CAMINHOS E DESCAMINHOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL

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Transcrição:

ISSN: 1981-3031 CAMINHOS E DESCAMINHOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL Vagna Brito de Lima 1 Paula Rejane Lisboa da Rocha 2 Inalda Maria dos Santos 3 RESUMO O presente artigo discorre sobre a problemática da formação de professores, considerando como campo de discussão o contexto histórico da formação docente, sob o ângulo da sua legislação. Para tanto, definimos a análise dos documentos oficiais - Leis de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura e Graduação Plena (Resolução do CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002- ), por entender que estes tratam da regulamentação da formação docente no Brasil. Diante da complexidade da questão da formação de professores, a considerar o contexto social, político, econômico e cultural de cada época, ressaltamos que os caminhos até aqui percorridos pela formação de professores foram tortuosos e carregados de dificuldades e desafios. No entanto, acreditamos que estes podem ser resolvidos, desde que haja vontade e decisão política. Palavras-chave: Educação Brasileira; Formação Docente; Políticas Públicas; Contexto Histórico. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O ensino se tornou um trabalho especializado e complexo, uma atividade rigorosa, que exige, daqueles e daquelas que a exercem, a existência de um verdadeiro profissionalismo. (TARDIF e LESSARD, 2008, p.9) 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail: vagnabrito@yahoo.com.br 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail: paula.lisboh@gmail.com 3 Professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/PPGE/CEDU/UFAL, e-mail : inaldasantos@uol.com.br

2 O presente artigo é resultado das reflexões suscitadas no âmbito da disciplina Educação Brasileira do Curso de Mestrado em Educação Brasileira da Universidade Federal de Alagoas/UFAL, o qual tem por objetivo nos levar a compreender o percurso feito pela formação docente no contexto da educação. Tem por objetivo nos levar a compreender o percurso feito pela formação docente no contexto da educação brasileira a partir das Leis de Diretrizes e Bases da Educação 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96, seguindo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura e Graduação Plena (Resolução do CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002). A atual sociedade exige do professor mais que apenas o conhecimento específico de suas áreas de atuação e ou disciplinas. A complexidade social, econômica e política que ora vivemos, com elementos como a transformação das estruturas familiares, violência, drogas, desemprego, exploração, inovações tecnológicas, reformas pedagógicas são demandas e desafios presentes no cotidiano da escola e da sala de aula. O professor é cada vez mais exigido a dar conta de transmitir o conhecimento, melhorar suas práticas na perspectiva de buscar melhores resultados educacionais, entretanto, diante de todas as exigências do seu ofício precisa dar conta de mobilizar um público cada vez mais marcado pelos problemas sociais que os envolvem. Neste rápido preâmbulo sentimos ser necessário explicitar a abordagem que faremos a seguir. Primeiro traçaremos um Panorama Histórico da Formação Docente, onde procuramos descortinar o que a história da educação brasileira construiu neste cenário. Seguimos nossa reflexão dialogando com os documentos oficiais já mencionados anteriormente, onde denominamos A Formação de Professores Através dos Documentos Oficiais, por fim, tecemos nossas (in) conclusões sobre a temática desenvolvida. Para compreender o percurso da formação de professores, definimos como referência do campo da história da educação, autores como: Saviani (2008), Romanelli (2001), Ribeiro (2003), Tanuri (2010), Castro (2010), dentre outros. Diante da difícil tarefa de fazer este inventário levantamos a seguinte questão: Quais os caminhos e descaminhos percorridos pela formação de professores no Brasil? PANORAMA HISTÓRICO Inventariar o percurso histórico da formação de professores no Brasil nos exige fazer um retrocesso ao ponto de partida da História da Educação Brasileira. Faz-se necessário

3 aportarmos juntos com os jesuítas em Terras Brasilis. De 1549 a 1759 foram eles, os jesuítas, que ficaram responsáveis pela implantação da educação escolarizada no Brasil. A instrução aqui mencionada estava direcionada a minoritária elite colonial, mesmo sendo um dos principais objetivos a catequização indígena. Segundo Ribeiro (2003, p.23) [...] os instruídos serão descendentes dos colonizadores. Os indígenas serão apenas catequizados. O modelo de educação implantado pelos jesuítas foi o plano de estudos da Companhia de Jesus publicado em 1599, concentra sua programação nos elementos da cultura européia (Ribeiro, 2003, p. 22). Assim, começamos por escrever a história da educação brasileira com forte marca da transferência do modelo de educação europeu, ou seja, a transplantação de um modelo pronto, entretanto, diferente da nossa realidade com isso marcando toda nossa trajetória educacional. No contexto da educação jesuítica havia uma preparação rigorosa do professor que somente estaria apto a desenvolver tal atividade após os trinta anos, além de um extremo no controle dos conteúdos e livros a serem selecionados. No contexto das reformas iluministas ocorre em 1759, a expulsão dos jesuítas de Portugal e do Brasil por ordem do marquês de Pombal. Com isso, a educação brasileira passa pelas Reformas Pombalinas que não representaram uma ruptura com as tradições, foi mais uma mudança de conteúdo do que de método como afirma Ribeiro (2003, p.32-33). E ainda segundo Veiga (2007, p.103) sua expulsão, no entanto, não representou um rompimento com a igreja ou com o ensino religioso, mas uma troca no comando da estrutura administrativa da educação, encampada pelo estado. Ou seja, a educação passa do controle religioso (igreja) para o controle laico (Estado). No que se trata especificamente dos professores e da organização escolar no contexto das Reformas Pombalinas, destacamos: O Alvará de 28-6-1759 criava o cargo de diretor geral dos estudos, determinava a prestação de exames para todos os professores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia o ensino público ou particular sem licença do diretor geral dos estudos e designava comissários para o levantamento sobre o estado das escolas e professores (RIBEIRO, 2003, p. 33) Com a expulsão dos jesuítas o sistema de ensino que passa vigorar é de aula régia ministrado por professor régio nomeado pelo rei, que incluía aulas avulsas em salas alugadas, na casa do professor ou nos antigos colégios da Companhia de Jesus. Com efeito, relativo à formação de professores há nesse momento histórico uma acentuada escassez de profissionais para atuar, mesmo diante desse contexto, já existe uma

4 preocupação em selecioná-los conforme suas habilidades para o desempenho da função. Como nos chama atenção Tanuri quando diz: Antes porém que se fundassem as primeiras instituições destinadas a formar professores para as escolas primárias, já existiam preocupações no sentido de selecioná-los. Iniciativas pertinentes à seleção não somente antecedem as de formação, mas permanecem concomitantemente com estas, uma vez que, criadas as escolas normais, estas seriam por muito tempo insuficientes, quer numericamente, quer pela incapacidade de atrair candidatos, para preparar o pessoal docente das escolas primárias. Mencione-se, por exemplo, o Alvará de 6/11/1772, que regulamenta os exames a que deviam ser submetidos os professores do ensino elementar em Portugal e nos domínios[...]. (2000, p.62) Em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil foi tomada uma série de medidas educacionais e culturais a fim de atender as necessidades da elite portuguesa que aqui se estabeleceu. Foram consideráveis as inovações culturais desse período segundo destaca Ribeiro (2003, p.40): A partir desta nova realidade (o Brasil como sede da Coroa Portuguesa) se fez necessário uma série de medidas atinente ao campo intelectual geral, como: a criação da imprensa (13-5-1808), Biblioteca Pública (1810- franqueada ao público em 1814), jardim Botânico do Rio (1810), Museu Nacional(1818). Em 1808, circula o primeiro jornal (A Gazeta do Rio), em 1812 a primeira revista(as Variações ou Ensaios de Literatura), em 1813, a primeira revista carioca - O Patriota. No campo educacional foram criados cursos que inauguram o nível superior no Brasil. Com isso, podemos afirmar que tem início à organização da educação brasileira nos três níveis: primário, secundário e superior, muito embora, ainda muito restrito a uma pequena elite colonial. A fase denominada período joanino foi extremamente importante por instalar no Brasil mecanismos de relativa autonomia que com volta da Família Real para Portugal culmina com a independência em 1822. Após o processo de instauração do Império e outorga da Constituição de 1824, analisamos então a lei imperial de 15 de outubro de 1827, única lei geral relativa ao ensino elementar até 1946, conforme afirma Ribeiro (2003, p. 45). Quanto à formação de professores, a partir referida lei de 1827 destacamos: [...] a Lei de 15/10/1827 consagra a instituição do ensino mútuo no Brasil, dispondo, em seu art. 5º, que os professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino irão instruir-se em curto prazo e à custa de seus ordenados nas escolas da Capital. (TANURI, 2000, P. 63)

5 A citação acima nos leva a perceber os descaminhos pelos quais começam o descaso com a formação de professores no percurso da nossa história educacional, o que não difere dos que ora presenciamos. Entretanto, voltamos às primeiras iniciativas com a criação dos primeiros cursos de formação de professores do Brasil, as denominadas escolas normais: A primeira escola normal brasileira foi criada na Província do Rio de Janeiro, pela Lei n 10, de 1.835, que determinava: Haverá na capital da Província uma escola normal para nela se habilitarem as pessoas que se destinarem ao magistério da instrução primária e os professores atualmente existentes que não tiverem adquirido necessária instrução nas escolas de ensino mútuo, na conformidade da Lei de 15/10/1827. (TANURI, 2000, p. 63) As iniciativas na perspectiva de criação e extinção das escolas normais se repetiram em diferentes províncias, entretanto, somente a partir da segunda metade do século XIX com a propagação das idéias iluministas, a constituição de teses da obrigatoriedade de maior instrução, popularização da educação, enriquecimento do currículo e abertura ao gênero feminino é que se deu maior valorização das escolas normais e ampliação dessas instituições que até década de 50 do século de XIX [...] tinha uma ou quando muito duas escolas normais públicas. (Scheibe, 2008, p.43). A exceção a ser destacada é a escola normal de São Paulo reformada em 1890, que serviu como exemplo para os demais estados. O advento do novo regime republicano, a princípio, não trouxe muitas inovações para na área em discussão, houve uma afirmação das idéias propagadas na última década do Império. Contudo, as décadas de 20 e 30 do século XX, foram permeadas pelo debate dos educadores reformistas que mobilizaram reformas no âmbito da educação no diferentes estados da federação. Conforme ressalva Aranha (2006, p.303): De fato, antes mesmo que o ideário da Escola Nova fosse bem conhecido, diversos estados empreenderam reformas pedagógicas calcadas nas propostas daqueles que seriam os expoentes do movimento escolanovista na década seguinte. Foram as reformas Lourenço Filho(Ceará, 1923), Anísio Teixeira(Bahia,1925), Francisco Campos e Mário Cassasanta(Minas Gerais, 1927), Fernando de Azevedo(Distrito Federal, 1928) e Carneiro Leão(Pernambuco, 1928). Além dessas, em 1920 Sampaio Dório tentou implementar em São Paulo uma reforma mais ampla, que também se estende a todos. Embora, o deliberado esforço dos educadores escolanovistas com a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932, suas reivindicações não foram efetivadas na Constituição de 1934, o que não deixou de demarcar a república como referência para o estabelecimento do debate em relação à formação de professores.

6 Sem a pretensão de justificar a abrupta mudança no roteiro desta reflexão, este trabalho tem seus limites no que se refere à panorâmica da história da educação brasileira, visto que, o aprofundamento demandaria maior dispêndio teórico, o que não cabe nesse momento. Contudo, seguiremos agora nossa análise as luzes dos documentos oficiais. FORMAÇÃO DE PROFESSORES ATRAVÉS DOS DOCUMENTOS OFICIAIS Os documentos oficiais que referenciam este estudo para a compreensão do processo de formação dos professores no Brasil, parte das Leis de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96, seguindo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura e Graduação Plena, 2002. No que se refere à formação de professores, a LDB 4.024/61 não trouxe significativas mudanças, visto que, a Lei Orgânica do Ensino Normal 4 de 1946 regulamenta a sua organização até a LDB 5.692/71. (SCHEIBE, 2008) Para efeito desta análise, após o golpe militar de 1964, é importante mencionar a Lei 5.540 de 1968 (Lei da Reforma Universitária), estabeleceu normas de organização e funcionamento para o ensino superior, modificando o currículo do curso de Pedagogia, dividindo-o em habilidades técnicas, para a formação dos especialistas, não apenas para o professor do curso normal, mas também em nível superior para atuar no primário. (TANURI, 2000) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5.692 de 11 de agosto de 1971 fixou diretrizes para o ensino de primeiro e o segundo graus e, determinada no artigo 30 estabelece a organização de dois esquemas: o primeiro, correspondente à formação dada por cursos regulares e, o segundo, correspondendo à formação regular acrescida de estudos adicionais, pressupondo a existência de 5 níveis de formação de professores, a saber: 1) formação de nível de 2º grau, destinada a formar o professor polivalente das quatro primeiras séries do 1º grau; 2) formação de nível de 2º grau com 1 ano de estudos adicionais, para formar o professor apto a lecionar até a 6ª série do 1º grau; 3) formação superior em licenciatura curta, destinada a preparar o professor para uma área de estudos e a torná-lo apto a lecionar em todo o 1º grau; 4) formação em licenciatura curta mais estudos adicionais, preparando o professor de uma área de estudos com alguma especialização em uma disciplina dessa área, apto a 4 Lei Orgânica de 1946(Decreto Lei 8.530/46)

7 lecionar até a 2ª série do 2º grau; 5) formação em nível superior em licenciatura plena, destinada a preparar o professor de disciplina, apto a lecionar até a última série do 2º grau.(oliveira, 2010). Atentemos para o que dispõe o referido artigo: Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do magistério: a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena. 1º Os professôres a que se refere a letra a poderão lecionar na 5ª e 6ª séries do ensino de 1º grau se a sua habilitação houver sido obtida em quatro séries ou, quando em três mediante estudos adicionais correspondentes a um ano letivo que incluirão, quando fôr o caso, formação pedagógica. 2º Os professôres a que se refere a letra b poderão alcançar, no exercício do magistério, a 2ª série do ensino de 2º grau mediante estudos adicionais correspondentes no mínimo a um ano letivo. 3 Os estudos adicionais referidos nos parágrafos anteriores poderão ser objeto de aproveitamento em cursos ulteriores. Ainda considerando a Lei 5.692/71 no que se refere à formação de professores em nível superior, analisemos o que tratava o Art. 31: As licenciaturas de 1º grau e os estudos adicionais referidos no 2º do artigo anterior serão ministrados nas universidades e demais instituições que mantenham cursos de duração plena. Parágrafo único. As licenciaturas de 1º grau e os estudos adicionais, de preferência nas comunidades menores, poderão também ser ministradas em faculdades, centros, escolas, institutos e outros tipos de estabelecimentos criados ou adaptados para êsse fim, com autorização e reconhecimento na forma da lei. Com efeito, a legislação em análise tenta impor critérios para a formação dos docentes para atuarem na educação, entretanto ao analisarmos o Art. 78, está visível as contradições da legislação colocando em condição extremamente frágil as exigências que determinam a formação de professores. Art. 78. Quando a oferta de professôres licenciados não bastar para atender às necessidades do ensino, os profissionais diplomados em outros cursos de nível superior poderão ser registrados no Ministério da Educação e Cultura, mediante complementação de seus estudos, na mesma área ou em áreas afins, onde se inclua a formação pedagógica, observados os critérios estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação. A lei em discussão vigora até década de 90, que inaugura uma fase de democratização da educação, em virtude dos processos de abertura política, econômica e cultural resultante das lutas de mobilização da Constituição de 1988. É a partir desse momento que assistimos a implantação do projeto neoliberal que refletiu na política educacional, conseqüentemente

8 influenciando o projeto de LDB aprovado em 1996, atendendo as orientações impostas pelo Banco Mundial para a educação brasileira. A LDB 9.394/96, no Título VI relativo aos Profissionais da Educação, do Art. 61 ao Art. 67 traz as determinações que regulamentam as Políticas Públicas para a formação de professores implementadas nas últimas décadas. Sobre o conteúdo desta lei, não temos a pretensão de realizar uma análise artigo a artigo, contudo, destacaremos o que é primordial ao objeto em análise. Assim destacamos: Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura e Graduação Plena publica com a Resolução do CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, trata-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação básica. O controle curricular tem sido realizado pelo MEC por intermédio de uma série de intervenções. A primeira dessas intervenções é o próprio estabelecimento de guias/diretrizes curriculares, que buscam normatizar os diferentes níveis de ensino. Variadas experiências vêm demonstrando, ao longo dos anos, que propostas curriculares, especialmente as elaboradas com reduzida participação dos sujeitos diretamente envolvidos nos processos de ensino, encontram inúmeros obstáculos no momento de sua implementação. (MACEDO, p.10) Diante das exigências do campo profissional da educação (a formação inicial e continuada), urge a importância que a formação de professores se dê em nível superior, embora saibamos que esta não basta para que sua ação docente se paute na realização de atitudes responsáveis e coerentes com o fazer pedagógico. Neste sentido, justifica -se a pertinência deste estudo centrar-se na análise da legislação que trata da exigência do domínio dos conhecimentos específicos e das condições que envolvem o trabalho docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS

9 A história da educação brasileira teve forte marca da transferência do modelo de educação européia, ou seja, a implantação de um modelo de educação/formação acabado, distanciando-se da realidade social brasileira. No contexto da educação jesuítica, havia uma preparação rigorosa do professor que somente estaria apto a desenvolver a atividade docente após os trinta anos, além de um extremo controle dos conteúdos e livros a serem selecionados. Com a expulsão dos jesuítas, o sistema de ensino que passou a vigorar foram as aulas régias ministrado por professor régio nomeado pelo rei, que incluía aulas avulsas em salas alugadas, na casa do professor ou nos antigos colégios da Companhia de Jesus. No tocante à questão da formação de professores, há nesse momento histórico uma acentuada escassez de profissionais para atuar, mesmo diante desse contexto, já existia uma preocupação em selecioná-los conforme suas habilidades para o desempenho da função. Essa questão foi contemplada, a partir das iniciativas de criação das escolas normais na segunda metade do século XIX com a propagação das idéias iluministas, a constituição de teses da obrigatoriedade da instrução, popularização da educação, enriquecimento do currículo e abertura ao gênero feminino. O advento do regime republicano, particularmente nas décadas de 20 e 30 do século XX, foi permeado pelo debate dos educadores reformistas que mobilizaram a educação no país. Neste contexto, destaca-se o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), o que demarca a república como referência para o estabelecimento do debate sobre a formação de professores, que se expressa, por exemplo, na criação das entidades educacionais como a ANFOPE, ANPAE, ANPED e na regulamentação da formação docente. Diante do exposto, este trabalho se propõe a resgatar a problemática do professor na formação da sociedade brasileira, e neste sentido, afirmar a importância do conhecimento da legislação educacional acerca desta temática. Diante da complexidade da questão da formação de professores, a considerar o contexto social, político, econômico e cultural de cada época, ressaltamos que os caminhos até aqui percorridos pela formação de professores foram tortuosos e carregados de dificuldades e desafios. No entanto, acreditamos que estes podem ser resolvidos, desde que haja vontade e decisão política. Formação de professores é uma temática atual e permanente no debate dos educadores em virtude da sua pertinência. Assim, concluímos que foram muitos os caminhos e descaminhos traçados pela legislação, e que houve avanços consideráveis nesse percurso histórico, entretanto são muitos os desafios a serem enfrentados.

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, LDB 5.692/71. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm>, Acesso em 08 de junho de 2010. CASTRO, Michele Guedes Bredel de. Uma Retrospectiva da Formação de Professores: Histórias e Questionamentos. Disponível em < http://www.fae.ufmg.br/. Acesso em 04 de junho de 2010. MACEDO, Elizabeth. Formação de Professores e Diretrizes Curriculares nacionais: Para Onde Caminha a Educação? Disponível em < http://periodicos.proped.pro.br/> Acesso em 29 de maio de 2010. OLIVEIRA, Daniela Motta de. A Formação de Professores na Lei 9394/96 - Um estudo comparativo das diretrizes estabelecidas para a formação de professores de Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental nos anos 70 e nos anos 90. http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/edu/edu1603.htm.acesso em 8 de junho de 2010. RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: Organização Escolar. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 25ª Edição. Petrópolis: Editora Vozes. 2001. SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. 2. ed. rev. ampl. - Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (Coleção memória da educação) TANURI, Leonor Maria. História da formação de professores, Revista Brasileira de Educação. Disponível em: <http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital>, Acesso em 04 de junho de 2010.