VARIABILIDADE INTRA-URBANA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA EM SANTA MARIA/RS, NO PERÍODO DE 2005-2015. ALINE NUNES DA SILVA 1 GUSTAVO FRASSON VERARDO 2 CÁSSIO ARTHUR WOLLMANN 3 Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a variação intra-urbana da precipitação pluviométrica em Santa Maria/RS. Esta análise foi feita com dados obtidos em um período de dez anos, de 2005 a 2015 em dois pontos distintos dentro da área urbana de Santa Maria, RS. Na análise dos dados pode-se observar que os valores de precipitação pluviométrica intra-urbana de Santa Maria são variáveis. Os maiores valores de precipitação foram encontrados no ponto posicionado na região norte da cidade, próximo ao Rebordo do Planalto Meridional e os menores valores no ponto posicionado da região leste da cidade. Percebe-se então a existência do efeito orográfico na área urbana de Santa Maria, o que se entende como sendo um grande fator variante da distribuição pluviométrico na região. Palavras-chave: Climatologia, precipitação, variabilidade intra-urbana, Santa Maria. Abstract: This study concerns in to analyze the interurban variation of precipitation in Santa Maria/RS. This analysis was made with data obtained in a period of ten years, from 2005 to 2015 in two distinct points within the urban area of Santa Maria, RS. In the analysis of the data it can be observed that the values of interurban precipitation of Santa Maria are variables each other. The highest values of precipitation were found in point positioned in the northern of the city, near of the Plateau Edge and the smallest values were found in point positioned in the Eastern of the city. Realize the existence of the orographic effect, because of Plateau Edge, in the urban area of Santa Maria, which is meant to be a big factor variant of rainfall distribution in the town. Keywords: Climatology, rainfall, interurban variation, Santa Maria. 1- Introdução A precipitação é, dentre os variados elementos atmosféricos, o mais significativo para a sociedade. O seu volume e intensidade podem afetar diretamente e indiretamente a população, a economia e a qualidade do meio ambiente. Sendo assim, o estudo sobre a precipitação pluviométrica vem a contribuir para o desenvolvimento de atividades urbanas e 1 Acadêmica do curso de graduação em Geografia Bacharelado da UFSM. E-mail de contato: alinendeca@hotmail.com 2 Bacharel em Meteorologia UFSM. E-mail de contato: gustavo.fverardo@gmail.com 3 Docente do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação da UFSM. E-mail de contato: cassio_geo@hotmail.com 2684
rurais como agricultura, turismo e geração de energia, entre outros (BARATTO; WOLLMANN; HOPPE, 2015). Segundo a classificação climática de Köppen (1931), baseada na precipitação, a maior parte do estado do Rio Grande do Sul insere-se no tipo Cfa, onde C significa clima temperado chuvoso e quente; f significa que não há uma estação seca; e a significa verão quente, com o mês mais quente tendo temperatura média maior que 22ºC e mês mais frio com temperatura superior a 3ºC. Segundo Sartori (2003) os fatores geográficos regionais, como altitude, relevo, continentalidade e vegetação, são responsáveis por variações de elementos climáticos como a temperatura, a pressão atmosférica, o vento e a umidade, mas não possuem capacidade de influenciar ou determinar a gênese do clima da região. Ainda, para Baratto; Wollmann; Hoppe (2015), ter conhecimento quanto à variabilidade temporal e a distribuição pluviométrica de uma cidade pode auxiliar em futuros projetos que visem diminuir os impactos socioeconômicos e ambientais e possam vir a ocorrer em casos de estiagem ou inundações. Nesse contexto, com o intuito de analisar a variação da precipitação em Santa Maria em um período maior, e preencher, em parte, as lacunas da pesquisa analisada por Baratto; Wollmann; Hoppe (op. cit.), o presente trabalho tem como objetivo geral analisar e discutir a variabilidade intra-urbana da precipitação pluviométrica em Santa Maria/RS, no período de 2005-2015 em dois pontos distintos. 2 - Fundamentação Teórica Precipitação é um termo físico referente às diversas formas líquidas e congeladas de água derivadas da atmosfera, sendo a chuva e a neve as formas de precipitação que contribuem mais significativamente em valores pluviométricos, dependendo da localização (AYOADE, 1996). Segundo MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA (2007), precipitação pluvial é a quantidade total de água precipitada em um dia e então, a partir dos totais diários, obtém-se o total mensal e anual. A precipitação pluvial é medida através de dois instrumentos de leitura direta, denominados pluviômetro e pluviógrafo. O pluviógrafo tem vantagem sobre o pluviômetro, pois tem a capacidade de registrar e determinar dados a intensidade e a duração da precipitação (VAREJÃO-SILVA, 2006). A precipitação é um dos elementos meteorológicos com maior variabilidade temporal e espacial, tanto no período de ocorrência quanto na intensidade, podendo acarretar consequências negativas em diversos setores da sociedade (BARATTO; WOLLMANN; HOPPE, 2015). Nesse sentido, o território do Estado do Rio Grande do Sul encontra-se em uma zona de transição climática, e suas principais características climáticas originam da 2685
participação dos Sistemas Atmosféricos Extratropicais (massas e Frentes Polares) e Intertropicais (massas tropicais e Correntes Perturbadas) e, por estar em posição subtropical, é área de encontro dos Sistemas Atmosféricos de origem polar e sistemas de origem tropical. Esses encontros proporcionam a distribuição das chuvas durante o ano, juntamente com as passagens frontais, sem ocorrência de estação seca no regime pluviométrico do Estado (SARTORI, 2003). No entanto, episódios de longas estiagens ou enchentes podem vir a ocorrer devido a variabilidade têmporo-espacial das precipitações, causadas por alterações na habitualidade da circulação atmosférica em escalas regional e zonal provocadas pelo fenômeno El Niño ou La Niña (SARTORI, 2003). Sartori (2003) ainda afirma que a distribuição têmporo-espacial das chuvas no Rio Grande do Sul dá-se por três fatores condicionantes: a posição subtropical do Estado, a direção dos compartimentos do relevo e a direção geral dos deslocamentos das Frentes Polares de sudeste para nordeste. Assim, ocorre o aumento dos índices de precipitação no sentido Sul Norte, pela presença do efeito orográfico. As chuvas orográficas (ou chuvas de relevo) são ocasionadas pelo efeito orográfico e ocorrem devido a influência do relevo, pois quando o ar que vai em direção a montanha (em sua vertente barlavento) é forçado a subir, condensando-se devido à redução adiabática da temperatura, causando chuvas de maior intensidade e volume nas áreas de aumento de altitude (SELUCHI et. al. apud FORGIARINI et. al, 2013). Neste sentido, na região norte da cidade de Santa Maria é favorável a ocorrência das chuvas orográficas, devido a variação de altitude entre a Depressão Central e o Rebordo do Planalto Meridional. Juntamente com o fator do relevo, FORGIARINI et. al. (2013) também destaca como condicionante para o efeito orográfico o movimento das massas de ar, que vão de encontro a essa barreira natural, criando condições propícias para a chuva orográfica. 3 - Materiais e Métodos Para o desenvolvimento do trabalho contou-se primeiramente com a construção da fundamentação teórica, onde se procurou montar uma base teórica sobre o assunto abordado. Posteriormente foi feita a análise dos dados que foram coletados e registrados diariamente nos dois pontos. As coletas foram efetuadas em dois pontos distintos dentro da área urbana de Santa Maria. 2686
O primeiro ponto encontra-se no bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na região Norte do município. O segundo ponto encontra-se na parte Leste do município, dentro da Estação Meteorológica da Universidade Federal de Santa Maria (Estação Convencional). A Figura 01 apresenta a localização dos dois pontos de coleta dos dados pluviométricos dentro do município de Santa Maria. Figura 01 Localização dos postos de coleta de dados no município de Santa Maria. Fonte: Google Earth. No ponto referente ao bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (PSO), a precipitação pluviométrica foi coletada com o auxílio de um pluviômetro simples de material plástico, com capacidade de 0 a 128 mm, da marca Litauer e registrados diariamente de forma manual, cujo modelo é demonstrado na Figura 02. 2687
Figura 02 Modelo de pluviômetro utilizado na coleta de dados no ponto PSO. Fonte: Google. No ponto referente ao bairro Camobi (UFSM), os dados da precipitação pluviométrica foram coletados diretamente na Estação Meteorológica Convencional da UFSM, posto oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e devidamente registrados pela rede. Estes dados foram obtidos em forma de download pelo site do INMET. Após a obtenção dos dados pluviométricos, foram construídas tabelas para os dois pontos de coleta, organizando-se os dados diários. Posteriormente, os dados foram somados mensal e anualmente, em tabelas distintas para cada ponto de coleta. Foram construídas também tabelas para a comparação anual dos dados com a Normal Climatológica (1961-1990). Ao final, foram construídos gráficos de comparação anual dos valores de precipitação pluvial dos dois pontos com a Normal Climatológica (1961-1990), de comparação mensal dos valores de precipitação pluvial com a média mensal, e de comparação anual dos valores de precipitação pluvial com a Normal Climatológica (1961-1990). Tabelas e gráficos foram construídas com o auxílio do Software Microsoft Excel. 4 - Resultados e Discussões Ao analisar os dados da pesquisa, fazendo-se comparação anual dos dados, podese perceber que a quantidade de precipitação pluviométrica é desigual entre os dois pontos de coleta. A Figura 03 mostra o gráfico de comparação do total anual dos dados pluviométricos, juntamente com a média da Normal Climatológica - NC (1961-1990). 2688
Figura 03 - Gráfico de comparação anual dos dados pluviométricos coletados. Elaboração: Silva; Wollmann (2016). No ponto PSO, localizado no bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ocorreu maior quantidade de precipitação nos anos de 2005 a 2010, 2012 e 2013, enquanto no ponto UFSM, localizado no bairro Camobi, a maior quantidade de precipitação ocorreu somente nos anos de 2011, 2014 e 2015. Nota-se também que os menores valores de precipitação pluviométrica foram registrados em 2006 e 2011, tanto no ponto PSO quanto no ponto UFSM. Ao analisar os dados pluviométricos anualmente e comparando com a média da N.C., observa-se que nos anos de 2009, 2010, 2014 e 2015 os valores dos dois pontos coletados estão acima da média da N.C., enquanto nos anos de 2006 e 2011 os valores dos dois pontos encontram-se abaixo da média. Nos anos de 2005, 2007, 2008, 2012 e 2013 somente o ponto UFSM encontra-se abaixo da média. Somente no ano de 2010 ambos os pontos encontram-se mais próximos da média. Em uma análise pontual pode-se perceber que nos anos de 2005, 2007, 2008, 2009, 2010, 2012, 2013, 2014 e 2015, a precipitação pluviométrica no ponto PSO é maior do que a média apresentada pela N.C.. Nos anos 2009, 2010, 2014, 2015 o ponto UFSM também ficou acima da média apresentada pela N.C. É importante citar que o valor dado como média da Normal Climatológica é retirado dos dados registrados no ponto UFSM, sendo este ponto localizado dentro de uma Estação Meteorológica Oficial da Rede Inmet. A diferença é que a Normal Climatológica é trabalhada a partir dos dados registrados em um período de 30 anos, enquanto este trabalho foi produzido em um período correspondente a 1/3 deste tempo. Já em uma comparação mensal dos dados, os valores pluviométricos dos pontos PSO e UFSM possuem pouca diferença entre si. A Figura 04 apresenta o gráfico de comparação mensal dos dados pluviométricos juntamente com a média mensal dos pontos coletados. 2689
Figura 04 - Gráfico de comparação mensal dos dados pluviométricos coletados. Elaboração: Silva; Wollmann (2016). Em uma análise mensal, nota-se que os meses de janeiro, fevereiro, abril, setembro e outubro, os valores pluviométricos do ponto PSO encontram-se acima da média. Na maioria dos meses os valores do ponto UFSM encontram-se abaixo da média e somente nos meses de março, maio, julho e agosto os valores pluviométricos de ambos os pontos encontram-se mais próximos da média. Em uma análise sazonal, observa-se que os maiores valores pluviométricos apresentam-se em meses de setembro a janeiro, período que corresponde a primaveraverão no Hemisfério Sul. No período de março a agosto, meses representantes do outonoinverno, observa-se que a diferença entre os valores pluviométricos entre os dois pontos diminui, e entre esses meses os dois pontos encontra-se com valores dentro da média. Pode-se também ser feita uma comparação do total médio anual entre os dois pontos (PSO-UFSM) e a média da Normal Climatológica (1961-1990) linha em azul. Na Figura 05, um gráfico demonstra essa comparação. Figura 05 Gráfico de comparação do total médio anual dos dados pluviométricos entre os dois pontos coletados. Fonte: Silva; Wollmann (2016). 2690
Neste gráfico observa-se a diferença entre o total médio anual dos valores pluviométricos entre os anos de 2005 2015 nos dois pontos de coleta. Os valores dos dois pontos de coleta encontram-se acima da média da Normal Climatológica, porém a média do ponto PSO é muito maior. Feitas estas análises pode-se observar que os valores de precipitação pluviométrica dentro da cidade de Santa Maria são variáveis. Nota-se que a precipitação apresenta maiores valores no ponto PSO, que possui maior valor altimétrico e encontra-se próximo ao rebordo do Planalto, e menores valores pluviométricos no ponto UFSM, situado no bairro Camobi, na região leste da cidade. Percebe-se então que os valores pluviométricos no ponto PSO sofrem efeito orográfico. Este, por sua vez, se faz presente como fator variante da distribuição pluviométrica dentro cidade de Santa Maria. 5 - Conclusão Com a produção deste trabalho percebe-se, então, a variabilidade da precipitação pluviométrica dentro da cidade de Santa Maria, e o efeito orográfico como um fator causador desta variação. Ainda, os dados e resultados apresentados neste trabalhos podem ser aprofundados e comparados com outros trabalhos que venham a seguir a mesma linha de pesquisa, em uma maior escala temporal. Seria importante, também, estudar com mais profundidade o efeito orográfico na cidade de Santa Maria, usando outros pontos de coletas de dados, de forma artesanal, espacializados distantes e próximos do Rebordo do Planalto, e com um aumento da série de dados e de tempo de análise (maior escala temporal), para melhor compreensão deste fator variante da precipitação pluviométrica dentro da área urbana do município de Santa Maria, RS. Referências AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. BARATTO, J.; WOLLMANN, C. A; HOPPE, I. L Distribuição da precipitação pluviométrica no período veranil e invernal de 2013/2014 na área urbana de Santa Maria/RS e seu entorno. Ciência e Natura, Santa Maria, v. 37, n. 4, p 577-593, set-dez. 2015. FORGIARINI, et. al. Análise de Chuvas Orográficas no centro do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Climatologia. Ano 9 Vol. 13 jul-dez, 2013. KÖEPPEN, W. Climatología. México Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. 2 edição. 1931. 2691
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: Noções básicas e climas do Brasil. Oficina de Textos: São Paulo, 2009. SARTORI, M. G. B. A dinâmica do clima no Rio Grande do Sul:indução empírica e conhecimentos científicos. Terra Livre, São Paulo, Ano 19, v I, n. 20, p. 27-49,jan./jul. 2003. VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. Recife, 2005. Disponível em: <http://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/meteorologia_e_climatol OGIA_VD2_Mar_2006.pdf>. Acesso em: 23 mar 2016 2692