UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO Trabalho para a disciplina de Metodologia da Pesquisa. Material: COMO SE FAZ UMA TESE EM CIÊNCIAS HUMANAS. Umberto Eco. COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA. Antônio Carlos Gil (Capítulos 1 a 4). Prof. Dr. Rodolfo Pamplona Filho; Prof. Dr. Nelson Cerqueira Aluno: Rafael Cruz Bandeira SALVADOR, 05 DE JUNHO DE 2012.
1. REDAÇÃO DE APROVEITAMENTO. ECO: Muito útil as lições passadas para realizar pesquisa, erros que não se deve cometer, restringir pesquisa sem anulá-la, utilizar de pesquisa bibliográfica de forma eficiente. Além de tratar como efetivamente se deve e/ou não se deve fazer a tese, redigi-la e conduzi-la. Coloca erros frequentes à vista para direcionar o melhor possível a tese, corte, escrita e caminhos a serem traçados para ter menos trabalho e realizar tese mais produtiva e eficiente. GIL: As informações de Gil são bastante importantes para enquadrar a tese no seu devido perfil, como o caso da pesquisa bibliográfica do meu projeto. Também para adaptar e recorrigir hipóteses, problemas e delineamento da pesquisa, bem como produzir projeto de pesquisa eficiente e que direcione realmente a pesquisa a ser feita 2. FICHAMENTOS. I Como se faz uma tese em ciências humanas. Uma tese é um trabalho dactilografado, de grandeza media, variável entre as cem e as quatrocentas páginas, em que o estudante trata um problema respeitante à área de estudos em que se quer formar. Segundo a lei italiana, ela é indispensável. Após ter terminado todos os exames obrigatórios, o estudante apresenta a tese perante um júri que ouve a informação do orientador (o professor com quem «se faz» a tese) e do ou dos arguentes. os quais levantam objecções ao candidato; dai nasce uma discussão na qual tomam parte os outros membros do júri. Das palavras dos dois arguentes, que abonam sobre a qualidade (ou os defeitos) do trabalho escrito, e capacidade que o candidato demonstra na defesa das opiniões expressas por escrito, nasce o parecer do júri, p. 27 A primeira tentação do estudante é fazer uma tese que fale de muitas coisas. Se ele se interessa por literatura, o seu primeiro impulso é fazer uma tese do gênero A literatura hoje, tendo de restringir o tema. quererá escolher A literatura italiana desde o pós- -guerra até aos anos 60. Estas teses são perigosíssimas. Trata-se de temas que fazem tremer estudiosos bem mais maduros. Para um estudante de vinte anos, é um desafio impossível. Ou fará uma resenha monótona de nomes e de opiniões correntes, ou dará à sua obra um cariz original e será sempre acusado de omissões imperdoáveis. O grande crítico contemporâneo Gianfranco Contini publicou em 1957 uma
Letíeratum Italiana-Ottocento-Novecento ÍSansoni Accademia). Pois bem, se se tratasse de uma tese de licenciatura, teria ficado reprovado, apesar das suas 472 páginas. Com efeito, teria sido atribuído a negligência ou ignorância o facto de não ter citado alguns nomes que a maioria das pessoas consideram muito importantes, ou de ter dedicado capítulos inteiros a aulores ditos «menores» e breves notas de rodapé a autores considerados «maiores». Evidentemente, tratando-se de um estudioso cuja preparação histórica, p. 35 Após a contestação estudantil de 1968. manifestou-se a opinião de que não se deveriam fazer teses de temas «culturais» ou livrescos. mas sim ligadas a determinados interesses políticos e sociais. Se é esta a questão, então o título do presente capítulo é provocatório e enganador, porque faz pensar que uma lese «política» não é «científica». Ora, na universidade fala-se freqüentemente da ciência, de cientificidade. de investigação científica, do valor científico de um trabalho, e este termo pode dar lugar quer a equívocos involuntários, quer a mistificações ou a suspeitas ilícitas de embalsamamento da cultura, p. 51 Diga-se desde já que. contrariamente ao que se possa pensar à primeira vista, o segundo critério é o mais honesto e generoso. O docente considera que. ao acompanhar essa tese, ele próprio será levado a alargar os seus horizontes, pois se quiser avaliar bem o candidato e ajudá-lo durante o trabalho, terá de debruçar-se sobre algo de novo. Geralmente, quando o docente escolhe esta segunda via é porque confia no candidato. E normalmente diz-lhe explicitamente que o tema também é novo para ele e que lhe interessa aprofundá-lo, p. 67 Como fazer uma investigação preliminar na biblioteca? Se se dispõe já de uma bibliografia segura, vai-se obviamente ao catálogo por autores e vê-se o que a biblioteca em questão pode fornecer-nos. Em seguida, passa-se a uma outra biblioteca e assim por diante. Mas este método pressupõe uma bibliografia já feita (e o acesso a uma série de bibliotecas, eventualmente uma em Roma e outra em Londres). Evidentemente, este caso não se aplica aos meus leitores. Nem se pense que sc aplica aos estudiosos profissionais. O estudioso poderá ir por vezes a uma biblioteca procurar um livro de que já conhece a existência, mas freqüentemente vai à biblioteca não com a bibliografia, mas para fazer uma bibliografia. Fazer uma bibliografia significa procurar aquilo de que não se conhece ainda a existência. O bom investigador é aquele que é capaz de entrar numa biblioteca sem ter a mínima idéia sobre um tema e sair de lá sabendo um pouco mais sobre ele.
O catálogo Para procurar aquilo de que ainda se ignora a existência, a biblioteca proporciona-nos algumas facilidades. A primeira é, evidentemente, o catálogo por assuntos. O catálogo alfabético por autores é útil para quem já sabe o que quer. Para quem ainda não o sabe. há o catálogo por assuntos. E aí que uma boa biblioteca me diz tudo o que posso encontrar nas suas salas, por exemplo, sobre a queda do Império Romano do Ocidente, p. 77 Procuremos agora fazer o ponto da situação, o que é que fiz em Alexandria? Reuni uma bibliografia que, sem exagerar, compreende pelo menos trezentos títulos, registando todas as indicações que encontrei. Destes trezentos títulos encontrei aqui bem uns trinta, além dos textos originais de pelo menos dois dos autores que poderei estudar, Tesauro e Sforza Pallavicino. Não é mau para uma pequena capital de província. Mas será o suficiente para a minha tese? Falemos claro. Se quisesse fazer uma tese de três meses, toda de segunda mão, bastaria. Os livros que não encontrei vêm citados nos que encontrei e, se elaborar bem a minha resenha, poderei daí extrair um discurso aceitável. Talvez não muito original, mas correcto. O problema seria, contudo, a bibliografia- Com efeito, se ponho apenas aquilo que realmente vi, o orientador poderia atacar com base num texto fundamental que descurei. E se faço balota. vimos já como este procedimento é ao mesmo tempo incorrecto e imprudente. Porém, uma coisa é certa: nos primeiros Ires meses posso trabalhar tranqüilamente sem me deslocar dos arredores, entre sessões na biblioteca e empréstimos. Devo ter presente que as obras de referência e os livros antigos não podem ser emprestados, bem como os anais de revistas (mas para os artigos posso trabalhar com fotocópias). Mas outros livros podem. Se conseguir planificar uma sessão intensiva no centro universitário para os meses seguintes, de Setembro a Dezembro poderei trabalhar tranqüilamente no Picmonte examinando uma série de coisas. Além disso, poderei ler toda a obra de Tesauro e de Sforza, p. 119 Uma das primeiras coisas a fazer para começar a trabalhar numa tese é escrever o título. a introdução e o índice final ou seja, exatamente as coisas que qualquer autor fará no fim. Este conselho parece paradoxal: começar pelo fim? Mas quem disse que o índice vinha no fim? Em certos livros vem no princípio, de modo que o leitor possa fazer logo uma idéia daquilo que irá encontrar na leitura. Por outras palavras, redigir logo o índice como hipótese de trabalho serve para definir imediatamente o âmbito da tese. Poderá objectar-se que. à medida que o trabalho
avançar, este índice hipotético terá de ser reestruturado várias vezes e talvez mesmo assumir uma forma totalmente diversa. Certamente, mas essa reestruturação far-se-á melhor se se tiver um ponto de partida a reestruturar. Imaginemos que temos de fazer uma viagem de automóvel de um milhar de quilômetros, para o que dispomos de uma semana. Mesmo estando de férias, não iremos sair de casa às cegas tomando a primeira direcção que nos apareça. Faríamos um plano geral, p. 125 Urna vez decidido para quem se escreve (para a humanidade e não para o orientador), é necessário decidir como se escreve. E trata-se de um problema muito difícil: sc houvesse regras exaustivas, seríamos todos grandes escritores. Pode recomendar-se que se escreva a tese muitas vezes, ou que se escrevam outras coisas antes de empreender a tese. pois escrever é também uma questão de prática. De qualquer forma, são possíveis alguns conselhos muito gerais. Não imitem Proust, Nada de períodos longos. Se vos acontecer fazê-ios, dividam-nos depois. Não receiem repetir duas vezes o sujeito. Eliminem o excesso de pronomes e de orações subordinadas, p. 163. II Como elaborar projetos de pesquisa. 1- Como Encaminhar Pesquisa: Pesquisa é procedimento racional e sistemático para solucionar problema. Pesquisador deve ter qualidades: conhecimento do assuntos, criatividade, integridade, etc.. Projeto de Pesquisa: planejamento. Gerar eficiência e alcançar metas. Se houver financiamento é imprescindível. Não limita, mas sim esquematiza a pesquisa. (p. 18) Elementos do projeto: variável (depende do problema proposto), ex: problema; hipótese/objetivo; tipo de pesquisa; etc. (p. 20-21). 2 Como formular um problema de pesquisa? Problema deve ser científico (p. 24-25). O que não é científico: - os de engenharia (como aumentar produtividade no trabalho?); - os de valor (os pais devem dar palmadas nos filhos?). Não são passíveis de verificação empírica. No problema científico as variáveis podem ser testáveis. O problema pode ser de ordem prática ou intelectual, q influem no outro campo, de qualquer forma. Pode surgir de objeto pouco conhecido ou de especificidade de objeto conhecido (p. 25-26). Como formular problema: 1- processo criativo (facilitadores: imersão no objeto e sua literatura; discussão com pessoas experientes / também necessário que: A- o Prob for formulado como pergunta (p. 26-27); ex: estudar divórcio x fatores q provocam div
B- claro e preciso; (o que se vai estudar e de forma viável) (uso de terminologia adequada) C- empírico; p, 08 objetivo. Valores devem ser coisificados. Ex: mau professor x práticas autoritárias dos prfs. D- suscetível de solução; possível coleta de dados ou domínio da tecnologia adequada. E- delimitado. Para ser viável pesquisa; em conexão com meios disponíveis. 3- Como construir hipóteses? Hipótese: É uma proposição (ou seja, pode ser declarada V ou F) que visa a solução do problema. Hip: podem ser casuísticas (afirmam determinadas características); por frequência de acontecimentos (determinada característica ocorre com determinada frequência); associação entre variáveis (associação entre o q pode assumir diferentes valores); relação de dependência entre variáveis; (uma interfere na outra) (p. 34 detalhamento). Chega-se a uma hipótese por: - Observação; - Resultados de outras pesquisas; - Teorias; - Intuição. Nem todas hipóteses são testáveis. Eliminam-se várias. Para hipótese ser aceitável deve ter seguintes características: - conceitualmente clara; - específica (especifica o q pretende verificar); - referências empíricas (aluno: mau x baixo rendimento); - parcimoniosa; - relacionadas com técnicas disponíveis - relacionada com teoria; Há hipóteses em todas as pesquisas, explícitas ou não. 4 como classificar pesquisas? Com base nos objetivos gerais: 1- Exploratórias: buscar maior familiaridade com problema. Aprimoramento de ideias ou descoberta de intuições. 2- Descritivas: descrever características de fenômeno ou população ou relação entre variáveis. (p. 42-43). mais solicitadas por organizações como os levantamentos. 3- Explicativas: preocupação central identificar fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência de fenômenos. É o q mais aprofunda o conhecimento porque explica a razão e porquê das coisas. E é mais complexo e delicado por risco de erros. As exploratórias e descritivas constituem etapa indispensável para obter explicações científicas. Difícil aplicar nas ciências sociais. Modelo conceitual e operativo de pesquisa: delineamento, q é o planejamento mais amplo da pesquisa, que considera ambiente de coleta de dados e formas de controle das variáveis. Delineamento separa-se em 2 grandes grupos de procedimentos para coleta de dados: - pesquisa bibliográfica ou documental x pesquisa experimental, ex post facto, levantamento e estudo de caso, pesquisa ação e participante. PESQ BIBLIOGRAFICA: livros, artigos. Estudos exploratórios em geral. Também sobre ideologias, análise de posições sobre tema.(classificação, p. 44-45: livros, periódicos, etc) Vant: cobertura mais ampla do fenômeno, coleta de dados dispersos; Desvant: dados já processados e coletados (pode ser equivocado) PESQUISADOR
pode analisar informação e comparar para descobrir incoerências. PESQ DOCUMENTAL: natureza da fonte distinta da bibliográfica. São materiais q não sofreram tratamento analítico. Mas isso é relativo porque há documentos de 1a. Mão ou já trabalhados. Vant: documentos são fontes ricas de dados; subsistem ao tempo; custo baixo; não há contato com sujeitos da pesquisa. Desv: não representatividade; subjetividade dos documentos. PESQUISADOR deve: considerar grande número de documentos e escolher aleatoriamente; tentar ser objetivo. PESQ EXPERIMENTAL: em geral melhor exemplo de pesquisa científica. Seleciona variáveis que influenciam, define formas de controle e observação dos efeitos. (p.46-47) Não necessariamente em laboratório. Propriedades: manipulação (algumas das características); controle (um ou mais grupos); distribuição aleatória. PESQ EX POST FACTO: a partir do fato passado. Mesmo proposito da experimental, não dispõe de controle porque já ocorreu o fenômeno. Pode-se usar caso-controle (comparação de 2 amostras) (p. 48-49) ESTUDO DE COORTE: acompanhar pessoas com características comuns por período de tempo e observar o q ocorre. Também pode ser retrospectivo (histórico). Desv: não é aleatório e exige amostra grande, a pesquisa fica onerosa. LEVANTAMENTO: interrogação das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Uso em ciências sociais. Vantagens: conhecimento direto da realidade, economia e rapidez; quantificação (p. 50-51) Desv: ênfase nos aspectos perceptivos; pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais; limitada apreensão do processo de mudança. ESTUDO DE CAMPO: semelhança com levantamento (maior alcance). O estudo de campo tem maior profundidade. Busca-se características do grupo pesquisado e pode buscar mais técnicas de observação e não só interrogação. (estuda-se estrutura e interação). Vant: resultados mais fidedignos q levantamento; economia e confiabilidade. Desv: maior gasto de tempo; risco de subjetivismo na análise e interpretação dos resultados.estudo DE CASO: Estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, permitindo amplo e detalhado conhecimento. Seus resultados são abertos, como hipóteses e não conclusões. Desv: dificuldade de generalização; resultados pouco consistentes, muito tempo. PESQ AÇÃO: pesquisadores e participantes agem ou resolvem problema em conjunto. Críticas: desprovida de objetividade. Outros dizem q é útil, os reformistas. PESQ PARTICIPANTE: também há interação. Mas aqui há distinção entre ciência popular e dominante. Envolve posições valorativas derivadas de humanismo cristão e marxismo. Minimização entre dirigentes e dirigidos.