Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal Atlas dos Anfíbios e Répteis Armando Loureiro Nuno Ferrand de Almeida Miguel A. Carretero Octávio S. Paulo (Editores) de Portugal Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal Armando Loureiro Nuno Ferrand de Almeida Miguel A. Carretero Octávio S. Paulo (Editores) Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade 2008
Design gráfico e maquetação Ana Pinto Tratamento e edição de imagem António Jorge Barros Edição Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I.P. Ano 2008 ISBN 978-972 - 775-197 - 6 Depósito legal Impresso por INOVA Artes Gráficas Para efeitos bibliográficos o presente Atlas deve citar-se da seguinte forma: O Atlas completo ou os capítulos 4 e 7 Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.) (2008): Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa. 257 pp. Um capítulo Crespo, E.G. (2008): História da herpetologia em Portugal. Pp.17-53, in: Loureiro,A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa. O texto de uma espécie Brito, J.C. (2008): Vipera latastei. Pp. 182-183, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa. Tiragem 1000 exemplares Fotografia da capa Pelobates cultripes (sapo-de-unha-negra) Phillipe Evrard Fotografia da contra-capa Podarcis bocagei (lagartixa-de-bocage) Jorge Coutinho Este trabalho foi co-financiado pelo ICNB, I.P. e pela União Europeia, através do Programa Operacional do Ambiente (candidatura 1.1/00021 Documentos Estruturantes da Conservação da Natureza e da Biodiversidade).
Índice Nota de Apresentação Nota Editorial Prefácio 1. História da Herpetologia em Portugal 17 2. Biogeografia e Evolução Recente dos Anfíbios e Répteis de Portugal 55 3. Metodologia 71 4. Lista Taxonómica de Referência 81 5. Distribuição de Anfíbios e Répteis Como ler os mapas 88 Como ler as fichas 89 Anfíbios Chioglossa lusitanica Salamandra-lusitânica 92 Pleurodeles waltl Salamandra-de-costelas-salientes 94 Salamandra salamandra Salamandra-de-pintas-amarelas 96 Triturus boscai Tritão-de-ventre-laranja 98 Triturus helveticus Tritão-de-patas-espalmadas 100 Triturus marmoratus Tritão-marmorado 102 Alytes cisternasii Sapo-parteiro-ibérico 104 Alytes obstetricans Sapo-parteiro-comum 106 Discoglossus galganoi Rã-de-focinho-ponteagudo 108 Pelobates cultripes Sapo-de-unha-negra 110 Pelodytes spp. Sapinhos-de-verrugas-verdes 112 Bufo bufo Sapo-comum 116 Bufo calamita Sapo-corredor 118 Hyla arborea Rela-comum 120 Hyla meridionalis Rela-meridional 122 Rana iberica Rã-ibérica 124 Rana perezi Rã-verde 126 Répteis Emys orbicularis Cágado-de-carapaça-estriada 130 Mauremys leprosa Cágado-mediterrânico 132 Hemidactylus turcicus Osga-turca 134 Tarentola mauritanica Osga-comum 136 Chamaeleo chamaeleon Camaleão-comum 138 Anguis fragilis Licranço 140 Acanthodactylus erythrurus Lagartixa-de-dedos-denteados 142 Lacerta lepida Sardão 144 Lacerta schreiberi Lagarto-de-água 146 Lacerta monticola Lagartixa-da-montanha 148 Podarcis bocagei Lagartixa-de-Bocage 150 Podarcis carbonelli Lagartixa-de-Carbonell 152 Podarcis hispanica Lagartixa-ibérica 154 Psammodromus algirus Lagartixa-do-mato 156 Psammodromus hispanicus Lagartixa-do-mato-ibérica 158 Chalcides bedriagai Cobra-de-pernas-pentadáctila 160 Chalcides striatus Cobra-de-pernas-tridáctila 162 Blanus cinereus Cobra-cega 164 Coluber hippocrepis Cobra-de-ferradura 166 Coronella austriaca Cobra-lisa-europeia 168 Coronella girondica Cobra-lisa-meridional 170 Elaphe scalaris Cobra-de-escada 172 Macroprotodon cucullatus Cobra-de-capuz 174 Natrix maura Cobra-de-água-viperina 176 Natrix natrix Cobra-de-água-de-colar 178 Malpolon monspessulanus Cobra-rateira 180 Vipera latastei Víbora-cornuda 182 Vipera seoanei Víbora-de-Seoanei 184 Répteis da Madeira Tarentola bischoffi Osga-das-Selvagens 188 Lacerta dugesii Lagartixa-da-Madeira 190 6.Tartarugas Marinhas 193 Dermochelys coriacea Tartaruga-de-couro 199 Caretta caretta Tartaruga-comum 201 Lepidochelys kempii Tartarura-de-Kemp 204 Eretmochelys imbricata Tartaruga-de-escamas 206 Chelonia mydas Tartaruga-verde 207 7. Distribuição de Anfíbios e Répteis Exóticos em Portugal 211 Bibliografia 217
Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal Anguis fragilis Linnaeus, 1758 Licranço Lución, Slow Worm TAXONOMIA E FILOGEOGRAFIA Trata-se do único representante da família Anguidae na Europa Ocidental. Esta família tem uma longa história evolutiva na Europa, conhecendo-se fósseis do período Eoceno, desde há 40 milhões de anos. Considera-se que o género Anguis evoluiu a partir de lagartos de vidro semelhantes aos incluídos no género Ophisaurus. Em Portugal, como no resto da Península Ibérica, encontra-se presente a subespécie nominal, A. f. fragilis, que ocorre em todo o Oeste da Europa. É uma espécie Eurosiberiana, que ocupa secundariamente algumas áreas Mediterrânicas. No leste Europeu está presente a subespécie A. f. colchicus e, no Sul da Grécia (Peloponeso e ilhas Jónicas), ocorre a outra espécie congénere, A. cephallonica, muito semelhante do ponto de vista morfológico. DISTRIBUIÇÃO GLOBAL Tem uma distribuição mundial muito extensa que ocupa a maior parte da Europa, desde a Península Ibérica e Grã-Bretanha (embora ausente na Irlanda) até à Rússia. Atinge, a Norte, o paralelo 63º e a Sul, a Turquia, a Grécia e a Itália. No Leste penetra na Ásia, onde se estende até ao Irão e oeste da Sibéria (Dely, 1981; Cabela, 1997; Szczerbak, 2003). Na Península Ibérica ocupa a metade Norte, principalmente a Cordilheira Cantábrica e os Pirinéus, mas está ausente de grande parte do planalto Castelhano-leonês e do vale do rio Ebro. Em Espanha, tem o seu limite meridional nas Serras do Sistema Central (Gata, Gredos, Guadarrama e Ayllón) e diminui a sua abundância para leste, com o aumento da influência mediterrânica (Barbadillo & Sánchez- Herráiz, 1997b; Galán, 2002a). DISTRIBUIÇÃO NACIONAL Distribui-se amplamente pelo Norte do país e, de modo mais localizado, pelo Centro (Crespo, 1972a; Malkmus, 1982a, 2004e; Crespo & Oliveira, 1989;Teixeira et al., 1996; Godinho et al., 1999; Ferrand de Almeida et al., 2001). A sua abundância diminui do Norte para as regiões centrais e orientais, e está ausente no Sul. As observações antigas no Algarve, na Serra de Monchique (Bedriaga, 1889), e em Portalegre (Ferreira, 1893), podem referir- -se a populações actualmente extintas ou a identificações erróneas. É abundante no Minho, Trás-os-Montes (excepto no leste), Douro Litoral, centro, sul e oeste da Beira Alta, e centro e leste da Beira Litoral. Para o interior, há poucas observações no Alto Douro e leste da Beira Alta. Mais para sul, na Estremadura, Ribatejo e Beira Baixa, é já muito mais escassa e a sua distribuição pontual. O seu limite sul no país, que coincide com o limite meridional ibérico, é constituído pelas populações isoladas da Serra de Sintra (Bedriaga, 1889; Ferreira, 1893; Crespo, 1972a; Malkmus, 1979a) e de Azeitão, na península da Arrábida, Setúbal (Godinho et al., 1999), esta última a sul do rio Tejo. Existe, ainda, outra observação a sul do rio Tejo (Chouto, Santarém), onde foi encontrada em simpatria com a cobra-de-capuz. Encontra-se desde o nível do mar até os 1504 m, na Serra da Estrela.A espécie é menos frequente do que o esperado nas zonas de baixa altitude (<600 m) mas abunda nas zonas de média (600-1000 m) e, especialmente, elevada altitude (>1000 m). Na Península Ibérica, a sua presença está negativamente correlacionada com o número anual de horas de sol e com a temperatura média do mês mais quente (Smith, 1998). Para o conjunto de variáveis climáticas estudadas por este autor, A. fragilis encontra-se presente nas localidades ibéricas mais frias, húmidas, nubladas e com precipitações mais homogeneamente distribuídas ao longo do ano. É, por isso, uma espécie higrófila, que ocupa uma grande variedade de habitats na região Eurosiberiana, principalmente aqueles que apresentam um estrato herbáceo denso, em florestas caducifólias (e.g. Quercus, Betula) e nas suas etapas evolutivas de matos, bosques mistos e pastagens em áreas rurais (Galán & Fernández, 1993; Salvador, 1998; Galán, 1999, 2002a; Ferreiro & Galán, 2004). Ao contrário, na região Mediterrânica, encontra-se muito mais confinada, ocupando principalmente zonas montanhosas, florestas e matagais dos pisos supramediterrânico e oromediterrânico (Barbadillo & Sánchez-Herráinz, 1997b; Galán, 2002a). Em Portugal, estende-se muito mais pela região Mediterrânica do que em Espanha devido a uma maior influência atlântica. Tem sido localizado em pradarias de Nardus y Carex com matos de Ulex, Erica, Halimium y Pistacia, assim como em culturas e florestas de Quercus (Malkmus, 1982a). Na Serra de Sintra encontrou-se em pinhais (Malkmus, 1979a). 140 PhG PhG
Répteis CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS O estado de conservação do licranço é variável, de acordo com as populações consideradas. As que habitam a região Eurosiberiana, no Norte do país, são relativamente abundantes e amplamente distribuídas, pelo que não se consideram ameaçadas. No entanto, as que vivem na região Mediterrânica são muito mais escassas, formadas por um número muito menor de indivíduos e encontram-se geralmente isoladas em zonas montanhosas, pelo que o seu grau de ameaça é maior, especialmente no que se refere às situadas no limite meridional da espécie.as principais ameaças são a destruição do habitat e os pesticidas agrícolas. De modo semelhante ao que acontece na Galiza, esta espécie tem sido muito afectada pelos incêndios em zonas arbustivas e de matagal, assim como pelas plantações maciças de Eucalyptus (Galán, 1999a). Uma medida de conservação eficaz consiste na protecção do habitat, evitando nomeadamente a destruição das cercas vivas nos limites de pradarias e culturas. A espécie seria muito favorecida por medidas que fomentassem a agricultura e pecuária tradicionais como forma de conservação de paisagens agrícolas diversificadas (Galán, 1999a). M N P Q G F E Pedro Galán D C B Nºquadrículas % Portugal % Global LVVP JAT 220 21,8% 0,6% LC 141