Elaine ORTIZ 2 Fabíola Perez CORRÊA 3 Cicélia Batista PINCER 4 Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP



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Morte e Vida Severina: uma trilha contemporânea inspirada na narrativa poética de João Cabral de Melo Neto Homem, paisagem e transformação Livro-reportagem: Capibaribe Mesmo Rio: Outra Gente 1 Elaine ORTIZ 2 Fabíola Perez CORRÊA 3 Cicélia Batista PINCER 4 Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP RESUMO Inspirado na obra de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina: Auto de Natal Pernambucano, o projeto teve por objetivo estudar os elementos e o contexto histórico sob o qual foi pensado o jornalismo literário, com vistas à produção do livro-reportagem Capibaribe Mesmo Rio: Outra Gente. Para tanto, a revisão bibliográfica abordou estudos sobre narrativas de viagem como possibilidade de obtenção da perspectiva in loco, a estética da recepção como participação do receptor frente ao processo narrativo, e a gênese do New Journalism como recurso estilístico. A pesquisa etnográfica e o método histórias de vida foram adotados como suportes metodológicos. O trabalho permitiu concluir que a estética literária oferece possibilidades para a produção de uma narrativa jornalística contemporânea aprofundada, na medida em que respeita o tempo de produção. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Literário; Livro-reportagem; Morte e Vida Severina; Narrativas de Viagem. INTRODUÇÃO O livro-reportagem Capibaribe Mesmo Rio: Outra Gente surge a fim de narrar histórias do cotidiano dos habitantes que vivem nas regiões interceptadas pelo rio Capibaribe, no estado de Pernambuco. O referido rio já foi mote de inúmeras produções culturais, dentre elas, Morte e Vida Severina: Auto de Natal Pernambucano - obra poética mais popular de João Cabral de Melo Neto. O poema retrata a história de Severino, que a fim de chegar ao Litoral tem o rio Capibaribe como guia. No entanto, na descida, o personagem-protagonista só encontra morte no caminho e quando finalmente chega a Recife nota que seus esforços haviam sido nulos, pois, para ele, não havia meios de escapar 1 Trabalho submetido ao XVII Prêmio Expocom 2010, na Categoria Jornalismo, modalidade Livro-reportagem. 2 Jornalista graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-graduanda em Jornalismo Cultural, email: ortizelaine@terra.com.br. 3 Jornalista graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-graduanda em Jornalismo Político, email: fabiolaperez_101@yahoo.com.br. 4 Professora Mestre da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientadora do trabalho, email: cicelia@mackenzie.br. 1

da vida severina. A saga do personagem termina com o nascimento de uma criança a esperança então ressurge. No decorrer da estrutura dramática do poema Severino-personagem se transforma em adjetivo, passando a classificar a vida e a condição dos retirantes nordestinos em símbolo de miséria que, de tão concreta, despersonifica o homem transformando-o em apenas mais um dentre tantos, são iguais em tudo e na vida. A pobreza corrói o nome próprio assim como a subjetividade individual (PEIXOTO, 1983, p.90). O personagem trazido e criado por João Cabral de Melo Neto vivencia e apresenta ao leitor cenários, cotidianos e ações característicos do nordeste brasileiro das décadas de 1940 a 1960. Com uma distância de 55 anos, o mesmo personagem pernambucano constrói um novo cenário em acordo às características intrínsecas ao seu tempo. O livro-reportagem Capibaribe - Mesmo rio: Outra Gente narra as histórias de vida de forma a dar identidade aos personagens reais encontrados no trajeto, utilizando para isso, as ferramentas e as técnicas oferecidas pela atividade jornalística a partir de discussões em torno de seus distintos gêneros. Portanto, para o objetivo definido, vislumbrou-se o livroreportagem como o formato mais apropriado, já que é capaz de reunir as técnicas do novo jornalismo e se constituir como o meio mais adequado para a exposição de uma narrativa sólida, em profundidade e coesa, estruturada a partir da observação cotidiana. Nesse sentido, o jornalismo foi exercido como possibilidade literária de composição de uma narrativa híbrida, capaz de resgatar a vivência do mesmo personagem cabralino o nordestino pernambucano em um novo contexto. É o que o leitor vai encontrar ao longo das 193 páginas do livro-reportagem. Vivências e experiências de Severinos substantivos não adjetivos, contadas sob uma construção jornalística literária, na medida em que recursos narrativos e descritivos, incompatíveis com a pragmática jornalística, foram utilizados na constituição do texto. Para a concepção do livro-reportagem foi desenvolvido o projeto Morte e Vida Severina: uma trilha contemporânea inspirada na narrativa poética de João Cabral de Melo Neto Homem, paisagem e transformação. Nele, além da contextualização das características formadoras do estilo de João Cabral, aproximando-as do ideal de narrativa proposto pelo teórico da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, foram estudados seis eixos teóricos que abrangeram discussões a partir do tripé: jornalismo literário, narrativas de viagem e estética da recepção. Ao longo dos anos, as áreas do conhecimento que se constituem a partir da tentativa de representação social como o jornalismo e a literatura, também se reconfiguraram, transformando e adaptando as relações cotidianas. Assim, a 2

pesquisa buscou resgatar o papel do narrador-observador como elemento fundamental para a construção de uma narrativa viva e experimentada. 2. OBJETIVOS Para a viabilização do livro-reportagem Capibaribe Mesmo rio: outra gente fez-se necessário pensar o jornalismo como uma possibilidade de narrativa híbrida isto é, construída a partir da observação e captação da realidade, da percepção in loco 5 e da união do estilo informativo, característico da atividade jornalística, ao literário. Desse modo, chegou-se a seguinte problemática: como a obra ficcional, Morte e Vida Severina, pode inspirar a construção de uma narrativa jornalística contemporânea? Assim, pensando no Severino adjetivo caracterizado por Cabral, o projeto teve como objetivo geral refazer o caminho trilhado pelo personagem para então construir ao longo das páginas de um livro-reportagem uma narrativa acerca das histórias de vida das pessoas que habitam as regiões interceptadas pelo rio Capibaribe, em Pernambuco, de forma a dar identidade aos personagens reais encontrados ao longo do trajeto, utilizando para isso, as possibilidades oferecidas pelo gênero literário de jornalismo e pelas narrativas de viagens. Tendo como objeto de pesquisa definido o poema de João Cabral de Melo Neto, os personagens reais da região do Capibaribe e a atuação do narrador-jornalista no contexto atual, colocaram-se os seguintes objetivos específicos: a) estudar os conceitos históricos e recursos estilísticos do jornalismo literário, das narrativas de viagens e como se constituíram ao longo do tempo; b) conhecer aspectos principais da obra do poeta João Cabral de Melo Neto; c) levantar dados e informações sobre as características sóciogeográficas da região Nordeste e do estado de Pernambuco. 3. JUSTIFICATIVA O projeto de pesquisa coloca em debate determinadas questões-chave, como: o pensamento e a produção jornalístico-cultural do século XX e XXI, a hibridização do discurso jornalístico e, por fim, a relevância do relato de cenas cotidianas por meio do olhar-testemunho do narrador-jornalista. Estas questões encontram seu ponto de convergência no momento em que Severino, de adjetivação apresentada no poema Morte e 5 A observação e captação da realidade podem ser devidamente trabalhadas por meio das narrativas de viagem, já que funcionam como o meio que melhor contempla a interação e vivência dos viajantes em realidades distintas das que estão habituados a experimentar. 3

Vida Severina, ganha face transformando-se em substantivo no livro-reportagem Capibaribe Mesmo rio: outra gente. Para João Cabral de Melo Neto, a poesia é uma forma de exercer a crítica, por isso a admiração do autor pela poesia concreta. Em contrapartida, o jornalismo moderno, por ter como fundamento o compromisso direto com o factual, se apresenta como ferramenta mais eficiente para a tarefa 6, considerando que, ao reportar um evento presenciado, é capaz de se aproximar mais do real, já que esse é seu objetivo. Portanto, abordar e discutir o jornalismo e a possibilidade literária para a composição de uma narrativa híbrida é desafiante, na medida em que resgata pontos-de-vista clássicos e pós-modernos acerca das narrativas. Dessa forma, em um contexto global, a contemporaneidade se encarrega de transformar o lugar onde se configuram as relações, debates e discussões sociais emergindo, dessa maneira, um novo suporte que se caracteriza como lugar simbólico para as relações sociais. É nesse sentido que a narrativa pode ser tomada como forma de representação coletiva, como elemento criador e recriador de sociabilidades. A atividade jornalística encontra seu papel nessa discussão a partir do momento que se vale de possibilidades narrativas para compor seu discurso. De acordo com a perspectiva do crítico Walter Benjamin (apud RESENDE, 2002, p.10), adequada à configuração de um determinado período histórico-social 7, a narrativa tradicional jornalística não oferece espaço às histórias contadas, assim a prática de intercambiar as experiências cotidianas torna-se cada vez mais precária. Benjamin considera que com a intensificação e a solidificação do sistema capitalista a sociedade passa a protagonizar o início de um novo período e a experimentar em seu cotidiano as modificações sociais decorrentes. No jornalismo, nota-se a preponderância do gênero informativo em detrimento dos textos mais elaborados. Deste modo, imbuído da função informativa, o fazer jornalístico abandona gradativamente a riqueza e o caráter detalhista da narração. É a partir deste cenário que se torna válido apresentar a relação e a contribuição mútua entre jornalismo e literatura. As duas áreas do conhecimento se utilizam do trabalho do narrador para composição de seus discursos. Segundo Manuel Rivas, (apud Castro e Galeano, 2005, p.80), o jornalismo e literatura se assemelham como ofício. 6 Exceto pela experiência do realismo socialista, a poesia não tem como objetivo principal o retrato fiel da realidade. O próprio João Cabral de Melo Neto declarava que antes de conhecer a poesia de Carlos Drummond de Andrade julgava-se incapaz de fazer poesia, aproximando-se mais da crítica em prosa. (COUTO, 1994, p.7). 7 Como deixa clara no texto O Narrador (1992), Walter Benjamin adequa sua crítica ao papel do narrador de acordo com cada período e cada particularidade que nele se insere. 4

Deste diálogo, entre jornalismo e literatura, emerge a figura do narrador como ponto de convergência entre ambas as atividades. A literatura contribui para a narração jornalística emprestando seus recursos estilísticos e, por sua vez, a atividade jornalística confere visibilidade e notoriedade ao que está sendo contado. Nesse sentido, como alternativa à sofisticação e aprofundamento da produção jornalística surge o denominado New Jornalism gênero sob o qual se notabilizaram novas reportagens, propensas a abordar o interesse humano em todas as suas faces. No entanto, mesmo com todas essas mudanças surgidas durante a década de 1960, é apenas com a chegada do livro-reportagem que os literatos passam a rever o jornalismo. A fonte narrativa dos jornalistas que incorporaram o gênero foi a estética literária do realismo social, colocada em prática a partir de quatro recursos técnicos próprios: o ponto de vista, o registro fiel dos traços cotidianos, a descrição e o diálogo entre personagens. Deste período, destacam-se as principais técnicas literárias apontadas por Tom Wolfe. A partir dos anos 1980, a orientação mercadológica se sobressai como característica dominante em todos os âmbitos sociais. O mercado, de forma geral, passa a ocupar o lugar central na definição das relações de uma nova esfera pública, que se redesenha de acordo com as novas demandas e fluxos globais. A atividade jornalística não foi exceção às mudanças globais. Tomou-se como objetivo o alcance de uma produção efêmera destinada a saciar o consumo momentâneo do público leitor. Mesmo em um contexto de valorização do indivíduo e enfraquecimento dos laços sociais, a atividade jornalística continua se servindo do tecido social como matéria-prima para suas narrativas, tornando-a, consequentemente, um produto de seu tempo. 4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A pesquisa etnográfica permitiu a imersão dos pesquisadores na realidade dos personagens e foi utilizada por se tratar do método mais eficaz para a realização da observação atenta participante - tipo de estudo que possibilita o envolvimento com o objeto de pesquisa, e em alguns casos, tornando-se parte dele. A imersão do observador no cenário relatado aliada à observação atenta foram os métodos das ciências da comunicação que ofereceram subsídios suficientes para a produção de uma narrativa jornalística acerca do cotidiano dos habitantes que vivem nas regiões do rio Capibaribe, em Pernambuco. Tais conceitos foram colocados em prática a partir da proposta etnográfica de refazer o caminho trilhado pelo protagonista de Morte e Vida Severina. O aspecto que une todas essas regiões pernambucanas é a trilha do rio composta 5

por 250 quilômetros, porém, ainda que unidas pelo leito, as referidas regiões apresentam diferenças na paisagem geográfica que são responsáveis por determinar o modo de vida dos habitantes de cada uma das paisagens existentes (agreste, zona da mata e litoral). Seguindo o curso do rio, o método de investigação histórias de vida, tal como definido por Jorge Pedro Sousa (2006, p.734) auxiliou na coleta de posicionamento, atitudes, pontos de vista, valores, comportamentos e papéis sociais das pessoas em função daquilo que foi/é a sua vida. O personagem, o ambiente e a observação atenta constituíram as principais fontes de informação e para suprir possíveis problemas relacionados a imprecisões ou falhas de memória do investigador, foi realizado o cruzamento de dados obtidos a partir da coleta de depoimentos distintos. A fiabilidade nas observações foi ainda assegurada na medida em que dois pesquisadores observaram diretamente o mesmo fenômeno comparando posteriormente, a partir dos diários de viagem individuais, os resultados (validação contrastada). As mais de 1.140 fotografias capturadas serviram também como método de recordação dos ambientes, colaborando nos elementos descritivos existentes na narrativa produzida. As pesquisas bibliográfica e documental se mostraram como ferramentas essenciais para fornecer embasamento teórico do ambiente observado. Para inquirir os personagens da região do Capibaribe foram realizadas entrevistas em profundidade. Para tanto, partiu-se de núcleos temáticos desenvolvidos metodologicamente e aplicados de maneira semelhante aos inquiridos de cada uma das regiões compreendidas pelo rio. Apesar da unidade temática as entrevistas foram flexíveis, seguindo o fluxo de conversação, porém conscientes da retomada dos grandes temas já definidos. Por não se utilizar das técnicas do jornalismo tradicional, a experiência vivida foi valorizada em detrimento da práxis jornalística, por esse motivo, preocupações com gravações ou anotações literais foram menos importantes diante da metodologia abordada. Também conscientemente nenhuma entrevista foi agendada de maneira prévia. O objetivo não era encontrar os personagens mais curiosos ou de grande destaque, e sim pessoas comuns, imersas em seus próprios cotidianos, o que reforça o intuito de dar face ao Severino generalizado de Cabral. 5. DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO Da constatação sobre como vive o novo homem nordestino é que o livro-reportagem Capibaribe Mesmo rio: outra gente retira seu nome. Mesmo rio, não no sentido filosófico de transformação constante, mas sim pelo trajeto fixo por ele desenhado, possibilitando, portanto, que o caminho de Severino, ainda que suposto a partir das 6

indicações na obra de João Cabral, fosse refeito 55 anos depois sobre as mesmas cidades, mas se encontrando com outra gente. O livro-reportagem conta com um prefácio responsável por apresentar ao leitor o objetivo do livro. No texto o rio Capibaribe é personificado, transformando-se em mais um Severino do agreste pernambucano por sofrer como eles, a dificuldade dos caminhos tortuosos da descida rumo ao litoral. No prefácio Quem é e a que vai as referências ao poema Morte e Vida Severina são mais evidentes justamente para colocar ao leitor a inspiração de Cabral no texto jornalístico-literário que se segue. A partir da primeira parte do livro, o leitor imergirá junto do narrador na realidade experimentada pelo jornalistaviajante e, por isso, as referências a João Cabral serão menos presentes. O primeiro capítulo O pé de manga do meu quintal relata a viagem de ônibus acompanhada das primeiras impressões observadas pelo narrador ao sair do campo literário e imergir na realidade. Os primeiros personagens surgem da vivência de 41 horas em um ônibus Itapemerim convencional e é desse ambiente que a tendência do fluxo migratório inverso é percebida. Desta constatação, embasada na história de uma família que estava retornando definitivamente a Pernambuco, é que o capítulo foi nomeado. A personagem Dona Maria tinha saudade de sua casa em Frei Miguelinho, onde podia colher mangas em seu quintal. Assim como a senhora, muitos outros nordestinos voltavam para suas cidades em busca de reviver prazeres cotidianos abandonados com a migração. Nos próximos capítulos Aqui nasce o rio Capibaribe, A princesa do rio e A Veneza brasileira, é que são contadas as histórias de vida dos personagens encontrados em cada município visitado. Os capítulos foram divididos de acordo com o acesso às cidades. Cada um se passa em uma das três regiões que o Capibaribe corta Agreste, Zona da Mata e Litoral respectivamente e, por isso, esses três capítulos receberam títulos relacionados à situação do rio em cada região, também para enfocar que assim como serviu para guiar Severino, o rio aqui, também é fio condutor da narrativa. Em Aqui nasce o rio Capibaribe, o segundo capítulo, enfoca-se a nascente do rio - marca do início da saga de Severino, ainda no agreste pernambucano. O rio Capibaribe nasce em Poção, no sítio do Araçá, o título foi retirado da placa indicativa que se encontra na nascente. No terceiro capítulo, A princesa do rio, a Zona da Mata é a região de enfoque. É a partir da cidade de Limoeiro que o Capibaribe passa a ser perene, e é por isso que a cidade ficou conhecida como a princesa do rio. O último capítulo, A Veneza brasileira, faz inferência à capital pernambucana Recife. Nele, o Capibaribe chega ao Litoral finalizando seu percurso ao desembocar no Oceano Atlântico. É na foz do rio que o 7

livro-reportagem chega ao fim, dando espaço ao posfácio O meu nome é.... Servindo-se de uma linguagem menos poética e mais objetiva, é neste espaço que se responde à questão motivadora do trabalho quem são e como vivem os severinos contemporâneos? A resposta surge acoplada ao olhar do jornalista-viajante e das impressões e declarações que não entraram no texto oficial do livro-reportagem. A fim de relembrar o leitor da inspiração cabralina, epígrafes retiradas de Morte e Vida Severina são responsáveis por abrir cada um dos quatro capítulos do livro-reportagem. Além de trazer às vistas a inspiração, as epígrafes resumem a idéia principal e, sobretudo, a paisagem do capítulo - isto é, localiza geograficamente o leitor a partir das impressões do personagem Severino, de João Cabral, de forma que, uma vez lidas em sequência resumem o percurso do personagem do início ao fim. Os títulos do prefácio e do posfácio são citações diretas do poema Quem é a que vai e Meu nome é..., respeitando também a presença de João Cabral em toda a composição do livro-reportagem. 6. CONSIDERAÇÕES Ao refletir como uma obra poética pode inspirar a construção da narrativa jornalística contemporânea, colocou-se em debate a relevância do ofício jornalístico como um todo. Com o livro-reportagem finalizado pôde-se observar concretamente a união entre a prática jornalística, como esfera de mediação social, os aspectos literários, como produção cultural de um determinado período e ainda, os aspectos sociais, como produção políticohumana de uma determinada época. A primeira etapa foi compreender as características formadoras do estilo de João Cabral de Melo Neto, pois como Morte e Vida Severina é a inspiração primeira do trabalho, um entendimento mais aprofundado sobre o autor seria fundamental para que a obra de inspiração também fosse mais bem compreendida. A aproximação do texto cabralino com o ideal de narrativa proposto pelo teórico da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, colaborou para tal compreensão, uma vez que elucidou questões acerca do narrador e das transformações da narrativa paralelamente ao desenvolvimento da sociedade. Da discussão sobre como as formas narrativas literárias e jornalísticas ensaiam tentativas de representação social, tomando-se como referência a idéia de que a narrativa utiliza como matéria-prima as relações e inter-relações entre as sociabilidades, foi possível compreender como o jornalismo e a literatura tornam-se as duas principais áreas de relação com a realidade concreta. Com a finalização do livro-reportagem notou-se que de fato as duas áreas de conhecimento não necessitam ser contrapostas e que, quando unidas, o 8

diálogo entre aspectos literários e jornalísticos são capazes de elevar a qualidade narrativa de textos informativos. A rápida difusão com que as notícias percorrem no globo agora com suas economias cada vez mais desprovidas de fronteiras, alteraram o cenário mundial, principalmente no que diz respeito à emissão e à recepção de informações. O modo de narrar jornalístico sofreu modificações, assim passou a se valer de produções pré-fabricadas e distribuídas sob o ritmo da padronização e da fragmentação. Nesse processo, o jornalistanarrador minimiza suas características qualificadoras. Uma das principais perdas decorrentes dessa mudança ocorre durante a etapa do registro e, consequentemente, influencia as etapas seguintes. A atuação do repórter durante a captação do registro se compromete e se submete inteiramente aos ritmos e tempos escassos, característicos do processo de produção pós-moderno. O jornalista passa a trabalhar não mais como um mediador ou agente social inteligente, mas sim como um agente de mera reprodução de fatos inteligíveis. Sua arma triunfante, a visibilidade, é utilizada apenas para alimentar o ciclo divulgação-saturação-esgotamento. Para a execução do livro-reportagem Capibaribe Mesmo Rio: Outra Gente valorizou-se a atuação do repórter. As discussões citadas prepararam o olhar do viajante para a realização da pesquisa etnográfica. Uma vez entendido o contexto tecnológico no qual se insere a prática jornalística atual, buscou-se o resgate do jornalismo que suja os sapatos em detrimento ao conceito do narrador pós-moderno privilegiando o testemunho, a apuração in loco, capazes de conferir credibilidade e riqueza à narrativa desenvolvida. Dessa forma, o estudo sobre as narrativas de viagem colaborou na elucidação dos métodos, aplicados integralmente em Capibaribe Mesmo Rio: Outra Gente, como o detalhamento minucioso, a riqueza ilustrativa durante a composição das paisagens e a autenticidade dos discursos extraídos, apresentados sob as técnicas jornalístico-literárias que permitem a exposição do olhar do observador, já que a apuração e a captação foram realizadas in loco. Para o livro-reportagem realizado, a estética da recepção elucidou três características distintas do processo de produção: a recepção em textos ficcionais, levando em consideração a obra inspiradora Morte e Vida Severina; a recepção frente ao processo de produção de uma narrativa jornalística, em que o produto final se materializa em um livroreportagem; e, por fim, a recepção acerca da narrativa dos Severinos inquiridos sendo que, esta última, pressupõe ainda uma quarta forma de recepção; o modo com que os narradores observadores interpretaram e interagiram com as histórias contadas. 9

Constatou-se, portanto, a viabilidade de Morte e Vida Severina inspirar uma narrativa jornalística contemporânea. A partir da história fictícia de João Cabral de Melo Neto pôde-se contruir a narrativa de Capibaribe Mesmo rio: outra gente e, com ele inspirar novos olhares para o Nordeste do século XXI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, S., EWALD, A. P., CAVALCANTE, F. G. A trajetória de Severino: Migração e Pobreza no Brasil. Disponível em http://www.fw.uri.br. Acesso em 24 de setembro de 2008. BENJAMIN, W. Sobre arte, técnica, linguagem e política. Lisboa: Relógio d Água, 1992. CALVINO, I. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. CERTEAU, M. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1997. GONTIJO, M. M. Contribuições à construção de uma perspectiva híbrida para o jornalismo contemporâneo. Belo Horizonte: 2002. Disponível em www.intercom.org.br. Acesso em 30 de setembro de 2008. LIMA, E. P. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. São Paulo: Manole, 2004. LIMA, L. C. Terra Ignota a Construção de os Sertões. São Paulo: Civilização Brasileira, 1997. MELO NETO, J. C. Morte e Vida Severina: auto de Natal Pernambucano. São Paulo: Publifolha, 2007. PEIXOTO, M. Poesia com coisas. São Paulo: Perspectiva, 1983. PORTELLA, E. João Cabral de Melo Neto: poesia e estilo. In: Dimensões I. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1958 RESENDE, F. A. O jornalismo e a enunciação: perspectivas para um narrador-jornalista. Niterói: [s.n.], 2005. Disponível em http://www.compos.org.br SETTE, M. Terra Pernambucana. Pernambuco: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981. TRAQUINA, N. Jornalismo: questões, teorias e estórias. Lisboa: Vega. 1993 ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989. 10