Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira

Documentos relacionados
Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira. Prof. Diego Araujo Azzi

GOVERNO DEODORO DA FONSECA

Primeira República: 1 A Crise da República. 2 Governo do Mal. Deodoro da Fonseca. 3 Governo do Mal. Floriano Peixoto. Aula 15 Primeira República

A República Velha ( )

Preparatório EsPCEx História Geral. Aula 13 - Independência das 13 colônias inglesas

Sistema Financeiro Internacional: de Bre3on Woods ao Não- Sistema. Prof. Dr. Diego Araujo Azzi

Segundo Reinado 2ª Fase e Crise. Prof. Thiago Aula 07 Frente C

Marco Abreu dos Santos

X. Japão: do crescimento acelerado à recessão internacionalizada

Aula 15- A Crise do Império de Novembro de 1889

República Velha

HISTORIADA POIÍI1CA EXKRIOR DO BRASIL

1. Moeda e o Sistema Monetário

A REPÚBLICA DA ESPADA ( )

A República da Espada. Prof. Thiago História C Aula 08

Professor Eustáquio Vidigal

HISTÓRIA - 2 o ANO MÓDULO 04 A REPÚBLICA DA ESPADA ( )

Aula 5 Os impactos da Grande Depressão na economia brasileira. Felipe Loureiro IRI/USP 2017

Prof. André Vinícius.

HISTÓRIA Professor Marcelo Lameirão PROVAS ESA

A República Oligárquica ( ) O Domínio das Oligarquias ( )

BRASIL REPÚBLICA (1889 ) REPÚBLICA VELHA ( ) EXCEÇÕES: : Hermes da Fonseca (MG + RS) Política das Salvações *

A República Velha ( )

Edital. 3ª Fase 2017 Microeconomia

O Brasil no Sistema Monetário Internacional

O legado do Império e a proclamação da República

Sistema Financeiro Internacional: de Bretton Woods ao Não- Sistema. Prof. Dr. Diego Araujo Azzi Aula 5

Economia Internacional e Comércio Exterior I. Prof. Ary Jr.

Proclamação da República

A CRISE DE 1929: COLAPSO NO LIBERALISMO COLÉGIO PEDRO II PROFESSOR: ERIC ASSIS

Prof. André Vinícius.

Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira

A República do Café - I. Prof. Thiago História C Aula 09

História. Imperialismo e colonialismo do século XIX Parte 3. Profª. Eulália Ferreira

CRISE DE

GUERRA DO PARAGUAI. Maior conflito armado da América do Sul

3º ANO / PRÉVEST PROF. Abdulah

AUGE E CRISE DA I REPÚBLICA

2º Reinado ( ) A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA. Prof. Maria Auxiliadora

DISCIPLINA: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL (CÓD. ENEX60091) PERÍODO: 6º PERÍODO

Primeira Guerra Mundial

Sumário. P a r t e I. Amado Luiz Cervo

Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira

O golpe nada mais foi que a antecipação da maioridade de D. Pedro II, que contava então com um pouco mais de 14 anos.

Sumário. Parte I Panorama Descritivo da Economia Brasileira e Conceitos Básicos, 1

3. Economia e desenvolvimento (secção 3.1.)

Primeiro Reinado ( )

Unidade 1 Abordagem Histórica da Economia Brasileira. Economia Agroexportadora

A Economia Aberta ANATOMIA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS

ECO Economia Brasileira

Anexo à Instrução 17/96

Sistema Financeiro Internacional: de Bretton Woods ao Não- Sistema. Prof. Dr. Diego Araujo Azzi Aula 4

Teoria do Comércio em Ricardo. Capítulo VII dos Princípios

Prof. Danilo Pastorelli Mestre em Economia UNESP Graduado em História UNESP Graduando em Pedagogia UNESP

RESOLUÇÃO DE EXERCÍCIOS DISSERTATIVOS. História Prof. Guilherme

BRASIL IMPÉRIO PRIMEIRO REINADO

2- POR QUE a família real portuguesa se mudou, em 1808, para sua colônia na

Mercados e Políticas Agrícolas

AULA DE HISTÓRIA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL. El Sal /02/2014

O Encilhamento JOHN SCHULZ A CRISE FINANCEIRA DA ABOLIÇÃO ( ) I NTERPRETAÇÕES R EVISIONISTAS

A crise da monarquia, a Primeira República e seus movimentos sociais. Prof. Maurício Ghedin Corrêa

Segundo Reinado 2ª Fase e Crise. Prof. Thiago Aula 07 Frente C

Brasil e os sistemas monetário e financeiro internacionais

TEMA G2: A Revolução Liberal Portuguesa - antecedentes

Comércio em Smith e Ricardo

ERA NAPOLEÔNICA E CONGRESSO DE VIENA. Professor: Eustáquio Vidigal

ECONOMIA. História Econômica e Economia Contemporânea. História Econômica Brasileira Parte 06. Prof. Alex Mendes

SOCIEDADES GESTORAS DE FUNDOS DE INVESTIMENTO Sociedade... SITUAÇÃO ANALÍTICA EM / / SALDOS DEVEDORES

Potências marítimas: Novas (burguesia) Antigas (nobreza) Portugal Espanha Holanda Inglaterra França

Pré Vestibular Social Nossa Senhora da Glória. - Revoltas

Política Econômica Externa e Industrialização ( ) José Luis Oreiro Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília

História. Professores Oto & Silney

SABADÃO CSP O PERÍODO ENTRE GUERRAS PROF. BRUNO ORNELAS

Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo

Variáveis Macroeconômicas nas Economia Aberta. 30. Teoria Macroeconômica das Economia Abertas. Mercado de Fundos. Mercado de Fundos.

A CRISE DO ANTIGO REGIME A INDEPENDÊNCIA DOS EUA

ESTADO SOCIAL E OS DESAFIOS DA ECONOMIA MODERNA

Finanças Internacionais

SEGUNDO REINADO

Mercados e Políticas Agrícolas

Anexo à Instrução nº 19/96

Brasil: Nasce a República

1. Brasil: formação e organização do território P Á G I NAS 0 2 À 19.

IDADE CONTEMPORÂNEA IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO

CP/ECEME/2007 2ª AVALIAÇÃO FORMATIVA FICHA AUXILIAR DE CORREÇÃO HISTÓRIA. 1ª QUESTÃO (Valor 6,0)

INSTITUIÇÃO SITUAÇÃO ANALÍTICA DO MÊS DE

- votaram: crianças, escravos. e mortos. PARTIDO LIBERAL E PARTIDO CONSERVADOR... OU SERÁ VICE-VERSA?

3-O conceito associado à especialização de cada país na produção de alguns produtos e aquisição dos restantes ao Resto do Mundo intitula-se...

Índice. Anexo 29 Empréstimos diretos de curto prazo passivos amortizações Distribuição por setor de atividade econômica

BRASIL NO SÉCULO XIX SEGUNDO REINADO

Parte III: Abordagem Histórica da Economia Brasileira

Exposição e Análise dos Motivadores à Industrialização Brasileira

História do Brasil. Conteúdos: Questão Abolicionista. Questão Religiosa. Questão Republicana. Transição do Império para a República

Anteriormente vimos várias intervenções do setor público (Estado) nas atividades econômicas, motivadas pelas IMPERFEIÇÕES DO SISTEMA DE MERCADO:

Parte IV: Transformações Econômicas nos Anos Recentes Capítulo 19: Economia Mundial após a Segunda Grande Guerra

Conceitos Básicos de Economia. Prof. Gabriel M. Tomicioli

Aula Teórica nº 11 Sumário:

SEGUNDO REINADO ( ) A Política Externa

Transcrição:

Regimes de Negociação Financeira Internacional e a atuação brasileira Prof. Diego Araujo Azzi 2019.2

Aula 02 (07.06) Séc. XIX-XX: relações f inanceiras entre Brasil e Londres SOUSA, Angelita Matos. Estado e Dependência no Brasil (1889-1913). Cap. 2. In: Estado e Dependência no Brasil (1889-1930). Ed. Annablume, São Paulo, 2001. Complementar: CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. A conquista e o exercício da soberania (1822-1889). In: História da Política Exterior do Brasil. Ed. UnB, Brasília, 2002. ALMEIDA, Paulo Roberto. A diplomacia da libra esterlina: o Brasil como devedor. Cap. 9. In: Formac a o da diplomacia econo mica no Brasil: as relac o es econo micas internacionais no Impe rio / Paulo Roberto de Almeida. Vol. I, 3. ed. rev. Brasi lia : FUNAG, 2017.

Antecedentes... O processo de endividamento brasileiro começa, na verdade, quando a família real retorna para Portugal, no Grito da Independência, em 1822, levando todo o tesouro e deixam uma dívida milionária com os britânicos. A Inglaterra fornecera os navios para que, anos antes, a corte de Portugal, por causa da invasão pelas tropas de Napoleão Bonaparte, fuja para a então colônia, o nosso Brasil. Já o Brasil precisava urgentemente de empréstimo da Inglaterra, que ainda não tinha reconhecido a Independência. Exige que precisa que, antes, Portugal, a reconheça. Este, por sua vez, exige, em troca, como compensação, 3 milhões de libras esterlinas. Era a dívida de Portugal com a Inglaterra. O Brasil, com o caixa zerado, teve que fazer um empréstimo com os bancos da Inglaterra para pagar Portugal. Dívida que só terminou de se pagar 68 anos depois de mais quatro empréstimos para pagar os juros.

Período pós-independência: Credores ingleses temiam que o Brasil dividisse o território em pequenas repúblicas em virtude da dif iculdade de distribuição da dívida externa acumulada pelo Império Brasil como um país sem recursos f inanceiros domésticos para alavancar seu desenvolvimento (renda do Estado dependia das tarifas alfandegárias à importação) Ao mesmo tempo, o país já estava endividado internacionalmente (Guerra do Paraguai, 1865) 1868: criação da Corporation of Foreign Bondholders para proteger os interesses dos vários credores

Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses, repassando a estes os lucros alfandegários

Revolta da Armada (1893-94) e intervenção estrangeira contra o bombardeio do Rio de Janeiro Brasil aceita negociação proposta pelos governo estrangeiros com o objetivo de normalizar os f luxos comerciais navais Brasil aceita que funcione uma jurisdição militar estrangeira de caráter arbitral superior ao do próprio governo Rebeldes fogem em navios portugueses, causando tensões com os britânicos (supostamente monarquistas), que não se opuseram

Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses

Centralistas vencem Federalistas, retiram capacidade de arrecadação tributária dos estados, tornando-os mais dependentes do governo federal Tensões entre executivo e legislativo no gov. Deodoro da Fonseca (1891) Fechamento do Congresso e Renúncia em 1892 Governo Campos Salles implementa política de recuperação f inanceira def inida pelos credores ingleses

A revolta da armada propicia a oportunidade para uma maior aproximação com os Estados Unidos, vistos como aliados republicanos contra interesses monárquicos de Londres Entrada dos EUA ao lado da República é decisiva para a derrota da revolta EUA e GB ainda não tinham interesses econômicos altamente conf litantes no Brasil Mas o séc. XX já se inicia com uma disputa entre Estados Unidos e Inglaterra pela inf luência sobre o território brasileiro

1893 primeira operação f inanceira da República, junto a Casa Rothschild A origem da crise f inanceira da República está na política monetária emissionista dos últimos anos do Império Objetivo inicial era construção de estradas de ferro mas a maior parte do empréstimo foi utilizada para f inanciar guerras internas de Floriano Peixoto Sem crédito internacional disponível, o Governo Republicano mantém a política emissionista, gerando inf lação, desvalorização cambial e especulações sobre a economia brasileira

No período Republicano a diplomacia econômica ganha maior centralidade e capacidade técnica, estando praticamente à serviço da diplomacia do café 1896 primeira crise de superprodução da indústria do café, decorrente da expansão do plantio em anos anteriores. A partir de 1895 o setor cafeeiro entra na sua maior crise

1896 governo não tinha como cumprir com seus compromissos externos e internos, receitas não cobriam sequer metade das despesas, resultando em moratória Em 1898 é assinado o Funding Loan, um enorme acordo f inanceiro que vinha com a imposição dos banqueiros internacionais, com o objetivo do restabelecimento do cambio e o pagamento das obrigações do Brasil num prazo alongado, com juros maiores

Funding Loan representa a necessidade de manter a exportação de capitais do centro para a periferia, desde que sejam garantidas condições cada vez mais vantajosas de reembolso para os credores (p.86) Tese Angelita Matos: o Estado brasileiro, ao aceitar as condições impostas pelo acordo, adotando uma política de ênfase no pagamento da dívida, responde à função que lhe cabe neste sistema: assegurar as condições de reprodução das formas de dominação-subordinação imperialistas do período Estamos intervindo no Brasil porque estamos intervindo em nossa casa (Negociador britânico)

Funding Loan força a valorização da moeda brasileira, o f im da política emissionista e a contração econômica Ao mesmo tempo, prejudica os setores agroexportadores, sobretudo o do café, nosso principal produto de exportação O Funding Loan distanciou o Estado brasileiro dos interesses das classes dominantes brasileiras Funding Loan proíbe que o Brasil faça novos empréstimos no mercado internacional por 3 anos

Séc. XX, 1901 em diante: com o f im da proibição do Funding Loan a novos empréstimos o Brasil passa a se endividar novamente, com o objetivo de sustentar os preços do café no mercado A partir de 1908 a Inglaterra deixa de ter o monopólio sobre os empréstimos ao Brasil e então França, EUA e Alemanha passam a ter mais protagonismo Mas mesmo com a diversif icação de credores, cada novo empréstimo era feito com condições mais duras sobre o país

O café era produzido, comercializado e consumido pelo setor privado mas a política monetária era do governo federal Disputa monetária entre produtores nacionais e comercializadores estrangeiros Unidades subnacionais, sobretudo o Estado de SP passam a se endividar por conta própria no exterior, dadas as restrições dos credores sobre o gov. Federal Também caem sob as condicionalidades dos credores e o governo federal se torna garantidor dos empréstimos estaduais

Às vésperas da I Guerra Mundial o mercado de crédito internacional se contrai fortemente e em 1914 o Brasil assina um segundo Funding Loan (nova dívida contraída somente com o objetivo de pagar a dívida antiga...) Muitos dos aspectos econômicos do pós-i GM já estavam presentes antes de 1914: o fechamento dos mercados à concorrência estrangeira, a tendência para restrições ao livre comércio e a crescente intervenção do Estado na economia e nas f inanças