FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DE LINHARES - FACELI SELEÇÃO E COMENTÁRIO DE CENAS DO FILME GLADIADOR LINHARES 2011
FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DE LINHARES FACELI Ana Cistina de Souza Pires Grasiela Sirtoli Recla Rosana Rigo Wellington Pina SELEÇÃO E COMENTÁRIO DE CENAS DO FILME GLADIADOR Trabalho apresentado à mestre Rosinete Cavalcante, professora da disciplina História e institutos jurídicos da Faculdade de Ensino Superior de Linhares FACELI. LINHARES 2011
Seleção e comentário de cenas do filme GLADIADOR 16 33 16 37 : Comodus, filho do Imperador Marco Aurélio, ao encontrá-lo ao final da guerra contra os bárbaros germanos, o parabeniza pelo resultado positivo dizendo que vai oferecer cem touros em sacrifício por sua vitória. Essa cena vem afirmar a religiosidade marcante dos romanos, onde era muito comum se oferecer animais em sacrifício aos deuses como forma de agradecimento. 19 38 20 00 : Em conversa, Maximus general do exército Comodus e dois senadores (Gaius e Falcus) falam sobre República e Império. A história romana pode ser dividida politicamente em três períodos: Monarquia (de 754 a.c. a 509 a.c.), em que o Rei investido pela assembléia era revelado pelos deuses detendo todo poder nos âmbitos civil, militar, religioso e judiciário, sendo ele o juiz, ao qual não cabia apelação das sentenças proferidas. Sendo assim, ao Senado era cabível apenas o poder consultivo do Imperador, sendo a ele subordinado e convocado quando necessário. O segundo período é o da República (de 509 a.c. a 27 a.c.), em que o Senado passa a ser órgão normativo e não só consultivo, tendo caráter vitalício. Ele torna-se, agora, o centro do Governo. Nesse período cada senador chamados de magistrados tinha uma função específica. Vale salientar que a República foi o melhor período para os senadores, já que na Monarquia e no terceiro período Império ele volta apenas a ter caráter consultivo perdendo seu poder normativo. Prova disso no filme é a parte do diálogo em que Comodus diz: em uma república o senado tem poder. Por isso que no começo da cena ele fala de forma sarcástica sobre república, ficando claro que ele prefere o Império. 21 19 21 40 : Cena em que o pai, Imperador Marco Aurélio, encontra-se com a filha. Nessa cena o imperador diz à filha que se ela tivesse nascido um homem seria um excelente imperador. Tal cena relaciona-se com o poder patriarcal (pater famílias) em que o chefe da família detinha todos os direitos patrimoniais e a organização familiar era centrada na figura dele, cuja autoridade era incontestável e
inquestionável. A organização familiar romana era, pois, machista. A mulher não teria direito a nada: ao esposo seria pago o dote e ela ficaria sempre sob tutela do pai ou do marido. A elas não era possível assumir o trono após morte do pai e esse, nem se quisesse, poderia nomeá-la imperadora, título cabível apenas aos homens. 31 40 32 10 : Maximus diante de um pequeno altar eleva preces aos seus ancestrais. Nessa breve cena o general eleva preces e pedidos de proteção aos seus ancestrais e ao seu pai e sua mãe, que ao que tudo indica, já faleceram. Os antigos, conforme descreve Fustel de Coulanges (1961) em seu livro A cidade antiga livro primeiro, parte em que trata das crenças, realizavam um tipo de culto aos mortos de forma que os elevavam ao patamar dos deuses, elevando preces a eles na esperança de serem atendidos. Segundo esse autor, a origem do sentimento religioso pode advir daí, tendo sido a morte o primeiro de muitos mistérios. 33 40 37 34 : O Imperador comunicando ao filho que ele não será o sucessor do trono e, na sequência, o assassinato de Marco Aurélio por Comodus. No período imperial, os Césares poderiam nomear outra pessoa que não fosse da sua família para assumir o trono, desde que o fizesse em vida. Caso morresse antes de nomear outra pessoa quem teria prioridade para assumir seria o filho homem, se o tivesse. Por esse motivo Comodus matou o pai quando ele anunciou que não daria seus poderes a ele e sim a Maximus. Logo, antes que pai anunciasse sua decisão aos demais Comodus, rapidamente, deu um jeito de acabar com a vida do pai, pois dessa forma, ele assumiria o trono, e assim ocorreu. É importante lembrar que, na monarquia, o Rei não tinha esse direito de escolher outra pessoa que não da sua família para assumir o trono. 39 51 40 03 : A irmã saudando o mais novo imperador: Comodus. Ela faz a saudação dizendo: Ave César. Ao contrário do que muitos pensam, César não foi o nome de um imperador romano específico e sim o título dado a todos os imperadores romanos, que eram comparados com deuses. 50 38 51 35 : Um vendedor de escravos negociando-os com um comprador.
Nesse período a escravidão também podia se dar por dívida, e os escravos eram considerados como coisas (mercadorias) não pertencendo a nenhuma classe social, não tendo, portanto, identidade étnica nem racial. Essa falta de identificação deles os quais não tinham cor de pele, roupas e nem origem definidas contribuía para que permanecessem invisíveis na sociedade, e não se reconhecessem, por exemplo, evitando, dessa forma, possíveis revoluções. Em seu artigo Escravos sem senhores: escravidão, trabalho e poder no Mundo Romano Norberto Luiz Guarinello, professor de História Antiga do Departamento de História Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas USP, diz que os escravos constituíam cerca de um terço da população total, e que eles poderiam trabalhar nas minas, em propriedades rurais, muitas vezes acorrentados. Os que fossem destinados à região urbana teriam uma vida menos difícil, podendo ser treinados em atividades específicas e, muitas vezes, sobreviverem de forma independente, pagando uma taxa a seu dono. 1h8 47 1h9 57 : Dois senadores conversando sobre a política do pão e circo instaurada pelo Imperador. Essa política consistia em oferecer diversão e comida à população carente e desempregada de Roma, de maneira a distraí-los de sua verdadeira condição social. Essa parcela populacional se tornava cada vez maior devido ao crescimento urbano que ali estava ocorrendo. A diversão se dava através de espetáculos sangrentos de gladiadores, os quais às vezes eram expostos a feras selvagens (o filme retrata muito bem esses episódios). Eles se apresentavam em estádios o coliseu era o principal e ali era fornecido comida ao público. Em outro artigo Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo Norberto Luiz Guarinello fala sobre essa política sendo importante destacar: Embora, de início, os gladiadores tenham sido, em sua maioria, prisioneiros de guerra ou escravos comprados explicitamente para esse fim (o que explica revoltas importantes, como a do gladiador Espártaco, nos anos 70 a.c.), à época do Império boa parte dos gladiadores era de origem livre. Eram os auctorati, alguns deles de origem nobre, como cavaleiros ou mesmo senadores, que se ofereciam como gladiadores, colocando-se sob o poder de seu mestre (o lanista), ao qual prestavam um juramento sagrado.
Portanto, segundo ele, o lugar dos gladiadores era um lugar de honra. Isso prova que não foi à toa que o tema principal do filme foi o combate dos gladiadores, na grande figura de Maximus, que morreu de forma honrosa.
REFERÊNCIAS COULANGES, FUSTEL DE. A Cidade Antiga. São Paulo, Editora das Américas,1961. GUARINELLO, NORBERTO LUIZ. Escravos sem senhores: escravidão, trabalho e poder no Mundo Romano. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 26, nº 52, p. 227-246 - 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-01882006000200010&lang=pt>. Acesso em: 13 nov. 2011. GUARINELLO, NORBERTO LUIZ. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo. História, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 125-132, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0101-90742007000100010&lang=pt>. Acesso em: 13 nov. 2011.