O MEIO FÍSICO NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS



Documentos relacionados
CAPÍTULO 15 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

GESTÃO AMBIENTAL. Aplicação da ecologia na engenharia civil ... Camila Regina Eberle

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL & SAÚDE: ABORDANDO O TEMA RECICLAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR

Manejo Sustentável da Floresta

Contribuição da Atividade de Projeto para o Desenvolvimento Sustentável

9.3 Descrição das ações nos Sistemas de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário

Eixo Temático ET Direito Ambiental OS IMPASSES DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PARA ATIVIDADE OLEIRA EM IRANDUBA (AM): ENTRE A LEI E OS DANOS

Copyright Proibida Reprodução. Prof. Éder Clementino dos Santos

7. PLANO DE CONTROLE E MONITORAMENTO AMBIENTAL 7.1. PROGRAMA DE PROTEÇÃO DO TRABALHADOR E SEGURANÇA DO AMBIENTE DE TRABALHO

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2015

Waldir Mantovani

Diagnóstico da Área de Preservação Permanente (APP) do Açude Grande no Município de Cajazeiras PB.

DIAGNÓSTICO DA COLETA E DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

Padrão de Desempenho 1: Sistemas de Gerenciamento e Avaliação Socioambiental

LISTA DE VERIFICAÇAO DO SISTEMA DE GESTAO DA QUALIDADE

Aterro Sanitário. Gersina N. da R. Carmo Junior

Proposta de Definição de Passivo Ambiental na Mineração

ANEXO II PORTARIA Nº 420, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011 TERMO DE REFERÊNCIA DE RELATÓRIO DE CONTROLE AMBIENTAL PARA REGULARIZAÇÃO DE RODOVIAS RCA

JUQUERIQUERÊ. Palavras-chave Rios, recursos hídricos, meio-ambiente, poluição, questão indígena.

Estado da tecnologia avançada na gestão dos recursos genéticos animais

LEVANTAMENTO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NA CONSTRUÇÃO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL, EM RECIFE/PE

CÓDIGO DE CONDUTA VOLUNTÁRIO PARA HORTICULTURA ORNAMENTAL SUSTENTÁVEL

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO lei 9.985/ Conceitos Básicos

MECANIZAÇÃO NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR MINERAÇÃO: ASPECTOS E IMPORTÂNCIA 1

1. INTRODUÇÃO 2. DADOS DO EMPREENDEDOR:

Passivos Ambientais Mineração. Marcelo Jorge Medeiros Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano

IMPACTO AMBIENTAL: A BASE DO GESTOR AMBIENTAL

A água nossa de cada dia

A Análise dos Custos Logísticos: Fatores complementares na composição dos custos de uma empresa

ATE XXII. Índice Conclusões LT 500 kv Marimbondo II - Campinas e Subestações Associadas Conclusões do Empreendimento 1/1

PROJETO DE LEI Nº 433/2015 CAPÍTULO I DOS CONCEITOS

Bairros Cota na Serra do

IDENTIFICANDO AS DISCIPLINAS DE BAIXO RENDIMENTO NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO IF GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ

Classificação dos processos sucessionais

PROJETO DE LEI Nº, DE (Do Sr. Fausto Pinato)

Secretaria do Meio Ambiente

EIA - Unidades de Produção de Pó e Pastilhas de UO 2, INB/CIR - Resende - RJ

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

TERMO DE REFERÊNCIA PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDO DE VIABILIDADE AMBIENTAL - EVA

A NECESSIDADE DE UMA NOVA VISÃO DO PROJETO NOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, FRENTE À NOVA REALIDADE DO SETOR EM BUSCA DA QUALIDADE

AULA 6 Esquemas Elétricos Básicos das Subestações Elétricas

PARCERIAS ENTRE O DAAE E INSTITUIÇÕES DE ARARAQUARA VISANDO A RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES TEMA V AUTORES

POLUIÇÃO DO SOLO E RESÍDUOS SÓLIDOS. Professora: Andréa Carla Lima Rodrigues

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Programa Ambiental: 1º Ciclo de Palestras Uso sustentável dos recursos naturais

III-258 UTILIZAÇÃO DA COMPOSTAGEM NA PRODUÇÃO DE ESPÉCIES PAISAGÍSTICAS DESTINADAS A ARBORIZAÇÃO URBANA NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA - MG

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Recuperação de Áreas Degradas. Organização da Disciplina. Aula 1. Introdução a Recuperação de Áreas Degradadas (RAD)

GRANDES PARCERIAS GERANDO GRANDES RESULTADOS NA GESTÃO SUSTENTAVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS PRODUTOR DE ÁGUA NO PIPIRIPAU-DF

O homem transforma o ambiente

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

Carta Verde das Américas 2013

Capítulo 2 Objetivos e benefícios de um Sistema de Informação

As principais novidades encontradas no PMBOK quarta edição

ESTUDO DE ANÁLISE DE RISCO, PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS E PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA.

Pedagogia Estácio FAMAP

ANEXO II GUIA DE FORMULAÇÃO DO PROJETO

P4-MPS.BR - Prova de Conhecimento do Processo de Aquisição do MPS.BR

Embasamento técnico de projetos de conservação do solo para atendimento da legislação. Isabella Clerici De Maria Instituto Agronômico

NORMA ISO Sistemas de Gestão Ambiental, Diretrizes Gerais, Princípios, Sistema e Técnicas de Apoio

DESMATAMENTO DA MATA CILIAR DO RIO SANTO ESTEVÃO EM WANDERLÂNDIA-TO

Reconhecer as diferenças

ITIL v3 - Operação de Serviço - Parte 1

Poluição do Solo e a Erosão

Mostra de Projetos 2011

Proposta de Plano de Desenvolvimento Local para a região do AHE Jirau

Em 2050 a população mundial provavelmente

Até quando uma população pode crescer?

Eixo Temático ET Gestão Ambiental PROJETO DE MINIMIZAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL EM UMA INDÚSTRIA DO ALTO SERTÃO DA PARAÍBA

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

2. Referencial Prático 2.1 Setor das Telecomunicações

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SÉCULO XXI: CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

LEGISLAÇÃO DE ORDENAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

INVESTIGAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA VISÃO DOS TRABALHADORES DO ATERRO SANITÁRIO DE AGUAZINHA

PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

NT-1805.R-1 - DESMATAMENTO E TERRAPLENAGEM EM TERRENOS E ACRESCIDOS DE MARINHA

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Contribuição da Atividade de Projeto para o Desenvolvimento Sustentável. II Contribuição da Atividade de Projeto para o Desenvolvimento Sustentável

Gerência de Projetos Prof. Késsia Rita da Costa Marchi 3ª Série

Poluição atmosférica decorrente das emissões de material particulado na atividade de coprocessamento de resíduos industriais em fornos de cimento.

REFLEXÕES ACERCA DOS CONCEITOS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL, IMPACTO AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. Isonel Sandino Meneguzzo 1 Adeline Chaicouski 2

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

CAPÍTULO 25 COERÊNCIA REGULATÓRIA

2 Remediação Ambiental 2.1. Passivo Ambiental

HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA

AVALIAÇÃO DA ÁREA DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DE ANÁPOLIS: um estudo de caso PIBIC/

Por que sua organização deve implementar a ABR - Auditoria Baseada em Riscos

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA. Projeto Integrado Multidisciplinar I e II

PROGRAMA DE REFLORESTAMENTO DAS MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AOS MANANCIAIS DA REPRESA BILLINGS NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ SP

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Porque estudar Gestão de Projetos?

AVALIAÇÃO DO USO DA TERRA NO PROJETO DE ASSENTAMENTO CHE GUEVARA, MIMOSO DO SUL, ESPÍRITO SANTO

SUMÁRIO: Projeto de recuperação de áreas degradadas. Instrução Normativa Nº. 08

Transcrição:

O MEIO FÍSICO NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS v.4, Dez. 2011 ISSN 1982-2065 Dayana Florentino Santos. 1 Luis Augusto de Gois. 2 Wedja Carolinne de Azevedo Gomes. 3 Niédja Maria Galvão Araújo e Oliveira. 4 RESUMO Os centros urbanos, sentenciados por uma taxa de ocupação descomunal, vêm produzindo, em escala progressiva, sucessivas ocorrências de áreas degradadas. O anseio de se reverter os diversos cenários de degradação, em sua maioria provocada pela interferência humana, cada vez mais tem impulsionado estudos e pesquisas que, dia a dia, apresentam resultados com novos métodos e novas técnicas de recuperação. O conceito de recuperação de uma área degradada, estabelecido pela condição de se devolver à área uma situação de equilíbrio do meio, equiparável às condições preexistentes, difunde-se na adoção de diversas medidas. Nesse sentido, inúmeras ações têm sido experimentadas, buscando, cada qual a sua maneira, novas formas de recuperação. O objetivo deste trabalho consiste em apresentar os benefícios trazidos pelo conhecimento e uso do meio físico na recuperação de áreas degradadas. Palavras-Chave: Áreas degradadas. Meio físico. Ocupação urbana. THE ENVIRONMENT IN THE RECOVERY OF DEGRADED AREAS ABSTRACT The urban centers, sentenced for a tax of uncommon occupation, come producing, in gradual scale, successive occurrences of degraded areas. The yearning of if reverting the diverse scenes of degradation, in its majority, provoked for the interference human being, each time more, have stimulated studies and research that, day the day, presents resulted with new methods and new techniques of recovery. The concept of recovery of a degraded area, established for the condition of if returning to the area, a situation of balance of the way, comparable to the preexisting conditions, is spread out in the adoption of diverse measures. In this direction, innumerable actions have been tried, searching, each one its way, new recovery if forms. The objective of this work consists of presenting the benefits brought for the knowledge and use of the environment in the recovery of degraded areas. Keywords: Areas degraded. Physical environment. Urban occupation. 1 Mestranda ITEP Recife-PE - dayanafs@hotmail.com 2 Mestre ITEP Recife-PE - luis.de.gois@uol.com.br 3 Mestranda ITEP Recife-PE - wedja.azevedo@gmail.com 4 Prof.ª Dr.ª FCAP/UPE-ITEP Recife-PE - noliveira825@gmail.com 1

1. INTRODUÇÃO As degradações dos ecossistemas se dão, fundamentalmente, em função de duas variáveis, as mudanças climáticas e, sobretudo, as atividades humanas sobre o ambiente, produzindo alterações no meio físico, inclusive, como fonte geradora da primeira. Dentre os vários processos que acarretam a degradação ambiental, a agricultura, o desmatamento, a pecuária, a mineração, o processo de urbanização e atividade industrial, destacam-se como os mais relevantes. Os processos de industrialização e urbanização desordenada provocam muitos impactos ao meio ambiente, não só do ponto de vista de ocupação do solo, mas também pela geração de grande quantidade de resíduos e efluentes, aumentando a carga de contribuição para a degradação ambiental. A interferência do crescimento populacional pode ser facilmente sentida pela própria humanidade e, sobretudo, pelo meio ambiente. As consequências trazidas pelo crescimento demográfico em todo o mundo chegam a ser assustadoras, por onde o homem passa, devasta, extingue e degrada. As populações nas grandes cidades duplicam-se e concentram-se com extrema facilidade. Estima-se que em 2020, aproximadamente 60% de toda a população mundial passará a viver nos grandes centros urbanos. O capítulo 5 da AGENDA 21 chama a atenção para o fato de que o crescimento da população mundial e da produção, associado a padrões insustentáveis de consumo, impõem uma pressão cada vez maior ao planeta de sustentar a vida, afetando o uso da terra, a água, o ar, a energia e outros recursos. 2

Impulsionada por este crescimento da população mundial, a intensificação do fenômeno da ocupação das áreas urbanas tem se tornado, ao longo dos anos, um tema de grande preocupação para o desenvolvimento de políticas públicas e de meio ambiente. O processo de crescimento das grandes cidades é simultaneamente dinâmico e agressivo, ultrapassando os limites das áreas ocupáveis e gerando degradações em áreas inadequadas ao uso e a ocupação do solo. À medida que se evidencia a necessidade de se tomar ações no sentido de promover um planejamento urbano que discipline o uso e a ocupação do solo, necessário se faz a correção do que está degradado ou, no mínimo, a interrupção das degradações em curso. Esta necessidade em se reverter os cenários de degradação motivam a elaboração de inúmeros trabalhos e pesquisas que culminam no desenvolvimento de vários métodos e técnicas para a recuperação de áreas degradadas. Desta forma, faz-se necessário estabelecer o critério a ser adotado para a reversão do ambiente degradado, uma vez que, este é o ponto de partida para a adoção da técnica de empregabilidade mais apropriada. O grau de degradação em que se encontra o ambiente será o fator determinante para a escolha da técnica. Vale ressaltar, nesse processo, a necessidade de uso e interação de várias ciências, tais como: hidrologia, geotecnologia, geografia, engenharia e educação ambiental, visto que é fundamental para definição da melhor técnica de recuperação conhecer o histórico do local, ou seja, como era o clima, o solo, a vegetação, a circunvizinhança, entre outros fatores, pois assim espera-se que a técnica adotada obtenha mais sucesso no resultado. 2. ÁREA DEGRADADA Em geral, ao fazer referência à área degradada, imediatamente os autores associam a área a condição de solo depauperado e erodido. Embora esta visão não esteja equivocada, ainda carece de ser complementada, pois a degradação de uma 3

área, ou mesmo de um ecossistema envolve, além do solo, a água, o ar e o conjunto de organismos pertencentes ao ambiente. Kageyama et al (1994), considera área degradada aquela que, após distúrbio, teve eliminado os seus meios de regeneração natural, não sendo, portanto, capaz de se regenerar sem a interferência antrópica. Normalmente, ao pensar em área degradada, faz-se uma associação com o impacto ambiental negativo. A degradação pode ocorrer por ação antrópica ou natural, de várias maneiras e em qualquer tipo de ambiente, como no solo, na vegetação, na água ou qualquer outro. Com relação a isto Kobiyama et al. (1993) definiram degradação como processos e fenômenos do meio ambiente, naturais ou antropogênicos que prejudicam as atividades de um ou mais organismos. Kobiyama et al. (2001), apresenta um diagrama para representar os mecanismos de degradação (Figura 1). Cabe, ainda, compreender uma área degradada como sendo o ambiente no qual ocorreu uma desordem, natural ou induzida, que provocou a falência em um ou mais dos seus organismos causando alteração de ordem física, química ou biológica. Para Bitar e Braga (1995) áreas degradadas são geradas por intervenções significativas nos processos do meio físico. Uma área encontra-se degradada quando, independente do tipo de interferência, seu ambiente, entre outros sintomas, apresenta: Perda da vegetação nativa Redução ou eliminação da fauna Incapacidade de regeneração biótica Destruição da camada fértil Alteração da vazão e da qualidade das águas superficiais e subterrâneas 4

Fonte: Dados básicos: Lal (1998)/ Informe Agropecuário, BH, v.22, n.210, p.11, mai/jun. 2001 Figura 1 Diagrama dos mecanismos de degradação Pode-se afirmar que o processo de degradação apresenta-se em diferentes níveis. Esses níveis determinam a capacidade de recuperação de uma determinada área, ou seja, desde a recuperação espontânea até a necessidade de uma intervenção de correção. 3. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Recuperação de áreas degradadas, matéria que suscita não só uma necessidade reconhecida, mas também a importância e a notoriedade, a ela atribuída, pelos mais diversos segmentos da sociedade, muito embora, os investimentos aplicados ainda sejam bastante módicos, e os projetos pouco divulgados. No entanto, à medida que cresce, paulatinamente, o interesse da sociedade pelo tema, também aumenta o interesse de técnicos e pesquisadores em busca de apresentar soluções que revertam este cenário. 5

A recuperação de uma área degrada pressupõe a adoção de medidas de melhoria do meio físico que possam restabelecer a mínima condição do local, tal qual ao seu estado original ou em condições de utilização para outro fim, devendo resultar em uma paisagem estável, que promova a auto-suficiência do solo e devolva a sua capacidade produtiva, restabelecendo a fauna, minimizando os níveis de poluição do ar e da água. Esta recuperação representa devolver ao ambiente uma condição de uso conforme as características preexistentes, atribuindo ao mesmo a capacidade de desenvolver uma situação de equilíbrio que permita a formação de um novo solo e de uma nova paisagem, porém compatíveis com os aspectos físicos, estéticos e sociais das áreas adjacentes podendo superar o estado paisagístico de origem. Fica claro que, reintegrar uma área degradada à função anterior e direcioná-la para novos usos são os principais objetivos de um projeto de recuperação. No entanto, para que um projeto atinja o nível desejado de recuperação, é necessário que este se alicerce em um bom planejamento, e que seja elaborado por profissionais habilitados para tal, pois o conhecimento detalhado dos elementos envolvidos na degradação só se torna possível mediante a elaboração de um trabalho investigativo, que se aprofunde na compreensão das características físicas, químicas e biológicas da área. Sánchez (2006) apresenta através de um diagrama, os distintos entendimentos ou variações do conceito de recuperação de áreas degradadas. Fonte: Sánchez, 2006 Figura 2 Estágios de atuação no processo de recuperação de uma área degradada 6

No processo inicial de investigação, sob o risco de insucesso, alguns procedimentos não podem deixar de ser observados, como por exemplo: o conhecimento da vegetação nativa e a caracterização de suas espécies, a compreensão da biota e do processo de dispersão das sementes, bem como a definição do tipo de uso que será atribuído à área a ser recuperada. Estes, são elementos que, certamente, nortearão o processo de sucessão das espécies e que favorecerão a minimização de ocorrências de contraposições. Nessa linha é recomendável que, para a elaboração de um projeto de recuperação, sejam observados os seguintes aspectos: Avaliação fitogeográfica da região que contém a área que se deseja recuperar Definir previamente o uso que se pretende destinar à área a ser recuperada Identificar a vegetação de origem da área a se recuperar Levantamento topográfico da área a ser recuperada Estudo físico-químico do solo Definir as espécies que deverão ser introduzidas Este procedimento se faz necessário em virtude da enorme gama de alternativas que se propõem para os trabalhos de recuperação, fazendo com que a escolha da opção mais adequada inclua, certamente, um melhor conhecimento dos ambientes, preexistentes e futuros e, sobretudo, se permita uma avaliação do investimento e da relação custo-benefício, pois os processos de degradação, provenientes de eventos naturais, interativos ou por indução, em sua grande maioria, demandam investimentos significativos para a sua recuperação, além de requererem uma investigação detalhada das alterações impostas ao ambiente, sobretudo no meio físico. 4 IMPORTÂNCIA DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Algumas atividades são consideradas mais degradantes, tais como, deposição de resíduos, mineração, agricultura irrigada, ocupação de encostas, voçorocas, assoreamentos, entre outras. E estas, normalmente, necessitam da 7

aplicação de técnicas de recuperação. Dentre essas, a atividade de mineração, que normalmente usa a técnica de revegetação como alternativa de recuperação da área degradada, destaca-se como a mais complexa, haja vista a sua extensão pela grande quantidade de material extraído e a rápida evolução da urbanização. No entanto, outros problemas podem ser desencadeados, como, por exemplo, o simples abandono de uma área que pode vir a acarretar o aumento de degradação. E quanto maior a degradação, mais difícil tornar-se-á a recuperação em função da necessidade de altos investimentos. Para Sánchez, 2006, o abandono de área é configurado pela inexistência de ações de recuperação ambiental. E dependendo do nível de perturbação e da resiliência do ambiente afetado, este pode se regenerar espontaneamente. Ele revela um conceito de resiliência como sendo a capacidade de um sistema natural se recuperar de uma perturbação imposta por um agente externo (ação humana ou processo natural) [...]. Esse conceito surgiu na Ecologia, no início dos anos de 1970, a partir de analogias com conceitos da física, como resistência e elasticidade. No caso de degradação em ambientes urbanos, é freqüente a utilização de termos como requalificação e revitalização nos processos de recuperação ambiental. A aplicação dos processos e tecnologias de recuperação de áreas degradadas proporciona ganhos socioambientais, como: Minimização e/ou erradicação do risco de acidentes por deslizamentos de encosta com a população menos abastada que invade essas áreas Reaproveitamento de área Manutenção da fauna e flora nativa Manutenção da qualidade dos corpos hídricos Ressalte-se ainda, o ganho na qualidade de vida e a consequente elevação da região no ranking de qualidade ambiental; haja vista que áreas verdes, áreas de preservação e menores índices de degradação são indicadores positivos que elevam, de um modo geral, a qualidade de vida e saúde ambiental de uma região. 8

5 O MEIO FÍSICO Diante do conceito de que recuperar uma área degradada é trazer ao ambiente um estado de equilíbrio e de estabilidade que proporcione a reprodução parcial das espécies e das condições ali pré-existentes, o conhecimento do meio físico torna-se um fator imprescindível à obtenção do sucesso na recuperação de uma área degradada. Desde o estudo comparativo das características até a sensibilidade do meio físico do ambiente, bem como das interferências no mesmo, tais como, construções, mineração, agricultura, urbanização e até mesmo os fenômenos naturais que impõem algumas alterações. Estes elementos permitirão uma melhor compreensão territorial e a provável escolha por uma solução mais consistente. Os processos que envolvem o meio físico estão diretamente relacionados às interferências sofridas, sejam de ordem natural ou antrópica. O meio físico, para Zuquette (1993): trata-se da parcela do meio ambiente constituída pelos materiais rochosos e inconsolidados, as águas e o relevo que estão combinados e arranjados de diversas maneiras em espaços tridimensionais. Nesse sentido, diagnosticar o meio físico é alcançar a integração das particularidades dos seus processos, ou seja, dos seus componentes naturais na condição de pré-requisito ao uso, é estar de posse da estrutura física delineada de modo a permitir a avaliação do sistema evolutivo de suas características e de suas sensibilidades na medida em que sofram interferências, traduzindo assim as suas potencialidades e suas limitações. O entendimento dos processos do meio físico traduz a dinâmica do meio, expressada na forma de fenômenos, tais como, erosões, movimentos de massa, escorregamentos, recalques e/ou expansões do solo, entre outros. Fenômenos estes que podem ser encetados por processos físicos, biológicos, químicos ou antrópicos. 9

6 TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS O processo de recuperação compreende uma associação de medidas que engloba desde ações geotécnicas e de revegetação até remediações, visando promover o equilíbrio físico, químico e biológico do ambiente. Dentro de uma grande disponibilidade de opções para um sistema de revegetação, por exemplo, podemos citar a utilização de resíduos para uma recuperação. Estes resíduos em associação às espécies vegetais pioneiras (de crescimento rápido) proporcionariam um recobrimento do solo com um resultado rápido e que, certamente, diminuiria o impacto da chuva e impediria a formação da crosta superficial, que impossibilita o processo de infiltração da água no solo. No entanto, à medida que as soluções técnicas evoluem, também evoluem e se expandem os objetivos de recuperação de uma área degradada. A meta de se estabelecer uma cobertura vegetal com o objetivo de se promover, tão somente, o controle efetivo da erosão não atinge mais o anseio da recuperação. Muito embora este procedimento esteja inserido no propósito a ser alcançado, quando o objetivo maior é recuperar ambientalmente uma área, as aspirações devem ser maiores. Nesse caminho, passa-se a associar o planejamento de recuperação aos processos de sucessão natural, buscando atingir o clímax, ou seja, na tentativa de se reproduzir uma comunidade estável e adaptada às condições ambientais prevalentes da região, sem que haja perda de identidade com as condições de uso do solo anterior ao processo de degradação. Para BItar e Braga (1995) as tecnologias aplicáveis à recuperação do meio físico degradado (portanto, tecnologias de estabilização), podem ser distinguidas, em três conjuntos básicos, os quais podem ser aplicados de modo integrado em uma dada área : a) Tecnologias de revegetação, envolvendo desde a fixação localizada de espécies vegetais (herbáceas ou arbóreas) até reflorestamentos extensivos; 10

b) Tecnologias geotécnicas (ou geotecnologias), envolvendo a execução de obras de engenharia (com ou sem estruturas de contenção e retenção), incluindo as hidráulicas, que visam a estabilidade física do ambiente; c) Tecnologias de remediação, envolvendo a execução de métodos de tratamento predominantes químicos (podendo ser biológicos, como biorremediação) destinados a eliminar, neutralizar, confinar, imobilizar ou transformar contaminantes no solo e nas águas (podendo abranger tecnologias de tratamento in situ ) e, com isso, reaver a qualidade de ambos. Métodos biológicos de recuperação de áreas degradadas Plantio de mudas - analisar grupos de espécies a serem introduzidas - herbáceas, arbustivas, arbóreas Plantio de Estacas (material vegetativo) Semeio direto Hidrossemeadura (mistura de sementes de gramíneas Uso de leguminosas e outras espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas Semeadura aérea Semeadura à lanço Uso da manta orgânica florestal (serrapilheira) Uso de telas naturais Uso de leguminosas Poleiros artificiais Tapete verde Regeneração natural 11

Fonte: Bitar e Braga, 1995. Figura 3 Medidas de recuperação do meio físico em diferentes tipos de empreendimentos Tecnologias geotécnicas Métodos de fundamentação geotécnica podem envolver desde a execução de medidas simples até obras de engenharia relativamente complexas. As medidas geotécnicas podem ser com ou sem estruturas físicas de contenção ou retenção, sendo aplicadas no controle de processos do meio físico que atuam na degradação 12

do solo. Visam a estabilização física do ambiente e geralmente compreendem procedimentos técnicos da mecânica dos solos, geologia e geotecnia. Medidas para a recuperação ambiental de áreas de extração de material de empréstimo têm sido propostas com ênfase no controle de processos do meio físico. Alguns procedimentos têm sido objeto de normas técnicas, principalmente de órgãos como ABNT e DNIT. Assim para implementação de tecnologias geotécnicas, deve ser elaborado um projeto de engenharia para viabilizar um bom planejamento e acompanhamento das atividades durante a fase de execução de cada técnica. As medidas a serem implantadas devem ser particularizadas para cada caso guardando consonância com a situação de cada área degradada existente e devendo ser aplicadas na ordem sugerida, sem defasagem prolongada entre elas, o que poderia provocar intensificação dos processos erosivos. No caso de jazidas, quando originarem grandes depressões no terreno, estas poderão ser utilizadas como locais de bota-fora de materiais excedentes, não contaminados, retrabalhados de forma a permitir a uniformização, antes da aplicação da camada de solo fértil. Os taludes e rampas deverão ter sua declividade suavizada, a fim de evitar a intensificação dos processos erosivos, facilitando a recuperação destas áreas. Na recuperação de taludes de corte deve ser utilizada, preferencialmente, hidrossemeadura de espécies com raízes superficiais, como as gramíneas. No caso de taludes de aterro, recomenda-se controle da erosão e utilização de grama em placa, sugerindo-se a escolha de espécies com raízes profundas, especialmente arbustos, com prioridade a espécies nativas pioneiras e de rápido desenvolvimento. 13

O controle de exploração de jazidas deve ser executado com a devida atenção, no sentido de que a retirada de material de empréstimo não resulte em superfícies muito íngremes, com grandes desníveis, o que dificultaria a apropriada recuperação dessas áreas. A exploração por meio de superfícies patamarizadas constitui-se em uma técnica a ser adotada em todo processo de extração de materiais de empréstimo. A revegetação cujo principal objetivo é propiciar a cobertura eficiente do solo, protegendo-o da erosão e favorecendo a recuperação de suas propriedades físicoquímicas deve, inicialmente, contemplar o desenvolvimento das espécies herbácia e arbustiva, vindo a favorecer a formação de vegetação arbórea, recuperando parte da vegetação existente. As espécies vegetais a utilizar para a revegetação devem ser preferencialmente gramíneas e leguminosas, que fixam o nitrogênio no solo, além de espécies arbustivas e arbóreas. O solo orgânico, proveniente de alguma limpeza que se fizer necessária, de escavações para fins de corte e aterro ou ainda de área de empréstimo, deverá ser estocado adequadamente fora da área trabalhada para efeito de reaproveitamento futuro, como revestimento vegetal de superfícies a recuperar. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo do princípio de que a melhor forma de recuperação de uma área degradada é não precisar fazê-la, é importante realizar trabalhos de educação e conscientização ambiental e, assim, erradicar a causa da degradação que pode ocorrer por falta de conhecimento. É necessário trabalhar com planejamento para adotar técnicas adequadas da exploração dos recursos naturais e conscientizar a população da relação entre o manejo adequado dos recursos naturais e a qualidade de vida. 14

Tratar as questões ambientais, especialmente no que concerne a preservação do meio ambiente, é um tema relativamente novo para uma sociedade que não foi educada a usar conscientemente os bens da natureza, mas ao contrário, para extrair dela o máximo possível, até a sua exaustão. Para tanto, faz-se necessário, também fazer uso da legislação na delimitação do uso e punição dos abusos. Deve ser levado em consideração o desenvolvimento populacional e industrial, porém sem deixar de existir investimentos em novas tecnologias de monitoramento, manutenção e recuperação de áreas degradadas, de modo que se obtenha o melhor resultado. O papel da sociedade é fundamental nesse processo e, aos poucos, ela irá se apercebendo de que o meio ambiente em equilíbrio é sinônimo de qualidade de vida, e de que a sua participação é condição sine qua non para fazer prevalecer este direito garantido pelo artigo 225 da Constituição: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-la e preservá-la para as presentes e futuras gerações. 8 REFERÊNCIAS BITTAR, Omar Yazbec; BRAGA, Tânia de Oliveira. O meio físico na recuperação de áreas degradadas. Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. Associação Brasileira de Geologia de Engenharia: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Divisão Geologia, 1995. (Série meio ambiente). BITTAR,Omar Yazbek et al. Geotecnologia tendências e desafios. São Paulo: Perspec. v.14 n.3. july/sept. 2000. 15

HOGAN, Daniel Joseph. Crescimento demográfico e meio ambiente. Ver. Bras. Estudos Pop., Campinas, 8 p.1-12, 1991. KAGEYAMA, Paulo et al. Revegetação de areas degradadas: modelos de consorciação com alta diversidade. Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas SINRAD, 1994. KOBIYAMA, Masato; et al. Áreas degradadas e a sua recuperação. Informe agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n. 210, p10-17, maio/jun. 2001. Disponível em: <http://www.labhidro.ufsc.br/artigos/recupera%e7%e3o.pdf> Acesso em: 22 out. 2009. OLIVEIRA, Érica Mantovani de. Definição dos condicionantes do meio físico para subsidiar a elaboração de cartas de sensibilidade ambiental ao derramamento de óleo município de Cubatão (SP). Disponível em: <http://www.anp.gov.br/capitalhumano/arquivos/prh05/erica-mantovani-de- Oliveira_PRH05_UNESP_G.pdf> Acesso em: 5 nov. 2009. SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. VALCARCEL, Ricardo; SILVA, Zilanda de Souza. A eficiência conservacionista de medidas de recuperação de áreas degradadas: proposta metodológica. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/institutos/if/lmbh/pdf/revista04.pdf> Acesso em: 4 nov. 2009. ZUQUETTE, L. V.; PEJON, O. J. Eventos perigosos geológico-geotécnicos no Brasil. Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais. Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004.P. 312-336. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~gedn/sibraden/ cd/eixo%202_ok/2-24.pdf>. Acesso em: 22 out. 2009. 16