VARIAÇÃO DO GRAU DE INTANGIBILIDADE REFLETIDO PELO PREÇO DAS AÇÕES DE EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO. Daiane Cambruzi (ICSEC Pós-Graduação):daicambruzzi@yahoo.com.br; João Francisco Morozini (PqC/UNICENTRO): jmorozini@unicentro.br; Luci Longo (UNICENTRO): llongo@unicentro.br; Antonio C. da Silva (PIBIC-CNPq- UNICENTRO) Resumo: Os intangíveis no contexto econômico atual têm despertado o interesse de pesquisadores pelo reconhecimento crescente que novos fatores relacionados à intangibilidade das empresas. O objetivo deste trabalho é analisar se o grau de intangibilidade das empresas que operam na Bolsa aumenta quando a empresa tem aumento no valor de suas ações. Para isso foi usada a análise de regressão simples para testar a hipótese formulada. Como resultado da pesquisa confirmou-se a nossa hipótese de que não existe relação entre o aumento no valor de mercado da empresa com o grau de intangibilidade. Esta pesquisa foi financiada pelo PIBIC/CNPq. Palavras Chave: Intangível, Ações, Grau de Intangibilidade Introdução Evidencias cada vez mais significativas a respeito de ativos intangíveis e sua importância no desenvolvimento das empresas tem se mostrado empiricamente em trabalhos acadêmicos nacionais e internacionais. A importância crescente dos intangíveis parece ser inegável. Tal importância sobre os intangíveis já é reconhecida também pela legislação brasileira que aprovou a reformulação da Lei 6.404/76 que regulamenta as Sociedades Anônimas, as quais passam a vigorar sob a nova Lei 11.638/2007, que entre as principais alterações incluem no Balanço das empresas brasileiras o Ativo Intangível. Segundo Basso (2008) existe um problema de conceituação sobre o que realmente pode ser considerado Intangível pela legislação. Do ponto de vista de Reilly e Schweihs (1998, p.5) para que um ativo intangível possa ser reconhecido, deve ter algumas características: a) identificação específica e descrição reconhecível; b) existência e proteção legal; c) direito de propriedade privada podendo ser transferida; d) manifestação de sua existência; e) criado a partir de um momento ou evento identificado. Outros autores fazem relação dos ativos intangíveis com a existência física. O ativo intangível tem sido usado como medida de valor das empresas (precificação) por meio da medição do valor de mercado, analisando-se o valor das ações em relação ao Market-to-Book Ratio.
Fundamentação Teórica Tratando de Ativos Intangíveis a definição do termo apresenta controvérsia pela sua caracterização e conceituação dos diversos pesquisadores sobre o assunto. Quanto ao reconhecimento dos ativos intangíveis não se pode deixar de considerar a sua relevância, forma de mensuração e valor preciso somente pelo fato de não possuírem substância. Kayo (2002, p.14) expõe sobre ativos intangíveis como um conjunto estruturado de conhecimentos, práticas e atitudes da empresa que, interagindo com seus ativos tangíveis, contribui para a formação do valor das empresas. Quando os ativos intangíveis são bem explorados podem auferir vantagens competitivas para as empresas da mesma forma como os tangíveis, agregando valor ao empreendimento, desde que utilizados em conjunto com os ativos tangíveis com finalidade de contribuir para que a empresa tenha resultado positivo (LEV e DAUM, 2004). Na tentativa de operacionalizar resultados positivos, várias pesquisas empíricas buscaram evidenciar a importancia dos ativos intangíveis no que se refere a criação de valor para empresas. Entre os estudos, destacam-se as pesquisas de Aboody e Lev (1998), Ittner e Larcker (1998), e Bharadwaj (2000). Os ativos intangíveis no contexto econômico atual, tem despertado o interesse de pesquisadores pelo reconhecimento crescente de que novos fatores relacionados à intangibilidade pode contribuir para gerar valiosos direitos para as empresas, como por exemplo: marcas e patentes, ou inovações tecnológicas, estabelecendo características valiosas às empresas, tornando-as alvos para negociação em fusões e aquisições. A intangibilidade ganha destaque com o passar dos anos, no final do século XX, as avaliações de mercado das empresas americanas podiam chegar a nove vezes o valor contábil, reportando aos ativos intangíveis o diferencial de valor de mercado das empresas em relação aos ativos físico e contábil. (EDVINSON e MALONE, 1998). Varias pesquisas empíricas comprovam e reconhecem a existência dos ativos intangíveis, e que estes efetivamente geram valor para as empresas, formando os constructos sobre ativos intangiveis. Para o entendimento dos ativos intangíveis se faz necessário à compreensão da evolução do pensamento, sob a ótica da Teoria da Administração sobre a influência de elementos ausentes nos balanços patrimoniais, os quais afetam diretamente a determinação de valor das empresas. Segundo Lopo et. al. (2001, p.263) a necessidade de atribuição de valor a uma empresa pode ser decorrente de uma negociação de compra e venda; um processo de combinação de empresas; dissolução de sociedades; liquidação entre outras razões. Para atribuir o valor de mercado às empresas de capital aberto é calculado como o produto do valor unitário da ação com a quantidade de ações. Frezatti (2003, p.28) ressalta que o valor de mercado é uma aproximação, pois numa negociação, pode haver prêmios de difícil determinação.
Procianoy e Antunes (2001) afirmam que o nível do preço das ações é resultado da interação das forças de oferta e demanda no mercado de capitais, influenciado por fluxos de lucros esperados, grau de incerteza do investidor na estimativa dos lucros futuros e taxa de desconto adotada no cálculo do valor presente dos lucros esperados, entre outros fatores. Evidências empíricas, como por exemplo de Cañibano, Garcia-Ayuso e Sanchez (2000) afirmam que as pesquisas acerca da importância dos ativos intangíveis são consistentemente associados com o valor de mercado das empresas. Metodologia De Pesquisa O método de pesquisa utilizado no desenvolvimento deste estudo foi eminentemente quantitativo e descritivo buscando a medição objetiva e a quantificação dos resultados. Com essa abordagem de pesquisa é possível considerar que tudo pode ser quantificado e analisado a partir da utilização de métodos e técnicas estatísticas. Neste estudo foi utilizado o método estatístico de regressão simples utilizando como variável independente o grau de intagibilidade e como variável dependente o preço das ações negociadas na BOVESPA. 3.1 Problema de Pesquisa, Objetivos e Hipóteses Sempre que houver possível relação entre duas ou mais variáveis conhecidas, e essas variáveis sejam passíveis de observação empírica, pode-se afirmar que existe um problema de pesquisa. (KÖCHE, 2002). Segundo Kerlinger e Lee (2000, p.25) um bom problema de pesquisa, deve apresentar as seguintes características: a) expressar a relação entre duas ou mais variáveis; b) estar enunciado na forma interrogativa e de maneira clara; c) implicar na possibilidade de realização de testes empíricos. O presente trabalho tem pretensão de analisar a possível influência do aumento do valor das ações de empresas que são negociadas na Bolsa pode afetar de forma a aumentar ou diminuir o valor dos ativos intangíveis calculados pelo valor de mercado da empresa. Assim, busca-se responder ao seguinte questionamento: Existe relação entre o aumento de valor da empresa por meio da valoração das ações com o aumento da intangibilidade medida pelo valor de mercado? A fundamentação sobre avaliação dos ativos tangíveis e intangíveis estão diretamente relacionados com a diferença entre o valor contábil das empresas, expresso no Balanço Patrimonial e seu valor intrínseco, definido pelo Valor de Mercado da empresa. Partindo-se dessa suposição o objetivo desta pesquisa é: Analisar se o grau de intangibilidade das empresas que operam na Bolsa aumenta quando a empresa tem aumento no valor das ações. Com base nas assertivas da fundamentação teórica chega-se a proposição lógica sobre o relacionamento entre variáveis, que funcionam como tentativa de explicação de certos fatos ou fenômenos, ou seja, a formulação de Hipóteses.
Conforme Kerlinger e Lee (2000, p.26) as hipóteses podem ser consideradas como instrumento de trabalho da teoria, e podem ser extraídas da própria teoria. As hipóteses devem ser elaboradas de forma que se possa testa-las e demonstralas de forma probabilística se são verdadeiras ou falsas, dando condição ao pesquisador de fazer uma análise sem viés, isenta de opiniões sobre os resultados encontrados na pesquisa. Como orientação básica para todo o processo investigativo e conseqüente resposta ao problema de pesquisa, foi considerada a existência da seguinte hipótese: H 1 : Não existe relação entre o aumento no valor de mercado da empresa com o grau de intangibilidade. Havendo rejeição dessa hipótese conseqüentemente haverá aceitação da hipótese alternativa, concluindo-se que existe relação entre aumento do valor do ativo intangível se houver aumento do valor das ações da empresa. 3.2 População/Amostra A população da pesquisa é composta por empresas de capital aberto que possuem ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), cujas informações econômico-financeiras estejam contidas na fonte de dados secundária Economática, e que tiveram aumento no valor das ações no último trimestre de 2008 e primeiro trimestre de 2009. Foi utilizado uma amostra não-probabilistica das 500 maiores e melhores empresas publicadas na revista Exame, das quais utilizouse as 10 primeiras maiores e melhores. 3.3 Operacionalização das Variáveis Pretendeu-se estudar a relação entre uma variável independente representada pelo Grau de Intangibilidade da empresa analisada e uma variável dependente representada pelo Aumento de valor das ações a qual será segmentada em formações temporais. Para o cálculo da variável Grau de Intangibilidade foi utilizado a equação apresentada por Kayo et.al. (2006) onde se tem o valor de mercado/valor contábil, conforme segue: Intang = VM PLC Onde: Intang = Grau de Intangibilidade VM = Valor de Mercado PLC = Patrimônio Líquido Contábil A variável Aumento do Valor das Ações foi calculado usando dados coletados de fontes secundárias como a Economática.
4 Resultados Com a regressão simples usada para analisar a relação entre uma variável dependente e outra variável independente nesta pesquisa sendo respectivamente o aumento do valor das ações para verificar se o grau de intagibilidade era afetado por esse aumento, confirmou-se a nossa hipótese de que: Não existe relação entre o aumento no valor de mercado da empresa com o grau de intangibilidade, ou seja, todas as empresas testadas que tiveram aumento no valor das suas ações na Bolsa, esse aumento não afetou o grau de intangibilidade das mesmas. Referências: BASSO, L. F. C. Programa de Doutorado em Administração de Empresas. Mackenzie, Disciplina de Valoração Empresarial, 2008. ABOODY, David; LEV, Baruch. The value relevance of intangibles: the case of softwere capitalization. Journal of Accounting Research, v.36, supplement, pp.161-191, 1998. ARIKAN, Asli M. Does it pay-off to capture intangible assets trhough mergers and acquisitions? Academy of Management Proceedings, 2002. EDVINSOON, Leif; MALONE, Michael S. Capital Intelectual: descobrindo o valor real de sua empresa pela identificação de seus valores internos. São Paulo: Mackron Books, 1998. ITTNER, Cristopher; LARCKER, David F. Are non-financial measures leading indicators of financial performance? An analysis of customer satisfation. Journal of Accounting Research, v.36, supplement, pp.1-35, 1998. KAYO, Eduardo K. A estrutura de capital e o risco das empresas tangível e intangível-intensias: uma contribuição ao estudo da valoração das empresas. Tese (Doutorado em Administração). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, USP, 2002. KERLINGER, Fred Nichols e LEE, Howard B. Foundations and behavioral research. 4th ed. California: Thomas Learning, 2000 caps.3 (p.39 610). KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Petrópolis: Vozes. 2002. LEV, Baruk; DAUM, Juergen H. The dominance of intangible assets: consequences for enterprise management ande corporate reporting. Measuring Business Excellent, V.8, n.1, p.6-17, 2004. LOPO, Antonio; BRITO, Lauro; SILVA, Paulo Roberto da. Avaliação de empresas. In: MARTINS, Eliseu (org.). Avaliação de empresas: da mensuração contábil à economia. São Paulo: Atlas, 2001 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 2.ª ed. São Paulo: Atlas, 1989.
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