A contribuição da Escola de Educação Física do Exército para o esporte nacional: 1933 a 2000



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doi:10.3900/fpj.2.6.336.p EISSN 1676-5133 A contribuição da Escola de Educação Física do Exército para o esporte nacional: 1933 a 2000 Artigo Original Renato Souza Pinto Soeiro, M. Sc. (CREF 2163/RJ) Programa de Pós-Graduação Sticto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco - RJ Escola de Educação Física do Exército EsEFEx RJ soeiro@solartijuca.com.br Manoel José Gomes Tubino, Ph. D. Programa de Pós-Graduação Sticto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco - RJ SOEIRO, R.S.P., TUBINO, M.J.G. A contribuição da escola de educação física do exército para o esporte nacional: 1933 a 2000. Fitness & Performance Journal, v.2, n.6, p.336-340, 2003. RESUMO: Este estudo teve por objetivo desenvolver uma pesquisa sobre a contribuição da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) para o esporte nacional: 1933 a 2000. A investigação aqui articulada em função da especifi cidade do objeto, situou-se no período entre 1933 e 2000 tendo como enfoque a construção do Esporte nacional. Para a realização desta pesquisa buscouse a instrumentalização teórica no estudo da Memória e optou-se por procurar nos recursos da pesquisa documental respostas para as questões que motivaram a realização deste trabalho. Em relação às fontes, pode-se dizer que o estudo está permeado no primeiro plano pela relação Exército - Esporte - Educação Física, o que necessariamente, remeteu à busca de fontes vinculadas aos militares, às ciências sociais e humanas. Datas e fatos da contribuição da EsEFEx para o esporte nacional foram obtidos a partir de boletins escolares, boletins internos e boletins do Exército existentes no arquivo da EsEFEx, bem como as Revistas de Educação Física da Escola de Educação Física do Exército. O estudo verifi cou que a contribuição da EsEFEx para o esporte nacional ocorreu em fases distintas e com características particulares: a) Fase da Busca da Eugenia e de Infl uência na Formação de Profi ssionais de Educação Física e de Medicina Esportiva (1933 a 1941); b) Fase do uso do Esporte na preparação para a Guerra e de Infl uência na Administração Esportiva (1942 a 1967); c) Fase de Cientifi cação do Treinamento Esportivo (1968 a 1979); d) Fase de valorização do Esporte Militar (1980-1989); e) Fase de Reestruturação no Sentido da Ciência do Esporte (1990 a 2000). Palavras-chave: História da Educação Física, Esporte, Escola de Educação Física do Exército. Endereço para correspondência: Data de Recebimento: outubro / 2003 Data de Aprovação: novembro / 2003 Copyright 2003 por Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte. 336 Fit Perf J Rio de Janeiro 2 6 336-340 nov/dez 2003

ABSTRACT Contribution of the Escola de educação Física do Exército - EsEFEX (Brazilian Army Physical Education School) to brazilian sport: 1933 to 2000 The purpose of this study was to develop a research about the contribution of the Escola de Educação Física do Exército - EsEFEx (Brazilian Army Physical Education School) to Brazilian sport: 1933 to 2000. In order to achieve such aim, theoretical data were searched by means of a memory study and answers to the questions that led to the present job were looked for by means of documental research. The research is based on the relationship of Physical Education - Sport - Army, which necessarily led to sources linked to the social and human sciences and the military ones. Dates and facts of the contribution of EsEFEx for the national sport were obtained from school and internal bulletins of EsEFEx, as well as the EsEFEx Physical Education Journals. The study divided the contribution of EsEFEx for the national sport in phases and characterized them: a) Phase of the Eugenics and of Influence in the Physical Education and Sport Medicine Professional Formation (1933 to 1941); b) Phase of the use of the Sport in the preparation for War and of Influence in the Sport Administration (1942 to 1967); c) Phase of the Scientification of Sport Training (1968 to 1979); d) Phase of the Military Sport (1980-1989); e) Phase of Restructuring to the Sport Science direction (1990 to 2000). Keywords: Physical Education History, Sport, Brazilian Army Physical Education School. RESUMEN Contribución de la Escola de Educação Física do Exército - EsEFEX (Escuela de Educación Física del Ejército Brasileño) para el deporte nacional: 1933 a 2000 El objetivo de este estudio era desarrollar una investigación sobre la contribución de la Escuela de Educación Física del Ejército Brasileño (EsEFEx) para el deporte nacional: 1933 a 2000. la investigación en función del objeto, se localiza en el periodo entre 1933 y 2000 y el enfoque estaba en el deporte. Para el logro de esta investigación el instrumento teórico se buscaba en el estudio de memoria, que necesariamente envía la búsqueda de fuentes se unió al militar, las ciencias sociales y humanas. Obtuvieron las fechas y hechos de la contribución de Es- EFEx para el deporte nacional empezando de los boletines escolares, boletines interiores en el archivo de EsEFEx, así como las revistas de educación física del EsEFEx. El estudio dividió la contribución de EsEFEx para el deporte nacional en fases y los caracterizó: a) la fase de la búsqueda de la eugenia y de influencia en la formación de profesionales de educación física y la medicina deportiva (1933 a 1941); b) la fase del uso del deporte en la preparación para la guerra y de influencia en la administración deportiva (1942 a 1967); c) la fase de la cientificacion del entrenamiento deportivo (1968 a 1979); d) la fase del deporte militar (1980-1989); e) la fase de reestructuración en el sentido de la ciencia del deporte (1990 a 2000). Palabras clave: Historia de Educación física, Deporte, Escuela de Educación Física Del Ejército Brasileño INTRODUÇÃO Se investigarmos, difi cilmente encontraremos no Brasil uma instituição que, através de seus quadros, tenha tido um volume de intervenção tão relevante para os destinos políticos do país, quanto os militares. Fora estes, só a Igreja Católica. Segundo Ferreira Neto (1999, p. 16), o Exército sempre compreendeu que esta intervenção militar envolve, necessariamente, a presença civil. Entretanto,... é um facto histórico que as sociedades nascentes têm necessidade dos elementos militares para assistirem à sua formação e desenvolvimento, e que só num gráo já elevado de civilisação ellas conseguem emancipar-se da tutela da força, que assim se recolhe e se limita à sua verdadeira funcção (A Defesa Nacional, 1913, p. 1). No Brasil, Penna Marinho (1943, apud FERREIRA NETO, 1999, p. 9) esclarece que, durante a ditadura do Estado Novo, a Educação Física desenvolveu-se mais do que em todo o século anterior. Cantarino Filho (1982), enfatiza, que os militares teriam contribuído para a construção de uma doutrina para educação física no Estado Novo. Castellani Filho (1988) lembra que os períodos mais importantes da Educação Física brasileira são exatamente os da ditadura do Estado Novo e da ditadura após 64. Para Lima (1992) e Souza (1994), os militares apresentam-se sempre como parceiros de políticos e autoridades eclesiásticas. Em Goelnner (1992), os militares brasileiros foram responsáveis pela escolarização do Método Francês no Brasil. Em Melo (1996), foi possível extrair que os militares contribuíram para criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos. Para Castellani Filho (op. cit.), a história da Educação Física no Brasil, se confunde em muitos momentos, com a dos militares. Dessa forma pode-se Verifi car a importante contribuição do Exército em prol da construção da Educação Física nacional. No que se refere ao esporte, que é considerado por Tubino(1996), como um dos fenômenos sociais mais importantes, tendo infl uenciado profundamente a vida cotidiana do homem do século XX, foram encontrados registros isolados sobre a participação da EsEFEx na vida nacional, não existindo estudos que possam ordenar e sistematizar sua ação histórica. Esta participação, pelas observações daqueles que escreveram sobre a história da Educação Física brasileira, alterna a cada momento, o que permite confi rmar que inexiste uma constatação ordenada da contribuição deste estabelecimento de ensino do Exército ao esporte nacional. Assim sendo, o objetivo desta pesquisa foi desenvolver um estudo sobre a contribuição da Escola de Educação Física do Exército para o Esporte nacional: 1933 a 2000, tendo como objetivos específi cos: descrever a trajetória da EsEFEx frente à confi guração do Esporte nacional; analisar que momentos de ruptura podem ter ocorrido nesse espaço temporal; discutir a contribuição desta instituição para a construção do Esporte nacional. Defi nido o objeto cabe contextualizá-lo no tempo ou demarcar o período que o abarca. A investigação aqui articulada em função da especifi cidade do objeto, situou-se no período entre 1933 e 2000. A data de início do estudo se justifi ca porque apesar de classicamente, considerar-se que a campanha pela Educação Física no Exército data de 10 de janeiro de 1922, com a fundação na Escola de Sargentos de Infantaria, Vila Militar, do Centro Militar de Educação Física (CMEF), através do Boletim do Exército n o 431 publicado dia 20 de janeiro de 1922, somente em 19 de outubro de 1933, o Governo Vargas, pelo decreto 23252, cria / transforma o Centro Militar de Educação Física em Escola de Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 6, 337, nov/dez 2003 337

Educação Física do Exército, dando-lhe nova organização, atualizando os seus currículos e ampliando os seus objetivos Até 2000, porque além do esforço educacional, a EsEFEx após sua criação, passou a contribuir com as diversas Confederações Desportivas que compõem o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), tanto com a presença de atletas militares nas delegações olímpicas, quanto na preparação física, tática, técnica e administrativa. Em adição a este envolvimento direto, a EsEFEx passou também a ceder instalações para alojamento e treinamento de equipes nacionais esportivas, desde que eram notórias as carências de meios para o esporte em geral. É importante ressaltar que o enfoque desta pesquisa foi na construção do Esporte nacional, todavia em diversos momentos, a Educação Física e o Esporte se entrelaçaram. Aspectos metodológicos da contribuição da EsEFEX para o esporte nacional Para a realização desta pesquisa buscou-se a instrumentalização teórica no estudo da Memória, pois recuperou fontes, documentos, fatos, acontecimentos e contribuições da instituição Escola de Educação Física do Exército para o esporte Nacional. A Memória neste estudo é entendida em sentido muito lato, não como uma propriedade da inteligência, mas como a base, seja qual for, sobre a qual se inscrevem as concatenações de atos. A evolução das sociedades na segunda metade do século XX clarifi ca a importância do papel que a memória coletiva desempenha. Exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a montante enquanto reservatório da história, rico em arquivos e em documentos, e a aval, eco sonoro do trabalho histórico (LE GOFF, 1994, p. 475). A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Optou-se por buscar nos recursos da pesquisa documental respostas para as questões que motivaram a realização desta pesquisa. Em relação às fontes, pode-se dizer que o estudo está permeado no primeiro plano pela relação Exército - Esporte - Educação Física, o que necessariamente, remete a busca de fontes vinculadas aos militares, às ciências sociais e humanas. Datas e fatos da contribuição da EsEFEx para o esporte nacional foram obtidos a partir de boletins escolares, boletins internos e boletins do Exército existentes no arquivo da EsEFEx, bem como as Revistas de Educação Física da Escola de Educação Física do Exército. A literatura disponível sobre a EsEFEx, história da educação física e do esporte serviram como ponto de partida para a pesquisa. FASES DE ATUAÇÃO DA EsEFEX NO CONTEXTO ESPORTIVO BRASILEIRO Fase da Busca da Eugenia e de Influência na Formação de Profissionais de Educação Física e de Medicina Esportiva (1933 a 1941) A primeira fase da periodização histórica utilizada neste estudo refl ete uma busca da eugenia do povo brasileiro, tentando tornálo em uma raça forte, caracterizada pela contribuição da EsEFEx para a formação de profi ssionais na área da Educação Física e da Medicina Esportiva, tanto de militares quanto de civis e pela criação de instituições de Educação Física no meio civil. A ocorrência no plano político de um governo forte, autoritário, colocou em destaque a fi gura de Getúlio Vargas e suas realizações. Nasce, a partir de então, um estado forte orientado por uma política centralizadora e intervencionista onde fi gurava a idéia da colaboração nacional em prol do desenvolvimento da pátria. A EsEFEx procurou acompanhar o plano político da época, divulgando a doutrina militar de atividade física e difundiu a educação física enquanto responsável, dentro de seus limites, para o surgimento de uma raça alegre, forte e vitoriosa. Os marcos desta fase foram os seguintes: a) Criação, em 1929, do Curso Provisório de Educação Física na Escola de Sargentos de Infantaria tornando o processo da formação de profi ssionais na educação física nacional, mais efetivo. Por uma solicitação do Doutor Fernando de Azevedo, Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, foi autorizada a matrícula de 20 professores públicos do Distrito Federal na primeira turma de diplomados em Educação Física no Brasil. b) Fundação, em maio de 1932, da Revista de Educação Física, pelo General Newton Cavalcanti, considerada órgão ofi cial da EsEFEx. A revista acompanhou as mudanças políticas, econômicas e os enfoques dados pelo Exército ao esporte e à educação física tornando se uma fonte de pesquisa relevante para entender o processo evolutivo da EsEFEx. c) A contribuição prestada pela EsEFEx para criação e desenvolvimento da Escola Nacional de Educação Física e Desportes (ENEFED). A contribuição da EsEFEx não foi dirigindo apenas a ENEFED desde a fundação até 1948, mas também cedendo grande parte do corpo docente, além de determinar sua estrutura inicial. Assim sendo a ENEFD deu seus primeiros passos sob os auspícios e égide dos militares. Dessa forma, era marcante a estrutura militar da Escola no primeiro momento. A rotina diária começava com as formaturas matinais onde, invariavelmente, observavam-se aspectos de ordem unida e comandos no modelo dos quartéis, com hasteamento da bandeira e o cantar do Hino Nacional. d) Contribuição para a criação da Medicina Esportiva no Brasil, sendo pela primeira vez no Brasil, em 1932, realizado na EsEFEx, um curso regular de medicina especializada, com a duração de um ano, destinado aos ofi ciais médicos das Forças Armadas do país, mas permitindo também, a matrícula de médicos civis. e) Criação em 1936 da Colônia de Férias da EsEFEx, sendo uma das mais antigas do Brasil. Esta ação pioneira foi liderada pelo capitão Ignácio de Freitas Rolim e pelo sargento Custódio Batista Lobo com o objetivo de ministrar atividades recreativas para as crianças carentes das cercanias da Urca. Fase do Uso do Esporte na Preparação para Guerra e Influência na Administração Esportiva (1942 a 1967) A segunda fase foi caracterizada pelo uso do esporte para preparação do soldado, pelo preenchimento de cargos em diversas 338 Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 6, 338, nov/dez 2003

confederações e federações esportivas, pela contribuição na organização de eventos esportivos e publicações diversas como livros, artigos e manuais na área de Educação Física e do esporte. Desde a Segunda Grande Guerra, houve uma necessidade de reformulação na educação física do soldado, tornando-a diferente para a do civil. Na orientação do adestramento militar às duras servidões impostas pela guerra, estabeleciam novas técnicas, dentro de princípios mais objetivos e realistas. Neste período o intercâmbio da EsEFEx com o exterior foi muito grande, foram realizadas diversas visitas às instalações da Escola e alguns militares viajaram ao exterior em busca do que havia de mais moderno na educação física. Em 1954 uma comissão formada pelo tenente coronel Jayr Jordão Ramos, major Darcy Pacheco de Queiroz e capitão Áureo Hora Brito, foi designada para realizar estudos nos Centros de Treinamento Físico dos Estados Unidos, tendo esta visita servido de base para a implantação da Calistenia no Exército Brasileiro. Os marcos deste período foram os seguintes: a) O intercâmbio e a realização de estágios, cursos e simpósios, permitindo que a comunidade esportiva e da educação física brasileira tivesse acesso aos principais métodos da época em sua especialidade. b) A ocupação de cargos, das direções da Educação Física escolar, dos Comitês Esportivos, das Confederações e Federações, pelo pessoal especializado e preparado na EsEFEx. c) No campo da organização esportiva a EsEFEx também teve um grande destaque cujo marco neste período foi a realização do XII Campeonato Mundial de Pentatlo Militar em 1960, evento esportivo de grande repercussão mundial, no qual os encargos do treinamento atlético e organização couberam, à EsEFEx. d) A reedição da maior parte das obras elaboradas pela EsEFEx, após um convênio assinado com a Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura, para efeito de difusão no meio civil. Fase de Cientifi cação do Treinamento Esportivo (1968 a 1979) A terceira fase foi caracterizada pela contribuição da EsEFEx para a cientifi cação do treinamento esportivo e recuperação de atletas. A política esportiva do Exército acompanhou os atos governamentais da época e também deu grande impulso ao esporte. O Ministro do Exército incentivou as práticas esportivas em todas as guarnições do país, afi rmando a importância da preparação física e psicológica do combatente através do desenvolvimento de sadio espírito de competição e camaradagem entre os elementos do Exército Brasileiro. Com esta nova política esportiva, o Exército, iniciou a disputa das Olimpíadas do Exército e seguiram-se sucessivos calendários esportivos anuais com a organização e participação em diversas competições militares do Exército e das Forças Armadas, além de campeonatos civis nacionais e internacionais. Os marcos desta fase foram: a) A preparação física da seleção brasileira de futebol para a Copa do Mundo no México em 1970. Durante essa preparação, Cláudio Coutinho, utilizou o programa Aerobics para desenvolver a preparação física da Seleção, adaptando a tabela de Cooper destinada a sedentários para empregá-la com atletas. Com o excelente resultado alcançado na Copa do Mundo, surgiu no Brasil um grande movimento social de engajamento a programas de atividade física sistemática. b) O incentivo do MEC na instalação do treinamento esportivo como disciplina nas Universidades, a criação de vários laboratórios e a penetração internacional dos cursos realizados no Brasil, foram os estopins para uma grande explosão na cientifi cação do treinamento esportivo no Brasil. Fase de Valorização dos Esportes Militares (1980 a 1989) Na quarta fase, a política esportiva do Exército permaneceu a mesma do período anterior, com o Ministro do Exército Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, considerando de alta conveniência o incentivo às atividades esportivas, conquanto a conjuntura política do país mudara e a EsEFEx sofrera uma retração, voltando-se para dentro da Instituição, conseqüentemente dando prioridade aos esportes militares. Dessa forma este período foi caracterizado pela valorização dos esportes militares e do treinamento físico militar. Esta fase teve como marcos: a) A trajetória da equipe de pentatlo militar do Brasil que destacou a preparação física, psicológica e técnica do soldado brasileiro. b) O processo de cientifi cação do manual de treinamento físico militar (TFM) e do teste de avaliação física (TAF), que se deram após a coleta de dados dos TAF de 1984 e 1986, que apresentaram como resultado que apenas 13% dos militares tinham capacidade física total. Dentre os demais 34% estavam sem possibilidades para realizar os testes de campo e 40 % eram obesos. A EsEFEx, atualizou o manual de treinamento físico militar para uma edição de 1990 e alterou em 1986 o Teste de Avaliação Física após uma análise estatística dos resultados e o dimensionamento dos rendimentos físicos através de uma tabela de conceituação. Fase de Reestruturação no Sentido da Ciência do Esporte (1990 a 2000) Após uma introspecção na instituição devido à conjuntura política do país na quarta fase desta periodização histórica, ocorreu um conseqüente afastamento da EsEFEx das instituições civis tanto esportivas quanto de ensino, que por sua vez avançaram rapidamente na busca do conhecimento, na realização de cursos de pós-graduação, intercâmbios, congressos e simpósios. Dessa forma para que a EsEFEx não fi casse distante da modernização do esporte/educação física passou a ser enquadrada no Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx). Este, criado para obter uma interdisciplinaridade entre o esporte, a saúde, a pesquisa e a preparação dos discentes para atuarem nesta área. Inicia-se então uma nova fase dentro da EsEFEx, seu corpo docente busca Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 6, 339, nov/dez 2003 339

o auto aperfeiçoamento em Universidades civis, são realizados dentro da Escola cursos de pós-graduação em convênio com Estabelecimentos de Ensino superior assim como organizados simpósios e palestras. Este enquadramento é considerado o grande marco desta fase. COSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização deste estudo verifi cou-se que a EsEFEx teve uma contribuição plural para o esporte nacional durante sua trajetória, alternando sua contribuição de acordo com a situação política e com a necessidade da sociedade esportiva brasileira. Em alguns momentos sendo pioneira, como na formação profi ssional, na organização de competições ou na apresentação de novos métodos de educação física e em outros momentos, buscando nos estabelecimentos civis congêneres, o aperfeiçoamento necessário para manter seu pessoal sempre o mais atualizado possível. REFERÊNCIAS CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1988. p. 13-72. CANTARINO FILHO, M. R. Educação Física no Estado Novo; História e Doutrina. Brasília, 1982. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade de Brasília. FERREIRA NETO, A. A Pedagogia no Exército e na Escola: a educação física brasileira (1880-1950). Aracruz: Facha, 1999. 162p. GOELLNER,S.V. O Método Francês e a Educação Física Brasileira: da caserna à escola. Porto Alegre:1992. 214f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. LE GOFF, Jacques. História e Memória. 3. ed. Trad. Bernardo Leitão et al. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994. 553p. LIMA, L. M.Os Militares, o Populismo e suas influências na Educação Física em Goiás.1992. 151f. Dissertação (Mestrado em educação). Universidade Federal de Goiás. MELO, V. A. de. Escola Nacional de Educação Física e Desportos - uma possível história. 1996. 214 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade de Campinas. SOUSA, E. S. Meninos, à Marcha! Meninas, à sombra! 1994. 265f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade de Campinas. TUBINO, Manuel José Gomes. O Esporte no Brasil do período colonial aos nossos dias. São Paulo: IBRASA, 1996.139p. 340 Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 6, 340, nov/dez 2003