Com base nessas premissas, são apresentados a seguir o tipo de pesquisa, os métodos de coleta e tratamento dos dados e as limitações do método.

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Transcrição:

4. METODOLOGIA Este capítulo tem como objetivo apresentar os principais procedimentos metodológicos adotados, em termos de sua classificação, conteúdo e implicações, buscando assim facilitar o entendimento quanto às decisões acerca da estratégia de pesquisa. Em primeiro lugar, é importante destacar que, com base na crença de que o conhecimento é uma construção humana e não uma verdade absoluta e imutável, a linha filosófica seguida pela pesquisa foi a construtivista. Em relação à ontologia, os construtivistas são relativistas, pois acreditam na existência de diversas interpretações possíveis em um processo de pesquisa: as realidades são múltiplas e existem na mente das pessoas (GUBA, 1990). Consequentemente, a epistemologia do paradigma construtivista é a da subjetividade. As descobertas surgem a partir da interação entre o pesquisador e o pesquisado: os indivíduos desenvolvem significados subjetivos de suas experiências e o pesquisador busca identificar essas múltiplas visões (CRESWELL, 2003). As questões iniciais de uma pesquisa construtivista devem ser gerais e abrangentes para que os pesquisados possam construir o significado da situação. Os significados são formados tanto pelas normas históricas e culturais quanto pelas interações com outras pessoas. O pesquisador construtivista reconhece que suas experiências afetam sua interpretação. Com base nessas premissas, são apresentados a seguir o tipo de pesquisa, os métodos de coleta e tratamento dos dados e as limitações do método. 4.1. Tipo de pesquisa A pesquisa foi qualitativa, utilizando, prioritariamente, dados verbais, obtidos por meio da narrativa de indivíduos - criadores e gestores - que participam do processo de produção nas indústrias criativas. O método adotado assemelha-se à fenomenografia, que, segundo Tesch (1990), é um método de

83 pesquisa cujo intuito é mapear os modos qualitativamente diferentes como as pessoas experimentam, conceituam, percebem e compreendem os vários aspectos do mundo ao seu redor e os fenômenos nele envolvidos. A ênfase está no modo como as coisas funcionam. Utilizando-se o critério de classificação proposto por Vergara (2004), a pesquisa, quanto aos fins, foi exploratória, por ser realizada em uma área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, e aplicada, pois foi motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, tendo, portanto, finalidade prática, ao contrário da pesquisa pura, motivada basicamente pela curiosidade intelectual do pesquisador. 4.2. Coleta de dados A coleta de dados teve dois processos distintos: pesquisa bibliográfica e de campo. A fundamentação teórica tem um caráter multidisciplinar e foi obtida por meio de pesquisa bibliográfica em livros, teses, dissertações e demais publicações científicas, de diferentes áreas - como administração, psicologia, sociologia, literatura, artes e engenharia de produção - pertinentes aos objetivos deste estudo. Na pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas em profundidade, com roteiros semi estruturados, com criadores e gestores. As conversas foram bastante informais e ocorreram nos locais e horários escolhidos pelos entrevistados. Os roteiros utilizados estão disponíveis no apêndice. O número total de participantes não foi determinado a priori. As entrevistas em profundidade procuram identificar regularidades, padrões e outros aspectos recorrentes nos depoimentos que analisam e, portanto, na maior parte das vezes, a coleta de dados é considerada suficiente quando atinge o ponto de saturação. A saturação da informação ocorre quando o entrevistador começa a ouvir, de novos entrevistados, relatos muito semelhantes aos já registrados, havendo uma rarefação de informações novas (NICOLACI-DA-COSTA, 2007). A disponibilização dos nomes dos entrevistados e de suas imagens foi aprovada por cada um deles. Os critérios de seleção são detalhados a seguir.

84 4.2.1. Seleção dos entrevistados De acordo com o que foi apresentado em detalhes no Capítulo 2, as definições atribuídas às indústrias criativas revelam que se trata de um conceito que abrange uma ampla gama de atividades, como publicidade, mercado de artes, design, cinema, música e indústria editorial. Além disso, as indústrias criativas possuem muitos empregados cujo trabalho não envolve tarefas criativas, enquanto vários indivíduos criativos trabalham mais por conta própria do que ligados a uma empresa em particular. É óbvio que tentar entrevistar representantes de todos os segmentos e todos os tipos de trabalhadores encontrados nas indústrias criativas seria impossível, e, portanto, foi necessário definir critérios para a escolha dos participantes. Em primeiro lugar, tendo em vista que o foco de interesse deste estudo está em entender a produção nas indústrias criativas a partir das perspectivas dos criadores e gestores, fica claro que para a pesquisa interessam os trabalhadores envolvidos em tarefas criativas, independentemente de estarem vinculados formalmente a uma organização, e os gestores ligados a suas atividades. Mais especificamente, entre os diversos tipos de trabalhadores criativos, o interesse está nos profissionais envolvidos efetivamente com a criação, ou seja, compositores e não intérpretes, coreógrafos e não dançarinos. Porém, mesmo entre os criadores, a diversidade ainda é muito grande. Entre outras variáveis, há a criação em grupo como uma equipe de uma agência de publicidade e a criação individual. Então, com base na suposição de que as entrevistas seriam mais profundas e reveladoras se fossem realizadas com indivíduos capazes de isolar todo o processo criativo, a opção foi pelos criadores individuais autônomos. Essa escolha foi baseada também na premissa de que os artistas independentes representam um grupo significativo dentro das indústrias criativas e ainda na expectativa de que eles podem se beneficiar fortemente do apoio de uma boa gestão profissional. Assim, a proposta inicial foi selecionar dois grupos diferentes de criadores para possibilitar, entre outras coisas, fazer comparações entre eles. Portanto, neste primeiro momento, uma das categorias selecionadas para representar o trabalho artístico foi a dos escritores. Foram então selecionados escritores de ficção que tivessem ao menos duas (ou mais, se possível) obras publicadas. Essa restrição foi necessária para diferenciar os indivíduos que atuam no

85 mercado, de outros que escrevem apenas por hobby. A intenção era que os escritores entrevistados tivessem convivência com a lógica do mercado, ou seja, possuíssem experiência no relacionamento com editoras e conhecessem ao menos em parte a reação do público a suas obras. A segunda categoria escolhida foi a dos artistas visuais e, do mesmo modo, foram selecionados artistas atuantes no mercado. No entanto, após a realização das primeiras entrevistas com os criadores, percebeu-se que a proposta inicial de considerá-los como dois grupos diferentes não fazia sentido, pois tanto os roteiros das entrevistas como as respostas obtidas nas conversas eram semelhantes. Portanto, os escritores e artistas visuais foram agrupados na mesma categoria. Tanto a atividade de escrever um livro, quanto a de pintar um quadro ou a de fazer uma escultura, podem ser vistas como um trabalho por projeto e, como apontado por Menger (2005), esses indivíduos convivem com o individualismo e o risco. O trabalho desses artistas envolve muita autonomia e responsabilidade. O talento individual é um fator essencial da produção e há desigualdades de remuneração. As atividades de escrita e artes visuais costumam ser vistas como um trabalho prazeroso sugerindo a possibilidade da ausência do sentimento de alienação gerado pela oposição entre prazer e trabalho. Consequentemente, tanto os artistas visuais quanto os escritores parecem ser bons representantes dos criadores para a finalidade desta pesquisa. O Quadro 10 mostra os artistas selecionados, na ordem em que foram entrevistados. A coluna Atividade artística indica a razão pela qual foram escolhidos para participar da pesquisa e a coluna Ocupação principal corresponde à tarefa a qual dedicam mais tempo. A etapa seguinte foi selecionar os gestores dentre aqueles que tinham relação direta de trabalho com os criadores escolhidos, ou seja, os responsáveis pela ligação desses artistas com o mercado. No caso dos escritores, foram selecionados dois editores representantes de uma editora de grande porte e uma de pequeno porte - e uma agente literária. No caso dos artistas visuais, foram selecionados um leiloeiro e um galerista. O Quadro 11 mostra os gestores selecionados, na ordem em que foram entrevistados, indicando sua função e a empresa em que trabalham.

86 Quadro 10: Criadores selecionados para as entrevistas Nome Alexandre Plosk Atividade artística literatura Ocupação principal roteirista, TV Globo Homepage Heloisa Seixas literatura escritora - Marcelo Moutinho literatura jornalista, OAB www.marcelomoutinho.com.br Guilherme Secchin artes visuais pintor www.gsecchin.com Adilson Xavier literatura presidente / CCO, Giovanni+Draftfcb - www.oatiradordeideias.com.br Analu Prestes artes visuais artista visual / atriz www.flickr.com/phptod/lalalu Antônio Torres literatura escritor / palestrante www.antôniotorres.com.br Alcione Araujo literatura escritor - Luiz Ruffato literatura escritor - Renato Alarcão artes visuais ilustrador www.renatoalarcao.com.br Angelo Venosa artes visuais designer, Casa de Rui Barbosa www.angelovenosa.com Quadro 11: Gestores selecionados para as entrevistas Nome Função Empresa Homepage Maria Amélia Mello Jorge Viveiros de Castro Evandro Carneiro Ricardo Rego Lucia Riff editora José Olympio (Grupo Editorial Record) www.record.com.br editor Editora 7Letras www.7letras.com.br leiloeiro galerista agente literária Evandro Carneiro Leilões Lurixs Arte Contemporânea Agência Riff www.evandrocarneiroleiloes.com www.lurixs.com www.agenciariff.com.br 4.3. Tratamento dos dados Todas as entrevistas foram gravadas praticamente na íntegra, com o consentimento dos entrevistados, e posteriormente transcritas de forma minuciosa, para facilitar a interpretação. Nicolaci-da-Costa (2007) observa que a transcrição de muitos detalhes pode atrapalhar, porém certos detalhes, como hesitações e longas pausas em entrevistas que lidam com conflitos psicológicos, por exemplo, podem ser imprescindíveis. A autora também enfatiza que as falas

87 dos entrevistados não devem ser alteradas ou editadas, pois erros gramaticais, palavrões, expressões chulas e congêneres, quando presentes, fazem parte do discurso dos participantes. As entrevistas duraram cerca de uma hora e meia cada, gerando aproximadamente 25 horas de gravação e 482 páginas de transcrição. A complexidade e a subjetividade dos dados exigiu a utilização de um método que possibilitasse sua compreensão e tradução. Portanto, os dados coletados foram tratados qualitativamente. Para esse tratamento, foram utilizadas as técnicas de Análise de Conteúdo, propostas por Bardin (2004), na qual a organização da análise é feita em torno de três pólos cronológicos: a pré-análise, a descrição analítica e a interpretação referencial. A pré-análise corresponde à organização do material oral e escrito coletado para efeito de observação e comparação das mensagens. A descrição analítica se refere ao relato do conteúdo das respostas dos entrevistados que exemplificam a análise do material coletado e, também, a citações literais das falas dos sujeitos. Nessa etapa é realizada uma categorização dos dados coletados, com o objetivo de encontrar idéias convergentes e divergentes no material. O software Atlas ti foi utilizado nessa fase para auxiliar na criação das categorias e classificação das citações. Na interpretação referencial, as respostas associadas aos conceitos que emergem nas entrevistas são interpretadas, tendo sempre como referencial os enfoques teóricos revistos na literatura. Segundo Bardin, a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que visa, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores, quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens. Segundo Triviños (1990), a técnica de análise de conteúdo está baseada em três características principais: ela privilegia os meios de comunicação oral e escrito para desenvolvimento da análise, as inferências do pesquisador são realizadas a partir de uma apreciação objetiva do conteúdo das mensagens e o pesquisador somente poderá analisar as mensagens de modo eficiente se tiver um embasamento teórico que o apóie durante o processo. Para esse autor, a

88 análise deve ser baseada nos seguintes pontos: resultados alcançados no estudo, fundamentação teórica e experiência pessoal do pesquisador. O autor ressalta que, independentemente da técnica de coleta de dados utilizada, para que os resultados tenham validade científica, devem atender às seguintes condições: coerência, consistência, originalidade e objetivação. Os dados coletados nas entrevistas, documentos analisados e demais informações obtidas, devem ser comparados para garantir que essas condições sejam atendidas. 4.4. Limitações do método Como foi citado na introdução do capítulo, os construtivistas acreditam na existência de diversas interpretações possíveis em um processo de pesquisa e, consequentemente, a epistemologia do paradigma construtivista é a da subjetividade. As descobertas surgem a partir da interação entre o pesquisado e o pesquisador e esse reconhece que suas experiências afetam sua interpretação. Nesse sentido, a utilização de entrevistas no processo de coleta de dados apresenta algumas limitações, como a possibilidade de obtenção de respostas falsas ou interpretações equivocadas do entrevistador. É importante também estar atento ao fato de que o entrevistador pode influenciar seu interlocutor no próprio ato da condução da entrevista. Para minimizar esses problemas foram utilizados os roteiros semi estruturados, com perguntas abertas, e as conversas ocorreram nos locais e horários escolhidos pelos entrevistados, deixando-os, desse modo, bem à vontade. A função dos roteiros foi apenas orientar a entrevista, sendo os tópicos, na maioria dos casos, abordados espontaneamente pelos entrevistados, sem a necessidade de formulação de qualquer pergunta. A etapa de análise das entrevistas apresenta o mesmo tipo de limitações, pois se trata de um processo pessoal e subjetivo: cada pesquisador pode organizar e interpretar os dados de uma maneira diferente, de acordo com suas experiências e percepção.

89 Nas pesquisas qualitativas em geral essas questões são reconhecidas e entendidas como inerentes ao processo. A utilização de softwares específicos para análise de conteúdo busca reduzir a subjetividade e, com essa finalidade, neste estudo foi utilizado o Atlas ti.