182 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA



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Transcrição:

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 181 Comunidade Muscoidea (Diptera, Insecta): Estudo do efeito de borda e bioindicadores na Reserva Natural Vale D. F. Machado¹* & E.D.G. Soares 1,2 1 Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo 2 Universidade Federal da Integração Latino-Americana *Email para correspondência: deboramachadof@gmail.com Introdução As comunidades de muscóideos em geral podem ser usadas como indicadores comparativos das alterações ambientais, especialmente os mais devidos à atividade humana, pois estes têm altos níveis de sinantropia como também hà espécies sensíveis às relações antrópicas (Baumgartner & Greenberg, 1985; D Almeida & Lopes, 1983). Várias espécies podem ser completamente dependentes sobre a atividade humana, principalmente pela disponibilidade de alimentação e substratos para altos níveis de reprodução e população. Como também há outras espécies de muscóideos que são essenciais para o equilíbrio do ecossistema e totalmente dependentes de áreas preservadas. O efeito de borda é um dos subprodutos da fragmentação florestal, sendo a borda definida como a porção do fragmento que sofre influência de fatores ambientais externos ao fragmento (Ewers & Didham, 2007). A realização deste estudo no norte do Espírito Santo tem sua importância aumentada, pois a região está inserida no Corredor Central da Mata Atlântica e na região se encontra os maiores remanescentes do bioma no estado (IEMA, 2011). Material e Métodos As coletas foram realizadas na Reserva Natural Vale, localizada entre as coordenadas geográficas 19º06 e 19º18 S e 39º45 e 40º19 W, no norte do estado do Espírito Santo. Para a coleta foi empregada armadilha de Ferreira (1978) modificada, utilizando iscas atrativas (camarão, banana e fígado bovino), e coleta passiva. O material coletado foi preservado em álcool 70 %, levado ao laboratório para triagem. Os exemplares foram alfinetados e passaram por secagem direta por 48 horas em estufa. Para o efeito de borda foi estabelecido um transecto da borda para o interior da Reserva (utilizando trilhas préestabelecidas). As armadilhas foram instaladas na borda da floresta (0 metros), 100 metros

182 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA da borda, 500 metros, 1000 metros e 2000 metros a partir da borda. Totalizando 45 armadilhas. Para a análise dos dados foi utilizado o teste estatístico ANOVA. Resultados e Discussão Durante as quatro coletas que foram realizadas em janeiro de 2013 a julho de 2013, foram coletados 647 dípteros sendo 595 (91,96%) pertencentes à família Calliphoridae, 47(7,26%) pertencentes à Família Muscidae. Dentre os califórideos, 589 (98,99%) pertencentes à subfamília Mesembrinellinae contabilizando dois gêneros de mesembrinelíneos. Dentre a família Muscidae 21(44.68%) pertencentes ao gênero Neomuscina, 10(21,22%) ao gênero Polietina, 12 (25,53%) ao gênero Morellia 1 (2,12%) ao gênero Cyrtoneurina. A partir dos resultados obtidos, pode-se observar que tanto na borda quanto nos pontos do interior da mata não há variação entre os exemplares, em relação à abundância geral dos gêneros (P= 0,209), mostrando que não há um efeito de borda significativo para o total de indivíduos amostrados (Figura 1). Figura 1: Gráfico de abundância geral dos gêneros capturados na Reserva Vale nos diferentes pontos de coleta da borda para o interior da mata (Pontos na horizontal = 1: Borda, 2: 100m da borda, 3: 500m da borda, 4:1000m da borda 5: 2000m da borda). Sendo cada ponto do gráfico representando o conjunto de três armadilhas, mostrando a igualdade entre os pontos em relação à abundância geral de todos os gêneros, evidenciando que as condições da borda para o interior da mata são similares, não havendo efeito de borda. (P= 0,209)

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 183 O gênero Mesembrinella apresentou uma variação (P= 0,459) mostrando também que a abundância não obteve variância à medida que se afasta da borda, logo, não há um efeito de borda significativo sobre este gênero (Figura 2). Figura 2: Gráfico de abundância do gênero Mesembrinella capturados na Reserva Vale, nos diferentes pontos de coleta da borda para o interior da mata (Pontos na horizontal = 1: Borda, 2: 100m da borda, 3: 500m da borda, 4: 1000m da borda 5: 2000m da borda). Sendo cada ponto do gráfico representando o conjunto de três armadilhas, mostrando a igualdade entre os pontos em relação à abundância do gênero, evidenciando que as condições da borda para o interior da mata são similares, não havendo efeito de borda. (P= 0,459) Ao contrário destes resultados, o gênero Eumesembrinella obteve uma variação (P= 0,023), evidenciando que à medida que se avança no interior da mata, maior é a abundância encontrada, logo, há um efeito de borda significativo sobre este gênero (Figura 3) (Figura 4). Os representantes da subfamília Mesembrinellinae estão intimamente ligados ao ambiente silvestre, sendo considerados de natureza assinantrópica, ou seja, não adaptados às relações antrópicas (Mello et al. 2007). Mesembrinella bellardiana, por exemplo, apresentou índice de sinantropia de -100, o que indica aversão total a ambientes modificados pelo homem, em um trabalho realizado no Rio de Janeiro (D Almeida & Lopes, 1983). Em relação à similaridade, apenas a fauna total do gênero Mesembrinella apresentou similaridade entre os pontos coletados. Segundo pesquisas realizadas por Ferraz et al. (2009) também encontraram similaridade entre os pontos coletados, este fato pode ser

184 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA explicado pela proximidade entre os pontos e por estarem no mesmo ambiente. Esta similaridade pode refletir provavelmente um ambiente preservado. Figura 3: Gráfico de abundância do gênero Eumesembrinella capturados na Reserva Vale, nos diferentes pontos de coleta da borda para o interior da mata (Pontos = 1: Borda, 2: 100m da borda, 3: 500m da borda, 4: 1000m da borda, 5: 2000m da borda). Sendo cada ponto do gráfico representando o conjunto de três armadilhas, mostrando o aumento da abundância do gênero à medida que se avança no interior da mata, havendo efeito de borda. (P= 0,023) Figura 4: Gráfico de abundância do gênero Eumesembrinella capturados na Reserva da Vale, nos diferentes pontos de coleta da borda para o interior da mata com Regressão Linear, evidenciando o aumento da abundância à medida que se avança no interior da mata. (Pontos na horizontal = 1: Borda, 2: 100m da borda, 3: 500m da borda, 4: 1000m da borda, 5 : 2000m da borda). (P= 0,023)

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 185 No presente estudo os gêneros Mesembrinella e Eumesembrinella ocorreram em maior quantidade. O aumento da abundância do gênero Eumesembrinella para o interior da mata pode ser explicado pela interferência da composição florística na distribuição e ocupação do habitat (Furusawa & Cassino, 2006). Com isso pode-se dizer que os gêneros da subfamília Mesembrinellinae parecem ser potenciais indicadores de ambientes florestais preservados, pois a elevada abundância destes no interior de uma mata, nos mostra como o ambiente está em equilíbrio, como é o caso da Reserva Vale (Furusawa & Cassino, 2006), sendo que este grupo, de acordo com a literatura (Gadelha, 2009), ocorre exclusivamente no interior da mata, isto indica que estes podem ser usados em outras áreas como indicador de áreas de conservação. O trabalho realizado por Leandro & Almeida (2005), no fragmento de mata na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, mostra que apesar de estar em uma área protegida, o fragmento de mata encontra-se impactado, fato evidenciado pela presença de Chrysomya megacephala que é mais generalista e adaptada a ambientes que tiveram interferência antrópica (Soulé, 1990). Em trabalhos realizados em área urbana, rural e de manguezal (p. ex. Macedo et al., 2011; Dias et al., 2009; Silva, 2009), não houve ocorrência de Mesembrinellinae. O mesmo não acontece na Reserva Vale, mostrando que o ambiente é preservado e íntegro, pois esta subfamília foi encontrada e as demais ocorrem em baixa abundância. Conclusão Os Mesembrinellinae são sugeridos na literatura como bioindicadores de ambientes preservados e podem ser úteis em estudos relacionados à avaliação e recuperação de áreas degradadas, pois sua presença parece ser intimamente relacionada com ambientes íntegros. A alta ocorrência dessa subfamília, associada a baixa abundância dos demais Calliphoridae em uma Reserva reconhecidamente bem preservada corrobora o seu potencial bioindicador. Literatura Citada Ambiente Brasil, 2000. Corredor Biológico: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conte udo=./snuc/artigos/corredorbio.html> (Acesso em13/08/2013). Baumgartner, D.L. & B. Greenberg. 1985. Distribution and medical ecology of the blow flies (Diptera: Calliphoridae) of Peru. Ann. Entomol. Soc. Amer, 78: 565-587.

186 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA D Almeida, J.M. & LOPES, H.S. 1983. Sinantropia de Dípteros Muscóides (Calliphoridae) no Estado do Rio de Janeiro. Arquivo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 6: 39-48. Da Silva, J.A.B. 2009. Estudo Comparativo da Família Calliphoridae Em Área De Mangue E Em Área Peri-Urbana Desmatada No Município De Itaboraí, Rj, Brasil. Dissertação de Mestrado, não publicada, Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica- Rio de Janeiro. 58 p. Dias, L.S.; Santarém, V.A.; Almeida, M.R.S.; Medina, A.O.; da Silva, A.V. 2009. Biodiversidade de Moscas Calliphoridae no Lixão Urbano de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. Arquivos do Instituto Biológico., São Paulo, 76(4): 659-663. Ewers, R.M. & R.K. Didham. 2007. The effect of fragment shape and species sensitivity to habitat edges on animal population size. Conservation Biology, 21: 926 936. Ferraz, A.C.P.; Gadelha, B.Q. & Aguiar-Coelho, V.M 2009. Influência climática e antrópica na abundância e riqueza de Calliphoridae (Diptera) em fragmento florestal da Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, Brasil. Neotropical Entomology, in press. Ferreira, M.J.M. 1978. Sinantropia de dípteros muscóides de Curitiba, Paraná. I. Calliphoridae. Revista Brasileira de Biologia, 38: 445 454. Forman, R.T.T. &Godron, M. 1986. Landscape ecology. John Wiley, New York, USA. 619p. Furasawa, G. P; Cassino, P. C. R. 2006. Ocorrência e Distribuição de Calliphoridae (Díptera, Oestroidea) em um Fragmento de Mata Atlântica Secundária no Município de Engenheiro Paulo de Frontin, Médio Paraíba, RJ. Revista de Biologia e Ciências da Terra. 6(1). Gadelha, B.Q. 2009. Efeitos de borda na fauna de mesembrinelíneos (Diptera: Calliphoridae) na Reserva Biológica do Tinguá, Rio de Janeiro. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas). Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 49p. IEMA, Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. 2011. Áreas Naturais Protegidas. URL disponível em <http://www.meioambiente.es.gov.br/default.asp>. Acesso em abril de 2012.

III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 187 Leandro, M. J. F; Almeida, J. M. D. 2005. Levantamento de Calliphoridae, Fanniidae, Muscidae e Sarcophagidae em um fragmento de mata na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. 95(4) Porto Alegre. Macedo, R.S; Carraro, V.M.; Espindola, C. B.; Cabral, M. M. O. 2011. Ocorrência de Dípteros Muscóides (Calliphoridae) no Município de Vassouras, RJ. Revista Eletrônica TECCEN, Vassouras, 4(1): 5-16. Mello, R.P. 1967. Contribuição ao estudo dos Mesembrinellinae sul-americanos (Diptera, Calliphoridae). Studia Entomol., 10: 1-80. Mello, R.S.; Queiroz, M.M.C.; Valgode, M.A. & Aguiar-Coelho, V.M. 2007. Population fluctuations of calliphorid species (Diptera, Calliphoridae) in the Biological Reserve of Tinguá, state of Rio de Janeiro, Brazil. Iheringia, 97: 1-5. Soulé, M. 1990. The onslaught of alien species and other challenges in the coming decades. Conservation Biology 4:233-239. Toma, R. & Carvalho, C.J.B. 1995. Estudo filogenético de Mesembrinellinae com ênfase no gênero Eumesembrinella Towsend (Diptera: Calliphoridae). Revista Brasileira de Zoologia, 12: 127-144.