DO EMPÍRICO AO TEÓRICO: UM PLANO DE AULA PARA O ENSINO DO PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES NO ENSINO MÉDIO



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Transcrição:

DO EMPÍRICO AO TEÓRICO: UM PLANO DE AULA PARA O ENSINO DO PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES NO ENSINO MÉDIO Marta Maximo Pereira a [martamaximo@yahoo.com] a Instituto de Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Colégio de Aplicação (UFRJ) RESUMO Ainda que vários documentos oiciais sobre educação no Brasil deendam que o desenvolvimento de habilidades e competências deve ser priorizado na aprendizagem de Física, a memorização de órmulas e sua aplicação na resolução mecânica de exercícios ainda são uma realidade na maioria das aulas de Física das escolas de Ensino Médio. O presente trabalho parte dos objetivos do ensino de Física expressos na Reorientação Curricular para o Ensino Médio Ciências da natureza e matemática, de 2006, da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEE-RJ), para sugerir uma proposta de intervenção em sala de aula que pretende amiliarizar os alunos com procedimentos básicos de medidas e registro de dados e estabelecer relações quantitativas entre grandezas ísicas de modo mais signiicativo. Ela oi pensada para inserir -se após a discussão em sala de aula sobre os conceitos de densidade e empuxo e é uma orma de obter, a partir de experimentos, o modelo matemático que descreve a orça de empuxo. Para tanto, são realizadas, com a mediação do proessor, as seguintes atividades: os prérequisitos são revisados através de questões abertas propostas no início da aula; os alunos realizam uma seqüência de experimentos, ormulam hipóteses sobre os dados obtidos e relacionam resultados; utilizam uma análise dimensional simples e o conceito de densidade para obter o Princípio de Arquimedes; determinam experimentalmente as densidades da água e do óleo a partir do modelo que construíram para a orça de empuxo. A aplicação desta proposta em sala de aula é a próxima etapa deste trabalho, a im de que se possam ter inormações que indiquem os eeitos que uma abordagem baseada nos documentos sobre educação de nosso país produz para a aprend izagem de Física no Ensino Médio. Palavras -chave : empuxo, princípio de Arquimedes, modelo matemático, experiência, Ensino Médio 1. INTRODUÇÃO Historicamente, o ensino de Física nas escolas brasileiras tem-se restringido ao conhecimento das relações matemáticas que descrevem um enômeno e à sua aplicação na resolução de exercícios repetitivos e problemas descontextualizados. Tal abordagem valoriza muito mais a resposta correta ao inal de uma questão do que os processos através dos quais os alunos constroem signiicados, conceitos e relações entre as grandezas ísicas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) ornecem um panorama sobre como tem sido ensinar Física em nosso país: O ensino de Física tem-se realizado reqüentement e mediante a apresentação de conceitos, leis e órmulas, de orma desarticulada, distanciados do mundo vivido pelos alunos e proessores e não só, mas também por isso, vazios de signiicado. Privilegia a teoria e a abstração, desde o primeiro momento, em detrimento de um desenvolvimento gradual da abstração que, pelo menos, parta da prática e de exemplos concretos. Enatiza a utilização de órmulas, em situações artiiciais, desvinculando a linguagem matemática que essas órmulas representam de seu signiicado ísico eetivo. Insiste na solução de exercícios repetitivos, pretendendo que o aprendizado ocorra pela

automatização ou memorização e não pela construção do conhecimento através das competências adquiridas. Contudo, de acordo com Arons (1997), só há aprendizagem se aos educandos or dado tempo para, explorar, testar, manipular, conversar e argumentar sobre signiicados e interpretações, articular hipóteses, chegar a becos sem saída e reazer os passos quando necessário, cometer erros e rever suas visões e interpretações quando levado a perceber contradições (em vez de receber as repostas prontas de orma assertiva ou ainda ouvir que suas idéias estão certas ou erradas ), assim como decidir quando e como cálculos aritméticos devem ser eitos.[tradução nossa] O presente trabalho visa oerecer uma alternativa à visão tradicional do ensino de Física e propor uma construção do conhecimento que permita ao aluno desenvolver as habilidades mencionadas por Arons (1997) e reconhecer a Física como ciência experimental, que modela matematicamente enômenos da natureza a partir de observações. 2. OBJETIVOS De acordo com a Reorientação Curricular para o Ensino Médio Ciências da natureza e matemática, de 2006, da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEE-RJ), os alunos devem desenvolver, durante as aulas de Física, um conjunto de habilidades, como (i) reconhecer que a deinição de uma grandeza ísica não é arbitrária, mas tem sua origem em experiências e idéias prévias; (ii) desenvolver proc edimentos básicos de medida e registro de dados; (iii) descrever relações quantitativas entre grandezas ísicas; entre muitas outras. Para atender a esse documento, propõe-se uma orma de trabalho para a introdução do Princípio de Arquimedes, a qual consiste em realizar um conjunto articulado de experiências simples, analisar seus resultados e, a partir deles, encontrar o modelo matemático que descreve o empuxo. Tal modelagem servirá também para a determinação experimental da densidade de substâncias, como a água, por exemplo. 3. PROPOSTA DE TRABALHO Esta proposta de intervenção tem por objetivo possibilitar a obtenção do Princípio de Arquimedes a partir de um processo empírico, que requer dos estudantes medidas e análise de dados. Ela oi pensada para inserir-se após a discussão dos conceitos de densidade e empuxo, de modo que os alunos já saibam que os luidos exercem orças sobre corpos imersos total ou parcialmente neles, mas não conheçam de que grandezas esta orça depende. Inicialmente, são propostas algumas questões abertas para revisar esses prérequisitos e motivar a investigação sobre as grandezas relacionadas ao empuxo. Em seguida, é sugerida a realização de um conjunto ordenado de experiências. Este procedimento tem por objetivo auxiliar os alunos a identiicar as grandezas ísicas e distinguir entre as relevantes para o problema e aquelas que não inluenciam a orça de

empuxo. Uma vez que os alunos veriicam, a partir das observações e dados experimentais, as relações de proporcionalidade existentes entre densidade do luido e empuxo e entre volume ocado e empuxo, um processo simples de análise dimensional permite estabelecer o modelo matemático que descreve esta orça. De acordo com o documento da SEE-RJ mencionado acima, o estudo desses assuntos e da Hidrostática em geral deve ocorrer no 2º ano do Ensino Médio. 4. FORMA DE TRABALHO EM SALA DE AULA Para atingir os objetivos desejados, oi construída uma proposta de trabalho que consiste na realização de cinco etapas: revisão de pré-requisitos, atividades experimentais, análise dimensional, comparação com o Principio de Arquimedes e determinação experimental das densidades da água e do óleo. Todas elas podem ser realizadas em pequenos grupos de alunos. O proessor deve atuar como acilitador destas etapas, resgatando conceitos relevantes, auxiliando na realização dos experimentos, na ormulação de hipóteses e conclusões, na manipulação algébrica. Contudo, o aluno deve protagonizar esse processo, interagindo com o material de que dispõe e também com seus colegas. 4.1 Revisão de pré -requisitos As questões citadas abaixo oram elaboradas a im de que os alunos mostrem que compreendem e sabem deinir conceitos como empuxo e densidade. Elas pretendem também levar os estudantes a pensar sobre de que grandezas a orça de empuxo depende. Outras perguntas como estas podem ser pensadas pelos proessores a partir da sua realidade e das características especíicas de cada turma. Questões propostas O que acontece quando você coloca numa vasilha cheia de água uma bola de chumbo e outra de isopor, ambas com o mesmo volume? Por que um navio consegue lutuar no mar mesmo sendo de aço, um material mais denso do que a água? O que signiica dizer que a densidade do alumínio é aproximadamente 2,7 g/cm 3? Na Figura 1, como você explicaria a dierença entre as duas imagens? Figura 1. Homem sustentando uma pedra grande no ar e na água (Máximo & Alvarenga, (1997)) Como você justiicaria a seguinte airmativa: A vantagem do exercício na água é o baixo impacto, que não orça joelhos e a coluna. Fonte: http://www.hidroginastica.com.br/index1.htm (em 18/05/08)

4.2 Atividades experimentais A seqüência de experimentos descrita a seguir pretende levar o aluno a identiicar as grandezas relevantes para a descrição da orça de empuxo e a veriicar as relações que se estabelecem entre elas e esta orça. Todas as atividades serão realizadas com o seguinte conjunto de materiais: dinamômetro, proveta graduada, 2 cilindros de mesmo volume (um de alumínio e outro de latão), 1 cilindro de alumínio com a metade do volume dos outros dois, água e óleo. 1. Identiicação do empuxo Objetivo: veriicar a existência da orça de empuxo em objetos imersos em um luido. Procedimento: os alunos devem medir os pesos dos objetos e também a indicação no dinamômetro quando eles estão submersos totalmente no luido, registrando os valores numa tabela. A partir dos pré-requisitos que possuem, analisam as orças que atuam no objeto submerso preso ao dinamômetro (Figura 2), escrevem a condição de equilíbrio (T + E = P) e explicam os dados obtidos. 2. Relação entre densidades Figura 2. Diagrama das orças (peso (P), tensão (T) e empuxo ( E)) que atuam no objeto Objetivo: veriicar a relação entre as densidades da água e do óleo Procedimento: os alunos colocam um pouco das duas substâncias no interior da proveta graduada e observam o que acontece. A partir dos pré-requisitos que possuem, os alunos acilmente argumentam que o óleo lutua e na água porque é menos denso que ela. 3. O empuxo e dierentes materiais Objetivo: veriicar a relação entre as orças de empuxo que atuam sobre dois objetos idênticos, porém constituídos de mate riais dierentes, imersos num mesmo luido. Procedimento: os alunos colocam dentro da água o cilindro maior de alumínio conectado ao dinamômetro e medem o valor da orça registrado. Repetem este procedimento para o cilindro de latão. (Figura 3)

Figura 3. Dois objetos idênticos, mas eitos de materiais dierentes, imersos num mesmo luido Os alunos devem anotar na tabela os valores obtidos e utilizar a condição de equilíbrio determinada na experiência 1 para relacioná -los com os dados anteriores e determinar o empuxo para cada um dos objetos, completando a tabela. Com o controle das variáveis densidade do luido e volume de luido ocado, veriicam que o empuxo é o mesmo nos dois cilindros e são levados a concluir: O empuxo não depende do material de que é eito o objeto imerso no luido. O proessor deve relembrar aos alunos que uma propriedade que caracteriza os materiais é a sua densidade. Logo, como o empuxo é o mesmo nos objetos de alumínio e latão, a densidade do material que constitui o corpo não deve ser uma grandeza relevante para a determinação do empuxo sobre ele. 4. O empuxo e dierentes volumes Objetivo: veriicar a relação entre as orças de empuxo que atuam sobre dois objetos imersos num mesmo luido e constituídos de um mesmo material, porém com volumes dierentes. Neste ponto, controla-se a variável densidade do luido e já se assume que a densidade do objeto submerso, conorme a prática anterior, não contribui para o empuxo. Procedimento: os alunos colocam o cilindro menor de alumínio preso ao dinamômetro dentro da proveta com água e mede m a orça registrada e o volume de luido ocado com a colocação do objeto (Figura 4). Este procedimento deve ser repetido para o cilindro de latão e os valores devem ser registrados na tabela. Figura 4. Dois objetos eitos de mesmo material, mas com volumes dierentes (um cilindro tem o dobro de volume

do outro), imersos num mesmo luido Novamente serão utilizados os dados e a condição de equilíbrio obtidos na experiência 1 para o cálculo do empuxo, cujo valor também deve ser anotado na tabela. Analisando os valores do empuxo e do volume de luido ocado, os alunos podem observar que o empuxo depende do volume de luido ocado pela colocação total ou parcial do objeto dentro do luido. Como um cilindro tem a metade do volume do outro, os alunos devem observar que o empuxo sobre o cilindro menor é a metade do empuxo sobre o maior. Logo, os alunos podem concluir: O empuxo E depende do volume de luido ocado Ve estas grandezas são diretamente proporcionais. Ou seja: 5. O empuxo e os luidos E V (1) Objetivo: veriicar a relação existente entre as orças de empuxo que atuam sobre dois objetos iguais, imersos em dois luidos dierentes. Controla-se a variável volume submerso para veriicar a inluência dos luidos no empuxo. Procedimento: os alunos colocam o cilindro menor de alumínio preso ao dinamômetro dentro da proveta com água (Figura 5). Medem o valor da orça e calculam o empuxo conorme oi eito nas experiências 3 e 4. Os alunos registram os dados na tabela. Esse procedimento é repetido com óleo. Figura 5. Dois objetos idênticos e eitos de mesmo material imersos em luidos dierentes Analisando as medidas realizadas, percebe-se que, para um mesmo objeto, o empuxo eito pela água é maior do que aquele eito pelo óleo. Logo, o empuxo é inluenciado por alguma característica do luido em que o objeto é imerso total ou parcialmente. Pela experiência 1, a densidade da água é maior que a do óleo. Assim, o empuxo deve depender da densidade do luido e estas grandezas são proporcionais. Como os alunos não sabem a priori os valores das densidades da água e do óleo, para compará-los com os respectivos empuxos, não é trivial supor que o empuxo depende linearmente da densidade do luido, pois nada impede que ele dependa do

quadrado ou do cubo da densidade. Neste ponto, o proessor pode intervir e argumentar que as primeiras idéias para modelar qualquer enômeno ísico consistem sempre em tentar azê-lo da orma mais simples possível, ou seja, com uma relação linear. Assim, os alunos poderão supor que: O empuxo E depende da densidade do luido grandezas diretamente proporcionais. Ou seja: ρ e estas grandezas são E ρ (2) E esta dependência linear terá sua validade veriicada (ou não) posteriormente, comparando o enunciado de Arquimedes com o resultado inal obtido para a orça de empuxo. Se ambos orem equivalentes, o modelo está correto. 4.3 Análise das unidades das grandezas envolvidas O procedimento abaixo descrito pode ser utilizado para determinar se alguma outra grandeza, além da densidade do luido e do volume de luido ocado, deve ser considerada na ormulação matemática para o empuxo. Sendo V o volume ocado pelo líquido com a colocação do objeto dentro dele e ρ a densidade do luido, pode-se expressar da seguinte orma as unidades destas duas grandeza s, no Sistema Internacional de Unidades (SI) : V [ m ] 3 = (3) = [ kg] 3 [ m ] ρ (4) Assim: [ kg] ρ = (5) V [ kg] = ρ V (6) Sendo E o empuxo, ele tem unidade de orça, que, pela 2ª lei de Newton ( R = m.a ), é dada, também no SI, por: Substituindo a equação (6) na (7): 1 [ kg][. m][ ] E = s (7) 1 [ m][ ] E = ρ V s (8) Assim, o empuxo tem unidade correspondente a do produto de densidade, volume e aceleração. Como a seqüência de experimentos levou os alunos a concluírem que o empuxo é diretamente proporcional à densidade do luido e ao volume de luido

ocado, a expressão obtida em (8) indica que alta considerar uma outra grandeza, que também é diretamente proporcional ao empuxo, para a descrição completa desta orça. Tal grandeza tem dimensão de aceleração. Para descobrir que aceleração é essa, o proessor pode argumentar com seus alunos que, como todos os experimentos são realizados na condição de equilíbrio (R = 0), a aceleração resultante sobre o sistema é nula. Logo, esta grandeza não está associada a nenhum movimento do objeto dentro do luido. Tanto pela equação (8) como pela própria 2ª lei de Newton, o proessor pode lembrar aos alunos que orça e aceleração possuem sempre mesma direção. Como o empuxo é uma orça vertical, a aceleração procurada também deve ser vertical. Como a única aceleração que é sempre vertical é a aceleração da gravidade g, ela pode ser pensada como sendo a grandeza que alta na relação para o empuxo. Assim, reescrevendo a equação (8) já utilizando essa hipótese, tem-se que: E = V g (9) 4.4 Comparação dos resultados com o Princípio de Arquimedes ρ A im de veriicar se as hipóteses construídas com os alunos são realmente válidas para a modelagem do empuxo, sobretudo no que diz respeito à dependência linear do empuxo com a densidade do líquido e à presença da aceleração da gravidade g, o proessor pode propor uma comparação dos resultados obtid os com o princípio de Arquimedes (282-212 a.c.), que airma que: Todo corpo mergulhado num luido (líquido ou gás) sore, por parte do luido, uma orça vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do luido ocado pelo corpo. Matematicamente, este princípio pode ser escrito como: sendo E o empuxo, Considerando E = P (10) P o peso do luido ocado. m a massa do luido ocado, tem-se que: Seguindo a notação usada acima: Substituindo ( 13) em (11): E = m g (11) m ρ = (12) V m = ρ. V (13) E = V g (14) ρ

Vê-se, assim, que o resultado obtido pela seqüência de experiências, pela análise dimensional e pelos argumentos construídos na interação proessor -aluno concorda com o Princípio enunciado por Arquimedes, pois as equações (9) e (14) são iguais. Logo, as hipóteses dos alunos estão corretas e a orça de empuxo é descrita matematicamente por (9). 4.5 Determinação experimental de densidades A partir do modelo teórico construído, o proessor poderá propor aos alunos a determinação experimental das densidades da água e/ou do óleo. Tal procedimento pode servir para reairmar a validade do modelo construído pelos alunos para a orça de empuxo, pois se pode comparar o valor obtido com o tabelado, e para aproundar a habilidade de registro e análise de dados dos alunos. Procedimento: os alunos colocam um dos cilindros preso ao dinamômetro dentro da proveta com um volume inicial de água conhecido. Deixando o objeto completamente submerso, mede -se a tensão registrada no dinamômetro e o volume inal de líquido. O mesmo procedimento pode ser realizado para a determinação da densidade do óleo. Sendo o volume de luido ocado igual à dierença entre os volumes inal e inicial e considerando-se o peso deste cilindro e a condição de equilíbrio (experiência 1), determina-se a densidade da água com a expressão obtida pelos alunos em (9). 5. CONCLUSÕES Este trabalho visa apresentar uma proposta de plano de aula para a apresentação do Princípio de Arquimedes que possibilita o desenvolvimento das habilidades e competências mencionadas na Reorientação Curricular de 2006 da SEE-RJ. Ele é uma tentativa de ornecer ao proessor uma orientação sobre como conduzir atividades experimentais de modo a atuar como mediador da aprendizagem, a propiciar maior interação entre os alunos, a estimular a relexão e a criatividade deles e a promover uma aprendizagem verdadeiramente signiicativa. A simplicidade da seqüência dos experimentos, o modo como eles se relacionam, os momentos de intervenção do proessor e sua interação com os alunos sugerem que é possível aplicar algumas das recomendações dos documentos oiciais sobre educação sem recursos soisticados. A aplicação desta proposta em sala de aula é a próxima etapa do trabalho, a im de que se possam ter mais elementos que indiquem os eeitos que uma abordagem como esta produz para a aprendizagem de Física no Ensino Médio. Entretanto, mesmo depois de testado, esse plano de aula não tem a pretensão de deender que as atividades experimentais são a solução para o ensino de Física em nosso país nem que a seqüência de experimentos sugerida garante a aprendizagem do Princípio de Arquimedes em qualquer situação ou contexto; ele apenas quer mostrar que é possível estreitar a da distância entre o que é sugerido nos documentos sobre educação e a prática docente e que aprender Física pode ser muito mais signiicativo e instigante para os alunos do que a mera memorização e utilização de órmulas. 6. AGRADECIMENTOS

Agradeço à proessora Susana Lehrer de Souza Barros, do Instituto de Física da UFRJ, pelo apoio à idéia e pela valiosa ajuda na elaboração deste trabalho. Meus agradecimentos ta mbém aos pareceristas deste simpósio, pelas sugestões ao apereiçoamento do texto. 7. R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁ FICAS ARONS, A. B. Teaching introductory physics. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1997. BRASIL. Ministério da educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais Ensino Médio. Brasília: SEMTEC/MEC, 2000. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ ensino médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais; ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. 1997. MÁXIMO, A.; ALVARENGA, B. Física: volume único. São Paulo: Scipione, SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (SEE- RJ). Reorientação Curricular para o Ensino Médio - Ciên cias da natureza e matemática, 2006.