O CEMITÉRIO COMO FONTE PARA ESTUDOS DE FOLKCOMUNICAÇÃO



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Transcrição:

O CEMITÉRIO COMO FONTE PARA ESTUDOS DE FOLKCOMUNICAÇÃO Fábio Augusto Steyer * Os cemitérios cada vez mais são utilizados como fonte para pesquisas em diversas áreas do conhecimento, como a Religião, a Antropologia, a História, a Arte, entre tantos outros. Nosso grupo de estudos vem pesquisando os cemitérios do Rio Grande do Sul há mais de dez anos, a partir de uma série de abordagens e enfoques. Coordenado pelo historiador e professor da PUCRS Harry Rodrigues Bellomo, o projeto Arte Cemiterial no Rio Grande do Sul, do qual são participantes alunos de graduação e pós-graduação e professores de diversas instituições de ensino superior, como UNISINOS, UNIVATES, FEEVALE, FARGS E FAFIMC, predominando docentes e discentes vinculados à PUCRS, é um dos maiores do Brasil no que se refere à pesquisa cemiterial. Até o presente momento foram visitados cerca de 500 cemitérios na capital e interior do Estado, tendo sido registradas inúmeras informações para as diferentes áreas da pesquisa. O resultado dos estudos realizados até 1998 foi reunido no livro Cemitérios do Rio Grande do Sul: Arte, Sociedade, Ideologia, lançado pela EDIPUCRS, e todos os anos os participantes do grupo apresentam comunicações e palestras em congressos, seminários e outros eventos ligados ao tema, além de publicarem textos em anais e periódicos especializados. Devido ao volume e riqueza dos dados coletados até o momento, acreditamos que entre as diversas possibilidades de pesquisa que os cemitérios proporcionam aos estudiosos pode ser incluída a perspectiva da Folkcomunicação. Pensando a Folkcomunicação como uma comunicação ligada ao folclore (e também à antropologia) e distante das relações midiáticas formais e industrializadas podemos encontrar nos campos santos uma série de fenômenos folkcomunicacionais. * Professor da UNIVATES e UNISINOS. Mestre em História (PUCRS). Doutorando em Letras (UFRGS). 7ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação 1

O cemitério é um dos locais mais propícios para o homem manifestar suas atitudes diante da morte, que são, antes de mais nada, atitudes comunicacionais. As crenças e posturas humanas diante da morte aparecem no cemitério através de uma série de representações e manifestações, como os epitáfios, as fotografias, os objetos colocados nos túmulos, a arquitetura tumular, etc. Estas manifestações todas podem ser consideradas como atos comunicativos pois as pessoas pretendem se comunicar com elas mesmas, com os parentes falecidos e também com os vivos que circulam pelo cemitério, sempre com o objetivo de conviver de uma forma mais amena com a morte e compreendê-la melhor, além, é claro, de cultuar a memória do morto. A necessidade antropológica e humana de crença em alguma forma de transcendência após a morte física, como bem aponta Edgar Morin, em seu livro O Homem e a Morte 1, gera uma série de explicações e crenças sobre o sentido da morte. No entanto, até hoje ninguém conseguiu esgotar a análise da morte em sua total complexidade, seja a ciência, a religião, a arte, a filosofia ou qualquer outra forma de conhecimento. A morte permanece inexplicável, e para convivermos com ela, temos a necessidade antropológica de crer em alguma forma de transcendência. Desta forma, através das diversas manifestações e representações antropológicas de nossa relação com a morte presentes nos cemitérios, estamos nos auto-enganando, como diria Eduardo Gianetti 2. Fingimos acreditar em determinada explicação sobre a morte (o Cristianismo, por exemplo), porque temos a necessidade antropológica de negar a morte como fim último da existência. Isso é o auto-engano com relação à nossa finitude: acreditar numa explicação definitiva sobre algo inexplicável. Bom, mas como todas estas manifestações podem ser associadas à Folkcomunicação? Talvez possamos pensar em algo que já foi afirmado anteriormente neste texto, ou seja, que estas manifestações muitas vezes representam atos comunicativos das pessoas consigo mesmas, com os parentes falecidos e com os vivos que circulam pelo cemitério. 1 Para maiores informações sobre as idéias de Edgar Morin a respeito do "triplo dado antropológico" da morte, consultar: STEYER, Fábio Augusto. "Representações e Manifestações Antropológicas da Morte em Alguns Cemitérios do Rio Grande do Sul". In: BELLOMO, Harry Rodrigues (Org.). "Cemitérios do Rio Grande do Sul: Arte, Sociedade, Ideologia". Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 67-118. 2 Para maiores informações sobre a noção de "auto-engano", ler o mesmo texto indicado na nota anterior. 7ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação 2

Um túmulo pode ser um paraíso da comunicação e até mesmo da semiótica, pois está repleto de informações e de sinais, digamos, através dos quais se pretende algum tipo de comunicação. Grandes mausoléus, com pomposas estátuas e colunas monumentais, por exemplo, informam aos passantes que ali está enterrado alguém que enquanto vivo ocupava uma posição de prestígio social. Isso pode ser reforçado pelos epitáfios, por placas comemorativas, bustos, brasões e outros símbolos que destacam as qualidades e a posição social ou profissional do falecido. Aliás, cabe lembrar que a divisão das classes sociais não termina após a morte: as posições sociais permanecem inalteradas no cemitério, lugar onde é perfeitamente possível identificar em grande parte dos casos os bairros ricos, pobres e das classes médias. Os epitáfios também são instrumentos através dos quais se pretende algum tipo de comunicação. É comum encontrarmos epitáfios em que a família se dirige ao morto, despedindo-se ou desejando que sua vida eterna seja repleta de paz. Um exemplo seria algo do tipo: Você, fulano, que vive na eternidade, nosso ente querido, desejamos que seja feliz e encontre a paz eterna. Temos também os epitáfios em que a família coloca palavras na boca do morto: Eu, fulano, que aqui estou na eternidade, vivo feliz. Portanto, não precisam se preocupar comigo porque estou bem. Outro exemplo são os epitáfios dirigidos especialmente às pessoas que estão circulando pelo cemitério: Você, passante, que aqui está neste momento, não deixe de rezar pela alma de fulano de tal. É claro que estes exemplos são fictícios (embora os casos reais sejam bastante comuns nos cemitérios do RS), mas o que nos interessa é mostrar que eles têm como objetivo auxiliar a família na dura convivência com a morte do familiar, e, de certa forma, são atos de comunicação (pensado de forma associada ao folclore e à antropologia, atos de folkcomunicação) que servem aos propósitos dos três níveis comunicacionais citados acima (da família com a própria família, para aliviar o convívio com a morte; da família com o morto, visto ainda como ser único e singular, ou seja, com uma biografia aqui na Terra, mesmo que isso tenha sido perdido a partir do momento da morte; e da família com qualquer pessoa que estiver no cemitério e observar estes epitáfios e outras manifestações no túmulo do falecido). Importante ressaltar que há uma interpenetração destes níveis de comunicação, que, no culto à memória do morto e nas atitudes humanas diante da morte, parece-nos que não estão separados, mas interligados, ou seja, são indissociáveis. As atitudes humanas diante da morte nos revelam uma série de outras manifestações que também acreditamos possam ser analisadas sob a ótica da Folkcomunicação. Os santos populares, tão comuns no interior no Estado, são exemplos bastante significativos. As pessoas colocam objetos e bilhetes no túmulo do santo para pedir algum tipo de ajuda ou agradecer graças alcançadas, como 7ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação 3

cura de doenças ou solução para problemas financeiros ou amorosos. No município de Dois Lajeados, só para citar um exemplo, existe um túmulo de uma menina cujo corpo permaneceu mumificado, provavelmente devido a tratamento médico com determinados tipos de antibióticos que retardam a decomposição do corpo. Isso bastou para que ela fosse considerada santa pela comunidade. O corpo, mumificado, permanece intacto dentro de uma redoma de vidro colocada no interior de um mausoléu no cemitério municipal, a vista de todos que desejarem visitá-lo. Em redor da redoma de vidro, as pessoas acendem velas, colocam objetos e bilhetes e fazem sua louvação à santinha, pedindo ajuda ou agradecendo pelas graças recebidas. Estas atitudes acreditamos - também podem ser associadas à Folkcomunicação, na medida em que são formas de comunicação ligadas ao folclore e à antropologia da morte em nosso País. Outra manifestação interessante ocorre em períodos de festas como a Páscoa ou o Natal. Em diversas cidades do interior do Estado, como Arroio do Meio, Terra de Areia e Caxias do Sul, por exemplo, encontramos, em época de Natal, pinheirinhos, enfeites natalinos e até cartões de Natal através dos quais a família se dirige ao morto e comemora com ele a data festiva. Em Terra de Areia chegamos a encontrar bilhetes ou cartas através dos quais a família pretende se comunicar com o falecido e até mesmo com outros parentes já mortos, com frases do tipo: Você está bem aí? Por aqui tudo bem. E o fulano, está junto de ti? Manda um abraço para ele. Feliz Natal!. Em Canela, outro fenômeno interessante: em época de Páscoa, encontramos num mausoléu de criança enfeites pascoalinos e chocolates!!! Aliás, é muito comum encontrar brinquedos em túmulos de crianças, como se elas mantivesse sua singularidade e continuassem a brincar na eternidade. Em Terra de Areia há mausoléus que reproduzem os quartos das crianças, com direito à camas, bidês, decoração infantil e brinquedos. Há também um mausoléu adulto com lareira!!! Em Torres, no mausoléu de um caminhoneiro, há um porta revistas com várias revistas sobre caminhões, provavelmente para o falecido se informar das novidades. Enfim, não seriam todos estes exemplos de atitudes humanas diante da morte atos comunicativos, posturas que revelas as necessidades antropológicas humanas com relação à morte e que se manifestam numa interpenetração dos três níveis comunicacionais que propusemos acima? Vários outros exemplos poderiam ser dados. No entanto, acreditamos que estes são suficientes para indicar que os estudos folkcomunicacionais também podem ser feitos nos cemitérios. Seria possível ponderar até que ponto o conceito de Folkcomunicação dá conta destes fenômenos ligados à morte. O professor Juremir Machado da Silva, na apresentação da recente edição do trabalho de Luiz Beltrão sobre a 7ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação 4

Folkcomunicação, publicada pela EDIPUCRS 3, faz uma série de ressalvas ao conceito de Folkcomunicação, especialmente no que se refere à idéia de cultura popular, numa época em que cada vez mais todos os produtos culturais são massificados e midiatizados. Mas ele considera as idéias de Luiz Beltrão como sendo fundamentais justamente por tocarem em assunto tão espinhoso e complexo. Mesmo assim, sem a certeza de verdade que caracterizaria um conceito científico de caráter moderno ou iluminista, arriscamos afirmar que diversas atitudes humanas diante da morte, perceptíveis através das pesquisas in loco nos cemitérios, podem ser associadas à Folkcomunicação. O que nos leva a essa conclusão são anos de dedicação ao estudo da morte e a percepção de que uma série de fenômenos e manifestações que encontramos nos cemitérios podem perfeitamente ser analisados a partir da confluência entre Comunicação, Folclore e Antropologia. E é nesta confluência nos parece que aflora a Folkcomunicação, com o vigor das idéias de Luiz Beltrão e seus seguidores e a tendência científica contemporânea que nos leva cada vez mais a analisar a realidade de forma múltipla e transdisciplinar. 3 BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação Um Estudo dos Agentes e dos Meios Populares de Informação de Fatos e Expressão de Idéias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. 7ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação 5