ANÁLISE DO REGIME PLUVIOMÉTRICO DA ILHA DE SANTIAGO CABO VERDE DURANTE 1981 A 2009 E SUA RELAÇÃO COM A ZCIT Gerson E. V. Lopes 1 3, Rosiberto S. da Silva Júnior 1, Diogo N da S. Ramos 1, Danielson J. D. Neves 2 1 UFAL - ICAT - Brasil - Alagoas gbrunoj@hotmail.com 3 2 UFCG - CTRN Brasil - Paraíba RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar a variabilidade temporal da precipitação pluvial na ilha de Santiago, Cabo Verde. Foram utilizados dados mensais de precipitação pluvial do período entre 1981 a 2009, de 4 Estações Meteorológicas Convencionais e 3 Postos Pluviométricos. O comportamento temporal da precipitação pluvial foi analisado através da variabilidade mensal do período. Totais médios de pluviosidade foram calculados para cada estação meteorológica. Posteriormente, efetuou-se uma análise e interpretação dos totais de precipitação pluvial relacionando com variabilidade sazonal da localização da Zona de Convergência Intertropical. Os resultados mostram que o regime pluviométrico apresenta dois períodos nítidos, um chuvoso e outro seco. O período chuvoso está associado à atuação da ZCIT nas latitudes a Norte do Equador e o período seco devido o deslocamento da ZCIT ao Sul. Em relação à variabilidade anual, chove mais nas regiões com maior altitude na ilha com totais médios superiores a 150 mm no mês de Setembro. Assomada, São Jorge dos Órgãos, Babosa Picos e Ribeirão Manuel apresentam os maiores totais de precipitação pluvial. Aeroporto, Chão Bom e Ribeirinha apresentam os menores totais de precipitação pluvial. Palavras-chave: Precipitação Pluvial, ZCIT ABSTRACT: This study aims to analyze the temporal variability of rainfall on the island of Santiago, Cape Verde. Monthly data from the period between 1891 and 2009 were used, sampled at the 4 conventional meteorological stations and 3 rainfall stations. The temporal rainfall behavior were analised by monthly period. Average total rainfalls were calculated for each weather station. Further, data analisys and interpretation were realized relating the influence of the ITCZ. The results show that rainfall has two periods, one rainy and other dry. The rainy season is associated with the actividy of the ITCZ in the northern latitudes and the dry season due to the displacement of the ITCZ to the south. Refers to the annual variability, it rains more in the highest elevation on the island with the values greatherthan 150 mm at September. Assomada, São Jorge dos Órgãos, Babosa Picos and Ribeirão Manuel show the greaterthan rainfall total values. Airport, Chão Bom and Ribeirinha show the smaller total values of rain. Key-Words: Rainfall, ITCZ
1. INTRODUCÃO A precipitação pluvial tem sido bastante estudada em diferentes regiões do mundo, em face de sua importância no ciclo hidrológico e a manutenção dos seres vivos no planeta. Os mecanismos climáticos que produzem as precipitações são excessivamente complexos e estão ligados à influência e à conjugação de vários sistemas de circulação atmosférica, agindo separadamente nas diferentes partes de uma região. A esses mecanismos, que dependem diretamente da circulação atmosférica geral, superpõem-se outres fatores como a orografia ou a proximidade do mar. O arquipélago de Cabo Verde fica localizado no oceano Atlântico, entre as latitudes 17 12 e 14 48 N e longitudes 22 44 e 25 22 W (Figura 1). Segundo Babau et al. (1981) o clima de Cabo Verde é governado pelas posições respectivas o anticiclone dos Açores, da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e dos movimentos das massas de ar de macro escala do Atlântico médio, induzidas por variações sazonais de localização. O movimento cíclico anual da ZCIT em torno do Equador e a sua migração para as latitudes ao norte durante os meses de julho a outubro leva um clima monsônico temporário de sudoeste para Cabo Verde durante o verão (Figura 2). A presença da ZCIT sobre as latitudes de Cabo Verde é, no entanto, afetada negativamente por flutuações do anticiclone dos Açores e por outros fluxos de massas de ar de altos níveis do norte do Oceano Atlântico Central. Um regime pluviométrico extremamente variável resulta das oscilações dessas zonas de altas e baixas pressões regionais. Formada a partir da interação entre a confluência dos ventos alísios, a região do cavado equatorial, as áreas de máxima temperatura da superfície do mar (TSM) e de máxima convergência de massa (Uvo, 1989), a ZCIT influencia nas precipitações observadas sobre os continentes africano, americano e asiático (Ferreira, 1996). O movimento ascendente de ar, gerado pela convergência dos ventos alísios nos baixos níveis, é facilmente observado nas fotos de satélite pela área de nebulosidade convectiva que se forma na faixa equatorial em volta do globo. Essa natureza da atividade convectiva da ZCIT parece estar fortemente ligada à atividade convectiva sobre a África. 2. OBJETIVOS O objetivo principal deste trabalho é a análise climatológica do regime pluviométrico da ilha de Santiago, Cabo Verde, no periodo de 1981 a 2009 (28 anos), estudando as possíveis influências da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) na variabilidade temporal e espacial da precipitação pluvial na região. 3. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização deste estudo foram utilizados dados mensais de precipitação pluvial do período entre 1981 a 2009, das estações meteorológicas convencionais (4 estações) e postos pluviométricos (3 postos) que completam a malha de distribuídas espacialmente na Ilha de
Santiago. A região do presente estudo é a ilha de Santiago (14 54 N -15 20 N e 23 25 W - 23 46 W) aonde o relevo contribui para a formação de maior precipitação, em face da própria localização da ilha mais a sul. Isso favorece a formação de precipitação quando da atuação da ZCIT no trimestre chuvoso. Ela é considerada uma das ilhas com maior vocação agrícola no país ao lado de Santo Antão (16 54 N - 17 11 N e 24 58 W - 25 21 W) em virtude das características do relevo, com vales e planaltos onde se pratica agricultura. Entretanto, tal como a ilha de Santa Antão, essa ilha também possui uma declividade acentuada que não favorece a infiltração da água precipitada, então a maior parte das chuvas se perde sob forma de escoamento superficial em direção ao mar (NEVES, 2011). A distribuição das estações convencionais e postos pluviométricos estão dispostos na Figura 3A tabela 1 mostra as estações meteorológicas com suas respectivas latitudes, longitudes e altitudes. Os dados usados foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde (INMG). A análise do movimento anual da ZCIT mostra-se influenciador no regime pluviométrico na ilha de Santiago. Tabela 1: Estações meteorológicas da ilha de Santiago Estação/Posto Latitude Longitude Altitude Aeroporto 1 14 54'N 23 28'08''W 64m Assomada 1 15 04'08''N 23 40'02''W 550m Babosa Picos 2 15 07'02''N 23 37'02''W 454m Chão Bom 1 15 16'02''N 23 45'W 16m Ribeirão Manuel 2 23 42'N 15 06'W 400m Ribeirinha 2 23 34'08''N 15 04'02''W 190m São Jorge dos Órgãos 1 15 03'N 23 36'W 310m 1 Estação Meteorológica Convencional 2 Posto Pluviométrico O comportamento temporal da precipitação pluvial foi analisado através da variabilidade mensal do periodo. Para esta análise e interpretação dos dados, efetuou-se a plotagem de gráficos de distribuição dos totais de precipitação pluvial. Foram calculados e analisados os totais médios e pluviosidade nas escalas de tempo e mensal para cada estação meteorológica. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados deste estudo mostraram que o regime pluviométrico da ilha de Santiago compreende dois períodos bem distintos entre si. O período chuvoso inicia-se em Julho e tem seu término em Outubro, atingindo os valores máximos de precipitação no mês de Setembro. O período de seca ocorre entre os meses de Novembro e Junho com chuvas esporádicas (Figura 4). Os maiores totais de precipitação pluvial ocorrem para as regiões com maior altitude, como os casos de Assomada, Ribeirão Manuel, São Jorge dos Órgãos e Babosa Picos, podendo-se afirmar que o fator altitude seja um mecanismo atuante no regime pluviométrico. Chão Bom, Aeroporto e Ribeirinha apresentaram os menores valores de precipitação pluvial.
Constata-se que durante os meses de chuva, os valores da precipitação média mensal do período nessas regiões foram: de menos de 40 mm para Julho; entre 120-150 mm para Agosto; 160-180 mm para Setembro; 60-80 mm para Outubro. Observando a Figura 4, constata-se que entre os meses de Novembro a Junho os índices pluviométricos são baixos estabelecendo assim o período de seca. Nesta época, de Novembro a Janeiro, as chuvas são bastante escassas com valores abaixo de 20 mm, e no resto do período as chuvas se constituem com valores muito baixos, sendo o mês de Abril o menos pluvioso e em algumas estações com valores não significativos. O período chuvoso coincide com a atuação da ZCIT nas latitudes ao Norte do Equador, resultado também indicado por Martins e Rebelo (2009), afirmando ambos que a época de chuvas está compreendida entre Agosto e Outubro, sendo a mesma por vezes iniciada em Julho. 5. CONCLUSÕES A pluviosidade nas estações meteorológicas varia em escalas de tempo estabelecendo na ilha duas estações, uma seca de Novembro a Junho, e uma chuvosa de Julho a Outubro. Na avaliação mensal observou-se uma forte influência da ZCIT nos valores máximos e mínimos de precipitação pluvial na lha de Santiago, sendo este fator um diretamente relacionado ao regime pluviométrico da região. Os maiores totais registrados foram para as regiões com altitude igual ou superior a 200m, concluindo que a orografia também pode favorecer na maior pluviosidade nas regiões de Assomada, São Jorge dos Órgãos, Babosa Picos e Ribeira Manuel.. O mês de Setembro se apresenta como o mais chuvoso, com total médio mensal do período superior a 150 mm, em contraste ao mês de Abril aonde se verificou precipitação pluvial abaixo de 15 mm. O conhecimento e estudos sobre o regime pluviométrico se mostram importante para realização e planejamento de atividades agrícolas e relacionadas com a utilização dos recursos naturais e hídricos. 6. AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) de Cabo Verde pelos dados e todo suporte no desenvolvimento desse trabalho e os primeiros autores ao CNPq, CAPES e FAPEAL pelo auxilio financeiro. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Babau, M.C., Silva, R. and A. Alves, 1981: Approche et contraintes climatiques et évaluation des resources en eau. Document de travail project Agrhymet: OMM/RAF/78/004 de l'organization Météorologique Mondiale des Nations Unies. Ministére de Développement Rural, Praia, Cap Vert. Ferreira, N. S., 1996: Zona de Convergência Intertropical. Climanálise. IN CLIMANÁLISE. Boletim de Monitoramento e Análise Climática. MCT/INPE. Edição Especial de 10 anos.
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Precipitação (mm) Cachoeira Paulista, SP. 235p. Martins, B. and F Rebelo, 2009: Erosão e paisagem em São Vicente e Santo Antão (Cabo Verde) - O risco de desertificação. Territorium, 16, 67-78. Disponível em: < http://hdl.handle.net/10316/13288>. Acesso em: 26 de Agosto 2011. Neves, D. J. D. 2011: Aspectos gerais do Clima de Cabo Verde. Trabalho de Conclusão de Curso, UFCG. Campina Grande, PB. Uvo, C. B. 1989: A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e sua relação com a precipitação na Região Norte do Nordeste Brasileiro. Dissertação de Mestrado em Meteorologia, INPE. São José dos Campos, SP. Figura 1 Localização Geográfica do Arquipélago de Cabo Verde (Fonte: Moreno, 2009). Figura 2 Posicionamento e deslocamento médio da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) durante o ano. Fonte: Cardoso, 2010. Distribuição da Precipitação (Média Mensal 1981-2009) 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Aeroporto Assomada Babosa Picos Chão Bom São J. dos Orgãos Ribeirinha Ribeirão Manuel Mês Figura 4 - Distribuição Espacial das Estações Convencionais e Postos Pluviométricos na ilha de Santiago, Cabo Verde. Figura 4 - Distribuição da Precipitação Pluvial Média para o período de 1981-2009 na ilha de Santiago, Cabo Verde.