25-01-2012 - Requisitos das faturas de IVA para dedução Para o STA a mera circunstância do número de identificação fiscal do contribuinte indicado numa fatura não ser válido perante o respetivo registo administrativo não é suficiente para, por si só, se desconsiderar o emitente de tal fatura como sujeito passivo, para efeitos de dedução do imposto por ele faturado. Os conceitos de sujeito passivo e identificação fiscal não podem ser confundidos pois não são a mesma realidade jurídica. Enquanto o sujeito passivo surge como sujeito da relação jurídica fiscal, em relação à qual se verificam os pressupostos de facto do imposto, a identificação fiscal é uma qualidade cuja obtenção a lei impõe àquele. O caso A Administração tributária efetuou uma liquidação adicional do IVA pelo facto de não reconhecer o direito à dedução relativamente a três faturas onde constava o número de identificação fiscal dos emitentes que já não era válido. Dessa liquidação adicional foi apresentada impugnação judicial, que veio a ser julgada improcedente. O tribunal de primeira instância considerou, por um lado, que só confere direito à dedução o imposto mencionado em faturas passadas na forma legal e, por outro, que a falta do NIF correto e atualizado implica que a fatura não está na forma legal. 1
Importava saber se uma fatura com indicação do NIF do emitente, ou seja, que contém um NIF antigo e não atualizado, que igualmente identifica o sujeito fornecedor de bens ou prestador de serviços, pode ou não ser considerada como emitida na «forma legal» e se confere ou não o direito à dedução do IVA nela mencionado. Apreciação do STA De acordo com o estabelecido no Código do IVA, só confere direito à dedução o imposto mencionado em faturas e documentos equivalentes passados em forma legal. Para efeitos do exercício do direito à dedução, consideram-se passados na forma legal as faturas ou documentos equivalentes (que devem ser datados, numerados sequencialmente) que contenham os elementos legalmente previstos e elencados no Código do IVA. Para o que releva neste caso, as faturas devem, entre outros elementos, obrigatoriamente indicar os nomes, firmas ou denominações sociais e a sede ou domicílio do fornecedor de bens ou prestador de serviços e do destinatário ou adquirente, bem como os correspondentes números de identificação fiscal dos sujeitos passivos de imposto; É certo que para ter forma legal a fatura deve conter todos os elementos previstos na lei, não havendo que distinguir entre elementos essenciais e acessórios, pois ao estabelecê-los, o legislador considerouos todos necessários para a identificação da operação a que respeitam, de modo a que possam extrair-se daqueles documentos as devidas 2
consequências quanto à incidência do imposto (taxa, sujeitos, cobrança, deduções, etc.). Porém, considera o STA que, embora todos os elementos sejam indispensáveis para o exercício do direito à dedução, há, no entanto, que distinguir entre os elementos da fatura e o conhecimento que os sujeitos passivos têm sobre a sua autenticidade. O problema coloca-se sobretudo quanto à identificação do alienante ou prestador de serviços, uma vez que os demais elementos são cognoscíveis pelo adquirente. O Código do IVA impõe a obrigação das faturas mencionarem a identificação fiscal dos sujeitos passivos, mas não comete explicitamente ao adquirente a obrigação de controlar se essa identificação é ou não verdadeira. Ainda que possa recair sobre o adquirente a obrigação de controlar se número de identificação fiscal mencionado na fatura corresponde ao cartão de identificação emitido pela Administração, atenta a presunção de veracidade dos documentos autênticos, não se lhe pode exigir que investigue se o cartão se mantém ou não válido. Ora, neste caso, as faturas continham os números de identificação fiscal dos fornecedores e do comprador dos materiais e serviços nelas mencionados. Nem há falta de indicação de número de identificação fiscal, nem divergência entre os números fiscais desses sujeitos e os cartões de identificação emitidos pela Administração. Apenas se constata que os fornecedores utilizaram o número de empresário em nome individual atribuído pelo Registo Nacional de Pessoas Coletivas e não o número atribuído pela administração Fiscal. 3
Esta falta de atualização por si só não retira ao adquirente o direito à dedução do IVA mencionado nas faturas, já que estas contêm os números de identificação fiscal dos emitentes capazes de comprovar que foram eles quem efetivamente forneceram os bens e serviços nelas mencionados. A Administração fiscal apenas poderia desconsiderar o imposto deduzido nas faturas caso tivesse invocado e provado a falsidade das faturas ou que as transmissões consubstanciaram operações simuladas. Assim, concluiu o STA, que a circunstância de não se ter atualizado o número fiscal nos livros de faturas e de esse número não ser válido perante o registo administrativo, não é, por si só, suficiente para se deixar de considerar juridicamente o emitente de tais documentos como sujeito passivo para efeito da dedução do imposto neles faturado. Referências Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, processo n.º 076/11, de 14 de dezembro de 2011 Código do Imposto Sobre o Valor Acrescentado, artigos 19.º n.º e 36.º Informação da responsabilidade de LexPoint Todos os direitos reservados à LexPoint, Lda 4
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