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Transcrição:

CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DO CONSUMIDOR - BRASILCON OFICINAS DE DIREITO DO CONSUMIDOR - ENM / AMB ENUNCIADOS APROVADOS Oficina 02 - Facilitadores:. Cristina Gaulia (TJRJ). Fabio Torres (TJMG). Werson Rêgo (TJRJ) Tema: Bancos de dados de proteção ao crédito. Inscrição e/ou manutenção indevidas. Dano moral in re ipsa. Parâmetros balizadores das verbas compensatórias correspondentes. Enunciado aprovado: Há dano moral in re ipsa na inscrição e/ou manutenção indevidas do nome do consumidor em banco de dados de proteção ao crédito. Enunciado aprovado: É recomendável ao magistrado, nas hipóteses de inscrição e/ou de manutenção indevidas do nome do consumidor em banco de dados de proteção ao crédito, fixar a verba compensatória do dano moral, ao seu prudente arbítrio, em valor equivalente entre 10 (dez) e 50 (cinquenta) salários mínimos. Tema: Transporte aéreo. Descumprimento do contrato. Atrasos de voos e overbooking. Enunciado aprovado: O atraso de voo igual ou superior a quatro horas, por si só, configura dano moral in re ipsa. Enunciado aprovado: O descumprimento do contrato de transporte em razão de overbooking, configura dano moral in re ipsa. Tema: Financiamento imobiliário. Alienação fiduciária. Inadimplemento contratual do devedor fiduciante. Ausência de resistência do adquirente quanto ao desfazimento do contrato. Antecipação de tutela para a retomada do imóvel. Possibilidade. Enunciado aprovado: Nas demandas fundadas em inadimplemento do promitente adquirente, não havendo resistência ao desfazimento do contrato, é possível a liberação do imóvel no curso do processo, inclusive através da antecipação parcial dos efeitos da tutela jurisdicional, mediante caução integral (art. 273, 6º, CPC), pelo incorporador, do valor pago pelo comprador, com seus consectários. Nas ações que envolvam rescisão contratual de promessa de compra e venda em que não há resistência ao desfazimento do negócio jurídico, a controvérsia se restringirá à apuração de haveres para restituição, deduzidas as penalidades e demais encargos decorrentes do inadimplemento, o que só ocorrerá após o trânsito em julgado da sentença. Com efeito, não se opondo o promitente comprador ao pedido de resolução, nem tendo emendado a mora, estará caracterizado o inadimplemento que resultará, inevitavelmente, na extinção do contrato; além disso, estará também caracterizado o periculum in mora inverso, na medida em que, ao longo dos anos, durante a

tramitação do processo, vão se acumulando perdas de difícil reparação, que, ao final, serão acrescidas das despesas correspondentes aos débitos de IPTU e condomínio, bem como dos encargos da mora, além das taxas de fruição não pagos pelo réu (promitente comprador) e da depreciação do imóvel. Trata-se de hipótese de antecipação parcial da tutela, com a decretação da extinção da relação contratual e reintegração do vendedor na posse do imóvel, eis que presentes os requisitos do art. 273 do Código de Processo Civil. Tal medida dá efetividade ao processo, preserva sua duração razoável e nenhum risco de dano acarreta ao devedor, já que - ainda que não tenha direito à restituição integral do valor pago - o juízo estará mais do que suficientemente garantido. Tema: Contratos imobiliários. Sanções em desfavor do consumidor, exclusivamente. Abusividade. Enunciado aprovado: É abusiva a prática de se estipular penalidade exclusivamente ao consumidor, para as hipóteses de mora ou de inadimplemento contratual, ficando isento de tal reprimenda o fornecedor - em situações de análogo descumprimento da avença. Seja por princípios gerais do direito, seja pela principiologia adotada no Código de Defesa do Consumidor, seja, ainda, por imperativo de equidade, revela-se abusiva a prática de se estipular penalidade exclusivamente ao consumidor, para a hipótese de mora ou inadimplemento contratual, ficando isento de tal reprimenda o fornecedor - em situações de análogo descumprimento da avença. Precedente do e. STJ : DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO POR CULPA DA CONSTRUTORA (VENDEDOR). DE- FEITOS DE CONSTRUÇÃO. ARBITRAMENTO DE ALUGUÉIS EM RAZÃO DO USO DO IMÓVEL. POSSI- BILIDADE. PAGAMENTO, A TÍTULO DE SUCUMBÊNCIA, DE LAUDO CONFECCIONADO EXTRAJUDI- CIALMENTE PELA PARTE VENCEDORA. DESCABIMENTO. EXEGESE DOS ARTS. 19 E 20 DO CPC. IN- VERSÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL QUE PREVIA MULTA EXCLUSIVAMENTE EM BENEFÍCIO DO FORNECEDOR, PARA A HIPÓTESE DE MORA OU INADIMPLEMENTO DO CONSUMIDOR. POSSIBILI- DADE. 1. Apesar de a rescisão contratual ter ocorrido por culpa da construtora (fornecedor), é devido o pagamento de aluguéis, pelo adquirente (consumidor), em razão do tempo em que este ocupou o imóvel. O pagamento da verba consubstancia simples retribuição pelo usufruto do imóvel durante determinado interregno temporal, rubrica que não se relaciona diretamente com danos decorrentes do rompimento da avença, mas com a utilização de bem alheio. Daí por que se mostra desimportante indagar quem deu causa à rescisão do contrato, se o suporte jurídico da condenação é a vedação do enriquecimento sem causa. Precedentes. 2. Seja por princípios gerais do direito, seja pela principiologia adotada no Código de Defesa do Consumidor, seja, ainda, por comezinho imperativo de equidade, mostra-se abusiva a prática de se estipular penalidade exclusivamente ao consumidor, para a hipótese de mora ou inadimplemento contratual, ficando isento de tal reprimenda o fornecedor - em situações de análogo descumprimento da avença. Assim, prevendo o contrato a incidência de multa moratória para o caso de descumprimento contratual por parte do consumidor, a mesma multa deverá incidir, em reprimenda do fornecedor, caso seja deste a mora ou o inadimplemento. Assim, mantém-se a condenação do fornecedor - construtor de imóveis - em restituir integralmente as parcelas pagas pelo consumidor, acrescidas de multa de 2% (art. 52, 1º, CDC), abatidos os aluguéis devidos, em vista de ter sido aquele, o fornecedor, quem deu causa à rescisão do contrato de compra e venda de imóvel. 3. Descabe, porém, estender em benefício do consumidor a cláusula que previa, em prol do fornecedor, a retenção de valores a título de comissão de corretagem e taxa de serviço, uma vez que os mencionados valores não possuem natureza de cláusula penal moratória, mas indenizatória.

4. O art. 20, caput e 2º, do Código de Processo Civil enumera apenas as consequências da sucumbência, devendo o vencido pagar ao vencedor as "despesas" que este antecipou, não alcançando indistintamente todos os gastos realizados pelo vencedor, mas somente aqueles "endoprocessuais" ou em razão do processo, quais sejam, "custas dos atos do processo", "a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico". Assim, descabe o ressarcimento, a título de sucumbência, de valores despendidos pelo vencedor com a confecção de laudo extrajudicial, mediante a contratação de perito de sua confiança. Precedentes. 5. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 955.134/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe 29/08/2012) Tema: Incorporação imobiliária. Entrega da unidade imobiliária. Cláusula de tolerância. Pressupostos de validade. Enunciado aprovado: É abusiva a estipulação contratual de tolerância de até 180 (cento e oitenta dias) dias do prazo de entrega da obra quando não observados o dever de informar e os demais princípios da legislação consumerista, notadamente no que respeita à estipulação de contrapartidas em favor do adquirente e de sanções pela mora da incorporadora, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil objetiva do alienante. Nas construções de grande expressão há uma série de obstáculos, muitas vezes imprevistos, que se interpõem à execução da obra. O prazo de até 180 dias de prorrogação para a entrega das unidades em construção seria, em princípio, razoável. Contudo, para subtrair da cláusula de tolerância, em si, a qualificação negativa da abusividade, devem ser observados pelo fornecedor, além do dever de informação e demais regras do CDC - com ciência clara ao consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do prazo em questão -, o estabelecimento de contrapartidas ao adquirente e de sanções moratórias ao incorporador. Assim, de ser considerada válida a cláusula de tolerância de 180 dias que contenha previsão de contrapartidas e sanção moratória razoáveis Exemplo cláusula com estipulação de contrapartidas e sanção moratória razoáveis: "Durante o prazo de tolerância e enquanto não concluída a obra - desde que adimplente o COMPRADOR com suas prestações pecuniárias -, suportará o VENDEDOR, em contrapartida, o pagamento de valor equivalente a 0,5% (meio por cento) ao mês ou fração, calculada pro rata die, sobre o montante das parcelas do preço de aquisição até então pago pelo adquirente. Esgotado o prazo de tolerância, sem a conclusão da obra - e desde que adimplente o COM- PRADOR com suas prestações pecuniárias -, pagará o VENDEDOR multa penal compensatória no valor correspondente a 1% sobre o montante das parcelas do imóvel e, em substituição à contrapartida acordada, uma multa penal moratória, no valor correspondente a 0,5% (meio por cento) ao mês (ou fração, calculada pro rata die) sobre o montante das parcelas do preço de aquisição até então pago". Vencido o prazo de tolerância e conforme as peculiaridades do caso concreto, o atraso excessivo na entrega da obra seria causa eficiente, direta e imediata de danos materiais (que deverão ser devidamente comprovados e quantificados pelo adquirente) e de danos morais (in re ipsa), pelos quais responderia objetivamente o incorporador.

Tema: Incorporação imobiliária. Financiamento imobiliário. Práticas e cláusulas abusivas. Enunciado aprovado: As "taxas de deslocamento" e/ou "de interveniência" sobre os repasses de financiamentos bancários em incorporações imobiliárias são de responsabilidade do incorporador, sendo abusiva as suas transferências ao adquirente. Trata-se de relação contratual estabelecida diretamente entre o incorporador e a entidade financiadora, a qual constitui res inter alios no tocante ao adquirente. Tema: Incorporação imobiliária. Contrato de (promessa de) compra e venda. Texto padronizado. Possibilidade. Enunciado aprovado: Observados os princípios da equidade e da boa-fé, a transparência e a lealdade contratuais, o dever de informação adequada, clara, precisa e suficiente, bem assim os demais princípios corporificados no Código de Defesa do Consumidor, é válida a celebração de contrato com texto padronizado. A contratação através de textos padronizados, em si mesma, não é abusiva. Trata-se de questão meramente instrumental. A abusividade reside no estabelecimento de obrigações consideradas iníquas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade, ou estejam em desacordo com o sistema de proteção e defesa do consumidor. Por se tratar o contrato de (promessa) de compra e venda de unidade autônoma em incorporação imobiliária de contrato de adesão e, sendo de consumo a relação jurídica estabelecida entre o vendedor e o comprador, a validade de seus termos fica condicionada à observância dos princípios e das regras atinentes à preservação dos direitos do consumidor, especialmente os da equidade e da boa-fé. Os contratos de venda de unidades imobiliárias integrantes de incorporações imobiliárias são estruturados sobre determinados elementos, dados e cláusulas necessariamente invariáveis, até porque cada unidade é apenas uma parte do conjunto imobiliário e os negócios relativos a cada uma dessas partes devem ser convencionados em conformidade com o conjunto, até mesmo por exigência de isonomia. São os casos, por exemplo, do prazo de execução da obra, da definição do padrão de construção e de acabamento, da identificação e destinação das partes comuns, do preço padrão e das condições de pagamento padrão (que podem varias conforme uma ou outra negociação particular), dos percentuais de mora e da cláusula penal por inadimplemento, da vedação de interferência na obra, das normas de uso das partes comuns, da forma de escolha ou sorteio das vagas de garagem, entre muitas outras particularidades que necessariamente têm que ser comuns a todos os contratos. Nessa espécie de negociação o quadro-resumo contendo os elementos variáveis (número da unidade, preço, condições de pagamento etc) é de grande utilidade, na medida em que simplifica a identificação desses elementos. A legislação sobre loteamentos obriga o loteador a arquivar no Registro de Imóveis o contrato padrão de compromisso de venda, exigência que tem sido defendida por muitos autores que se dedicam ao estudo da matéria, como meio de proteção dos direitos dos adquirentes. Não há nada de ilegal ou abusivo no procedimento de contratação por meio de contrato padronizado. Pode haver, eventualmente, cláusulas abusivas em qualquer forma de contrato e o Código de Proteção e Defesa do

Consumidor trata da matéria de maneira definitiva e satisfatória, ao discorrer sobre os contratos de adesão, não havendo razão alguma para objeções aos contratos com cláusula padronizadas.