OS SUJEITOS (Segurado, Tomador e Seguradora) DO SEGURO GARANTIA JUDICIAL

Documentos relacionados
II Simpósio das Relações de Processo Civil e Seguro. Aspectos Processuais Envolvendo o Seguro Garantia e Suas Modalidades

Do objeto, dos conceitos e do âmbito de aplicação do seguro garantia

III ENCONTRO DE SEGURO GARANTIA 12/11/2013

CONTEÚDO Do objeto, dos conceitos e do âmbito de aplicação do seguro Garantia Das condições de aceitação do seguro garantia

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL

ANEXO - REQUISITOS PARA ACEITAÇÃO DE FIANÇA BANCÁRIA E SEGURO GARANTIA

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

IV Encontro de Seguro Garantia Segurados Públicos Agências Reguladoras

PORTAL DE LEGISLAÇÃO

O Corretor e o ajuste de remuneração adicional com as Seguradoras Alguns pontos importantes.

NOVA PORTARIA PGF Nº 440 DISCIPLINA AS CONDIÇÕES DE ACEITAÇÃO DE SEGURO GARANTIA

Foi instituída no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Lei. 9079/95, que incluiu os arts A, 1102-B e 1102-C no CPC/73.

Seguro garantia é plenamente compatível com processo de execução fiscal

Regulamenta a oferta de seguro de garantia estendida, quando da aquisição de bens ou durante a vigência de sua garantia original de fábrica.

Os Impactos do Novo Código de Processo Civil e a Execução Fiscal

FASE DE LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DO NCPC. Prof. Samantha Marques

Aula de Exercícios. Data: 29/11/2013. Aula 3. Professor: Rodrigo Chindelar. Banca FCC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL. Aula Ministrada pelo Prof. Durval Salge Júnior. (Aula 23/10/2017).

NOÇÕES DE DIREITO DO SEGURO. Professor: Aluízio Barbosa

DÚVIDAS MAIS FREQUENTES. 1) Quando é decretada a liquidação extrajudicial?

QUADRO DE SUGESTÕES MINUTA SUGESTÕES SINCOR-SP JUSTIFICATIVAS

GARANTIAS LOCATÍCIAS. Seguro de fiança locatícia

DÚVIDAS MAIS FREQUENTES

2.2.1 Para efeito de data do sinistro, será considerada a data do falecimento do segurado.

03/11/2018. Professor Hugo Penna

Superior Tribunal de Justiça

TRF-3 decide pela incidência de PIS-importação e COFINS-importação sobre a atividade (res)securitária

Processo de Execução Guilherme Hartmann

PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. MELHIM NAMEM CHALHUB

Superior Tribunal de Justiça

TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO ESPÉCIES DOS MEIOS DE EXECUTIVOS E CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES EXECUTIVAS

Olá, pessoal! Chegamos ao nosso décimo primeiro módulo. No módulo 10, tratamos dos recursos. Agora veremos algumas questões sobre a fase executiva.

ACIONISTAS ORGANOGRAMA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Efeitos da recuperação judicial sobre o seguro garantia judicial

Segurês. Entendendo + sobre Seguro De Vida

DPVAT é seguro compulsório, e não uma espécie de tributo. Por Heleno Taveira Torres (*)

DÚVIDAS MAIS FREQUENTES. 1) Quando é decretada a liquidação extrajudicial?

Assegurar que a parte executada em um processo realize o pagamento do valor discutido, caso venha a ser comprovado que esse é devido.

Guia FenSeg de Produtos Seguro Garantia

Aula 19 GARANTIA DA EXECUÇÃO FISCAL (GARANTIA DO JUÍZO)

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL.

A Execução Fiscal e o novo CPC. < competência > Prof. Mauro Luís Rocha Lopes

MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS MINUTA DE RESOLUÇÃO CNSP

DIREITO TRIBUTÁRIO. Execução Fiscal e Processo Tributário. Ação Anulatória Parte 2. Prof. Marcello Leal

Provisões Técnicas (obrigações com segurados) geram Ativos Garantidores (bens para cobrir provisões) Teste de Adequação de Passivos (TAP)

Cumprimento provisório da sentença e competência do Juizado Especial Fazendário

Módulo Direito e Processo do Trabalho

REsp Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO Data da Publicação: DJ 17/04/2017 Decisão RECURSO ESPECIAL Nº

ANEXO C INSTRUÇÕES PARA CONSTITUIÇÃO DAS GARANTIAS

OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS DAS OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE

CNEF SUMÁRIOS DE PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL II (PROCESSO EXECUTIVO) O processo executivo será ministrado em 12 sessões de 2 horas.

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. Aula Ministrada pelo Prof. Durval Salge Junior. (Aula 16/04/2018) Contrato de Seguro.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Cumprimento de sentença. Prof. Luiz Dellore

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA INTRODUÇÃO AO CONTRATO DE SEGURO

Nº /PR

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA PROCESSO DE EXECUÇÃO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

SUMÁRIO. Capítulo 2 JUSTIÇA DO TRABALHO E MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 2.1 Organização da Justiça do Trabalho... 59

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

POLÍTICA ADESÃO DE SEGURO EDUCACIONAL

Bichara Advogados. É proibida duplicação ou reprodução sem a permissão expressa do Escritório.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

MINISTÉRIO DA FAZENDA Superintendência de Seguros Privados

Direito Empresarial Extensivo

SUMÁRIO. Capítulo 2 JUSTIÇA DO TRABALHO E MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 2.1 Organização da Justiça do Trabalho... 83

RECURSO ESPECIAL Nº MG (2013/ )

SUSCITANTE: MINISTRO RELATOR DA 1ª TURMA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO SUSCITADO: 1 VICE-PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

Ações de locação e o novo CPC

Enunciados FONEF I AO IV

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Ações Especiais no Processo Trabalhista Mandado de Segurança. Prof ª. Eliane Conde

SEGURO DE ACIDENTES PESSOAIS COLETIVO. Condições Especiais

Mercado de Seguros e Fintech

SUMÁRIO. Capítulo 2 JUSTIÇA DO TRABALHO E MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 2.1 Organização da Justiça do Trabalho... 87

ANEXO C INSTRUÇÕES PARA CONSTITUIÇÃO DAS GARANTIAS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 38ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO. Registro: ACÓRDÃO

SUMÁRIO. Capítulo 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. Capítulo 2 JUSTIÇA DO TRABALHO E MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

A Regulamentação do Microsseguro no Brasil. Maria Augusta de Queiroz Alves

Seguros e Resseguros: Novas Regras e Plano de Regulação SUSEP 2017

I ao III FONEF Fórum Nacional de Execução Fiscal

CONTRATOS DE SEGURO. Atividade securitária. Seguro de Pessoas. Seguro de danos. Liquidação do Seguro. Resseguro.

PROCESSO DO TRABALHO PROF. JOSÉ GERVÁSIO ABRÃO MEIRELES

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) LLJ Nº (Nº CNJ: ) 2018/CÍVEL

PAINEL: FORMAS DE CONTRATAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DEBATEDOR: JOSÉ CARLOS GAMA - PRESIDENTE CONSELHO JURÍDICO CBIC EMPRESÁRIO E ADVOGADO

PROPOSTA DE SEGURO MODALIDADE DE FIANÇA LOCATICIA FATURÁVEL (LIBERTY ALUGUEL)

SEGURO DE RISCOS E RAMOS DIVERSOS. Palestrante: Frederico Martins Peres

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. Aula Ministrada pelo Prof. Joseval Martins Viana (10/10/2018). Ação Monitória.

POLÍTICA DE CRÉDITO DA COOPERATIVA

SEGURO RURAL NO BRASIL. SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS Novembro de 2017 CÉSAR DA ROCHA NEVES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL.

(3) - 10ª Câmara Cível AI nº /2014 decisão - fl. 1

SUMÁRIO PARTE I PROCESSO DE EXECUÇÃO CAPÍTULO 1 JURISDIÇÃO, EFETIVIDADE DO PROCESSO E A SATISFAÇÃO DOS DIREITOS... 3

Seguro Garantia e Recuperação Judicial: algumas reflexões. Seguro Garantia e Recuperação Judicial: algumas reflexões. Eduardo Castro 1 / 5

DUPLICATA Lei n /68. Título de crédito causal, facultativamente emitido pelo vendedor com base em fatura representativa de compra e venda

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Fazenda Pública em Juízo Guilherme Kronemberg Hartmann

COBERTURA TRABALHISTAS. Análise das Coberturas e Forma de Caracterização do Sinistro

Transcrição:

Por Thiago Leone Molena (*) A definição exata dos sujeitos no seguro garantia é uma das especificidades mais importantes em face a outros ramos securitários, que se estruturam em uma relação direta entre a seguradora e o segurado irradiando efeitos jurídicos para terceiros determinados ou indeterminados. Invariavelmente, tem-se no seguro garantia: i) o segurado é o credor da obrigação principal devida pelo tomador e destinatário da garantia securitária devida pela seguradora; ii) o tomador é o devedor da obrigação principal para o segurado que opta por contratar o seguro, que paga o prêmio e tem o seu acervo patrimonial como base do rating financeiro para obtenção do crédito segurado, bem como tem o ônus de firmar o contragarantia em favor da seguradora; iii) a seguradora que protege o legítimo interesse do segurado quanto ao fiel cumprimento da obrigação em razão do risco de inadimplemento do tomador e deste receberá o prêmio. As condições especiais da modalidade VI, do anexo I, definem no item 2, que, no seguro garantia judicial, o segurado é o potencial credor de obrigações pecuniárias discutidas no processo e o tomador é o potencial devedor que deve prestar garantia em controvérsia submetida à decisão do Poder Judiciário. O segurado e suas especificidades foi tema de artigo próprio, principalmente, quanto à impossibilidade lógica de o juiz da ação ser o segurado da garantia securitária. Recordando o que já foi escrito, o segurado será a outra parte da ação, o destinatário da garantia da apólice, 1 / 6

o possível credor da obrigação discutida no processo atrelada ao risco de inadimplemento do tomador e nunca o juízo, que apenas opera como instrumento da administração pública para pacificação social através do poder jurisdicional [ 1]. O tomador, por sua vez, participa diretamente da contratação do seguro para proteger o interesse do segurado quanto ao risco de inadimplemento da obrigação principal discutida no processo judicial, da qual também faz parte e que, inclusive, também tem legítimo interesse na solução da demanda, inclusive, busca obter concessões processuais para discussão das questões fáticas e jurídicas do seu direito através de efeito suspensivo ou liminar de antecipação de mérito [2]. Ele é o responsável por pagar o prêmio à seguradora (Circular 477/13, art. 11) e seu acervo patrimonial servirá de base para a avaliação do risco e obtenção de capacidade operacional (Circular 477/13, art. 17). Ele, ainda, será o responsável pela pactuação com a seguradora do instrumento de contragarantia independente dos direitos do segurado, que respaldará e viabilizará o regresso contra si em caso de sinistro com pagamento da indenização (Circular 477/13, art. 21 e CC, art. 786). O tomador, ainda, é obrigado a solicitar a renovação da apólice com 60 dias de antecedência do término da vigência, salvo se comprovar i) não existir mais o risco segurado ou ii) que o risco esteja garantido por outro instrumento (modalidade VI, Anexo I, item 4.1 e 4.1.1). Um aspecto prático importantíssimo do tomador é que ele detém o direito de que a apólice seja aceita no processo judicial, salvo se houver i) insuficiência de garantia em face do valor da obrigação principal, ii) vício formal insanável e/ou i ii) inidoneidade da garantidora. O Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, da 3ª Turma do STJ, no REsp n. 1.691.748-PR foi assertivo: 10. Dentro do sistema de execução, a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os mesmos efeitos jurídicos que o dinheiro para fins de garantir o juízo, não podendo o exequente rejeitar a indicação, salvo por insuficiência, defeito formal ou inidoneidade da salvaguarda oferecida [ 3 ]. (grifo nosso). 2 / 6

O Desembargador Federal Rovirso Aparecido Boldo, do TRT da 2ª Região, aponta que a rejeição do seguro garantia judicial como espécie de garantia do juízo nos embargos à execução provisória pelo juiz trabalhista, desde que preenchidas as exigências do 2º, do artigo 835, do Código de Processo Civil, afronta direito líquido e certo do tomador resultado na concessão de ordem em Mandado de Segurança contra o juiz de origem: Destarte, plenamente aceitável a garantia da execução por meio de apólice de seguro judicial, desde que em valor superior ao débito e acrescido de 30%, nos termos do único do art. 848, do CPC e da OJ 59, da SDI-II, do TST. A decisão que recusa seguro garantia judicial oferecido dentro dos parâmetros traçados pela legislação e jurisprudência apontada viola direito líquido e certo. (grifo nosso) [4] A utilização do seguro garantia judicial no processo é um direito do tomador seja em razão do Código de Processo Civil, que o equiparou à dinheiro para fins de penhora e caução (CPC, 2º, artigo 835), bem como em razão do benefício econômico, financeiro, operacional e de segurança jurídica para as partes litigantes, conforme aponta o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva: 9. No cumprimento de sentença, a fiança bancária e o seguro garantia judicial são as opções mais eficientes sob o prisma da análise econômica do direito, visto que reduzem os efeitos prejudiciais da penhora ao desonerar os ativos de sociedades empresárias submetidas ao processo de execução, além de assegurar, com eficiência equiparada ao dinheiro, que o exequente receberá a soma pretendida quando obter êxito ao final da demanda. [...] 11. Por serem automaticamente conversíveis em dinheiro ao final do feito executivo, a fiança bancária e o seguro garantia judicial acarretam a harmonização entre o princípio da máxima eficácia da execução para o credor e o princípio da menor onerosidade para o executado, a aprimorar consideravelmente as bases do sistema de penhora judicial e a ordem de gradação legal de bens penhoráveis, conferindo maior proporcionalidade aos meios de satisfação do crédito ao exequente. (grifo nosso) [ 5 ] Em aperta e superficial síntese, o tomador compra a cobertura securitária para adquirir o prolongamento do espaço-tempo no trâmite processual viabilizando a discussão de questões jurídicas e fáticas relevantes demonstrando liquidez para a obrigação principal através da apólice sem, contudo, se desfazer de dinheiro ou inutilizando ativo pessoal ou empresarial. 3 / 6

A seguradora, por sua vez, é a pessoa jurídica constituída especificamente para operar seguro (DL n. 73/66, art. 73 [6] e CC, art. 757, parágrafo único) e devidamente autorizada a fazê-lo pela SUSEP (DL n. 73/66, art. 78), que garantirá o legítimo interesse do segurado contra o risco predeterminado de inadimplemento do tomador, mediante o recebimento de prêmio (CC, art. 757, caput ). Estruturalmente, ela é a empresa responsável pela administração do fundo comum constituída pelo conjunto de prêmios pagos pela mutualidade (segurados, beneficiários, tomadores, estipulantes, etc.) cuja única finalidade é proteger interesses expostos a riscos predeterminados.[7] Um ponto importantíssimo é a segurança jurídica e social decorrente diretamente da idoneidade da seguradora, principalmente, sob o foco da responsabilidade profissional do corretor de seguro pela indicação e a escolha do tomador, já que, em síntese, ambos atuam no sentido de proteger o direito do segurado, sendo que o próprio judiciário aponta que a inidoneidade é causa de rejeição da apólice no processo. Refletir sobre idoneidade da seguradora é falar em capacidade de reserva técnica operacional para liquidez e solvabilidade em face dos riscos assumidos por ela. Todavia, também é falar no exercício do poder dirigente pelo Estado através do CNSP (DL n. 73/66, art. 32) e o SUSEP (DL n. 73/66, art. 35) quanto a fiscalização operacional, financeira e a autorização de assunção de risco, conforme expressamente apontado pelo art. 79 do DL n. 73/66: Art. 79. É vedado às Sociedade Seguradoras reter responsabilidades cujo valor ultrapasse os limites técnicos, fixados pela SUSEP de acordo com as normas aprovadas pelo CNSP (...) Em outras palavras, sendo a seguradora inidônea para assunção do risco expresso na apólice, concluir-se-á pela inexistência de reservas técnicas suficientes para liquidação das obrigações assumidas com a mutualidade; assim, à critério único e exclusivo da SUSEP, cabe a ela a tomada das providências cabíveis, conforme art. 89 do DL n. 73/66: Art. 89. Em caso de insuficiência de cobertura das reservas técnicas ou de má situação 4 / 6

econômico-financeira da Sociedade Seguradora, a critério da SUSEP, poderá esta, além de outros providencias cabíveis, inclusive fiscalização especial, nomear, por tempo indeterminado, às expensas da Sociedade Seguradora, um diretor-fiscal com as atribuições e vantagens que forem indicadas pelo CNSP. O tema é extenso e profundo, porém a partir da estrutura do Sistema Nacional de Seguro Privados instituído pelo DL n. 73/66 (art. 7º), que impõe rígido dirigismo estatual (art. 1º e 2º) através do CNSP (art. 32) e da SUSEP (art. 35) na constituição societária das seguradoras (art. 36), na autorização de funcionamento, estruturação acionária e estatutária (art. 36, a ), na autorização de comercialização de cada um dos ramos securitários e na aprovação do clausulado padrão para todas as operações (art. 36, c ), na aprovação dos limites financeiros de operação (art. 36, d ), na fiscalização das condições especiais da contratação, inclusive, com fixação da taxa financeira (art. 36, e ), na autorização e na fiscalização de todas as movimentações das reservas técnicas de cada seguradora (art. 36, f ), na fiscalização de todas as operações de cada seguradora (art. 36, h ), na realização da intervenção e liquidação das seguradoras impedidas de operar (art. 36, i ), não é razoável e justo imputar aos corretores e aos tomadores o ônus de demonstrar a idoneidade das seguradoras que eles não tem aptidão técnica de conhecer e não legitimidade para fiscalizar. Ademais, é despropositado e desconfortante, diante de tão intenso Poder Estatal no mercado segurador, acreditar que haja seguradora inidônea operando como não faz sentido acreditar que existe carteira mutual de risco segurado sem lastro na respectiva reserva técnica. Em síntese, a relação jurídica no seguro garantia judicial é bem definida como tridimensional: i) segurado, ii) tomador e iii) segurador. [1] http://tlma.com.br/o-segurado-no-seguro-garantia-judicial-reflexao-do-clausulado-padrao-da -susep/ [2] Artigo específico sobre a cobertura securitária do seguro garantia judicial - http://tlma.com.br/a-cobertura-do-seguro-garantia-judicial-reflexao-sobre-o-clausulado-da-susep/ [3] STJ-3ª T., REsp n. 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 07.11.2017, Dje 17.11.2017. [4] TRT 2ª R.; MS 1003946-88.2017.5.02.0000; Terceira Seção Especializada em Dissídios Individuais; Rel. Des. Fed. Rovirso Aparecido Boldo; DEJTSP 15/08/2018; Pág. 15742. [5] STJ-3ª T., REsp n. 1.691.748-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 07.11.2017, Dje 17.11.2017. [6] Decreto-Lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, que sobre o Sistema Nacional de Seguros 5 / 6

Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. [7] TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio de Queiroz B., PIMENTEL, Ayrton. O Contrato de Seguro de Acordo com o Código Civil Brasileiro. 3ª edição, São Paulo: Editora Roncarati, 2016, p. 62. (*) Thiago Leone Molena é Advogado securitário. (17.12.2018) 6 / 6