 4 semanas (Comissão nacional da AIDS). O achado de um resultado não reagente evita o inicio ou a manutenção desnecessária da quimioprofilaxia antiretroviral para o profissional da saúde acidentado. Considerase que a possibilidade do paciente-fonte estar em estágio muito recente de infecção ( janela imunológica ) é rara. Porém, a ocorrência de resultados falsos-negativos por esses e, mesmo por outros motivos, deve ser sempre levada em conta na avaliação de qualquer teste anti-hiv em função de dados clínicos e epidemiológicos (). Os dados atuais nos mostram que apesar dos altos índices de acidentes, ainda é reduzidos o número de notificações, com isso as possibilidades de prevenção com a quimioprofilaxia também são reduzidas, assim como as possibilidades de monitoramento e acompanhamento sorológico dos trabalhadores acidentados (4). Ainda segundo estas autoras, valem acrescentar que a categoria de auxiliar de enfermagem desenvolve atividades muito próximas do paciente, e possuem um acúmulo de atividades assistenciais, uma vez que assumem alguns procedimentos ou atividades, mais isso não justifica o alto número de acidentes. Apenas 9% dos acidentados fizeram notificação do acidente. A falta de notificação desses acidentes de trabalho contribui para o aumento dos sub-registros nas estatísticas oficiais de Acidentes de Trabalho no Brasil (1). Os 61% dos funcionários que não fizeram notificação relataram: - A falta de informação dos seus superiores de como abrir um CAT (comunicado de acidente de trabalho) principalmente nos finais de semanas. - A instituição pesquisada relata que não é solicitado o teste rápido de HIV do funcionário para evitar algum tipo de constrangimento, mas na instituição é colhida sorologia para HIV, Sífilis e Hepatite B e C que é encaminhado para o Hospital Emílio Ribas que é o hospital de referência para esse tipo de acidente (Enfermeira da SCIH). - Os funcionários alegam dificuldade de se locomover até o hospital de referência e quando são avaliados cabe ao médico de plantão solicitar ou não sorologia, dependendo do grau da lesão. CONCLUSÃO Através da pesquisa podemos observar que dos 0% 6 Rev Enferm UNISA 00; 4: 8-.

Tabela 1. Distribuição dos funcionários acidentados segundo a categoria profissional, sexo, estado civil e horário de trabalho. São Paulo, 00. Categ. Prof. Sexo Est. C ivil H. de Trabalho Mas. Fem. Solt. Cas. Diur. Not. Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % N.º % Nº % Técnicos 5 7 8 11 4 5 5 7 4 Auxiliar 67 9 6 8 56 78 0 8 46 64 40 55,5 4,5 Total 7 0 8 11 64 89 4 48 67 45 6,5 7 7,5 Tabela. Distribuição dos funcionários acidentados segundo o tempo de formada e o tempo de serviço nesta instituição. São Paulo, 00. Tempo (em anos) Tempo de Formação Tempo de Serviço n % n % Até 4 5-9 -14 15-19 0-4 5-9 1 5 17 6 5 4 14 8 4 7 7 0 14 Total 7 0 7 0 Tabela. Distribuição dos funcionários acidentados conforme a faixa etária. São Paulo, 00. Faixa etária n % 0-4 5-9 0-4 5-9 1 9 18 1 Tota l 7 0 Tabela 4. Distribuição dos funcionários acidentados segundo a disponibilidade para uso equipamentos individuais. São P aul o, 00. EPIS disponí veis no setor n % Luvas Luvas/máscaras Luvas/máscara/avental Óculos - 54 15 4 0 75 1 Tota l 7 0 Tabela 5. Distribuição dos funcionários acidentados segundo o tipo de material e local do corpo. São Paulo, 00. Contaminação Local do Corpo Categoria Profissional Sim Não Mão Antebraço n % n % n % n % Técnicos Auxiliares 4 4 5 60 60 8 8 11 Totais 5 5 47 65 6 86 14 entrevistados a maior parte 61% não fez notificação do acidente de trabalho. Um dos motivos mais comuns relatado pelos entrevistados foi à falta de informação de seus superiores de como abrir um CAT, principalmente nos finais de semana. A maioria dos funcionários 75% usa apenas luvas e mascaras durante a realização dos procedimentos, isso nos mostra que as precauções universais não são utilizadas. Rev Enferm UNISA 00; 4: 8-. 7

A falta de notificação desses acidentes de trabalho contribui e muito para o aumento dos subregistros nas estatísticas oficiais de Acidente de trabalho no Brasil (ABREU, MAURO, 000). Diante de todos esses riscos existe uma grande necessidade de conscientização dos profissionais para que comecem a reivindicar melhorias em suas condições de trabalho quando estas se fizerem necessário com isso podemos mudar esses dados ocultos de acidentes de trabalho. REFERÊNCIAS 1. Abreu AMM, Mauro MYC. Acidentes de trabalho com a equipe de enfermagem no setor de emergência de um hospital municipal do rio de Janeiro. Esc Anna Nery Rev de Enferm 000; 4:19-146.. Brasil, Ministério da Saúde/ Secretária da Vigilância Sanitária Portaria nª448, de 17/06/98 D.O da União seção 1 P. [on-line] Disponível em: <http:// www.hemonline.com.br/prevaids.htm> (08 agos 00). Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT. Segurança do Trabalho [on-line] Apresenta links sobre acidente de trabalho. Brasil: Disponível em: <http:// www.geocities.com/superbancodados> (5 fev 00) 4. Sarquis LMM, Felli VEA. O uso dos equipamentos de proteção individual entre os trabalhadores de enfermagem acidentados com instrumentos perfurocortantes. Rev Esc Enferm USP 000; 5:564-7. 5. Red Book 000. Relatório do comitê de doenças infecciosas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 000. 6. Gir E, Costa FPP, Silva AM. A enfermagem frente a acidentes de trabalho com material potencialmente contaminado na era do HIV. Rev Esc Enferm USP 1998; :6-7. 7. Manual de Condutas em Exposição Ocupacional a Material Biológico. Brasília: Ministério da Saúde/ Secretaria de Políticas de Saúde/Coordenação Nacional de DST e AIDS; 000. 8. Robazzi MLCC, Marziale MHP. Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil. Rev Bras Enferm 1999; 5:1-8. 9. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. Porto Alegre: Artes médicas; 1995. 8 Rev Enferm UNISA 00; 4: 8-.