Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira Prof. Diego Araujo Azzi 2019.2
Aula 02 (07.06) Séc. XIX-XX: relações f inanceiras entre Brasil e Londres SOUSA, Angelita Matos. Estado e Dependência no Brasil (1889-1913). Cap. 2. In: Estado e Dependência no Brasil (1889-1930). Ed. Annablume, São Paulo, 2001. Complementar: CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. A conquista e o exercício da soberania (1822-1889). In: História da Política Exterior do Brasil. Ed. UnB, Brasília, 2002. ALMEIDA, Paulo Roberto. A diplomacia da libra esterlina: o Brasil como devedor. Cap. 9. In: Formac a o da diplomacia econo mica no Brasil: as relac o es econo micas internacionais no Impe rio / Paulo Roberto de Almeida. Vol. I, 3. ed. rev. Brasi lia : FUNAG, 2017.
Antecedentes... O processo de endividamento brasileiro começa, na verdade, quando a família real retorna para Portugal, no Grito da Independência, em 1822, levando todo o tesouro e deixam uma dívida milionária com os britânicos. A Inglaterra fornecera os navios para que, anos antes, a corte de Portugal, por causa da invasão pelas tropas de Napoleão Bonaparte, fuja para a então colônia, o nosso Brasil. Já o Brasil precisava urgentemente de empréstimo da Inglaterra, que ainda não tinha reconhecido a Independência. Exige que precisa que, antes, Portugal, a reconheça. Este, por sua vez, exige, em troca, como compensação, 3 milhões de libras esterlinas. Era a dívida de Portugal com a Inglaterra. O Brasil, com o caixa zerado, teve que fazer um empréstimo com os bancos da Inglaterra para pagar Portugal. Dívida que só terminou de se pagar 68 anos depois de mais quatro empréstimos para pagar os juros.
Período pós-independência: Credores ingleses temiam que o Brasil dividisse o território em pequenas repúblicas em virtude da dif iculdade de distribuição da dívida externa acumulada pelo Império Brasil como um país sem recursos f inanceiros domésticos para alavancar seu desenvolvimento (renda do Estado dependia das tarifas alfandegárias à importação) Ao mesmo tempo, o país já estava endividado internacionalmente (Guerra do Paraguai, 1865) 1868: criação da Corporation of Foreign Bondholders para proteger os interesses dos vários credores
Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses, repassando a estes os lucros alfandegários
Revolta da Armada (1893-94) e intervenção estrangeira contra o bombardeio do Rio de Janeiro Brasil aceita negociação proposta pelos governo estrangeiros com o objetivo de normalizar os f luxos comerciais navais Brasil aceita que funcione uma jurisdição militar estrangeira de caráter arbitral superior ao do próprio governo Rebeldes fogem em navios portugueses, causando tensões com os britânicos (supostamente monarquistas), que não se opuseram
Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses
Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses
A revolta da armada propicia a oportunidade para uma maior aproximação com os Estados Unidos, vistos como aliados republicanos contra interesses monárquicos de Londres Entrada dos EUA ao lado da República é decisiva para a derrota da revolta EUA e GB ainda não tinham interesses econômicos altamente conf litantes no Brasil Mas o séc. XX já se inicia com uma disputa entre Estados Unidos e Inglaterra pela inf luência sobre o território brasileiro
1893 primeira operação f inanceira da República, junto a Casa Rothschild A origem da crise f inanceira da República está na política monetária emissionista dos últimos anos do Império Objetivo inicial era construção de estradas de ferro mas a maior parte do empréstimo foi utilizada para f inanciar guerras internas de Floriano Peixoto Sem crédito internacional disponível, o Governo Republicano mantém a política emissionista, gerando inf lação, desvalorização cambial e especulações sobre a economia brasileira
No período Republicano a diplomacia econômica ganha maior centralidade e capacidade técnica, estando praticamente à serviço da diplomacia do café 1896 primeira crise de superprodução da indústria do café, decorrente da expansão do plantio em anos anteriores. A partir de 1895 o setor cafeeiro entra na sua maior crise
1896 governo não tinha como cumprir com seus compromissos externos e internos, receitas não cobriam sequer metade das despesas, resultando em moratória Em 1898 é assinado o Funding Loan, um enorme acordo f inanceiro que vinha com a imposição dos banqueiros internacionais, com o objetivo do restabelecimento do cambio e o pagamento das obrigações do Brasil num prazo alongado, com juros maiores
Funding Loan representa a necessidade de manter a exportação de capitais do centro para a periferia, desde que sejam garantidas condições cada vez mais vantajosas de reembolso para os credores (p.86) Tese Angelita Matos: o Estado brasileiro, ao aceitar as condições impostas pelo acordo, adotando uma política de ênfase no pagamento da dívida, responde à função que lhe cabe neste sistema: assegurar as condições de reprodução das formas de dominação-subordinação imperialistas do período Estamos intervindo no Brasil porque estamos intervindo em nossa casa (Negociador britânico)
Funding Loan força a valorização da moeda brasileira, o f im da política emissionista e a contração econômica Ao mesmo tempo, prejudica os setores agroexportadores, sobretudo o do café, nosso principal produto de exportação O Funding Loan distanciou o Estado brasileiro dos interesses das classes dominantes brasileiras Funding Loan proíbe que o Brasil faça novos empréstimos no mercado internacional por 3 anos
Séc. XX, 1901 em diante: com o f im da proibição do Funding Loan a novos empréstimos o Brasil passa a se endividar novamente, com o objetivo de sustentar os preços do café no mercado A partir de 1908 a Inglaterra deixa de ter o monopólio sobre os empréstimos ao Brasil e então França, EUA e Alemanha passam a ter mais protagonismo Mas mesmo com a diversif icação de credores, cada novo empréstimo era feito com condições mais duras sobre o país
O café era produzido, comercializado e consumido pelo setor privado mas a política monetária era do governo federal Disputa monetária entre produtores nacionais e comercializadores estrangeiros Unidades subnacionais, sobretudo o Estado de SP passam a se endividar por conta própria no exterior, dadas as restrições dos credores sobre o gov. Federal Também caem sob as condicionalidades dos credores e o governo federal se torna garantidor dos empréstimos estaduais
Às vésperas da I Guerra Mundial o mercado de crédito internacional se contrai fortemente e em 1914 o Brasil assina um segundo Funding Loan (nova dívida contraída somente com o objetivo de pagar a dívida antiga...) Muitos dos aspectos econômicos do pós-i GM já estavam presentes antes de 1914: o fechamento dos mercados à concorrência estrangeira, a tendência para restrições ao livre comércio e a crescente intervenção do Estado na economia e nas f inanças