O Pedagogo Empresarial com objetivo de amenizar o preconceito lingüístico existente nas organizações. Renata Imbrósio Rothfuchs



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Transcrição:

U IVERSIDADE CÂ DIDO ME DES PÓS-GRADUAÇÃO LATU-SE SO I STITUTO A VEZ DO MESTRE O Pedagogo Empresarial com objetivo de amenizar o preconceito lingüístico existente nas organizações Renata Imbrósio Rothfuchs Orientador : Geni Lima Rio de Janeiro 2010 1

U IVERSIDADE CÂ DIDO ME DES PÓS-GRADUAÇÃO LATU-SE SO I STITUTO A VEZ DO MESTRE O Pedagogo Empresarial com objetivo de amenizar o preconceito lingüístico existente nas organizações Monografia apresentada ao curso de pós graduação em Pedagogia Empresarial do Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial à obtenção do grau. Rio de Janeiro 2010 2

Dedicatória Dedico esta monografia aos meus pais, Fernando e Regina e ao meu irmão Marcos, por terem me incentivado e ajudado durante esses anos. 3

"A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar."(henry Peter) 4

Resumo Este trabalho apresenta a importância do pedagogo empresarial para combater o preconceito lingüístico existente nas organizações, a fim de que haja a conscientização e maior aceitação das variantes existentes na língua portuguesa. Ademais, o trabalho pretende abordar a importância de haver treinamento elaborado e supervisionado por um pedagogo empresarial, indicando estratégias, para que este propicie a conscientização dos funcionários sobre as variantes da língua portuguesa Palavras-chave: Variedade linguística, Preconceito lingüístico, Treinamento e desenvolvimento. 5

Metodologia O presente trabalho foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas, as quais permitem ao pesquisador uma concepção teórica sobre as idéias e conceitos abordados na monografia. Portanto, a metodologia adotada foi a teórica, fundamentando-se nos conceitos dos diversos estudiosos sobre o assunto. As pesquisas realizadas para este trabalho, foram exclusivamente em fontes bibliográficas, as quais proporcionaram ao pesquisador obter o conhecimento para a solução do problema apresentado. Cita-se como principais fontes de consulta os autores Macos Bagno, Maurizzio Gnerre, Gustavo Boog e Cheivenato, dentre outros. 6

Sumário I I TRODUÇÃO...8 II VARIEDADE LI GUÍSTICA, O QUE É?...10 III PRECO CEITO LI GUÍSTICO: MOTIVAÇÕES E CO SEQUÊ CIAS O ÂMBITO ORGA IZACIO AL...15 IV A IMPORTÂ CIA DO PEDAGOGO EMPRESARIAL A CO SCIE TIZAÇÃO SOBRE AS VARIA TES DA LÍ GUA PORTUGUESA...23 V CO SIDERAÇÕES FI AIS...30 VI REFERE CIAIS BIBLIOGRÁFICOS...33 VII I DICE...35 7

I - Introdução A partir dos anos 2000, muitos sociolinguistas e pedagogos têm discutido a respeito da variedade linguística em diferentes espaços sociais, ou seja, a forte presença das diferentes formas de utilizar a língua materna, a qual, muitas vezes, não está em conformidade com as normas da gramática normativa da língua portuguesa. O presente trabalho tem como objetivo apresentar os diversos fatores que propiciam a existência da diversidade linguística na sociedade e, consequentemente, no âmbito empresarial. Além disso, objetiva enfatizar a necessidade de elaboração de treinamentos, sendo estes supervisionados por um pedagogo empresarial, a fim de que se evite o preconceito linguístico e que haja, assim, maior conscientização e aceitação das variantes da língua portuguesa entre os funcionários. Essa grande discussão é de extrema importância, uma vez que a língua portuguesa vem sofrendo diversas modificações no decorrer do tempo, em especial, no falar. E, cabe ressaltar que, muitas dessas modificações não estão de acordo com as regras do português padrão, não sendo, portanto, aceitas socialmente. O tema suscita, outrossim, um debate a respeito das diferentes variantes existentes na língua portuguesa, fazendo com que as pessoas, em especial os pedagogos, reflitam sobre a existência das variedades linguísticas (causas, lógicas, etc). E, a partir disto hajam de forma menos preconceituosa com aqueles que utilizam as variedades que diferem da norma culta. O tema também é importante para que os pedagogos empresariais entendam algumas estratégias para elaborar treinamentos dentro das empresas a respeito deste assunto. Ressalta-se, por oportuno, que a presente monografia pretende responder a algumas questões relativas a este assunto, tais como: que fatores justificam a existência das variedades lingüísticas? Quais são as causas e os impactos causados pelo preconceito lingüístico? Quais estratégias um pedagogo empresarial deve utilizar para tentar amenizar o preconceito lingüístico existente entre os funcionários de uma organização? 8

De forma a concluir sobre a importância de considerar as variantes linguísticas dentro das organizações, assim, tentar amenizar o preconceito linguístico com aqueles que não utilizam a norma padrão da língua portuguesa, esta monografia fundamenta-se nos pressupostos teóricos desenvolvidos pelos estudiosos Marcos Bagno, Maurizzio Gnerre, Gustavo Boog, dentre outros. 9

II - Variedade linguística, o que é? Este capítulo tem como principal finalidade introduzir um dos temas abordados na monografia, que é a língua portuguesa e as suas diversas variantes existentes, especialmente na fala de muitos brasileiros. Portanto, trata-se de um capítulo mais explicativo sobre o conceito da língua e suas variedades. 2.1 Conceito de língua A língua é o principal meio que as pessoas utilizam para se comunicarem e, também, com o ambiente. Ela é composta por um conjunto de regras e estratégias lógicas que permitem essa interação. Assim, a sua função primordial é a atribuição do valor comunicativo ao falante. A definição de língua segundo o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa é: Língua sistema de palavras com que se explicam os pensamentos. Um conjunto das regras a que está sujeito a um idioma. 1 Corroborando e acrescentando a respeito dessa ideia, Azeredo (2007) afirma que a língua é uma manifestação da aptidão humana para a comunicação. Assim, ela compõe um sistema abstrato de símbolos, regras e estratégias de interação, os quais são partilhados por uma comunidade de falantes. Além disso, entende-se que é a partir dela que a sociedade se comunica, seus usuários entendem a realidade de mundo e o significado das relações pessoais existentes na sociedade. Cada sociedade, devido a fatores históricos e políticos, adota uma língua para ser considerada a língua oficial de cada país, e, portanto, é utilizada como meio de comunicação entre os habitantes. No Brasil, devido a colonização dos portugueses, a língua materna é o português. Esta, é fruto de uma instituição social e de uma criação histórica e coletiva. De acordo com Gnerre (1998), toda língua é construída historicamente como resultado de forças políticas, sociais e culturais. Ela é, então, um fenômeno social, a Delta, 1987. 1 AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. 8.ed. Rio de Janeiro: 10

qual é regida por normas culturais. Assim, podemos afirmar que a língua faz parte da identidade nacional de cada sujeito e reflete a tradição e cultura de um povo. A língua é um bem comum a todos os falantes de um determinado território, de uma mesma cultura e de um povo. Portanto, eles aprendem a falar por estímulos que surgem a partir de diferentes fenômenos culturais, os quais ocorrem no universo social em que vivemos. 2.2 As variantes da língua portuguesa Conforme exposto, a língua adotada pelos brasileiros é o Português. No entanto, não existe um único modo de se falar e escrever, ou seja, não há uma unidade linguística entre os falantes. Isso ocorre devido a fatores político-sociais e às diferentes interações com o meio que o sujeito realiza, corroborando para que na existam muitas variedades linguísticas. De acordo com Teles (2006), as variedades linguísticas existentes formam um conjunto flexível de possibilidades de usos da língua, onde existem diferentes regras de seleção, combinação e substituição desta, o que permitem essas diferenças. Confirmando esta idéia, Azeredo (2007) afirma que: inguém de fato conhece uma língua na totalidade de seus usos, que são múltiplos. O que conhecemos e empregamos nas situações concretas de comunicação- são variedades dessa língua (p.55) À luz desse entendimento, Bagno (2006) afirma que toda língua possui o fenômeno da variação, uma vez que nenhuma língua é falada do mesmo modo em todos os lugares e as pessoas a utilizam de formas variadas. Segundo outro autor, Azeredo (2007), a variedade linguística utilizada pelo falante depende da capacidade que cada um tem em avaliar o contexto sociocultural em que está inserido. É a partir dela que o sujeito utiliza seus propósitos comunicativos. Entende-se que, dependendo das diferentes formas de interação com o meio, o falante adota uma variante da língua. A fim de explicar melhor a existência das variedades linguísticas nos diferentes falares, Azeredo (2007) ainda afirma que a língua é aprendida pelo indivíduo através das diversas circunstâncias interativas do convívio social. Como o ser humano interage de modo diferente com o meio, cada falante compreende e utiliza a língua da sua 11

maneira. Assim sendo, sempre há diferenças no uso da língua entre os indivíduos, podendo ser na pronúncia, na organização das frases, no vocabulário e no ritmo da fala, dentre outros. É importante ressaltar que, as variedades linguísticas tanto ocorrem dentro da norma padrão, uma vez que quase nenhum falante adota todas as regras estabelecidas pela norma culta, quanto com as variedades não-padrão, as quais possuem lógicas diferentes das adotadas da norma culta da língua portuguesa. Percebe-se assim, que há uma grande pluralidade nas formas do usuário da língua materna interagir com o mundo ao seu redor, as quais variam conforme os valores constitutivos da própria dimensão sociocultural de cada indivíduo. A variedade linguística existente na sociedade deve-se a diversos fatores que influenciam o modo de usar a língua de cada sujeito. Consoante entendimento de Bortoni-Ricardo (2004), a presença das variantes pode ser explicada, primeiramente, pelo fato de que todo ser humano ao interagir na sociedade assume determinado papel social, o qual reflete nos hábitos linguísticos. Ainda conforme Bortoni-Ricardo (2004), as variedades linguísticas entre as pessoas, outrossim, podem ser explicadas por diversos fatores, tais como: grupos etários, onde o vocabulário, a estrutura de frases e até mesmo a pronúncia variam de acordo com as gerações; gênero, já que ocorrem diferenças no modo de usar a língua entre as mulheres, as quais adotam marcadores conversacionais e diminutivos, enquanto o falar dos homens é composto, predominantemente, por muitas gírias e palavras chulas. Outro fator que está intimamente ligado às variedades linguísticas é o mercado de trabalho, haja vista que a atividade profissional que cada um exerce, influencia no falar, além dos jargões e expressões típicas de cada profissão. Dependendo do grau de escolarização que cada pessoa possui, isto é, a quantidade de anos que frequentou a escola, interfere na forma como este falante utiliza a língua portuguesa, contribuindo assim para a existência das variedades linguísticas. Outros fatores, de acordo com a autora, que devem ser considerados para compreender as diversidades existentes na língua portuguesa são: o status econômico e a rede social de cada ser humano, visto que a distribuição social dos bens e as diferentes formas interação social, interferem, fortemente, no uso da língua de cada falante. 12

Para confirmar os fatores das variedades linguísticas, cita-se Teles (2006):...cada língua corresponde a expressão de uma escolha entre as várias possibilidades linguísticas, apresentando variações relevantes em função de valores sociais, regionais, de faixa etária, de situação econômica... (p.3) É de extrema importância compreender que os fatores os quais propiciam a existência das variedades linguísticas agem simultaneamente no indivíduo e influenciam, de forma conjunta, na formação do uso da língua de cada sujeito. Assim, conforme Soares (2002), cada variante e dialeto é usado e adotado a partir das necessidades e características do grupo social ao qual cada falante pertence. Logo, podemos entender que a variedade linguística adotada pelo falante está associada diretamente às dimensões culturais e sociais. A produção linguística do sujeito depende do contexto em que ele está inserido e, por isso, as variantes da língua, em sua maioria, definem o grupo social em que ele vive e a qual ambiente linguístico pertence. Uma vez que a língua adotada pelo falante está intimamente associada à interação que o homem tem com o meio, esta representa a identidade social do falante. Percebe-se então que, em todos os meios sociais a língua varia entre os falantes e as variedades linguísticas são inerentes à própria comunidade linguística. 2.3 A língua em constante mutação A língua é uma manifestação da comunicação humana que recebe influências, principalmente, a fala dos seres humanos, a qual permite que haja inovações linguísticas. A língua falada, aquela que não está prescrita nas gramáticas normativas, é fluida, dinâmica e ágil, haja vista se deixar influenciar por forças vivas de mudanças e, consequentemente, evolui com muita rapidez, o que contribui ainda mais para a existência das variedades linguísticas. Corroborando com essa idéia, Bagno (2006) afirma: A língua voa, a mão se arrasta (p.88) 13

Bagno (2006) também alega que a língua é uma construção histórica e coletiva, a qual varia de acordo com a época e local no qual se encontra. Portanto, ela não é estática, está sempre se renovando e acompanhando as mudanças que ocorrem na sociedade, o que explica, também, a existência das variedades linguísticas nos dias atuais. 14

III Preconceito linguístico: motivações e consequências no Âmbito organizacional O presente capítulo aborda as características históricas e sociais do preconceito lingüístico. Assim como, a forma como muitas pessoas tratam de forma discriminatória as pessos que utilizam as variantes da língua portuguesa dentro do ambiente organizacional. Pretende-se outrossim, enfatizar como esta forma de preconceito deve ser combatida ou ao menos amenizada dentro das organizações. 3.1 Causas do preconceito linguístico O preconceito linguístico consiste na discriminação de grupos ou indivíduos por fazerem uso de uma variação da língua diferente daquela estabelecida nas gramáticas tradicionais. Tal preconceito está enraizado dentro de cada pessoa. Ele é implantado muito cedo, principalmente nas camadas sociais mais privilegiadas. As variedades linguísticas existentes na sociedade refletem, diretamente, nas organizações, uma vez que os funcionários adotam diferentes usos da língua, devido a diversos fatores, conforme visto anteriormente. Entretanto, percebe-se que as variantes mais criticadas pela sociedade são aquelas que diferem da norma culta, ou seja, aquelas que não estão descritas na gramática da língua portuguesa. As gramáticas normativas expressam as regras e lógicas da norma padrão, que é a variante mais aceita socialmente. Entretanto, Bagno (2001), atenta para o fato de que há muitas diferenças entre norma culta e língua, uma vez que a gramática é apenas uma parcela de conhecimento do português e, portanto, não pode ser considerada a única forma correta de se utilizar a língua materna. Vale lembrar que a norma culta também é uma variante dentre as diversas variedades linguísticas existentes no português. A norma padrão está associada à regra literária, que é considerada pela gramática tradicional a forma mais correta e perfeita da língua portuguesa. Assim sendo, a sociedade brasileira de modo geral, enaltece as regras estabelecidas por estas gramáticas, e não permitem que os indivíduos se expressem de forma livre e, consequentemente, eles se sentem incapazes diante dos seus erros. Segundo Teles (2006), a variante padrão é aquela variedade linguística com maior prestígio social, a qual é determinada por fatores políticos, econômicos e sociais, sendo esta explícita nas gramáticas. Concordando com essa idéia, Gnerre (1998) afirma que a norma padrão é estabelecida por um processo histórico e social, uma vez que esta 15

variante é adotada por pessoas mais privilegiadas e dominantes da sociedade, o que faz com que esta seja considerada a forma mais correta de utilização da língua portuguesa. A norma padrão, não obstante ser a variedade linguística adotada nas instituições de ensino e a mais aceita nos diversos meios sociais, só é alcançada por uma parcela da população, o que justifica a existência das demais variantes da língua portuguesa. De acordo com Bagno (2001), as pessoas que pertencem às classes mais privilegiadas da sociedade, aquelas normalmente com maior poder aquisitivo, dominam melhor a norma padrão, visto que elas possuem maior acesso à cultura e à escolarização. Portanto, o acesso à variante padrão é controlado e restrito a pequenos grupos sociais. Cabe lembrar que, os indivíduos que utilizam uma variedade linguística diferente da norma culta são desprezados socialmente, fato este que não poderia ocorrer, uma vez que a disponibilidade à escolarização não é feita de forma homogênea na sociedade brasileira devido às diferentes condições sócioculturais da população. Já que muitas pessoas não tiveram acesso à variedade linguística mais aceita socialmente, estas não poderiam ser julgadas por utilizarem as variantes consideradas não-padrão. Percebe-se, então, que o preconceito linguístico está intimamente atrelado ao preconceito social, os quais deveriam ser combatidos. Consoante entendimento de Bortoni-Ricardo (2006), a sociedade, o que reflete nas empresas, elege uma variedade linguística como válida e ignora as outras variantes existentes na língua portuguesa. Vale ressaltar que, tal variedade, a qual é mais prestigiada socialmente, só é considerada superior às demais, uma vez que os falantes desta são detentores de maior prestígio e poder no meio social em que vivem, e por isso, a variedade linguística adotada por eles é considerada a melhor forma de falar o português e, consequentemente, ensinada nos colégios. Por representar a unidade linguística adotada pelos grupos hegemônicos da sociedade, muitas organizações invalidam a utilização das demais variedades da língua havendo, portanto, a desvalorização das diversas variantes linguísticas. Pode-se perceber, então, que os falantes que fazem uso de um registro diferente da norma culta, sofrem um grande preconceito. É comum perceber que durante a realização de um processo seletivo dentro de uma empresa, os selecionadores sempre estão atentos à forma de falar dos candidatos. Muitas vezes, os candidatos são descartados pela forma que ele fala, ou seja, por não adotar a norma padrão da língua portuguesa. Isso é um exemplo de como a questão do 16

preconceito lingüístico está enraizado em diversos âmbitos sociais, inclusive no organizacional. Ademais, Bagno (2001) acrescenta que por tentar estabelecer uma unidade linguística no Brasil, em sua maioria, impõe-se a norma culta sem considerar os demais falares. Com isso, as variantes que não regem de acordo com a variedade padrão, são consideradas como inválidas, sendo assim, desprestigiadas e ridicularizadas na sociedade em que vivemos. Uma vez determinado o código linguístico, este é apontado como superior às demais variantes, e por isso, deve ser priorizado dentro das organizações a fim de que todos os cidadãos daquela língua produzam e entendam a variedade linguística considerada como correta. De acordo com Gnerre (1998), essa exaltação nos diferentes meios sociais à determinada variante da língua, acaba criando um forte preconceito com relação àqueles que falam diferente da norma padrão estabelecida. Conclui-se então que, qualquer manifestação linguística que não esteja de acordo com as normas da língua as quais são explicitadas nas gramáticas e catalogadas nos dicionários, são vistas como erradas; havendo, portanto, uma visão muito preconceituosa em relação às diversas variantes existentes na língua portuguesa. Santos (2004) afirma que, pelo fato de as gramáticas normativas serem produzidas a partir de processos históricos, cujas formas muitas vezes já são consideradas arcaicas e ultrapassadas, percebe-se, claramente, que a linguagem adotada por boa parte das pessoas nos dias de hoje, distancia-se daquela variante que a sociedade tentar impor. Entretanto, muitos não percebem essa dicotomia e continuam impondo a norma padrão, agindo com preconceito perante às demais variantes existentes na língua e, consequentemente, à fala daqueles que adotam as diversas variantes lingüísticas. A partir de seus estudos no campo linguístico, Soares (2004) alega que muitas organizações, por valorizar a cultura das classes dominantes e, em razão disso, somente valorizar a norma padrão da língua portuguesa, despreza aqueles que utilizam uma variedade diferente daquela apontada nas gramáticas normativas, tratando, então, de forma discriminatória, a diversidade cultural existente na língua adotada pelo povo brasileiro. Corroborando com esta ideia, Santos (2004) entende que a imposição da utilização da norma culta, desconsiderando, assim, as demais variantes do português, 17

pode causar muitas consequências nos cidadãos que adotam outras variedades linguísticas. Para exemplificar, tal autora cita o bloqueio da expressividade, uma vez que eles se sentem inferiorizados, o que pode até mesmo acarretar déficit de produditividade. Ressalta-se por oportuno que, ao tentar impor uma variante da língua sobre a outra, como ocorre em muitas organizações, há uma renúncia das raízes culturais deste falante e até mesmo da sua própria identidade. De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, todos os cidadãos brasileiros, apesar de suas diferenças, sejam elas físicas, econômicas, sociais e regionais, dentre outras, são considerados iguais perante a lei, possuindo os mesmos deveres e direitos. Artigo 5º CAPUT da CRFB/88: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (p.5) No entanto, Gnerre (1998) afirma que nem todos os brasileiros são tratados de forma igual. Assim, no entendimento desse autor, aqueles cidadãos que não utilizam a variedade padrão da língua portuguesa são discriminados e menosprezados socialmente. Muitas vezes, estes usuários são vistos como seres inferiores, o que pode desencadear um grande preconceito. Essa atitude, também infringe a lei e, portanto, é necessário combater o preconceito linguístico, a fim de que todos os brasileiros sejam tratados de forma igual na nossa sociedade. 3.2 Acerto versus erro É comum observarmos na sociedade em que vivemos, alguém dizer que determinada pessoa falou ou escreveu de forma errada, uma vez que ele não utilizou as regras da norma culta. Esse tipo de atitude gera um preconceito linguístico com os usuários da variante não-padrão, que são variedades as quais não adotam as regras estabelecidas pela norma culta, ou seja, uma variante menos privilegiada socialmente. Muitas vezes o falante da norma não-padrão é considerado um ser inferior aos demais e sem instrução. 18

Segundo Bagno (2001), um passo importante para que as diversas variedades da língua portuguesa sejam mais aceitas nos diferentes espaços sociais é que se reveja a noção de erro. De acordo com este teórico, não existem erros de português mas sim diferenças nas regras gramaticais adotadas na norma culta para aquelas utilizadas pelo português considerado não-padrão. Bortoni-Ricardo (2006), também, afirma que as tais variantes do português devem ser vistas como diferentes modos de usar a língua e não como erradas. Segundo ela, o português adotado pelos brasileiros não é um bloco sólido e estático, mas sim algo fluido em que ocorrem muitas variedades desta língua e, portanto nenhuma variedade pode ser considerada inferior, mas sim diferente. Confirmando esta idéia, cita-se Bortoni-Ricardo (2006): Erros de português são diferenças entre as variantes da língua (p.37) Conforme visto, os erros que ocorrem na língua portuguesa, na verdade, são as diferenças linguísticas existentes no português. Logo, os dialetos que diferem das lógicas apontadas pela norma culta não podem ser considerados como errados, somente diferentes da norma padrão. Corroborando este entendimento, Soares (2002) afirma que nenhuma variedade linguística pode ser considerada errada, já que todas pertencem a uma mesma língua, a portuguesa. Assim sendo, nenhuma forma de utilização da língua portuguesa pode ser considerada certa ou superior as demais, apenas diferente A fim de comprovar a inexistência do erro de português, Soares (2002) ainda afirma que mesmo os dialetos diferentes da norma padrão adotada pela língua portuguesa, devem ser considerados igualmente válidos como instrumentos de comunicação, uma vez que todas as variantes da língua, apesar de divergentes, possuem lógicas, regras e estruturas muito complexas. Santos (2004) entende que só pode ser considerado como erro de português aquilo que não está previsto no sistema da língua, ou seja, não há uma lógica e razão coerente para utilização de determinada variante. Conforme visto no capítulo anterior, as variedades linguísticas existentes no português podem ser justificadas por meio de diferentes fatores, como por exemplo: região, faixa etária e sócioeconômico, dentre outros. Todas as variantes, mesmo sendo distintas das regras expressas nas gramáticas normativas, devem ser consideradas como válidas, haja vista possuírem uma explicação lógica e histórica. 19

Segundo o entendimento de Bortoni-Ricardo (2006) não se pode considerar erro aquilo que não está de acordo com as regras estabelecidas na norma padrão, já que existem diferentes formas de se utilizar a língua materna, as quais são meios igualmente válidos, que permitem a comunicação e, portanto, não podem ser considerados como errados. Ainda segundo tal autora, os ditos erros da língua portuguesa possuem lógicas e regras próprias, que diferem da norma culta. Corroborando com essas noções, Bagno (2006) afirma que mesmo as variantes do português não-padrão possuem lógica, que muitas vezes têm relações históricas. Tais variantes, por adotarem determinadas regras, possuem recursos linguísticos que permitem a comunicação e a interação entre os homens (sendo eles usuários de qualquer variedade linguística), o que comprova ainda mais que as variedades são apenas diferentes. As diversas variedades linguísticas existentes no português, então, possuem lógicas que podem ser justificadas através da explicação histórica no sistema e na evolução da língua portuguesa. Um bom exemplo para compreender a lógica histórica das variedades não-padrão, são as palavras que possuem encontro consonantal com a letra L, conforme explícito no quadro seguinte. 2 LATIM Ecclesia Blasiu Plaga Sclavu Fluxu PORTUGUÊS Igreja Brás Praia Escravo Frouxo Conforme o quadro acima, algumas palavras escritas em latim, que possuíam encontro consonantal com a letra L, ao serem traduzidas para o português passaram a ter encontro consonantal com a letra R. Entretanto, existe uma tendência natural de adotar os mesmos padrões para toda a língua e, por isso, justifica-se a existência das variedades linguísticas como: pranta ao invés de planta e fror no lugar de flor. 2 BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15.ed. São Paulo: Contexto, 2006, p.44 20

A partir desses exemplos, pode-se perceber uma explicação histórica e uma justificativa lógica sobre a existência das diversas variedades linguísticas, o que comprova ainda mais que não se pode considerar as variantes do português como incorretas, mas apenas como diferentes. É importante ressaltar que os indivíduos que utilizam as variantes consideradas não-padrão do português não possuem o conhecimento da justificativa histórica e a lógica do dialeto adotado por eles. As variedades linguísticas surgem de acordo com as mudanças que ocorrem na sociedade (cultural e econômica, dentre outras) e estas são transmitidas a cada geração. Bagno (2001) afirma que, as variedades não-padrão tentam eliminar as regras consideradas desnecessárias para a língua portuguesa, como por exemplo as redundâncias apresentadas no plural das palavras. Tais lógicas têm o objetivo de enxugar a língua, tornando-a mais fluída e dinâmica. As regras adotadas por um usuário do português menos prestigiado socialmente, permitem que ele crie sentenças bem formuladas, as quais lhe permitem a comunicação. Segundo Possenti (1996), as variantes que diferem da norma padrão, outrossim, possuem lógicas as quais são internalizadas pelo usuário. Assim, as gramáticas internalizadas, que possuem normas não prescritas, formam um conjunto de regras que o falante domina, sendo que este conhecimento o habilita a produzir frases as quais sejam compreensíveis a todos os usuários da língua portuguesa. As gramáticas internalizadas expressam os conhecimentos linguísticos dos falantes, os quais foram aprendidos de forma natural, provavelmente no meio social de cada um, e o individuo por ouvir tal variante e repeti-la, internaliza as regras e as utiliza em seu dia-a-dia. Numa tentativa de amenizar o preconceito linguístico em relação aos usuários das variantes consideradas não-padrão no ambiente empresarial, se faz necessário: Que haja uma política de treinamento visando à conscientização da existência das variantes da língua portuguesa; Que reconheçam que os erros possuem uma explicação lógica; Que tenham consciência de que toda língua se transforma e que por isso, o que hoje é classificado como errado, amanhã pode ser visto como certo; Que respeitem a evolução da língua portuguesa, permitindo suas transformações; 21

Que aceitem a variabilidade linguística de toda e qualquer pessoa e com isso, estararão respeitando a identidade cultural e social destes mesmos indivíduos; Que se conscientizem que todo falante nativo de uma língua é usuário competente da mesma e, portanto, sabe essa língua; Que respeitem o conhecimento e a variedade linguística adotada por cada cidadão. 22

IV A IMPORTÂ CIA DO PEDAGOGO EMPRESARIAL A CO SCIE TIZAÇÃO SOBRE AS VARIA TES DA LÍ GUA PORTUGUESA Este capítulo explicita a função do pedagogo dentro de um ambiente empresarial, além de enfocar a importância deste para que haja concientizaçao das variedades lingüísticas, amenizando assim, o preconceito com aqueles usuários da norma não padrão da língua portuguesa. Para isto, este capitulo também retrata algumas estratégias de treinamento que o pedagog deve utilizar para alcançar o objetivo esperado. 4.1 O papel do pedagogo empresarial perante as variedades lingüísticas Ao final da década de 90 o pedagogo, o qual é o profissional responsável por difundir a educação como prática humana e social naquilo que modifica os indivíduos e os grupos em seus estados físicos, mentais, espirituais e culturais, conquistou espaço em uma nova área de trabalho, não restringindo-se somente aos espaços escolares, haja vista que a educação existe também em diversos meios sociais, sendo este novo local de trabalho, o ambiente organizacional. A atuação do pedagogo empresarial proporciona a interação com o sujeito, a reflexão sobre a prática do trabalho e a elaboração de programas instrucionais que priorizem a totalidade do processo de trabalho. Este deve oferecer instrumentos para que o sujeito aprenda a desvendar a realidade e para que o conhecimento aconteça por parte do funcionário. O pedagogo empresarial tem um papel fundamental que é o de oferecer subsídios de cunho teórico-prático para que a partir da ação o sujeito interfira na realidade. Destarte, o pedagogo na empresa produz e difunde o conhecimento, exercendo o seu papel de educador. Segundo Greco (2007), o pedagogo por compreender o processo cognoscente pode contribuir na aprendizagem do profissional aguçando o desenvolvimento das potencialidades individuais através da interação entre os profissionais na seleção de metodologias adequadas proporcionando, assim, condições para que ocorra a aprendizagem por meio do trabalho. Ademais, este profissional está apto a desenvolver planejamento, execução, acompanhamento e avaliação de desempenho dos profissionais 23

dentro da organização, atuando outrossim com espírito crítico e analítico na vida social, por meio do trabalho educativo enquanto mediação empresa/sociedade. De acordo com Chiavenato (1999): Desenvolver pessoas não é apenas dar-lhes informação para que elas aprendam novos conhecimentos, habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes naquilo que fazem. É, sobretudo, darlhes a formação básica para que elas aprendam novas atitudes, soluções, idéias, conceitos e que modifiquem seus hábitos e comportamentos e se tornem mais eficazes naquilo que fazem. Formar é muito mais do que simplesmente informar, pois representa um enriquecimento da personalidade humana. (P. 290) Assim, pode-se entender que o pedagogo empresarial tem a missão de auxiliar os funcionários no sentido que estes reflitam suas práticas dentro das empresas e que em meio a esta reflexão, busquem desenvolver maneiras para alcançar melhor rendimento e desempenho de seu trabalho, com intuito de desenvolvimento nos âmbitos pessoal e profissional. Isto corrobora para a idéia da importância do pedagogo dentro das organizações em suscitar nos funcionários a reflexão e conscientização sobre diversos assuntos, incluindo a existência das variedades lingüísticas na sociedade atual. Cada vez mais as empresas descobrem a importância da educação no trabalho e começam a desvendar a influência da ação educativa do pedagogo na empresa. Atualmente, a empresa começa abrir espaço para que este profissional possa, de maneira consciente e competente, solucionar problemas, elaborar projetos, formular hipóteses, visando à melhoria dos processos instituídos na empresa, garantindo a qualidade do atendimento, contribuindo para instalação da cultura institucional da formação continuada dos empregados. A maneira de atuar na empresa deve buscar modificar o comportamento dos trabalhadores de modo que estes melhorem tanto suas qualidades no desempenho profissional e pessoal. 24

4.2 Valorização das diversidades linguísticas nas empresas As organizações nos dias atuais tornaram-se um espaço bastante heterogêneo, no que concerne ao uso da língua portuguesa; ou seja, existem diferentes formas de usar a língua, que se diferenciam excessivamente da norma padrão. No entanto, muitos funcionários não sabem lidar com a presença das variedades linguísticas, e, portanto, continuam a impor a norma culta, sem considerar as demais variantes, reforçando, assim, o preconceito linguístico. Segundo Azeredo (2007), é de extrema importância que o pedagogo empresarial se qualifique e defina as suas práticas pedagógicas a fim de enfrentar e considerar as variedades linguísticas existentes na fala e na escrita dos funcionários, a partir da realidade de cada um deles. Vale lembrar que este profissional tem como objetivo conscientizar os demais a respeito das variantes da língua. Conforme o entendimento de Bortoni-Ricardo (2006), é preciso que o pedagogo esteja atento às variedades linguísticas existentes entre os pessoas. Para isso, ele deve adotar uma pedagogia que seja sensível aos saberes dos educandos, além de ter uma postura crítica e reflexiva perante a norma culta. É fato que com domínio da norma culta o falante terá mais acesso às práticas sociais da leitura e escrita, o que lhe proporcionará maior integração e prestígio social. No entanto, é importante lembrar que somente o aprendizado da norma culta não garante ao cidadão uma ascensão social, visto que a mudança de classes está associada à conjuntura política, econômica e social em que o individuo está inserido. Cabe ressaltar também que o pedagogo não pode desvalorizar a variante linguística adotada por cada funcionário, uma vez que estas variedades foram adquiridas pelo indivíduo a partir das suas relações sociais e, por isso, integram a identidade de cada sujeito. Para que haja maior aceitação das variedades linguísticas de português nos diversos espaços sociais algumas mudanças já têm sido realizadas. Consoante Santos (2004), os indivíduos dentro de um organização devem compreender as diferenças existentes entre a norma culta e as demais variantes que fogem a estas regras, entendendo os seus diversos contextos. Percebe-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa já reconhece a existência das diferentes formas de utilizar a língua materna, considerando, 25

portanto, as variedades linguísticas presentes entre os brasileiros, conforme exemplificado abaixo: utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam; conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado; compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.; usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica; conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. (p.33) Este Parâmetro Curricular Nacional, outrossim, aponta para a importância de conscientizar os alunos a respeito da diversidade sociocultural que existe na sociedade brasileira atual e, consequentemente, no espaço escolar, podendo também ser adotado por pedagogos em ambientes empresariais. As propostas deste documento são de extrema importância para que os pedagogos percebam a necessidade da valorização da multiplicidade linguística entre as pessoas. Seguindo o que este PCN prevê, certamente haverá maior conscientização e entendimento sobre as variantes da língua portuguesa, o que diminuirá o preconceito linguístico com relação àqueles que não utilizam a norma culta da língua portuguesa. 26

Cabe ressaltar que, recentemente, muitos sociolinguistas têm discutido sobre as variantes da língua, considerando que, mesmo aqueles indivíduos os quais não utilizam a norma culta da língua devem ter um apoderamento da cidadania leitora, crítica e participativa, a fim de que possam atuar em igualdade nos diversos espaços sociais. Portanto, o pedagogo que atua em ambientes empresariais, além de conscientizar os funcionários a respeito das variantes da língua, pode também, elaborar treinamentos com o objetivo de ensinar a norma culta da língua, expondo assim, os diferentes dialetos. No entanto, além de os funcionários se conscientizarem sobre a razão da existência das variedades linguísticas, é preciso, também, que eles compreendam a necessidade do domínio da norma culta na sociedade em que vivemos, sem contudo, desrespeitar as suas raízes culturais e linguísticas.. 4.3- A importância do treinamento entre os funcionários para que haja conscientização lingüística O processo de aprendizagem e as práticas reflexivas nas empresas estão cada vez mais presentes. Ribeiro (2003) expõe que o aprendizado é o saber assimilado, isto é, a construção do conhecimento por cada indivíduo e se estabelece quando a pessoa encontra um sentido para aprender e do porque aprender. Cabe ressaltar que, aprender não significa estritamente adquirir mais conhecimento, mas sim expandir a capacidade de reflexão e conscientização a respeito dos aspectos abordados, formando cidadãos mais consciente e atuantes na sociedade. As organizações que valorizam o processo de aprendizagem enfocam e dispõe de habilidades para criar, adquirir e ensinar conhecimentos, sendo capaz de mudar comportamentos, de modo a refletir os novos conhecimentos e idéias. É fato que este processo de ensino-aprendizagem não ocorre rapidamente, uma vez que o processo de mudança que este gera requer um esforço e aceitação dos novos conhecimentos para que este realmente seja assimilado e, consequentemente, posto em prática pelo aprendiz. Em especial, a conscientização das variantes presentes na língua portuguesa, provavelmente, será algo que levará um tempo uma vez que a mudança de comportamentos já enraizados demora mais tempo para ser mudado. No entanto, a continuidade neste processo reflexivo, realizado especialmente por pedagogos, certamente acarretará no processo de conscientização e, consequentemente em mudança de atitudes, amenizando assim o preconceito lingüístico sofrido por aqueles funcionários que não utilizam a norma culta da língua portuguesa. 27

Segundo Garvin, (1993) "uma organização de aprendizagem é aquela que tem a habilidade de criar, adquirir e transferir conhecimento e de modificar seu comportamento para refletir sobre novos conhecimentos e insights (p. 04). No intuito de construir organizações que aprendem, é preciso criar um ambiente propicio à aprendizagem, ou seja, um espaço onde haja a estimulação de intercâmbio de idéias, eliminando assim as barreiras de comunicação e inclusive o preconceito. Ademais, é preciso criar oportunidades de aprendizado por meio de treinamentos, sejam eles realizados por workshops, seminários e mesa redonda, dentre outros. Conforme ressalta Borges-Andrade (2002), o treinamento e o desenvolvimento, apesar de suas diferenças, são formas de desenvolver pessoas. As ações de treinamento visam produzir melhorias no desempenho das pessoas, enquanto as ações de desenvolvimento são mais abrangentes, compreendendo aspectos que vão além do desempenho no trabalho e estão relacionadas ao crescimento dos treinandos. Os processos de aprendizagem organizacional podem ser classificados como humano, onde o indivíduo agrega novos conhecimentos através da experiência e da observação, e induzido, àquele obtido por meio de situações cuidadosamente planejadas e estruturadas, além de serem realizados a médio e longo prazo, não obtendo, portanto, um resultado de imediato. O treinamento é um dos recursos do desenvolvimento de pessoal, o qual visa o aperfeiçoamento de desempenhos, aumento da produtividade e das relações interpessoais. Para isso, prepara o potencial humano frente às inovações tecnológicas e as constantes mudanças do mercado de trabalho, sendo este indispensável para a busca da qualidade total. O treinamento pode ter diferentes objetivos, dependendo da necessidade da empresa, sendo eles: 1) Transmissão de informações, aumentando o conhecimento dos treinados; 2) Desenvolvimento de habilidades, melhorando habilidades e destrezas dos funcionários; 3) Desenvolvimento de atitudes, com intuito de provocar mudança comportamental; 4) Desenvolvimento de conceitos, elevando o nível de abstração. 28

Segundo Boog (2001) o treinamento começa como uma resposta a uma necessidade ou a uma oportunidade em um ambiente organizacional. Estabelecer o valor faz com que o círculo completo do processo seja cumprido, pois enfoca as necessidades, os problemas e as oportunidades empresariais. Portanto, pode-se perceber que o treinamento, o qual deve ser elaborado por um supervisor pedagógico, será uma boa estratégia para conscientizar as pessoas que trabalham nas organizações sobre as variantes da língua portuguesa. Primeiramente, para elaborar um treinamento, faz-se necessário a realização do levantamento das necessidades de treinamento (LNT), que tem por objetivo identificar as carências existentes na organização, definindo os objetivos organizacionais a serem alcançados e os comportamentos que deverão ser modificados. Para coletar estes dados, o pedagogo, que elaborará o projeto de treinamento, poderá utilizar de instrumentos como questionários, entrevistas, observação e pesquisa de clima, dentre outros. A segunda etapa de um treinamento é a realização do desenho do mesmo, ou seja, o planejamento das ações de treinamento, o qual deve ser um programa integrado e coeso. Neste devem ficar estabelecidos quais funcionários serão treinados, como será este treinamento, os assuntos abordados durante o programa, quem serão os instrutores, o local e data do treinamento e os objetivos do mesmo. Percebe-se assim que nesta etapa será definido o projeto do treinamento. O próximo passo é a efetiva aplicação do programa de treinamento, que visa atender os objetivos propostos na etapa anterior. Algumas técnicas de treinamento podem ser utilizadas para que o mesmo seja implementado. Como exemplo podemos citar: reuniões, simpósios, brainstorming, teleconferência, dinâmicas de grupo, estudos de caso e dramatização, dentre outros. Vale ressaltar o pedagogo que elaborará o treinamento deve considerar e adotar a técnica que considere mais relevante para que os objetivos do treinamento sejam alcançados de forma eficaz. A quarta e última etapa do programa de treinamento refere-se a avaliação do mesmo. Assim, esta destina-se a verificar a eficácia do treinamento, concluindo o mesmo atendeu as necessidades da organização, dos funcionários e dos clientes da empresa. 29

Para que os funcionários se conscientizem sobre as variedades linguísticas, é necessário que haja um trabalho elaborado, contínuo e profundo para com eles, a respeito deste tema, considerando o processo de entendimento de cada um deles. Portanto, faz-se necessário a elaboração de um programa de treinamento por um pedagogo empresarial, seguindo as etapas acima citadas, a fim de que realmente haja uma mudança comportamental dos funcionários e maior aceitação da diversidade. Cabe lembrar que, a partir da compreensão das variantes existentes na língua portuguesa, é possível que haja uma diminuição do preconceito linguístico nas organizações. 30

V - Considerações Finais O espaço empresarial é um ambiente heterogêneo, onde existem diferentes usos da língua portuguesa. As variantes do português ocorrem devido a diversos fatores, como por exemplo: faixa etária, gênero e grupo social, dentre outras. Entretanto, como visto durante todo o presente trabalho, aquelas pessoas oriundas de classes menos favorecidas da população, as quais não têm muito acesso à cultura e a escolarização, podem ser menosprezadas e ridicularizadas na sociedade e inclusive dentro das empresas, por adotarem uma variedade da língua que não segue as regras estabelecidas pela norma culta Assim, procurou-se ao longo desta monografia alertar aos pedagogos, especialistas e interessados na área da educação, que as variantes existentes na língua portuguesa são múltiplas e que, todas elas, apesar de serem diferentes, compõe uma única língua que é o português. Ademais, muitas das variedades lingüísticas, que encontramos seja na fala ou na escrita dos funcionários, possuem uma explicação lógica e, estas integram a identidade cultural dos indivíduos. Portanto, deve-se considerar tais variantes, respeitando o uso diferenciado da língua, a fim de que haja uma diminuição do preconceito lingüístico. O que se pretende demonstrar com mais clareza neste trabalho é a necessidade de conscientização a respeito das variedades da língua, especialmente em organizações que valorizam a diversidade e incentivam o aprendizado contínuo. Nestes espaços, fazse necessário a presença de um pedagogo para que este possa elaborar e implementar treinamentos junto aos funcionários da organização para que se alcance maior reflexão e consciência sobre as variedades da língua portuguesa. Esta maneira de abordar o tema já é um grande avanço para a diminuição do preconceito lingüístico nos âmbitos empresariais e, conseqüentemente um passo para aceitação das diversidades nestes locais. É fato que este tema ainda precisa ser muito debatido, haja vista que o preconceito lingüístico ainda está impregnado na sociedade brasileira. Certamente, a mudança de atitudes dos funcionários perante as variedades da língua, considerando-as como parte integrante do português, será um grande passo para que a discriminação com aquelas pessoas que não adotam a norma culta, seja amenizada. No entanto, ainda é necessário que mais estudos busquem soluções para que o preconceito seja realemente 31

extinto. É preciso que haja uma reflexão sobre o preconceito lingüístico e a sua relação com as desigualdades sociais existentes em nosso país, as quais, certamente, influenciam os indivíduos nos diferentes modos de utilização da língua. No momento em que as empresas implementem em seus treinamentos a prática da reflexão sobre o tema supramencionado, é fato que teremos um país mais consciente, respeitando, assim, as diferenças ímpares existentes neste imenso Brasil. 32

VI - Referenciais Bibliográficos AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. 8.ed. Rio de Janeiro: Delta, 1987. AZEREDO, José Carlos de. Ensino de português: fundamentos, percursos, objetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007 BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 8.ed. São Paulo: Loyola, 2001 A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15.ed. São Paulo: Contexto, 2006 BOOG, Gustavo G ( coord.). Manual de Treinamento e Desenvolvimento: um guia de operações - manual oficial da ABTD. São Paulo: Makron Books, 2001. BORGES-ANDRADE, J. E. Desenvolvimento de medidas em avaliação de treinamento. Revista Estudos de Psicologia, 7(Especial), 2002 BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2006 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2004 Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997 CHIAVENATO, Idalberto. Treinamento e desenvolvimento de recursos humanos: como incrementar talentos na empresa. São Paulo: Atlas, 1999 33