JALECO NÃO ESTÁ NA MODA. VISTA ESSA IDEIA!

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Transcrição:

JALECO NÃO ESTÁ NA MODA. VISTA ESSA IDEIA! Área temática: Saúde Gabriela Manucci de Mello 1 ; Taís Almeida Vital Ribeiro 2 ; Daniela Coelho de Lima 2 ; Ana Cláudia Pedreira de Almeida 2 ¹Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG; Faculdade de Odontologia; Probext - 2016; 2 Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG; Odontologia e Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Resumo Os profissionais de saúde estão expostos aos riscos ocupacionais relacionados à contaminação. O projeto "PUCA-Saúde" objetiva mostrar a importância da não utilização do jaleco fora do ambiente de trabalho através de palestras, cartazes e folders. A mobilização destes profissionais forma uma nova geração com hábitos adequados. Palavras chave: Equipamento de proteção individual. Exposição a Agentes Biológicos. Contaminação. 1. Introdução Os profissionais de saúde estão constantemente expostos a infecções e doenças transmissíveis através do contato com sangue e outros líquidos provenientes de pacientes potencialmente contaminados. Vários tipos de micro-organismos podem ser encontrados nos aventais dos profissionais de saúde e consequentemente ocorre contaminação cruzada, levando a diversas doenças. Estima-se que estes estão expostos a cerca de 22 doenças passíveis de transmissão através do contato entre profissional e paciente. Entre estas, as que oferecem maior risco ocupacional são as Hepatites B e C e a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS), causada pelo vírus HIV (SILVA, 2008). Também pode ocorrer exposição à micro-organismos causadores de doenças como: faringite, otite, pneumonia, infecção de pele, diarreia, infecção de urina, herpes zoster e tuberculose (CARVALHO et al., 2009). O tempo de sobrevivência de agentes veiculados

por secreções (como a saliva e o sangue), em uma temperatura de 25 C, é relativamente alto, Staphylococcus Aureus sobrevivem de 60 a 90 dias (OLIVEIRA; SILVA, 2013). As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) prolongam o período de internação dos pacientes, trazendo prejuízos econômicos, sociais, profissionais e pessoais, tanto para pacientes, familiares e hospitais. Além disso, elevam as taxas de morbidade e mortalidade. (TENOVER, 2006; SIEGEL et al., 2006). Portanto, é recomendado aos trabalhadores dos serviços de saúde que adotem medidas de biossegurança por estarem suscetíveis a diferentes patógenos (CARVALHO et al., 2009). Estas devem ser adotadas para evitar as consequências da transmissão cruzada: descarte adequado de material perfuro-cortante, vacinação dos profissionais e uso de Equipamentos de proteção individual (EPIs) durante qualquer procedimento onde haja manipulação de agentes de risco, como: luvas, máscara, gorro, óculos de proteção, botas e jalecos (KOTSANAS, 2008). Este último minimiza a passagem de micro-organismos para pacientes e previne a exposição do profissional de saúde aos agentes infecciosos e do ambiente de trabalho (CARVALHO et al., 2009). O jaleco deve ser utilizado somente no local de trabalho (BALANINI; MARCUZ, 2014). Segundo a norma NR32, os empregadores devem oferecer vestimentas limpas para o trabalhador e recolher as usadas após o trabalho para devida higienização. Para evitar as consequências do mau uso do jaleco, é preciso praticar alguns hábitos no dia a dia de trabalho e no lar. Um estudo demonstrou que a lavagem dos jalecos com detergente em pó em máquina de lavar doméstica, passados a ferro doméstico, eliminou a contaminação das roupas em 100% das amostras analisadas (MARGARIDO et al., 2013). É importante ressaltar que os jalecos podem ser de vários tipos: acadêmico, utilizado dentro de sala de aula, que não oferece potencial patogênico; laboratorial químico, que não oferece risco microbiológico mas sim contaminação por reagentes químicos; laboratorial de análises clínicas e o jaleco clínico, que oferecem risco de contaminação por patógenos e também contaminação cruzada; cirúrgico, que oferece um alto risco de contaminação principalmente pelo sangue e que deve ser utilizado apenas quando estéril; e plumbífero, que protege contra os raios x, que pode oferecer riscos de contaminação quando entra em contato com sangue e secreções. Nos tecidos de fibra de

algodão, os patógenos podem sobreviver por tempo superior em contraposição aos tecidos compostos de fibras sintéticas. Isso é justificado pela hidrofobicidade dos sintéticos, dificultando a sobrevivência (OLIVEIRA, et al. 2012). Além disso, possuem uma contaminação 79,7% maior que os de TNT (tecido não tecido) (NUNES et al., 2010). Os jalecos tornam-se contaminados progressivamente durante atendimentos, até atingir um platô (LOVEDAY et al., 2007). Segundo Burden et al. (2011), após 3 horas de utilização, roupas com contaminação inicial igual a zero apresentam a mesma contaminação que teriam após 8 horas de uso. Isto ocorre devido ao contato com instrumentos clínicos e superfícies, principalmente nas regiões dos bolsos, punhos e da cintura. (PILONETTO et al. 2004; UNEKE; IJEOMA, 2010; FENALTE; GELATTI, 2012; OLIVEIRA; SILVA, 2013; ALMEIDA et al., 2015). Sugerindo que é um veículo potencial para transmissão de micro-organismos na contaminação cruzada, onde estes possuem papel passivo, cabendo ao profissional o papel ativo (VALLE et al., 2008). É possível reduzir a contaminação do vestuário através da higienização das mãos dos profissionais antes e depois do cuidado com os pacientes. As mãos são a principal via de disseminação de micro-organismos entre o paciente e o vestuário dos profissionais. Porém, esta conduta observada como insuficiente, com uma adesão abaixo de 50% em diversos países (OLIVEIRA et al., 2012). Às vezes por arrogância, negligência ou até mesmo falta de conhecimento microbiológico, estes aventais são carregados para a rua (CARVALHO et al., 2009). Em restaurantes e lanchonetes da região hospitalar de muitas cidades observam-se, diariamente médicos, enfermeiros, odontólogos e outros profissionais de saúde paramentados com seus aventais de mangas compridas, gravatas, estetoscópios no pescoço e até mesmo vestimentas específicas para áreas cirúrgicas (DIAS JÚNIOR, 2008). Infelizmente, aproximadamente metade dos pacientes valoriza o profissional que utiliza jaleco branco, encorajando esta prática (MENAHEN; SHVARTZMAN, 1998). Porém, esta opinião pode ser mudada se compreenderem que estas vestimentas são fontes potenciais de agentes patogênicos e infecções cruzadas (WONG et al., 1991). Desta maneira, o projeto PUCA- Saúde (Projeto do Uso Consciente do Avental) visa esclarecer aos profissionais de saúde a importância da não utilização do jaleco fora do ambiente de trabalho e, informar a

população e os estabelecimentos públicos que os jalecos são fontes potenciais de infecções cruzadas e não devem ser aceitos nestes locais. 2. Material e Metodologia Em 2010, os acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Federal de Alfenas-MG UNIFAL, participantes do PUCA-Saúde realizaram um estudo para organização e implementação do projeto através de discussões e revisão bibliográfica (FIGURA 1). Figura 1 Equipe do Projeto PUCA-Saúde Foram analisados diversos artigos para obtenção das informações que embasam o projeto. A partir dos dados obtidos, foram confeccionados cartazes e folders, como método informativo visual. Além desta mídia, foi elaborada uma palestra educativa, utilizando imagens e informações objetivas de maneira dinâmica, visando uma didática de fácil entendimento e envolvimento dos ouvintes. Os cartazes confeccionados foram afixados em vários locais visitados: Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG, hospitais, ambulatórios, ônibus, restaurantes e lanchonetes próximos às regiões universitárias e hospitalares da cidade de Alfenas (FIGURA 2). Os panfletos confeccionados foram distribuídos para a população local, contendo informações sobre:

1) o que é o jaleco e sua função: proteger os profissionais da área de saúde da exposição às contaminações e/ou transmissão de doenças, já que há contaminação da pele e vestimentas por respingos, toque ou proximidade é praticamente inevitável durante o exercício da profissão; 2) de que forma são transmitidos os micro-organismos: através do contato do avental com as pessoas e/ou alimentos fora do ambiente de trabalho como restaurantes, ônibus, carros, ruas, etc; 3) quais são os profissionais que o utilizam; 4) consequências do mau uso; 5) medidas de prevenção da contaminação cruzada: Restrinja o uso do avental aos ambientes adequados sejam eles laboratórios, ambulatórios e consultórios, descartando-o em local adequado e posteriormente lavando-o separadamente de outras roupas (FIGUR3). Figura 2 Cartaz do projeto PUCA - Saúde

Figura 3 - Panfletos Em 2011, através de uma metodologia participativa, a palestra educativa Jaleco não está na moda, vista esta ideia!, com duração aproximada de 40 minutos, foi apresentada para um público de 272 pessoas, dentre eles acadêmicos de vários cursos, profissionais da saúde e população em geral. Os participantes foram esclarecidos quanto aos tipos de jalecos e seu uso específico, disparidades entre os diferentes tecidos, tipos de doenças que esses aventais quando contaminados podem transmitir, forma de manuseio, acondicionamento e lavagem dos mesmos, e a importância da lavagem de mãos para evitar a contaminação cruzada. Posteriormente em 2012, 2013 e 2015, a palestra foi atualizada e apresentada em 16 Estratégia de Saúde da Família (ESFs) da cidade de Alfenas: Caensa, Boa Esperança, Primavera, Pinheirinho, Recreio, Unisaúde, São Carlos, Nova América, Itaparica, Vila Betânia, Vila Formosa, Santos Reis, Primavera I e II, América I e Nova América II. Este conhecimento também foi levado a 2 ambulatórios: Nossa Senhora Aparecida e Dr. Plínio Prado Coutinho; Vigilâncias epidemiológica e sanitária, atingindo um público de 239

pessoas. Nos estabelecimentos visitados foram fixados cartazes, e os folders informativos deixados à disposição da população. Em 2016, o projeto voltou-se novamente para a conscientização da população com a distribuição dos panfletos com informações sobre o uso adequado do jaleco e as consequências do mau uso (FIGURA 4). Figura 4 Conscientização em feira popular A Figura 5 mostra a distribuição e colagem dos cartazes em restaurantes e lanchonetes próximos às regiões universitárias e hospitalares da cidade de Alfenas. Figura 5 Cartazes afixados em locais públicos 3. Resultados e Discussões Vários estudos concluíram haver a necessidade de campanhas educativas no sentido de orientar os profissionais de saúde sobre o uso adequado do jaleco (NESI et al., 2006; CARVALHO et al., 2009; CARDOSO et al., 2010). A capacitação em biossegurança é primordial para a adoção de medidas de prevenção, pois exige nova aprendizagem e

mudanças de hábitos por parte dos profissionais (SILVA et al., 2012). O presente projeto, entre os anos de 2010 a 2016, contou com a participação de 50 acadêmicos do curso de Odontologia e tem como objetivo esclarecer aos profissionais de saúde a importância da não utilização do jaleco fora do ambiente de trabalho e, informar a população e os estabelecimentos públicos que os jalecos são fontes potenciais de infecções cruzadas e não devem ser aceitos nestes locais. No ano de 2011, o projeto PUCA- Saúde foi selecionado para apresentação no 5º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, que ocorreu em Porto Alegre. Ao longo dos anos a palestra Jaleco não está na moda, vista esta ideia! foi apresentada a 239 profissionais de saúde em 16 ESFs, 2 ambulatórios e vigilância epidemiológica e sanitária da cidade de Alfenas, a fim de informa-los sobre os métodos de prevenção e também sobre as consequências do mau uso dos jalecos, proporcionando a eles uma melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho (FIGURA 6 A e B). A B A palestra foi apresentada a um público de 322 acadêmicos de vários cursos da área de saúde da UNIFAL-MG, na IV Jornada Científica e XIII Mostra de Extensão da UNIFAL- MG, no 40 Encontro FORPROEX Sudeste, nos Seminários Internos de Apresentação dos Projetos de Extensão da Universidade, na XLV Semana Científica Odontológica Prof. Dr. Carlos Roberto Colombo Robazza, no XVII Fórum Clínico e

Científico de Odontologia da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS), onde recebeu menção honrosa e no I Simpósio Integrado UNIFAL-MG (FIGURA 7 e FIGURA 8). Acredita-se que a educação profissional é de suma importância para a formação dos acadêmicos e isto refletirá no comportamento destes futuros profissionais trazendo inúmeros benefícios a saúde pública e a população como um todo. Segundo Granville- Garcia et al. (2009), menos da metade dos acadêmicos retira todos os EPIs antes de sair das clínicas odontológicas. Contudo, Almeida et al. (2015) afirma que todos os acadêmicos participantes da pesquisa tinham consciência dos riscos potenciais de contaminação e tilizavam os jalecos somente em ambientes clínicos. Figura 7- XLV Semana Científica Figura 8-40 Encontro Odontológica FORPROEX Sudeste Com o advento da AIDS e o conhecimento dos riscos de se contrair o HIV em tratamentos odontológicos, a população passou a ser mais exigente, valorizando os profissionais que se atentam às medidas de biossegurança (GERBERT et al., 1989). Sabendo-se que a população funciona como multiplicadora de opiniões, repassando o conhecimento adquirido, o projeto foi apresentado a comunidade Alfenense no Conselho de Saúde de Alfenas, para um público de 92 ouvintes. Uma abordagem direta da população com entrega de folders e explicação sobre o uso inadequado do jaleco foi feita no I

Encontro de Qualidade de vida e Promoção à Saúde dos Servidores da UNIFAL- MG/Campus Varginha (Figura 9 A e B) e nos estabelecimentos da cidade, principalmente nos restaurantes, que apoiaram a iniciativa dos alunos do projeto permitindo a fixação dos cartazes nos seus estabelecimentos. A B Figura 9- I Encontro de Qualidade de vida e Promoção à Saúde dos Servidores da Figura 2 UNIFAL-MG/Campus Varginha Foi realizada uma pesquisa como parte do projeto que resultou em um Trabalho de Conclusão de Curso e num artigo Estudo sobre a contaminação de jalecos por Staphylococcus como subsídio para o conhecimento das infecções cruzadas, onde concluíram que os jalecos utilizados pelos alunos do curso de odontologia da UNIFAL- MG apresentavam-se contaminados por Staphylococcus sp, independente da área do jaleco pesquisada (ALMEIDA et al., 2015). 4. Conclusão Os resultados obtidos demonstram o interesse e a preocupação da população com o tema através da intensa participação durante as palestras e da divulgação maciça do cartaz nas redes sociais. A mobilização de acadêmicos e profissionais da área de saúde mostra um grande avanço em relação à prevenção da contaminação cruzada, formando uma nova geração de profissionais com hábitos adequados e cuidados com a biossegurança.

5. Referências ALMEIDA, A. C. P. et al. Estudo sobre a contaminação de jaleco por Staphylococcus como subsídio para o conhecimento das infecções cruzadas. Rev. da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 152-161, 2015. BALANINI, K. C.; MARCUZ, F. S. Utilização do jaleco pelos profissionais de saúde de um pronto atendimento do município de Cianorte. Revista UNINGÁ, v. 17, n. 1, p. 35-41, Jan./Mar. 2014. BURDEN M. et al. Newly cleaned physician uniforms and infrequently washed white coats have similar rates of bacterial contamination after na 8-hour workday: a randomized controlled trial. J Hosp Med. 6(4):177-82, 2011 CARDOSO, A. A. et al. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de jalecos e mãos de profissionais da saúde, usuários de uma unidade de alimentação e nutrição hospitalar. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 24, n. 180/181, p. 43-7, jan./fev. 2010. CARVALHO, C.M.R.S. et al. Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais de saúde: uma revisão de literatura. Texto Contexto Enferm, v.18, n.2, p.355-60, Abr./Jun. 2009. DIAS JÚNIOR, P.P.; Jaleco: uso correto na hora certa, em local apropriado. Rev Eletrônica Ciências. Maio 2008. Disponível em:http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_43/editorial_ed43.html, acesso em: 27 abr. 2016. FENALTE, M. P.; GELATTI, L. C. Contaminação de jalecos usados pela equipe de enfermagem. Rev Fasem Ciências, v. 1, n.1, p. 39-44, 2012. GRANVILLE-GARCIA, A.F. et al. Adesão e conhecimento de medidas de proteção individual contra a Hepatite B entre estudantes de Odontologia. Odontol Clin-Cientific. v. 8, n.4, p. 325-330. Out./Dez. 2009. GERBERT, B. et al. Patient s atitudies toward dentistry and AIDS. J AM DENT ASSOCIA. (SUPPL: 16S-21). Nov. 1989. KOTSANAS, D. et al. What s hanging around your neck? Pathogenic bacteria on identity badges and lanyards. Med J Aust., v. 188, n. 1, p. 5-8, Jan. 2008.

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