Introdução Capítulo I Enquadramento da ilha de Santiago Capítulo II Caracterização geral do concelho do Tarrafal



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Transcrição:

1 ÍNDICE Introdução ------------------------------------------------------------------------------------- 2 Objectivos do estudo------------------------------------------------------------------------ 2 Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------- 3 Metodologia de trabalho-------------------------------------------------------------------- 3 Capítulo I Enquadramento da ilha de Santiago---------------------------------------- 4 1.1. Aspectos climatéricos----------------------------------------------------------------- 7 1.2. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 7 1.3. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 11 1.4. Sequência vulcano-estratigráfica--------------------------------------------------- 11 1.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 13 1.6. Unidade hidrogeológicas------------------------------------------------------------- 16 Capítulo II Caracterização geral do concelho do Tarrafal--------------------------- 17 2.1. Localzação e divisão administrativa----------------------------------------------- 17 2.2. Aspectos climáticos------------------------------------------------------------------ 18 2.3. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 19 2.4. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 21 2.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 22 Capítulo III A situação de exploração de georecursos na zona norte de Santiago------- 24 3.1. Condições ambientais em Cabo Verde--------------------------------------------- 26 3.2. Identificação e caracterização dos geomorfismos--------------------------------- 27 3.3. Exploração dos georecursos--------------------------------------------------------- 28 Capítulo IV Exploração de georecursos em Tarrafal--------------------------------- 30 4.1. Piroclastos------------------------------------------------------------------------------ 30 4.2. Areia------------------------------------------------------------------------------------ 31 4.3. Brita------------------------------------------------------------------------------------- 33 4.4. Basalto---------------------------------------------------------------------------------- 34 4.5. Aspectos anbientais relacionados com as explorações--------------------------- 35 Capítulo V Impactes Ambientais----------------------------------------------------------- 37 5.1. Impactes nos Recursos Naturais----------------------------------------------------- 38 5.1.1. Vegetação------------------------------------------------------------------------ 38 5.1.2. Fauna----------------------------------------------------------------------------- 40 5.1.3. Solo------------------------------------------------------------------------------- 41 5.1.4. Água------------------------------------------------------------------------------ 42 5.1.5. Geomorfologia------------------------------------------------------------------ 43 Capítulo VI Alternativas para o abastecimento do mercado de construção------- 45 6.1. Estratégias de criação de alternativas de formação e valorização dos R.H.--- 46 6.2. Estratégias de implementação de madidas institucionais ----------------------- 47 Conclusões e recomendações------------------------------------------------------------------ 48 Referências bibliográficas--------------------------------------------------------------------- 50

2 INTRODUÇÃO O presente trabalho enquadra-se no âmbito do trabalho científico exigido pelo Instituto Superior da Educação (ISE), para a obtenção do grau de Licenciatura em Geologia. Com este trabalho pretendo alertar as autoridades competentes e a população em geram sobre a forma desordenada que se está a fazer as explorações dos georecursos pondo em causa o património geológico e a própria vida de quem executa essa tarefa. A crescente procura de material de construção civil devido ao aumento demográfico, da urbanização, da modernização e da emergência do sector turístico, tem provocado uma intensa pressão sobre os georecursos da ilha de Santiago,nos últimos anos. A exploração dos georecursos nem sempre é feita de forma mais criteriosa e racional, o que põe em causa o desenvolvimento sustentável da ilha, sobretudo no que concerne à preservação do património geológico, destruição do solo, da vegetação, dos habitats e da paisagem, por vezes de forma irreversível. Muitas vezes, devido ao não cumprimento das normas e exigências impostas pelos órgãos competentes, durante as várias fases do processo de exploração, é frequente o domínio do económico sobre o ecológico, ou do imediato sobre o sustentável, em vez de os conciliar na perspectiva da sustentabilidade e, observando as regras de equilíbrio ambiental durante as várias etapas de instalação, de exploração e de abandono. Alguns casos vão ser debruçados ao longo deste trabalho, de acordo com as observações e o diagnóstico constatado a partir dos trabalhos de campo, na zona norte da ilha de Santiago onde fazem a exploração dos georecursos. OBJECTIVOS DO ESTUDO Este trabalho tem como objectivo principal o conhecimento da realidade ligada ao sector de exploração e utilização dos georecursos, procurando identificar os pontos negativos desta actividade, criando bases para que venha a constituir um elemento de apoio, com carácter dinâmico, que ajuda a fundamentar tomadas de posição e/ou decisão por parte de entidades públicas e privadas ligadas ao sector, ou outros com os quais este interfere, de acordo com as medidas legislativas aplicáveis.

3 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO TRABALHO Analisar a problemática de extracção dos georecursos; Avaliar os impactes causados pela exploração de georecursos; Identificar as alternativas para minimizar as consequências negativas desta prática; METODOLOGIA DE TRABALHO Para atingir os objectivos propostos, na elaboração do documento, foi utilizada a seguinte metodologia: Levantamento bibliográfico sobre a problemática da exploração de georecursos no INGRH, INIDA, Câmara municipal, Direcção geral do Ambiente, Guardas marítimas, Esquadra da Polícia e outros; Aulas de campo com o objectivo de observar o terreno e entrevistar apanhadores, camionistas, empreiteiros e construtores; Visitas de terreno às diversas localidades donde se faze-se a exploração de georecursos duma forma tradicional; Recolha de informações sobre a problemática e alternativa de solução; Levantamento das estratégias de exploração e abastecimentos alternativos, como programas de luta contra a pobreza e promoção da qualidade de vida.

4 CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO DA ILHA DE SANTIAGO 1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA A ilha de Santiago, como todas as ilhas do arquipélago de Cabo Verde, eleva-se de um soco submarino em forma de ferradura, situado a uma profundidade de ordem dos 3.000 metros. A ilha de Santiago fica situada na parte sul do arquipélago entre os paralelos 15º 20 e 14º 50 de latitude norte e os meridianos 23º 50 e 23º 20 de longitude oeste do meridiano de Greenwich. Tem um comprimento máximo de 54,9 km entre a Ponta Moreia, a norte e a Ponta Mulher Branca a sul, e a largura máxima de 29km entre a Ponta Janela a oeste, e a Ponta Praia Baixo a leste. A formação da ilha teria sido iniciada por uma actividade vulcânica submarina central, mais tarde completada por uma rede fissural nos afloramentos. A ilha é dominada por emissões de escoadas lávicas e de matérias piroclásticos (escórias, bagacinas ou lapilli e cinzas) sub aéreas predominantemente basálticas. Administrativamente a ilha é constituída por nove (9) conselhos e onze (11) freguesias. O Concelho da Praia, sendo a maior localizada na parte sul, ocupa uma área de 96,8 km 2 com a população de 97240 habitantes, distribuídos pelas freguesias da Nossa Senhora da Graça. (INE, 2005) O Concelho de São Domingos com uma área de 134,5km 2 e uma população de 13. 305 habitantes divididos pelas freguesias de São Nicolau Tolentino e Nossa Senhora da luz. (Censo 2000) O Concelho de Santa Cruz, situada a leste da ilha, ocupa uma área de 109,8 km 2 e uma população 32.965 habitantes repartidos pelas freguesias de Santiago Maior.(INE, 2005) O Concelho de Santa Catarina, situada na parte central, apresenta uma área de 214,2 km 2 e uma população de 49ooo habitantes, espalhados pelas freguesias de Santa Catarina. (INE 2005)

5 O Concelho de Calheta São Miguel, Situado a nordeste da ilha, abrange uma área de 90,7km 2 na qual reside uma população de 16.104 habitantes, distribuídos pelo São Miguel Arcanjo.( Censo 2000) O Conselho do Tarrafal, situada a Norte com uma área de 112,4km 2 e a população de 18.059 Habitantes, distribuídos pela freguesia de Santo Amaro de Abade. (Censo 2000). O Concelho de Picos São Salvador do Mundo, situado na zona central da ilha, com uma área de 28,7 km 2 e uma população de 9.172 habitantes, distribuídos pela freguesia de São Salvador do Mundo (INE 2005). O Concelho de São Lourenço dos Órgãos, situada na zona leste da ilha, com uma área de 39,5 km 2 uma população de 1.781 habitantes, distribuídos pela freguesia de São Lourenço dos Órgãos (INE 2005) O Concelho de Ribeira Grande, com uma área de 164, 4 km 2, situada na zona sul da ilha, com uma população de 2983 habitantes distribuídos pelas freguesias de Santíssimo Nome de Jesus e São João Baptista. ( INE 2005)

6 Quadro n. l - Distribuição dos Concelhos e freguesias da Ilha de Santiago Concelho Área Superficial (km2) Freguesia N Populacional Total Ambos os Sexos Masculin o Feminin o Tarrafal 112.4 Santo Amaro Abade 17788 7904 9880 17788 Santa Catarina 214.2 Santa Catarina 40657 18415 22242 40657 São Salvador do Mundo 28.7 São Salvador do Mundo 9172 4148 5024 9172 São Miguel 90.7 São Miguel Arcanjo 16104 7114 8990 16104 Santa Cruz 109.8 São Tiago Maior 25184 11861 13325 25184 São Lourenço dos Órgãos 39.5 São Lourenço dos Órgãos 7781 3667 4114 7781 São Domingos 137.6 São Nicolau Tolentíno 8715 4187 4528 13305 Nossa Senhora da Luz Praia 96.8 Nossa Senhora da Graça 4590 2214 2376 97240 46567 50673 97240 Ribeira Grande 164.4 São João Baptista 4730 2169 2561 4730 Santíssimo Nome de Jesus 2983 1447 1536 2983 Fonte - Instituto Nacional de Estatística (2005).

7 1.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS O clima de Santiago tem as mesmas características que a do arquipélago de Cabo Verde. È do tipo árido e semi-árido com uma temperatura média de 25ºC e irregularidade de precipitações. O clima de Santiago apresenta duas estações distintas: A estação das chuvas ou tempo das águas que compreende os meses de Agosto a Outubro, é a mais quente com chuvas irregulares e encontra-se ligada a deslocação da frente de convergência inter-tropical. A estação seca ou tempo das brisas que vai de Dezembro a Junho, é mais fresca e seca na qual predomina a acção dos ventos álisios de Nordeste. Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição. A precipitação concentra-se num curto intervalo de tempo na maioria das vezes muito irregular ou nula, apesar da humidade relativa atingir valores elevados. Esta irregularidade, a partir de 1968, com casos de nula precipitação por exemplo nos anos de 1972 e 1977. A forma de relevo, muito montanhosa, influência bastante o clima. Pode-se definir vários tipos de climas locais, devido a combinação do efeito da altitude com a da orientação das massas do relevo em relação aos ventos dominantes. Aridez no litoral humidade e vegetação nos pontos altos, precipitação na vertente oriental, escassez de humidade na vertente ocidental. Verifica-se que a medida que se caminha para o interior, o tipo árido do litoral passa para semi-árido e semi-humido a húmido ( Ilídio do Amaral, Santiago da Cabo Verde, A terra e os Homens). O clima da ilha de Santiago de acordo com o trabalho de F. Reis Cunha, relativamente ao regime térmico, divide-se em três grupos: Clima litoral, como o da Praia, Achada baleia, Tarrafal e São Tomé. Clima de altitude, como o do Pico de Antónia, Santa Catarina e Serra Malagueta. Clima de vertente, não exposta aos ventos alísios como Principal e Boa Entrada. A temperatura é praticamente uniforme, com humidade relativa elevada, amplitudes térmicas pequena, sendo as médias de 6 a 8 graus. O relevo é um factor determinante, proporcionando o surgimento de microclimas em determinados vales do interior, nomeadamente Órgãos, São Domingos, Picos e Principal.

8 Segundo estes parâmetros, distinguem-se as seguintes zonas climáticas: Zona árida, situada a uma altitude abaixo dos 100m e precipitações inferiores a 250mm. Zona semi-árido situada na faixa dos 100 aos 200 metros e precipitações que variam entre 250 a 400mm. Zonas húmidas, de altitude acima dos 500 metros e precipitações superiores a 500mm. Essa precipitação varia conforme a exposição das vertentes em relação aos ventos alísios, sendo maior nas vertentes e nas zonas altas ( Serra Malagueta e Picos de Antónia), favorecendo a prática de agricultura de sequeiro, à margem das florestas. 1.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS De acordo com Manuel Monteiro Marques (1990), na ilha de Santiago da República de Cabo Verde, consideram-se sete unidades geomorfológicos, nomeadamente: Achadas meridionais (I) Maciço montanhoso do Pico de Antónia (II) Planalto de Santa Catarina (III) Flanco oriental (IV) Flanco ocidental (V) Maciço montanhoso da Malagueta (VI) Tarrafal (VII) A altitude média da ilha é de 278,5 m, sendo a altitude máxima de 1392 m (Pico de Antónia). A sul destaca-se uma série de achadas escalonadas entre o nível do mar e 300 a 500 m de altitude. A oeste o litoral é normalmente escarpado e a leste é baixa e constituído por achadas. No centro da ilha localiza-se o extenso planalto de Santa Catarina, que se situa entre 400 e 600 m de altitude. Limitando a sul e a norte aquele planalto erguem-se, respectivamente, os maciços montanhosos do Pico de Antónia e da Malagueta, cujos cimos ultrapassam os 1000 m.

9 A oeste, o flanco do planalto de Santa Catarina é extremamente declivoso até ao mar; a leste, o flanco oriental inicia-se por encostas alcantiladas, mas os declives médios vão-se adoçando bastante até às achadas litorais. No norte da ilha, destaca-se o Tarrafal, extensa região de achadas cujas altitudes variam entre 20 e 300 m, que se desenvolvem a partir do sopé setentrional do maciço montanhoso da Malagueta, devendo-se destacar a plataforma de Chão Bom, Tarrafal, cujas altitudes variam entre 0 a 20 m. Neste relevo variado e bastante movimentado insere-se uma rede hidrográfica de regime temporário relativamente densa e, na grande maioria dos casos, correndo em vales encaixantes cujos talvegues apresentam perfil longitudinal torrencial. Nesta paisagem, sobressaem os traços terminais dos vales principais das bacias hidrográficas mais importantes cuja forma terminal em canhão é vulgar, isto fundamentalmente nos traços que cortam as achadas, tanto nos litorais como nos planaltos do interior da ilha. Esta forma de vale é devido a estrutura colunar que afecta as escoadas lávicas.

10 fig. 1 Grandes unidades geomorfológicas Fonte: Grarcia de Horta, Sér. Est. Argon., Lisboa, 17 (1-2), 1990, 19-29

11 1.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS A ilha de Santiago é de origem vulcânica formada essencialmente por formações vulcânicas com predominância de rochas basálticas e produtos piroclásticos (brechas, lapilli e tufos). Há rochas de vários tipos de formação geológica de idades diferentes. As mais antigas encontram-se em áreas desnudadas normalmente no leito das ribeiras. As rochas afaníticas abrangem a maior parte da ilha, enquanto que as faneríticas ocupam pequenas áreas, entre as rochas afaníticas os produtos de origem explosiva têm importância reduzida, ocupam os derrames a maior extenção. Observam-se filões com frequência, mas a sua presença é mais vincada nas formações antigas. Devido às oscilações do nível do mar, encontram-se derrames que se originaram abaixo da água do mar. Caracterizando a origem das diversas formações, pode-se afirmar que os derrames basálticos foram os primeiros a serem projectados. Em seguida, as formações de rochas fonolíticas e traquíticas formaram chaminés, domas e filões que vieram a ser seguidos de uma erupção das rochas basálticas. Podem-se observar rochas calcárias depositadas sobre parte do litoral ocupada por rochas basálticas que se encontram submersas. Com o levantamento posterior da ilha houve actividade vulcânica manifestada pela presença de mantos basálticos que cobriram as rochas calcárias e de filões que atravessaram as referidas rochas vulcânicas. 1.5. SEQUÊNCIA VULCANO-ESTRATIGRÁFICO Os trabalhos realizados por António Serralheiro, que conduziram à elaboração e publicação da carta geológica nas escalas de 1/25000 e 1/100000 e a respectiva Notícia Explicativa, permitiram estabelecer a sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago, que tem servido de suporte básico para os trabalhos de hidrogeologia e recursos hídricos. Também se poderá salientar a contribuição dada pelo Estudo geológico, petrológico e vulcanológico da ilha de Santiago (Cabo Verde) da autoria de C. A. Mota Alves, J. R. Marcelo, L. Celestino Silva, A. Serralheiro e A. F. Peixoto Faria (1979) no reforço dos

12 conhecimentos da sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago.É neste contexto que se passa a descrever as ocorrências dos acontecimentos geológicos, tomando como princípio do mais antigo (I) ao mais recente (X). I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA) é caracterizado apenas pela fácie terrestre, representada pelas seguintes subunidades. a) Complexo filoniano de base de natureza essencialmente basáltico (CA); b) Intrusões de rochas granulares silicatadas (Y); c) Brechas intravulcânicas e filões brechóides (B); d) Intrusões e extrusões fonolíticas e traquíticas (φ); e) Carbonatitos (CB). II. Conglomerados antiformação dos flamengos. III. Formação dos flamengos (λρ) formada por mantos, brechas e piroclástos, de natureza marinha. O maior afloramento dessa formação pode-se observar na Ribeira dos Flamengos e, daí o seu nome. IV. Formação dos órgãos (CB) apresenta duas fácies: terrestre e marinha. Na fácie terrestre observam-se depósitos de enxurrada e na face marinha, calcários e calcarenito fossilíferos. V. Formação lávica pós-formação dos órgãos constituída por rochas traquíticofonolíticas. VI. Sedimentos posteriores à formação dos órgãos (CB) e anteriores às lavas submarinas e inferiores do Complexo Eruptivo do Pico de Antónia. VII. Complexo Eruptivo do Pico de Antónia deste complexo fazem parte produtos resultantes das actividades explosiva e efusiva, subaéreos, que tiveram lugar em épocas geológicas diferentes. É constituído por duas fácies. A fácie terrestre apresenta as subunidades da mais antiga à mais recente: a) Série espessa, essencialmente de mantos e alguns níveis de piroclastos. b) Fonólitos, traquitos e rochas afins.

13 c) Tufo, brecha (TB). d) Mantos e alguns níveis de piroclastos. e) Piroclastos e escoadas. A fácie marinha apresenta, conglomerados e calcarenitos fossilíferos, mantos basálticos inferiores, calcários, calcarenitos, conglomerados e mantos basálticos superiores. VIII. Formação de Assomada (A) é constituída por mantos e piroclastos, ambos de natureza basáltica, fazendo parte da face terrestre. IX. Formação de Monte da Vacas (MV) corresponde à última manifestação vulcânica, constituída por cones de piroclastos basálticos e pequenos derrames associados na face terrestre. X. Fomações Sedimentares Recentes com duas fácies, em que na marinha tem-se areias e cascalheiras da praia, e a terrestre com aluviões, areias, dunas, depósitos de vertente e depósitos de enxurrada. 1.6. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS A ilha de Santiago tem recorrido a utilização de águas subterrâneas para abastecer as populações urbanas e rurais, para a agricultura, criação de gado e outras necessidades. Das águas provenientes da precipitação só 13% consegue infiltrar no subsolo para originar as águas subterrâneas. Uma grande parte escoa-se para o mar através do escoamento superficial, uma quantidade razoável evapora-se para a atmosfera, e apenas uma pequena quantidade infiltra-se em direcção ao C.E.P.A., através das fracturas e fendas, onde circulam e armazenam sob a forma das águas subterrâneas. Os principais pontos de águas inventariados são nascentes, furos e poços, com caudal honorário e diário muito variável, mas significativo. Os pontos de água encontram-se distribuídos por diversos concelhos, sendo a água extraída utilizada para diversos fins. A quantidade de água que se infiltra através das fendas e fracturas das rochas acaba por acumular no aquífero principal o C.E.P.A.

14 Através da observação do mapa da ilha de Santiago com as suas respectivas linhas de águas, notam-se três grandes zonas de drenagem, partindo do Pico de Antónia (Ilídio de Amaral, in A ilha de Santiago a terra e os homens ): Do Pico de Antónia em direcção à Baia de Santa Clara. Do Pico de Antónia para a Ponta Prinda. Do Pico de Antónia à Baia de Medronho.

15 Fig 2 Mapa da rede hidrográfica de Santiago Fonte: Santiago de Cabo Verde, A Terra e os Homens, Ilídio do Amaral, 1964

16 1.7. UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS Estudos hidrogeológicos permitiram chegar à conclusão da possibilidade da existência de três grandes unidades hidrogeológicas: I. Unidade Recente constituída pela formação do Monte da Vacas (MV), formada por cones de piroclastos e alguns derrames associados. É a unidade bastante permeável e que privilegia a infiltração da água em direcção ao aquífero principal. II. Unidade Intermediária constituída pelo Complexo Eruptivo do Pico de Antónia (PA) e Formação da Assomada. A formação do Pico de Antónia é formada fundamentalmente por mantos basálticos subaéreos intercalados por piroclastos e mantos basálticos submarinos. Essa é a formação mais extensa constituindo, deste modo, o aquífero principal. Tem um coeficiente de armazenamento relativamente elevado, se a compararmos com as unidades de base, devido a facturação vertical, a porosidade e a permeabilidade. Também se inclui nesta unidade a Formação de Assomada. III. Unidade de Base formada pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), Formação dos Flamengos (P), e Formação Conglumerática Brechóide (CB). Esta unidade comporta-se como unidade impermeável, porque possui boa percentagem de argila que não permite a infiltração da água. É constituída pelas formação mais antigas que têm maior percentagem de argila.

17 CAPÍTULO II CARACTERIZAÇÃO GERAL DO CONCELHO DO TARRAFAL 2.1. LOCALIZAÇÃO E DIVISÃO ADMINISTRATIVA Concelho do Tarrafal foi criado em 1917 pelo decreto-lei nº3108-b de 25 de Abril, publicado no supremo nº3 do B.O. nº 25 em 1917, provocando a sua desintegração do concelho de Santa Catarina, que até 1912 tinha a sua sede na Vila do Tarrafal. O concelho do Tarrafal fica situado no extremo norte da ilha de Santiago, a uma distância de 70 Km 2 da cidade da Praia (capital do país), ocupa uma área de 112,4 km 2 o que representa cerca de 11% da área total da ilha de Santiago e cerca de 2,8% do território nacional. Encontra-se confrontado a sudoeste com o concelho de São Miguel e a Sudeste com o concelho de Santa Catarina. Com a elevação da freguesia de São Miguel à categoria de concelho, em 1997, Tarrafal passa a abarcar apenas o espaço territorial da freguesia de Santo Amaro Abade. Segundo o Censo 2000 o concelho conta com uma população que ronda os 17.784 habitantes, distribuído administrativamente pela única freguesia, a do Santo Amaro Abade constituídas por vinte localidades, sendo a Vila do Tarrafal (Mangue) a sede do concelho.

18 Quadro2. População segundo as localidades A. Biscaínhos 128 107 235 1,3 A. Lagoa 108 74 182 1,0 A. Longueira 436 289 725 4,0 A. do Meio 151 120 271 1,5 A. Mairão 401 270 671 3,7 A. Tenda 639 474 1113 6,2 Biscaínhos 429 295 724 4,0 Chão Bom 2446 2073 4519 25,4 Curral Velho 207 162 369 2,0 Fazenda 86 56 142 0,7 F. Muita 123 105 228 1,2 Lagoa 102 87 189 1,0 Mato Brasil 123 87 210 1,1 Mato Mendes 197 126 323 1,8 Milho Branco 140 95 235 1,3 Ponta Lubrão 212 148 360 2,0 Ribeira da 503 411 914 5,1 Prata Ribeirão Sal 45 31 76 0,4 Trás-os- 309 246 555 3,1 Montes Vila do 3110 2662 5772 32,4 Tarrafal 2.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS No que se refere aos aspectos climáticos, sendo o concelho de Tarrafal uma das partes integrantes da ilha de Santiago, não escapa a influência dos factores que condicionam o clima do arquipélago de um modo geral e particularmente o clima de Santiago. Mas, por outro lado, sendo Tarrafal uma região específica da ilha, com todas as suas características próprias, torna-

19 se necessário destacar os factores que de uma forma ou de outra, influenciam o clima desta região norte da ilha. O relevo e a disposição das vertentes em relação aos ventos dominantes, são factores decisivos na determinação do clima do concelho do Tarrafal, pois, sendo uma região baixa, a disposição do relevo, principalmente do Monte Graciosa, contribui grandemente para a diminuição do aridez. Devido ao factor do relevo há predominância de microclimas áridos e semiáridos no concelho. Constata-se que à medida que aumenta a altitude, também se verifica um aumento da pluviosidade e, consequentemente, uma diminuição considerável de aridez. Á semelhança do que acontece noutros concelhos do arquipélago, no Tarrafal, as chuvas distribuem-se de uma forma bastante irregular, criando um contraste vigoroso entre as zonas altas e os litorais, caracterizadas por duas estações bem definidas: A estação das chuvas ou das águas, que vai de Agosto a Outubro, em que as chuvas são irregulares e estão intimamente ligadas as migrações da C.I.T. (convergência inter tropical). A estação seca ou das brisas, que vai de Dezembro a Junho, a mais fresca e seca, em que há predominância da acção dos ventos alísios de nordeste que, de uma maneira geral, sopram todo o ano. Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição. 2.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS Com base na publicação da obra de Ilídio Amaral (1964), Santiago de Cabo Verde, a terra e os homens, a área do Tarrafal, com uma altitude média de 150 metros, é dominada por relevo de altura variável, desde os pequenos cones de dezenas de metros à enorme cúpula Monte Graciosa. Situado no extremo nordeste do concelho, possui uma cota máxima de 643 metros o que lhe atribui o título da terceira grande elevação da ilha de Santiago. As principais elevações do concelho do Tarrafal são as seguintes: Monte Graciosa, de aspecto esbranquiçado, estende-se de leste para oeste, desde Achada Biliar à Baía do Tarrafal. As suas vertentes são bastante declivosas, sendo

20 difícil a sua subida aos pontos mais altos. A vertente mais a sul apresenta aspectos variados com alguns esporões do lado da baía. Monte Costa, com 336 metros de altitude. Monte Matamão, com 360 metros de altitude, ambos situados a leste do Monte Graciosa, apresentando cones bastante erudidos e de materiais bastante alterados. Monte Vermelho, com cerca de 296 metros de altitude. Monte Furna, com 222 metros de altitude. Monte Covado, com 281 metros de altitude. Monte Achada Grande, com 260 metros de altitude. De toda a extensão territorial do concelho do Tarrafal, é de realçar as duas formas de relevo de capital relevância que são respectivamente: Monte Graciosa. Caldeira de Sevilha (situada junto à localidade de Ribeira da Prata, a única bem conservada). Das depressões mais importantes destacam-se as seguintes: Ribeira da Fontão Ribeira Grande. Ribeira de Lebrão. Ribeira de Fazenda. Ribeira de Porto Formosa. Ribeira de Cuba. Ribeira Biscainhos, etc. Entre as achada mais importantes destacam-se: Achada Bilim. Achada Tenda. Achada Porto. Achada Carreira. Achada Tomás. Achada Biscainhos. Achada Boi.

21 Achada Grande. Achada Chão Bom. Achada Cuba 2.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS No concelho do Tarrafal, as formações predominantes são as rochas basálticas subaéreas e submarinas. Mas torna-se necessário por em evidência as rochas traquifonolíticas cujo testemunho é o Monte Graciosa. Ainda é de assinalar a presença de rochas sedimentares, com especial destaque para os afloramentos de calcarenito e areias de origem calcárias, nas praias e nas ribeiras. Como é natural em todas as ribeiras há presença de aluviões e, na parte terminal, areia e cascalheiras da praia. A sequência estratigráfica é estabelecida da mais antiga à mais recente, de acordo com as descrições que se seguem: I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), encontra-se distribuída de uma forma bastante dispersa. Observa-se, principalmente, no farol de Ponta Preta, Chão de Arruela e Baía de Angra. II. Formação dos Flamengos (P), pode ser observada em pequenos retalhos na zona Ponta Preta e Ponta Bicuda. III. Formação dos Órgãos (CB), pode ser observada, principalmente, os depósitos de fácie marinha nas escarpas do mar do Tarrafal. Nota-se claramente nas partes do litoral os conglomerados brechóides marinhos estabelecendo contactos com mantos basálticos submarinos. Na ribeira de Fontão pode-se observar calcarenitos fossilíferos e na Ponta Lanche Grande aparecem os calcarenitos marinhos. IV. Complexo Eruptivo Principal (PA), constitui a unidade mais espessa e mais extensa. Algumas ribeiras de profundidade espectacular foram cavadas nesta formação ( é no concelho do Tarrafal que se encontra a maior representação de fonólitos e traquitos na ilha de Santiago).

22 V. Formação do Monte da Vacas (MV), esta formação encontra-se representada por cones de piroclastos evidenciando a fase explosiva. Estes materiais estão alterados apresentando, por isso, a cor avermelhada. Exemplos de cones que fazem parte desta formação: Monte Covado, Monte Contador, Monte Vermelho, etc. VI. Formação de Sedimentos Recentes, constituída por duas fácies marinha e terrestre, sendo a terrestre formada por aluviões, dunas, depósito de vertentes, de enxurrada e a fácie marinha com areias e cascalheiras da praia. 2.5. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS A hidrogeologia é a parte da hidrologia que se ocupa do armazenamento de água terrestre na zona saturada das formações geológicas. Os recursos hídricos utilizados no concelho do Tarrafal, à semelhança do que acontece em todas a ilha de Santiago, provêm das águas subterrâneas que são alimentadas pelas precipitações que caem na época chuvosa, embora de uma forma irregular. A principal rede de drenagem do concelho parte do maciço montanhoso Serra Malagueta que é o segundo maior da ilha logo a seguir a do Pico de Antónia. De acordo com as características das formações geológicas, dos inventários de pontos de águas, sondagens mecânicas e ensaios de bombagem é possível estabelecer provisoriamente, um esquema hidrogeológico geral do concelho. Assim, com os trabalhos realizados e os dados disponíveis, foi possível estabelecer as seguintes unidades hidrogeológicas: I. Unidade de Base, esta unidade é constituída pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), Formação dos Flamengos e Formação dos Órgãos. Estas formações caracterizam-se por possuírem uma alta percentagem de argila, elevado grau de alteração, baixa permeabilidade e capacidade de infiltração reduzida. Tendo em conta estas características, o caudal desta unidade torna-se pouco expressivo. II. Unidade Intermédia composta pela Formação do Complexo Eruptivo (PA) à qual se associa a Formação de Assomada (A). É uma unidade extensa e a mais espessa. Constitui o principal aquífero da ilha, visto que a porosidade e a permeabilidade são

23 elevadas, contrariamente à Unidade de Base. A fracturação vertical e a expessura considerável do conjunto ocupam dezenas de metros fazendo desta unidade o aquífero principal. III. Unidade Recente, esta unidade é constituída pela Formação do Monte das Vacas (MV) que é essencialmente formada por cones de piroclastos e alguns derrames associados. Caracteriza-se por possuir forte permeabilidade, permitindo a infiltração e a chegada da água à formação de Pico de Antónia (PA).

24 CAPÍTULO III A SITUAÇÃO DE EXPLORAÇÃO DE GEORECURSOS NA ZONA NORTE DE SANTIAGO A exploração e o consumo dos georecursos tem sido o rendimento económico o sustento de muitas famílias, por outro lado é motivo de preocupação por parte das autoridades competentes, que vê o futuro ambiental em risco por causa dessa actividade executada de uma forma desproporcional e na maioria das vezes clandestino. È notável a erosão causada nos leitos das ribeiras, nas praias de mar e também nos cones de piroclastos, devido a extracção desses recursos de forma desorganizada que acaba colocando em risco o equilíbrio ambiental prejudicando a própria população de uma forma directa ou indirecta. Normalmente, na maioria das situações, esta actividade apresenta um carácter tradicional, onde a extracção é feita de forma artesanal em que a maioria dos apanhadores, já com uma certa idade, exercem esta profissão cujo prática vem sendo transmitidos aos adolescentes. Devido ao crescimento demográfico acelerado, há uma grande procura destes produtos para a construção de aldeias, vilas e cidades. Este sector de carácter primitivo vem complementando o mercado destes materiais, permitindo, assim, que um número significativo da população pobre e desempregada, especialmente mulheres chefes de família, integre a equipa de exploração. Vários são os materiais extraídos, nomeadamente rocha para alicerces, calçada (pavimento), brita, cascalho, areia e jorra para a construção civil etc.

25 Tipo de Material Areia (apanha no mar) - Tarrafal Areia de ribeira Tarrafal Quadro3 - Preço de inertes extraídos na Zona norte da ilha de Santiago Produção Actual Pedra/dia Produç ão Actual Areia/d ia Produção Actual Brita/dia 3 carrada s/mês Preço /Carrada Pedra Preço /Carrad a Areia Preço/ Carrada Brita Emprego Directo Nº de Pessoas 5 10 000$00 mulheres 2 6 500$00 mulheres Localização Ribeira da Fazenda Ribeira de Chão-Bom Brita de ribeira 2 000$00 6 mulheres Ribeira de Chão-Bom Tarrafal Areia (apanha no mar)- 3 carrada s/mês 8 000$00 > 100 Ribeira-da- Prata Tarrafal Areia (apanha no mar)- 3 carrada s/mês 8 000$00 > 100 Ribeira-da- Prata Tarrafal Brita de ribeira- Tarrafal 4 carradas /mês 7 000$00 13 mulheres Ribeira-da- Prata

26 É de se realçar que, se por um lado, estas práticas de exploração contribuem para responder às necessidades do sector imobiliário, por outro, não compensa os graves problemas ambientais e ecológicos provocados pelas consequências nefastas para o solo, vegetação, água subterrânea e água superficial. Portanto, a amplitude dos impactes ambientais e económicos da extracção dos georecursos é de considerar. Pois, a destruição dos recursos paisagísticos, a salinização do lençol freático nas zonas agrícolas, a destruição de praias com potencialidades turísticas, bem como a destruição de habitats das espécies marinhas são bem visíveis em todos os espaços ecológicos onde se faz a extracção. Por isso, torna-se necessário e urgente estudos de orientação que remedeiam e recuperem estes distúrbios paisagísticos. A indústria mecânica de britagem poderá constituir uma alternativa credível na solução da apanha de areia, contribuindo de forma positiva na recuperação dos espaços, actualmente, degradados, concertando, deste modo, a dinâmica do sector das construções de imobiliárias com o funcionamento ambiental. 3.1. CONDIÇÕES AMBIENTAIS EM CABO VERDE As condições ambientais em cabo verde estão condicionadas por alguns factores como: O clima; A seca; A perda do solo; Aumento demográfico, Más práticas agriculas, etc. O crescimento demográfico tem contribuído para o aumento da procura de terrenos para construção nas zonas urbanas e suburbanas, provocando especulação do preço das terras e pressão sobre inertes especialmente areia das praias e a perda do solo devido a erosão hídrica e eólica é considerada um problema ambiental mais crítico em cabo verde. Estes danos causados ao ambiente têm sido uma das preocupações para o governo cabo-verdiano, por isso as autoridades competentes têm dado os seus contributos avaliando os Impactes Ambientais, e as técnicas e métodos de minimizar os danos.

27 A nível da Geológico Ambiental o contributo faz-se ao: entender os ecossistemas, os grandes ciclos como um todo, bem como as inteirações multidirecçionais; definir as formas de prevenção e previsão dos processos naturais; identificar os elementos em riscos, exposição e a vulnerabilidade dos sistemas humanizados; participar na determinação das qualidades e dos equilíbrios ecológicos, bem como as vulnerabilidades. 3.2. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GEORECURSOS Em Cabo Verde ainda não foram encontrados jazidas de minerais metálicos economicamente exploráveis, mas em contrapartida há uma ocorrência generalizada de grandes jazidas de minerais não metálicos como, areia, piroclastos, britas e outras rochas com muito interesse económico no domínio da construção civil. Os jazidos de minerais não metálicos que são explorados são as matérias primas para a construção civil, como: Basaltos; Areias; Piroclastoas; Cascalheiras das praias e das ribeiras. O aumento demográfico dos últimos tempos provocou a necessidade de uma expansão urbana e consequentemente houve um aumento (crescente) na procura de matéria-prima, aliada a uma maior capacidade tecnológica da extracção, teve como consequência visível um aumento do número de pedreiras que, na maioria das vezes, provocam agressões ambientais, por demais evidentes na paisagem, e um agravar de problemas no domínio da poluição principalmente relacionada com a água subterrânea e superficial.

28 No período de desenvolvimento que a sociedade cabo-verdiana se encontra, a preservação do recursos naturais tem sido uma das preocupações, mas não há um programa que planeia um crescimento económico tendo em conta a preservação do meio ambiente. Deste modo, tendo em conta toda a degradação provocada pela exploração de georecursos, tanto ao nível dos impactes físicos como sociais, torna-se necessário fazer-se uma monitorização pelos órgãos de planos de recuperação ambiental e órgãos da própria sociedade civil, bem como pela comunidade científica. 3.3. EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS EXPLORAÇÃO TRADICIONAL A exploração feita na zona norte da ilha de Santiago é de uma forma rudimentar e tradicional. Faz-se exploração de britas, areias, rochas basálticas nas pedreiras etc. Esses materiais são usados na construção de casas, estradas, pontes e outros. A exploração é feita com o objectivo de aproveitar os recursos naturais, como forma de resolver o problema da sobrevivência e bem estar de um grupo de pessoas. Portanto, a exploração tradicional constitui uma visão real do quanto é possível fazer, numa luta de sobrevivência, tendo em conta as suas consequências nefastas, em muitos casos, para o meio ambiente. Por isso, não deverão, obviamente, ser confundidas como uma abordagem do tipo "Melhor Método Disponível". Na exploração são utilizados materiais rudimentares como pá, picareta, enchada, martelo, balde etc. As pessoas encontram-se vestidas de uma forma não adequada, não usam, capacetes, botas luvas e outros vestuários adequados. Por isso correm o riscos de se magoarem facilmente. No método tradicional não há preocupação da conservação do solo. Observa-se uma destruição total do solo arável e de culturas existentes nas áreas, bem como as árvores, afectando também a flora local devida a destruição de habitats, dificultando assim a sua posterior recuperação.

29 Nestas explorações são visíveis a produção de grandes quantidades de materiais que posteriormente serão utilizados na construção rural (muretas, diques, banquetas), na construção de casas, estradas, etc. Em termos geomorfológicos estas actividades alteram significativamente a morfologia dos solos, modificando a correlação das forças físicas que governam os processos. Alteram ainda, a morfologia da paisagem natural, onde é frequente a presença de covas abandonadas pela extracção, que conjuntamente com o tráfego de veículos de transporte e no funcionamento no local, constituem factores responsáveis pela poluição sonora e visual.

30 CAPÍTULO IV EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS EM TARRAFAL 4.1. PIROCLASTOS Os piroclastos são rochas magmáticas, pertencente a fase explosiva das actividades vulcânicas. Encontram enquadrados na formação dos Montes das Vacas, que é a penúltima formação do quadro estratigráfico da ilha de Santiago, também considerada como formação mais permeável da ilha. É um material muito permeável, não retém água devido as suas características, apresenta uma cor negra quando não são alterados, e uma cor avermelhada quando sofrem erosão ou alteração. Os cones de piroclastos alterados não são explorados porque não servem para a construção civil, ou seja, não são utilizados como matéria prima para a construção de blocos porque produzem blocos podres e nem na produção de massa para o betão das casas. O cone vulcânico actualmente a ser explorado na zona norte é o monte Achada Grande, embora exista outros, mas devido ao alto grau de erosão não são explorados. O monte Achada Grande é um cone de piroclastos com 260 metros de altitude, os piroclastos são de boa qualidade apresentam pouca percentagem de erosão. Fig.3- Estado actual do Cone de piroclastos Achada grande, Tarrafal- ilha de Santiago

31 São explorados por cerca de dez grupos de pessoas, em cada grupos encontram-se três pessoas, que por dia abastece um camião. Cada camião custa 4500 escudos, o abastecimento é feito aos camiões oriundos de Santa Cruz, Assomada, Calheta etc. O piroclástos na ilha de Santiago são utilizados como matéria prima na produção de blocos. No Tarrafal há quatro pistas de blocos a serem abastecidos, duas em Chão Bom e duas na Vila do Tarrafal. Fig.4- Degradação ambiental provocada pela exploração de piroclastos do Monte grande A exploração que se faz é a tradicional, onde as pessoas correm muitos riscos, principalmente na época das chuvas, onde pode haver desabamento de terras e blocos. Também o equipamento e os materiais utilizados são rudimentares. Na extracção utiliza-se pá, balde, carrinho, picareta, garfo, etc. Essa exploração é da inteira responsabilidade das pessoas que a fazem, a Câmara Municipal não licencia a exploração. 4.2. AREIA A exploração de areia é, sem qualquer sombra de dúvida, a actividade mais crítica no domínio de extracção de georecursos. A areia é uma rocha sedimentar constituída por partículas com granulação inferior a 2mm de diâmetro.

32 Em Cabo Verde encontrámos dois tipos de areia, uma de cor escura que é a areia basáltica (originada a partir da erosão do basalto) outra de cor clara que é a areia calcária (originada a partir da erosão do calcário). A extracção de areia representa uma actividade que envolve um ambiente muito complexo, pois pode provocar desequilíbrios ambientais irreversíveis a curto, médio e longo prazos. A extracção feita tanto nas praias como nos leitos das ribeiras, provocam desequilíbrios dos processos biológicos tanto na flora como na fauna, bem como na criação de condições de salinização do meio terrestre ( intrusão salina). Fig.5 -Mulheres apanhando areia na Ribeira das Pratas, Tarrafal ilha de Santiago A extracção de areia, como se constata, interfere directa ou indirectamente sobre as características ambientais da área, como a remoção da cobertura vegetal que provoca a desagregação dos solos, com consequentes danos do meio físico, que por sua vez facilita os processos de inundação bem como as acções erosivas, a poluição hídrica, sonora e atmosférica. Portanto, é notório as suas consequências nos vales e terrenos antes bastante produtivos, que se tornaram improdutivos, com impacte directo sobre os rendimentos das populações rurais e na segurança alimentar no país. Por outro lado, apanha de areia nas linhas de água e na orla marítima estão sendo realizadas de uma forma desproporcional, contribuindo assim para facilitar o processo de intrusão salina, destruição de habitat, e consequentemente desaparecimento de algumas espécies.

33 4.3. BRITA A procura da areia e brita tem vindo a aumentar a nível nacional. Um dos grandes problemas ecológicos da sociedade cabo-verdiana contemporânea é a extracção de areia e britas nas praias com consequências nefastas para os nichos ecológicos de espécies marinhas e aves, bem como para a paisagem natural. È necessário que haja uma alternativa para impedir as consequências desagradáveis dessa actividade. Devido ao ritmo acelerado do crescimento populacional na ilha de Santiago, o ritmo de construção civil aumentou. Por isso, convém realçar que o consumo de brita variou de 53 856 toneladas para 170 963 toneladas de 1985 a 1995, e que no mesmo período o consumo de areia varia de 173 959 toneladas para 552 224 toneladas. O consumo associado de britas e areia foi de 227 815 toneladas em 1985 e 723 187 toneladas em 1995. Ainda prevê-se, portanto, que o consumo de georecursos venha aumentar cada vez mais num horizonte muito curto. Em relação ao Tarrrafal pode-se observar o estado degradado da ribeira do Chão Bom e das praias, devido a extracção que se fazem de uma forma desorganizada. O objectivo dessa prática é arranjar meios de sobrevivência e material para construção das casas. Na ribeira de Chão Bom todas as pessoas têm a liberdade de fazer a exploração, tendo em conta que é um meio de sobrevivência, esquecendo-se do impacte ambiental que essa prática possa vir a ocorrer. Fig.6 estado de exploração no leito de uma ribeira, Chão-Bom - Tarrafal - ilha de Santiago È necessário tomar as medidas certas e no tempo certo para impedir essas práticas,;uma das medidas é a implantação da indústria mecânica de britagem que poderá constituir uma alternativa credível na solução da apanha de brita, contribuindo de forma

34 positiva na recuperação dos espaços actualmente degradados, concertando, deste modo, a dinâmica do sector das construções de imobiliárias com o funcionamento ambiental. Por outro lado, a constituição de pedreiras, como indústria de georecursos (inertes), poderá lançar no mercado de construção civil algum material com qualidade e características, embora diferentes, em termos de granulometria, daqueles que são recolhidos nas praias. 4.4.BASALTO O basalto é uma rocha magmática vulcânica, que pertence predominantemente a formação do Pico de Antónia (PA), formação de Assomada. Em Cabo Verde é a rocha mais abundante, e o seu modo de jazida, facilita a sua extracção. Por isso é uma das rochas mais exploradas em Cabo Verde. No concelho de Tarrafal, na entrada do Mangue podemos observar uma pedreira em que se faz a extracção do basalto. Faz-se a extracção de uma forma tradicional, sem utilização de explosivos nem máquinas, devido ao seu modo de jazida dijunção colunar, que facilita a sua extracção. As pessoas que fazem a extracção, não tem recursos para compra de materiais adequados, utilizam martelo, picareta, pá etc. Se extraí-se uma pequena quantidade de material que é vendido às próprias pessoas da vila. Fig.7- Dejunção colunar modo de jazida explorado na pedreira localizada no Mangue. A localização da pedreira não é adequada porque fica perto das casas, o que não é aconselhável, devido aos problemas que pode causar a população, como o ruído, as poeiras a deformação na paisagem visual, etc.

35 As autoridades competentes, muitas vezes não tomam uma iniciativa para acabar com essas práticas porque vêm isso como um meio de sobrevivência para os que executam tais acções. 4.5. ASPECTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS COM A EXPLORAÇÃO DE GEORECURSOS O crescente aumento das necessidades de georecursos para a construção civil provocou um aumento progressivo na exploração de pedreira, tornando cada vez mais agravante o problema que esta constitui para o meio ambiente. Os impactes ambientais negativos associados à exploração de pedreiras podem ocorrer nas seguintes fases: Antes da exploração; Durante a exploração; Após a exploração; A existência de uma pedreira provoca sempre problemas ambientais relacionados com: O solo; Agricultura, Alteração das linhas de água, Ocupação humana Destruição da paisagem. A exploração provoca sempre perturbações nas fases preliminares, nomeadamente, pela destruição do coberto vegetal e pela remoção de terras de cobertura, em alguns casos, o seu desaparecimento, estando frequentemente, associados a estas acções efeitos ambientais negativos, nomeadamente, a nível do ruído, produção de poeiras e afectação da rede de drenagem superficial etc. No decorrer da exploração o uso de equipamentos de extracção e a ocorrência de explosões em muitos casos não adequados provocam, muitas vezes, impactes ambientais negativos pela produção de níveis de ruído incómodos e pelas vibrações nas áreas envolventes, que se acentuam nos casos em que há ocupação humana.

36 Durante a exploração, há produção de poeiras associada ao processo de extracção e ao intenso movimento dos camiões de transporte dos materiais na área afectada. São também impactes negativos que, frequentemente, caracterizam esta fase pelos efeitos nefastos nas populações, vegetação e linhas de água etc. Pode-se também considerar a ocorrência de derrames de produtos poluentes como óleos, que poderão contribuir para a poluição do solo e da água superficial e subterrânea. São, também, muito significativos os impactes visuais, com origem na exploração, pelo efeito do solo nu, depósito de materiais e equipamento. Fig.8 Degradação paisagística resultante da exploração de areia na Ribeira de Chão- Bom, Tarrafal, ilha de Santiago Após a exploração quase sempre tem-se a tendência de se abandonar o local, o que provocando impacte a nível paisagístico associado muitas vezes a geomorfologia. O abandono das frentes de exploração sem que sejam removidos os equipamentos e o edificado (oficinas e apoios sociais) e sem serem promovidos os necessários trabalhos de recuperação de solos e da paisagem. Este facto origina descontinuidade biofísica e é, também, foco provável de contaminação a vários níveis. As escavações abandonadas constituem, habitualmente, verdadeiras feridas na paisagem sendo também os impactes ambientais negativos muito significativos, associados aos inadequados usos dos antigos locais de exploração. Estes constituem, por vezes, autênticos depósitos de lixos e de resíduos diversos, bem como locais com problemas de segurança e de sinalização insuficientes ou até inexistentes. Esta última situação agudiza-se se considerarmos os desníveis topográficos.