ANÁLISE DE POSTURA E CARGA ATRAVÉS DOS MÉTODOS OWAS E NIOSH EM UMA FÁBRICA DE SORVETES NO SUL DO BRASIL



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Transcrição:

ANÁLISE DE POSTURA E CARGA ATRAVÉS DOS MÉTODOS OWAS E NIOSH EM UMA FÁBRICA DE SORVETES NO SUL DO BRASIL Mary Helen Ribeiro dos Santos (UTFPR ) mary_hrs@hotmail.com Guatacara dos Santos Junior (UTFPR ) guata@utfpr.edu.br Andre Luiz Soares (UTFPR ) andresoares03@hotmail.com Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR ) augustox@utfpr.edu.br Bruno Samways dos Santos (UTFPR ) bruno.samways@gmail.com A Ergonomia busca em sua essência melhorar as condições da realização das atividades humanas, tanto em relação aos seus instrumentos quanto aos ambientes em que essas atividades são realizadas, buscando sempre adaptar o trabalho ao homem. AA qualidade de vida da saúde do trabalhador em uma organização moderna depende do seu desempenho na área de ergonomia. Uma forma de avaliação deste desempenho pode se dar através do uso de instrumentos de avaliação de riscos ergonômicos. Assim, este estudo tem por objetivo analisar os postos de trabalho de uma linha de produção de sorvetes localizada na cidade Ponta Grossa, PR, com o intuito de avaliar as posturas adotadas pelos funcionários no exercício de seu trabalho, bem como analisar o levantamento de cargas. Para atingir este objetivo, foram empregadas metodologias de análise ergonômica, sendo o método OWAS para análise de postura e o método NIOSH para análise de carga. Os resultados obtidos demonstraram que há poucas preocupações quanto à postura, porém os postos 1 e 3 devem receber atenção durante a próxima análise ergonômica para que a situação atual possa ser melhorada. Porém em relação à carga, foram encontradas cargas de peso acima do limite recomendado nos postos 2 e 7, sendo que o posto 7 é o caso crítico na fábrica, pois o operador está levantando uma carga aproximadamente 3 vezes maior que o recomendado. Palavras-chaves: Ergonomia, carga, postura

1. Introdução A qualidade de vida da saúde do trabalhador em uma organização moderna depende do seu desempenho na área de ergonomia. Uma forma de avaliação deste desempenho pode se dar através do uso de instrumentos de avaliação de riscos ergonômicos. O nome Ergonomia tem origem grega, onde ergon significa trabalho, e nomos significa regras. Existem várias definições para Ergonomia, que acabam por significar praticamente a mesma coisa. Segundo a IEA apud Dul e Weerdmeester (2004), tem-se que: Ergonomia é uma disciplina científica que estuda as interações dos homens com outros elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria, princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Porém uma das definições mais claras e sucintas é a de Iida (2005), que diz que Ergonomia é a adaptação do trabalho ao homem. A Ergonomia busca em sua essência melhorar as condições da realização das atividades humanas, tanto em relação aos seus instrumentos quanto aos ambientes em que essas atividades são realizadas, buscando sempre adaptar o trabalho ao homem. Segundo Iida (2005), a análise ergonômica dos postos de trabalho é parte do estudo das interações entre homem, máquina e ambiente, abrangendo, dessa forma a análise da tarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e cognitivas. Nesse contexto, a postura é um fator vital na saúde e bem-estar do trabalhador e de relevante preocupação nas organizações, pois pode causar diminuição de produtividade, dores, problemas de coluna e absenteísmo. De acordo com Rio e Pires (2001), a otimização do trabalho é um fator fundamental para o sucesso de pessoas e organizações, num mundo de alta competição, em que saúde e excelência de desempenho são aspectos fundamentais. Assim, este estudo tem por objetivo analisar os postos de trabalho de uma linha de produção de sorvetes localizada na cidade Ponta Grossa, PR, com o intuito de avaliar as posturas adotadas pelos funcionários no exercício de seu trabalho, bem como analisar o levantamento de cargas. Para atingir este objetivo, foram empregadas metodologias de análise ergonômica, sendo o método OWAS para análise de postura e o método NIOSH para análise de carga. 2

2. Ergonomia A ergonomia é um campo do conhecimento, cujo objetivo é analisar o trabalho, de forma a poder contribuir com a concepção e/ou transformação das situações e dos sistemas de trabalho. A análise do trabalho real permite à ergonomia determinar as informações que um operador dispõe para realizar seu trabalho, definindo as características essenciais de uma nova situação de trabalho: os dispositivos técnicos, os meios de trabalho, o ambiente e a organização de trabalho, além das competências e das representações dos operadores (MATOS e PROENÇA, 2003; SOUSA e PROENÇA, 2004; BRASIL, 2013). Iida (2005) define ergonomia como sendo a adaptação do trabalho ao homem. Em princípio, a ergonomia volta-se para aspectos que se enquadram em uma perspectiva baseada na fisiologia e na psicologia cognitiva. As questões tratadas têm como ponto de partida aquilo que pode ser explicado por estudos que privilegiam aspectos antropométricos, biomecânicos, consumo de energia, órgãos sensoriais, neurofisiologia, entre outros. Mais recentemente, com o desenvolvimento de conhecimentos provenientes da psicologia cognitiva, assim como a sua aplicação nos mais variados projetos, o campo da ergonomia tem-se transformado significativamente. Na tentativa de buscar uma síntese entre os diversos aspectos humanos com relação ao trabalhar, a ergonomia tem estudado o ser humano em situação de trabalho, utilizando metodologias e teorias voltadas para a compreensão da ação, do fazer (SZELWAR et al., 2004). As características de um ambiente de trabalho refletem, de maneira expressiva, as qualidades do trabalhador (ALVAREZ, 1996). Um local de trabalho deve ser sadio e agradável, que proporcione o máximo de proteção, sendo o resultado de fatores materiais ou subjetivos, e deve prevenir acidentes, doenças ocupacionais, além de proporcionar melhor relacionamento entre a empresa e o empregado (FIEDLER, VENTUROLI e MINETTI, 2006). Entre os fatores relacionados à ambiência do trabalho, destacam-se a temperatura, a umidade, a ventilação, a iluminação, a cor, a sonorização (ruídos), a postura e o movimento (SILVA, 1995). 3. Biomecânica Ocupacional 3

A biomecânica ocupacional é uma parte da biomecânica geral, que se ocupa dos movimentos corporais e forças relacionados ao trabalho. Assim, preocupa-se com as interações físicas do trabalhador, com o seu posto de trabalho, máquinas, ferramentas e materiais, visando reduzir os riscos de distúrbios músculo-esqueléticos. Analisa basicamente a questão das posturas corporais no trabalho, a aplicação de forças, bem como as suas consequências (IIDA, 2005). 3.1. Postura Postura é o estudo do posicionamento relativo de partes do corpo, como cabeça, tronco e membros, no espaço (IIDA, 2005). A postura frequentemente é determinada pela tarefa e pelo posto de trabalho, seja sentado ou em pé, e quando inadequada e prolongada produz tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações que resultam em dores no pescoço, costas, ombros e punhos (DUL; WEERDMEESTER, 2004). Cada componente do posto de trabalho deve ter sua própria adequação ergonômica, onde deve adaptar-se às características anatômicas e fisiológicas dos seres humanos, principalmente no que se refere aos sistemas musculoesquelético e óptico (RIO E PIRES, 2001). Porém, nenhuma postura é neutra, e nenhuma má postura é adotada por alguém livremente, mas é resultado de um conjunto de fatores, como: características da tarefa, condições de trabalho, formas fisiológicas e biomecânicas de manutenção do equilíbrio ou as características do meio de trabalho. O quadro 1 apresenta a localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas. Quadro 1 Localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas Postura inadequada Em pé Sentado sem encosto Assento muito alto Assento muito baixo Braços esticados Pegas inadequadas em ferramentas Punhos em posição não neutras Rotação do corpo Risco de dores Pés e pernas (varizes) Músculos extensores do dorso Parte inferior das pernas, joelhos e pés Dorso e pescoço Ombros e braços Antebraço Punhos Coluna vertebral 4

Ângulo inadequado assento/encosto Superfícies de trabalho muito baixas ou altas Músculos dorsais Coluna vertebral, cintura escapular Fonte: IIDA (2005) 3.1.1. Problemas posturais A má postura pode acarretar vários problemas de saúde. Muitos desses problemas acabam ocorrendo na coluna vertebral, e são mais difundidos do que outros. A seguir temos algumas patologias decorrentes da postura incorreta. a) Lordose É um aumento da concavidade posterior da curvatura na região cervical ou lombar, acompanhado por uma inclinação dos quadris para frente (IIDA, 2005). A lordose passa a ser considerada uma deformação quando atinge um ângulo superior a 60 na coluna cervical ou está entre 40 e 60 na coluna lombar, passando a chamar-se hiperlordose. Na figura 2 é possível observar na imagem 1 a coluna normal e na figura 2 a coluna com lordose. Figura 1 Coluna normal e coluna com lordose Fonte: Info escola b) Cifose Caracteriza-se por um aumento da convexidade, acentuando-se a curva para frente na região torácica, correspondendo ao corcunda. Tal condição acentua-se em idosos (IIDA, 2005). Figura 2 Coluna com lordose 5

Fonte: Info escola c) Escoliose É caracterizado por um desvio lateral da coluna. Vista de frente ou de costas, a pessoa aparenta estar pendendo para um lado (IIDA, 2005). Figura 3 Coluna com escoliose Fonte: Info Escola d) Hérnia de disco Entre as vértebras cervicais, torácicas e lombares, estão os discos intervertebrais, estruturas em forma de anel, constituídas por tecido cartilaginoso e elástico cuja função é evitar o atrito entre uma vértebra e outra e amortecer o impacto. A Hérnia de Disco ocorre quando acontece o deslocamento do disco intervertebral para fora de seu compartimento natural, protegido por ligamentos (RIO; PIRES, 2001). Figura 4 Imagem do disco invertebral normal e rompido 6

Fonte: Na Lei, 2009 De acordo com Rio e Pires (2001), a hérnia de disco nem sempre é um evento agudo, mas evolui ao longo dos anos e pode, eventualmente, ser precipitada para fora de seu compartimento natural por esforços relativamente pequenos. e) Tendinite É uma condição atribuída à lesão no tendão e sua inserção no osso. Freqüentemente a tendinite está relacionada a uma ocupação ou exercício físico. No ombro temos a tendinite bicipital e do supraespinhoso que levam a dor e impotência funcional. A tendinite também pode afetar os tendões bíceps e do tríceps, embora essas lesões sejam bem menos comuns (CERVI et al, 2009), e também pode ocorrer no punhos e mãos. 3.1.1 Sitema de avaliação: OWAS Um sistema prático de registro, chamado OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) foi desenvolvido por três pesquisadores finlandeses. Eles começaram com análises fotográficas das principais posturas encontradas tipicamente na indústria pesada e encontraram posturas típicas (IIDA, 2005), as quais são apresentadas na figura 5. Figura 5 Sistema OWAS para registro de postura 7

Fonte: IIDA (2005) O quadro 2 apresenta a classificação das posturas pela combinação da variável (dorso, braços, pernas e carga). Quadro 2 Classificação das posturas Fonte: IIDA (2005) Com base nas avaliações, as posturas foram classificadas nas seguintes categorias (IIDA, 2005): 8

Classe 1: postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais; Classe 2: postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho; Classe 3: postura que deve merecer atenção a curto prazo; Classe 4: postura que deve merecer atenção imediata. Essas classes dependem do tempo de duração das posturas, em percentagens da jornada de trabalho ou da combinação das quatro variáveis (dorso, braços, pernas e carga). 3.2. Levantamento de cargas O manuseio de cargas é responsável por grande parte dos traumas musculares entre os trabalhadores. Aproximadamente 60% dos problemas musculares são causados por levantamento de cargas e 20%, puxando ou empurrando-as. Isso tem ocorrido principalmente devido á grande variação das capacidades físicas, treinamentos insuficientes e frequentes substituições de trabalhadores homens por mulheres. Torna-se, então, necessário conhecer a capacidade humana máxima para levantar e transportar cargas, para que as tarefas e as máquinas sejam corretamente dimensionadas dentro desses limites (IIDA, 2005). A Norma Regulamentadora NR17 (BRASIL, 1990) define que Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga e tem o objetivo de adaptar os postos de trabalho às características psicofisiológicas dos seres humanos. Figura 6 Levantamento de carga 9

Fonte: IIDA (2005) A capacidade de carga máxima varia bastante de uma pessoa pra outra. Varia também conforme se usem as musculaturas das pernas, braços ou dorso. As mulheres possuem aproximadamente a metade da força dos homens para o levantamento de pesos (IIDA, 2005). A capacidade de carga é influenciada pela sua localização em relação ao corpo e outras características como formas, dimensões e facilidade de manuseio. No caso de tarefas repetitivas, deve-se determinar, primeiro, a capacidade de carga isométrica das costas, que é a carga máxima que uma pessoa consegue levantar, flexionando as pernas e mantendo o dorso reto, na vertical. A carga recomendada para movimentos repetitivos será, então, 50% dessa carga isométrica máxima (IIDA, 2005). 3.2.1. Sistema de avaliação: NIOSHI A equação de NIOSHI (National Institute for Occupational Safety and Health EUA) foi desenvolvida para calcular o peso limite recomendável em tarefas repetitivas de levantamento de cargas. Essa equação foi desenvolvida inicialmente em 1981 e revisada em 1991, tendo o objetivo de prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causadas pelo levantamento de cargas. Ela refere-se apenas à tarefa de apanhar uma carga e deslocá-la para depositá-la em outro nível, usando as duas mãos (IIDA, 2005). A equação estabelece um valor de referência de 23kg que corresponde à capacidade de levantamento no plano sagital, de uma altura de 75cm do solo, para um deslocamento vertical de 25cm, segurando-se a carga a 25cm do corpo. Essa seria a carga aceitável para 99% dos 10

homens e 75% das mulheres sem provocar nenhum dano físico, em trabalhos repetitivos. Esse valor de referência é multiplicado por 6 fatores de redução, que dependem das condições de trabalho. São definidas as seguintes variáveis (IIDA, 2005): LPR: limite de peso recomendável; H: distância horizontal entre o indivíduo e a carga (posição das mãos) em cm; V: distância vertical na origem da carga (posição das mãos) em cm; D: deslocamento vertical, entre a origem e o destino, em cm; A: ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus; F: frequência média de levantamento em levantamentos/min; C: qualidade da pega LPR= 23 x (25/H) x (1-0,003/[v-75]) x (0,82+4,5/D) x (1-0,0032 x A) x F x C O resultado da equação de NIOSH é o LPR: limite de peso recomendável. Assim, o peso real carregado pelo trabalhador não deve ultrapassar o LPR, realizando-se assim a análise de levantamento de carga. 6. Metodologia A pesquisa é de caráter descritivo exploratório, de natureza quantitativa e qualitativa, em relação aos dados obtidos. Para a coleta de dados foram realizadas pesquisas referentes às metodologias de análise ergonômica, focando no método OWAS de análise postural, e no método NIOSH para análise do levantamento de carga, assim como da literatura especializada (LAKATOS e MARCONI, 2001). A coleta de dados foi realizada através da observação de postura dos trabalhadores ao executarem suas tarefas, e também foram coletadas fotografias para análise detalhada da postura dos mesmos, através da aplicação da metodologia OWAS de análise postural. Já para a análise do levantamento de carga foi aplicado o método NIOSH, e foram realizadas 11

medições das variáveis necessárias, de acordo com a tópico 3.2.1, apresentado anteriormente. As cargas foram medidas na própria fábrica, através de uma balança sem tara, para considerar o peso total levantado pelos trabalhadores. O diagnóstico de postura é fornecido através das classes exibidas em 3.1.1, de acordo com o sistema OWAS. Já o diagnóstico de carga é dado pelo LPR (limite de peso recomendado), de modo que se o peso real for maiorl que o LPR, o posto deve receber atenção para a realização de mudanças. 7. Resultados A seguir estão os resultados obtidos para a análise de postura e carga realizada em uma fábrica de sorvetes no interior do Paraná. Foram identificados 7 postos de trabalho, conforme a seguir: pasteurização, saborização, envase, embalagem, palitos picolé, saborização picolé e carregamento para entrega. Os diagnósticos serão apresentados em tabelas para facilitar a compreensão, conforme a seguir: Figura 7 Posto 1 - Pasteurização Fonte: Autores (2013) O Posto 1 foi analisado em 3 situações distintas, pois conforme pode ser observado na imagem acima, as caixas de leite são removidas conforme esvaziam, aumentando a distância D, de modo que NIOSH foi aplicado 3 vezes. Porém, em todas as situações a carga esteve adequada, pois o peso levantado é de 3 Kg, e o menor LPR é 3,032 Kg. Porém em relação à 12

postura, a mesma foi identificada como Classe 2, ou seja, a postura deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho. Figura 8 Posto 2 - Saborização Fonte: Autores (2013) O Posto 2 foi analisado em 2 situações distintas, pois conforme pode ser observado na imagem acima, pois a calda do sorvete primeiro precisa passar por um liquidificador e em seguida ir para a saborização. Em relação à postura, amnbos os postos estão adequados, porém em relação à carga foi encontrado um LPR de 9,867 Kg no liquidificador e 9,133 Kg na saborização, sendo que a carga real é de 13,8 Kg. Portanto, ambos os postos carecem de medidas para corrigir a carga levantada. Sugeriu-se reduzir o volume do balde utilizado, para adequar-se à equação de NIOSH. Figura 9 Postos 3 e 4 Envase e Embalagem Fonte: Autores (2013) 13

Nos postos 3 e 4 não há levantamento de carga, por isso aplicou-se apenas o método OWAS para análise da postura. No posto de Envase é necessário verificá-lo na próxima revisão, e no posto 4 não há necessidade de mudanças no momento. Sugere-se para o posto 3 a elevação da bancada, para evitar que o trabalhador precise inclinar sua coluna vertebral e assim corrigir sua postura. Figura 10 Postos 5 e 6 Palitos e Saborização de Picolé Fonte: Autores (2013) Nos postos 5 e 6 a postura encontra-se adequada. Quanto à carga, na situação real o peso levantado é de 7 Kg, portanto o posto está adequado, já que o peso encontra-se abaixo no limite de peso recomendado, que é de 10,995 Kg. Figura 11 Posto 7 Carregamento para entrega Fonte: Autores (2013) O posto 7 é considerado adequado de acordo com a metodologia OWAS, porém é um caso grave em relação à carga. O limite de peso recomendado é de 9,716 Kg, porém a carga real é 14

de 28 Kg, ou seja, quase 3 vezes mais do que o recomendado. Medidas devem ser implementadas imediatamente para reduzir os riscos no trabalho. Foi sugerida a utilização de paleteira ou de carro de transporte. 8. Considerações Finais A Ergonomia busca em essência adaptar o trabalho ao homem, porém para atingir este objetivo é necessário conhecer detalhadamente o ambiente de trabalho, as ferramentas disponíveis e como o trabalhador se relaciona com o seu posto de trabalho. Para facilitar a obtenção de dados e interpretação dos mesmos, existem diversas ferramentas de análise, sendo que neste trabalho foram aplicadas duas: método OWAS de análise postural e método NIOSH para análise do levantamento de carga. Os resultados obtidos demonstraram que há poucas preocupações quanto à postura, porém os postos 1 e 3 devem receber atenção durante a próxima análise ergonômica para que a situação atual possa ser melhorada. Porém em relação à carga, foram encontradas cargas de peso acima do limite recomendado nos postos 2 e 7, sendo que o posto 7 é o caso crítico na fábrica, pois o operador está levantando uma carga aproximadamente 3 vezes maior que o recomendado. Após o diagnóstico dos postos de trabalho foram realizadas sugestões à empresa para que os postos sejam adequados aos trabalhadores, e posteriormente será executada nova análise nos postos com problemas para verificar a eficácia das ações propostas pelos pesquisadores. REFERÊNCIAS ALVAREZ, B.R. Qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadores. Dissertação. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 1996. BRASIL. Ministério do Trabalho. Normas Regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho. NR 17 - Ergonomia. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/ff8080812be914e6012befbad7064803/nr_17.pdf, acesso em 20-04-2013. FIEDLER, N.C.; VENTUROLI, F.; MINETTI, L.J. Análise de fatores ambientais em marcenarias no Distrito Federal. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 10, p. 679-85, 2006. 15

IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2º ed. São Paulo Blucher, 2005. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 6ºed., São Paulo: Atlas, 2006 MATOS, C.H.; PROENÇA, R.P.C. Condições de trabalho e estado nutricional de operadores do setor de alimentação coletiva: um estudo de caso. Revista Nutrição, v. 16, p. 493-502, 2003. SILVA, M.C. Meio ambiente como fator limitante no desempenho do trabalho e segurança do trabalhador. R. Cad Inf Prev Acid, 183, p. 32-40, 1995. SOUSA, A.A., PROENÇA, R.P.C. Tecnologias de gestão dos cuidados nutricionais: recomendações para qualificação do atendimento nas unidades de alimentação e nutrição hospitalares. Revista Nutrição, v. 17, p. 425-436, 2004. SZELWAR, L.I.; LANCMAN, S.; JOHLBEN, W.M.; ALVARINHO, E.; SANTOS, M. Análise do trabalho e serviço de limpeza hospitalar: contribuições da ergonomia e da psicodinâmica do trabalho. R. Prod.; 14:45-57, 2004 16