O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E SUA NOVA CORE COMPETENCE: INTUIÇÃO E CRIATIVIDADE



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Transcrição:

O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E SUA NOVA CORE COMPETENCE: INTUIÇÃO E CRIATIVIDADE CARLOS RICARDO ROSSETTO ADRIANA MARQUES ROSSETTO Universidade de Passo Fundo - NIPEM - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Estratégia e Mudança Organizacional - Faculdade de Economia e Administração - Campus Universitário - CEP-99.001-970-Passo Fundo - RS.- Fone- (054) 316-8240 e-mail: rossetto@upf.tche.br ABSTRACT The economical competition and the speed of the change in the market behavior require alterations in the process of the strategic planning. This article propouse to think about these necessary changes in the posture of the strategic planning and plant a new vision of the planning process in the firms, not only seeking your survival but your development and competitivity. KEYWORDS: strategic planning, economical competition, market behavior. RESUMO A competição econômica, a globalização e a velocidade das mudanças no comportamento dos mercados, requerem alterações no processo de planejamento estratégico. Este artigo discorre sobre a necessidade de mudança na postura do Planejamento Estratégico até então praticado e colocar uma visão do que deva ser o processo de planejamento nas empresas de modo a garantir não somente a sobrevivência das mesmas mas também o aumento da competitividade. 1. INTRODUÇÃO As organizações não são sistemas claros, objetivos e simples. Provavelmente é na esfera organizacional que os homens compartilham, em maior grau, ambigüidades, paradoxos e conflitos. Ao mesmo tempo o ambiente no qual as organizações estão inseridas, marcado por dúvidas, alterações rápidas e inesperadas e competição acirrada, juntamente com a crescente complexidade

da sociedade, tem gerado a necessidade de novas formas de organização e de relação com as empresas, atribuindo a estas, um novo papel, inclusive de natureza social. Destes fatores decorre a complexidade do exercício do planejamento nas empresas e a necessidade de sistemas administrativos que diminuam as limitações dos modelos organizacionais em uso. A visão do planejamento estratégico da maneira como foi concebido no início dos anos 60, de forma prescritiva e estática, não mais responde à realidade vigente e chega a ser considerado por autores como Mintzberg (1973, 1987, 1988, 1993, 1994), Hamel e Prahalad (1994), Idenburg (1993), como um processo com sérios problemas estruturais, sendo questionada por eles até mesmo sua validade para a formulação das estratégias empresariais. Discorrer sobre a necessidade de mudança na postura do Planejamento Estratégico até então praticado e colocar uma visão do que deva ser o processo de planejamento nas empresas, de modo a garantir não somente a sobrevivência das mesmas mas a sua competitividade, é o que busca o presente artigo. 2. MUDANÇAS DE PARADIGMAS E DE SISTEMAS ADMINISTRATIVOS Para que se possa fazer uma análise sobre as tendências do processo de planejamento estratégico, é necessário que seja feita uma reflexão sobre as mudanças nos paradigmas sociais e organizacionais. Na verdade toda a troca de paradigmas embora muitas vezes possa parecer abrupta, ocorre de forma gradual, através de pequenas mudanças e do amadurecimento dos novos paradigmas, que acontecem em um período que antecede ao de ruptura. Nos encontramos agora em um destes momentos de ruptura, onde os antigos paradigmas não mais respondem aos anseios da sociedade e os novos ainda estão pouco consolidados. As empresas que irão sobreviver serão as que tiverem capacidade de mudar e de se antecipar a estes novos paradigmas. Aspectos como a globalização, a formação de blocos econômicos e o estabelecimento de acordo entre eles, a preocupação com a ecologia, a questão ambiental e o futuro do planeta são pontos antes inexistentes dentro das premissas de planejamento das empresas. Estes aspectos entretanto, tornaram-se altamente influentes nas relações de economia, de mercado e de competitividade.

Além disso, a tendência para o redimensionamento e a redução do tamanho do Estado, com transferência para o setor privado de muitas das atribuições até pouco tempo características do setor público, e a falência de alguns destes sistemas, estão provocando o início de discussões sobre novas formas de organizar a sociedade. Dentro deste contexto, o que se nota é que os modelos de administração e planejamento atuais, mesmo os que apresentam propostas de organização que superaram uma visão mecanicista das empresas, incorporando uma abordagem sistêmica, são ainda visões reducionistas por não agregarem fenômenos mais amplos, como a interação destas com outros sistemas (Berndt e Coimbra, 1995). Os mesmos autores colocam que considerando as organizações inseridas na vida global, os empresários têm basicamente duas rotas a escolher: seguir as transformações da sociedade, acompanhando a direção das mudanças e as tendências dos mercados ou prever e se antecipar a estas tendências, inovando e interferindo nelas, entendendo que o movimento das mudanças é oportuno para novas formas de pensar o seu negócio, e passar a raciocinar baseados em novos paradigmas. Motta apud Bjur e Caravantes (1994), cita diversos modelos ou movimentos de mudança organizacional que surgiram visando preencher estas necessidades reais, ou tornar-se vanguarda na mudança empresarial, como guias administrativos, entre eles o movimento das relações humanas, gestão por objetivos, D.O., e de forma mais impactante e universal a onda da Qualidade. Como exemplos mais recentes o mesmo autor cita as ondas administrativas da reengenharia, a arquitetura organizacional, a organização aprendiz, o caos organizado, a organização pósempreendedora, a organização trevo, a federalista, a triplo i e a organização virtual, bem como os modismos de reinventar, repensar, renascer ou mesmo maximizar a administração. Mas todos os modelos anteriormente citados apresentam limitações que parecem estar relacionadas às características e ao dinamismo que domina as relações humanas, as relações entre as organizações e destas com o ambiente, a sociedade e o meio ambiente. Tais modelos não abrangem esta complexidade, heterogeneidade e rapidez, que exige dos empresários e planejadores mudanças em sua visão de mundo e em sua postura frente à formulação e implementação de estratégias, buscando não somente a sobrevivência mas o crescimento e a competitividade da empresa. Dentro deste quadro, fica clara a necessidade de repensar os modelos administrativos hoje utilizados, em especial o planejamento estratégico, de modo a que ele passe a responder de forma

efetiva, levando em consideração as mudanças de paradigmas vivenciadas, como um instrumento para organizar, desencadear, e implementar um processo de formulação de estratégias empresariais, que avance até aos estágios da ação propriamente dita. 3. DESENVOLVIMENTO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O Planejamento Estratégico surgiu no início dos anos 60 como uma reação das empresas e dos consultores aos insucessos do Planejamento a Longo Prazo fundamentado na extrapolação do passado. O primeiro autor a sistematizar a idéia foi Igor Ansoff em seu livro Corporate Strategy em 1965. Com esta nova metodologia, procurava-se, por um lado, incorporar no processo de planejamento variáveis qualitativas como mudanças culturais e políticas, e por outro, considerar o Princípio da Descontinuidade Temporal segundo o qual, os sistemas complexos (as empresas, as sociedades e os mercados) não se comportariam no futuro como se comportaram no passado. Hoje existem várias linhas de Planejamento Estratégico que, três décadas após seu surgimento, encontra-se em uma situação bastante caótica e de forte transição. Uma das visões muito utilizada, no Brasil praticamente todos os autores trabalham nesta linha (Oliveira, 1991; Gracioso, 1990; Contador, 1995), é a do Planejamento Estratégico Mercadológico (PEM). Nele a grande preocupação é aumentar a competitividade da empresa, que é considerada imersa em um ambiente externo ao qual deve se ajustar através de mudanças nas estratégias. Este conceito é defensivo, pois considera que a organização tem que se adaptar a uma reação externa. A própria postura de Porter (1986, 1992) é uma postura defensiva, quando coloca as razões da competitividade fora da empresa, baseando suas estratégias no ajuste ao ambiente externo. Com isso, a idéia é que as empresas que melhor se ajustassem ao ambiente seriam as que melhor sobreviveriam. Nesta visão a estratégia é igual ao mix produto-mercado (Ansoff, 1965). Para o PEM a organização é considerada como uma caixa preta, não interessa muito o que está acontecendo dentro dela, trabalha-se com os elementos internos somente no momento da análise interna, para a definição dos pontos fracos e fortes, e novamente a concepção é reposicionada para a postura mix produto-mercado. Nenhuma alteração na estrutura, ou como Nadler et al. (1994) mais modernamente colocam como arquitetura organizacional, é proposta.

Este tipo de planejamento estratégico funcionou relativamente bem até o final dos anos 70 quando os problemas estratégicos tornaram-se muito mais complexos devido as profundas mudanças e a turbulência do ambiente de um modo geral. Surge então uma nova visão de Planejamento Estratégico que é chamado de Planejamento Estratégico Organizacional (PEO), onde o problema básico continua sendo o mesmo, aumentar a competitividade da organização que também está imersa no ambiente. A diferença começa no conceito de ajuste que é ampliado para o conceito de ajuste mútuo, muito mais realista. Continua existindo a força externa que vai provocar mudanças na organização, mas se reconhece também a capacidade da organização de influir no ambiente. Com isto o Planejamento Estratégico ganha uma postura mais ofensiva, fazendo com que a própria indústria defina para o mercado o que ele vai consumir. Um outro conceito importante que diferencia o PEO do PEM é que ele abre a organização, no momento em que considera outros elementos internos. Para ele existe uma arquitetura organizacional que deve ser mudada, redefinida, não somente as estratégias, e é desta forma que se processa o sistema de ajuste. Nesta visão a organização é considerada um sistema aberto e é tratada como tal, já o PEM também considera a organização como um sistema aberto mas não a trata desta maneira. Autores como Mintzberg (1973; 1987; 1994), Hamel e Prahalad (1994), Pettigrew (1991; 1992), Child (1972; 1987), que formam o grupo que está conduzindo esta idéia de PEO, tentam fazer um elo entre os aspectos colocados pelos autores que alocam as razões da lucratividade e da competitividade fora da empresa (os Porterianos), e os que enfatizam o interior da organização (os Peterianos), dando pesos iguais entre as questões internas e externas. Neste ponto o PEO tenta unir duas linhas de pensamento sobre o efeito estratégia/estrutura. Para Chandler (1962) as estratégias definem a estrutura organizacional, uma mudança na estratégia implicaria em posterior alteração na estrutura. Outra linha de pensamento coloca que a estrutura é que implica na estratégia, ou seja que as estratégias são definidas a partir da estrutura. Esta nova linha do PEO considera exatamente o efeito circular, entendendo que não se pode trabalhar com sistemas complexos a partir de uma ótica unidirecional de causa e efeito. Para que se compreenda melhor o PEO é necessário que se comente três modelos organizacionais importantes:

o modelo sócio-técnico que considera a organização composta por dois subsistemas: o técnico e o social. A competitividade da organização neste modelo vai depender basicamente do ajuste entre estes dois subsistemas, mais especificamente do social em relação ao técnico; o modelo da congruência, proposto por Nadler et al (1994) que consideram a organização composta por quatro elementos: indivíduos, tarefas, organização formal, organização informal. Quanto mais ajustados os elementos, melhor será o desempenho da organização; e o modelo das coalizões que nos ajuda a entender a questão da dinâmica dentro da organização e do conflito quando se tenta estabelecer um processo de Planejamento Estratégico. A partir desta teoria a organização é composta de grupos de indivíduos, as coalizões, que se unem em torno de determinadas idéias e determinadas pessoas. Dentro destas coalizões encontra-se a coalizão dominante que seria a que detém o poder por determinado período. Isto permite entender as influências externas à organização que são exercidas por coalizões externas normalmente através da coalizão dominante. Este fator é um ponto crítico para o Planejamento Estratégico. Torna-se importante também que se comente quatro tipo de ajustes: do tipo 1: ajuste entre a organização e o ambiente; do tipo 2: ajuste entre os subsistemas da organização; do tipo 3: ajuste entre os elementos que compõem cada subsistemas; e do tipo 4: ajuste do indivíduo com ele próprio. O modelo de PEO tem se baseado nestas duas idéias. A idéia de coalizão, de poder compartilhado, de estrutura difusa de poder, de que os objetivos da organização são definidos a partir de lucros dentro do processo competitivo e a partir de vários elementos que têm que ser ajustados. Numa visão mais moderna do Planejamento Estratégico já existem autores como Hamel e Prahalad (1994) que questionam todos os tipos de ajuste e colocam a idéia da administração por desajustes.

Desajustes administráveis que tenham aspectos positivos, cuidando-se o tamanho, para não provocar ruptura e a qualidade do ajuste, que deve incentivar a mudança. Esta linha de pensamento trabalha com o conflito, com o desajuste contínuo dentro da organização, forçando esta a caminhar e obrigando-a a desenvolver a capacidade de autocrítica. 4. TENDÊNCIAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Não existe nenhum trabalho que diga que as empresas que planejam se saem melhor do que as que não planejam. O que se sabe é que as empresas que têm melhor estratégia se saem melhor. O Planejamento Estratégico por si só não garante uma melhor estratégia. Podem haver pessoas que nunca ouviram falar de Planejamento Estratégico, não conhecem nada de administração e mesmo assim possuem boas estratégias, pois têm feeling e conhecimento do mercado. Hoje a tendência não é mais falar em Planejamento Estratégico mas em processo de elaboração de estratégias, que podem ou não serem formuladas através de planejamento (Mintzberg, 1973, 1994; Hamel e Prahalad, 1994). Segundo esta visão, as estratégias não são definidas somente através de Planejamento Estratégico, existem diversas maneiras, muito mais ricas, de formular estratégias. Hoje já se considera uma linha mais intuitiva e criativa de conceber o Planejamento Estratégico em lugar de trabalhar encima de estudos fantásticos e mirabolantes e de alto custo para as empresas. O primeiro pensamento que deve vir a mente quando vai se implantar qualquer processo de Planejamento Estratégico, são algumas tendências importantes que devem ser levadas em consideração: a passagem da hierarquia para a flexibilização; da centralização para a descentralização, com maior autonomia; do Estado empresário para o Estado empreendedor, que simplesmente articula o processo de desenvolvimento; da competição (Porter, 1986; 1992) para a cooperação, trabalhar em redes; do indivíduo para a automação, onde diminui o número de indivíduos na organização mas ele passa a ser mais importante e mais qualificado, o que é um dos fatores responsáveis pela quebra da hierarquia dentro da organização;

o aumento da interatividade em todos os níveis da organização, um processo que se estende para toda a sociedade; e a troca do nacionalismo para a globalização, com o aumento brutal da mobilidade de capital, de pessoal e de idéias, da simultaneidade, da capacidade de ultrapassar barreiras geográficas em comprar e vender, no pluralismo da competição através de produtos substitutos, de múltiplo uso, produtos similares, com a conseqüente complexidade de distinguir quem é o seu competidor. Estas são questões muito importantes na elaboração de estratégias empresariais que devem ser acrescidas a outros três elementos fundamentais para o momento presente, que são: o futuro, para o qual não existem instrumentos eficazes de trabalho, a análise de cenários ajuda mas não define precisamente o futuro e há uma grande diferença entre imaginar o que vai ser o ambiente e o que realmente ele será. a complexidade, que traz consigo a incerteza, neste campo a intuição tem um papel fundamental. e a dinâmica. Com isso a idéia clássica de planejamento, da ciência do planejamento fica inviabilizada, tendendo muito mais para a arte do planejamento. A partir desta ótica só existem duas saídas: a intuição e a criatividade, não adianta pensar em estratégias de forma lógica e formal. Dentro desta visão surge a necessidade de uma postura um tanto diferenciada para o Planejamento Estratégico, que requer que alguns pontos fundamentais sejam seguidos: definição de foco - embora a focalização gere risco, existe muito mais risco hoje do que a 15 anos atrás para uma empresa se desfocar, a diversificação significa a perda da especialização, da core conpetence, que é elemento básico e fundamental na competitividade, é a ponta do conhecimento na elaboração de estratégias;

definição de um caminho para ouvir o cliente - mas com uma idéia diferente da que hoje está instalada, com a idéia de ajuste mútuo, não é só fazer o que o cliente quer, o importante é descobrir o que ele vai querer; criar uma ambiente de colaboração universal - neste ponto o objetivo é quebrar a idéia da competição, trabalhar com a de colaboração em vários níveis: com competidores, através de alianças competitivas, e também dentro da empresa; gerar vantagens competitivas além do produto - isto significa saber exatamente quais as vantagens competitivas a empresa possui e por quais características específicas e diferenciadas o seu produto está sendo vendido; e adotar liderança de contato - considera o conceito de indivíduo, não mais o líder distante, autoritário, mas o líder próximo que executa, que participa. Simon (1996), coloca um modelo de competitividade onde são considera questões tanto de interno quanto externo, que foi utilizados em empresas alemãs líderes de mercado: (Figura 1) foco estreito; visão global, é impossível pensar a nível local, pode-se até agir a nível local mas pensar a nível global; proximidade ao cliente; definição clara e objetiva das vantagens competitivas; indivíduos motivados e qualificados; confiança nos pontos fortes; inovação constante. Estas empresas embora não sejam conhecidas mundialmente e nem sejam empresas de grande porte, ao se restringirem a um foco bastante estreito e seguirem certos passos que se enquadram

perfeitamente sob a nova ótica do Planejamento Estratégico, estão conseguindo a liderança no mercado mundial de forma bastante acentuada. Com certeza não se pode mais esperar que após a implantação de um processo de Planejamento Estratégico concebido sob um visão prescritiva e estática, surjam as estratégias que irão direcionar a organização e garantir o seu crescimento e competitividade. Isto só é possível em casos muitos específicos onde as condições internas e externas sejam profundamente favoráveis e previsíveis, o que não é o caso das empresas em geral. MARKETING DE FOCO ORIENTAÇÃO GLOBAL INOVAÇÃO CONTÍNUA FORTE LIDERANÇA METAS AMBICIOSAS PONTOS FORTES VANTAGEM COMPETITIVA COMPETÊNCIAS SUPERIORES EMPRESA VOLTADA AO CLIENTE Figura 1: Três Círculos e Nove Lições Fonte: Adaptado de Simon (1996) 5. CONCLUSÕES Hoje, a idéia de Planejamento Estratégico é a de trabalhar as questões internas dentro dos objetivos e da questão de liderança, para depois trabalhar as questões externas. Na realidade no processo da formulação de estratégias deve-se começar de fora para dentro para se conhecer o ambiente externo, mas no processo de mudança organizacional, que é fundamental para transformar a organização, deve-se trabalhar de dentro para fora. Ou seja, a concepção deve ser interativa, trabalhando em ambos os sentidos, levando em consideração as tendências do ambiente externo, mas nunca perdendo de vista a arquitetura

organizacional e as mudanças nela requerida para o aproveitamento principalmente dos pontos fortes e da potencialidade de influir no ambiente. O fundamental no processo de Planejamento Estratégico é desenvolver objetivos ambiciosos que vão gerar desajustes naturais e com isso um caminho para onde a organização deva ir, e por outro lado uma liderança forte e indivíduos qualificados que conduzirão a organização aos objetivos a que ela se propôs. Portanto é de fundamental importância que a postura do Planejamento Estratégico seja revista e que incorpore todos estes elementos de forma a que incentive a intuição e a criatividade e que desencadeie não somente a formulação de estratégias, mas viabilize sua implementação e o desenvolvimento das ações pertinentes. 6. BIBLIOGRAFIA ANSOFF, H. I. Estratégia Empresarial. (Traduzido do original Corporate Strategy, em 1977) São Paulo: McGraw- Hill do Brasil, 1965. BERNDT, A. & COIMBRA, R. As organizações como sistemas saudáveis. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 4, p.33-41, jul/ago, 1995. BJUR, W. & CARAVANTES, G. R. Reengenharia ou readministração? do útil ao fútil nos processos de mudança. Porto Alegre: Ed. AGE, 1994. CHANDLER, A.D. Stargen and Stancture: Chapters in the History of the American Industrial enter Paise. Cambridge:Mitpress: Cambridge. 1962. CHILD, J. Organizational structure, environment and performance:the role of strategic choice. Sociology, v.6, p. 2-22, 1972. CHILD, J., SMITH, C. The context and process of organizational transformation. Cadbury Limited in its sector. Journal of Manangement Studies, v. 24, n. 6, p.565-596, 1987. CONTADOR, J. C. Recomendações sobre o Processo de Planejamento Estratégico. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 3, p. 40-48, maio/junho 1995. GRACIOSO, F. Planejamento Estratégico Orientado para o Mercado. SãoPaulo: Ed. Atlas. 1990. HAMEL, G & PRAHALAD, C. K. Competing for the future. Harvard Bussiness Review, p. 122-128, july-august, 1994. IDENBURG, P. J. Four Styles of Strategy Development. Long Range Planning, v.26, n. 6, p.132-137, 1993. MINTZBERG, H. Strategy-Making in Three Modes. California Management Review, v. 16, n. 2, p. 44-53, winter 1973.. The strategy concept: Five P s for Strategy. California Management Review, v. 30, n. 1, p. 11-24, 1987a.. Crafting Strategy. Harvard Business Review, v. 65, p. 66-75; 1987b.. Opening up the definition of strategy. In: Quinn, J. B., Mintzberg, H., James, R. M. (Eds.). The strategy process.. Englewood cliffs, NJ: Prentice Hall, pp. 13-20, 1988. The Fall and Rise of Strategic Planning. Harvard Bussiness Review, p. 107-114, jan-feb. 1994. The Rise and Fall of Strategic Planning. New York: Free Press, 1994.

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