Travestis e antidiscriminação: análise crítica dos instrumentos normativos nacionais



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Transcrição:

Travestis e antidiscriminação: análise crítica dos instrumentos normativos nacionais Alice Hertzog Resadori Mestranda em Direito com ênfase em Direitos Humanos ali.resadori@gmail.com Resumo: Em uma sociedade organizada a partir de classificações que tomam a heteronormatividade como regra, diversos problemas se colocam para pessoas que não apresentam coerência entre sexo, gênero e sexualidade, como é o caso das travestis. A identificação pelo nome social, o uso de banheiros, entre outras, são questões que afetam a vida destas pessoas diariamente. Contudo, existe em nosso ordenamento jurídico um mandamento constitucional que proíbe qualquer forma de discriminação e há diversas previsões normativas que buscam efetivar este preceito. Neste contexto, a presente pesquisa tem como objetivo identificar se as leis antidiscriminatórias garantem efetivamente a proteção das travestis ou se perpetuam uma cidadania de segunda classe. Para tanto, é analisado o direito da antidiscriminação e feito um levantamento dos instrumentos normativos nacionais que tratam de sexo e gênero, relacionando-os com a realidade das travestis. A partir desta análise, identificamos que o direito utiliza tais termos sem conceituálos, tratando-os como se fossem óbvios e naturais. Contudo, como as normas são feitas e aplicadas no bojo de uma sociedade heteronormativa, o uso genérico de categorias aparentemente neutras reforça esta lógica, configurando-se como discriminação institucional. No caso das travestis, esta dita neutralidade acaba deixando-as de fora do âmbito de proteção das normas antidiscriminatórias. 1 Introdução Em uma sociedade organizada a partir de classificações que tomam a heteronormatividade como regra, diversos problemas se colocam para pessoas que não correspondem aos padrões de inteligibilidade, ou seja, que não apresentam coerência entre sexo, gênero e sexualidade (BUTLER, 2003, p. 25-36), como é o caso das travestis. Cada passo simples da vida diária se torna emblemático para estas pessoas. Que banheiro devem utilizar, o feminino ou o masculino? Como podem se identificar formalmente, pelo seu nome social ou pelo que consta no registro civil? Se sofrerem violência doméstica, podem se valer das proteções da Lei Maria da Penha? Como podem ingressar no mundo do trabalho formal, se há resistência em se contratar alguém que parece uma mulher, mas em verdade é um homem? E o que dizer das diversas violências (não apenas simbólicas) que sofrem exclusivamente por existirem de forma diversa da estipulada como correta?

Apesar deste contexto de luta diária, existe em nosso ordenamento jurídico um mandamento constitucional que proíbe qualquer forma de discriminação (BRASIL, 1988) e há diversas previsões normativas que buscam efetivar este preceito. A pergunta que se coloca é como são concebidas as legislações antidiscriminatórias para as travestis no Brasil, se de forma a garantir efetivamente a sua proteção ou se perpetuando uma cidadania de segunda classe? Para que esta pergunta seja respondida, primeiramente será analisado o direito da antidiscriminação e, após, será feito um levantamento dos instrumentos normativos nacionais que tratam de sexo e gênero (âmbito em que está inserida a discussão sobre a travestilidade), relacionando-os com a realidade das travestis. A presente pesquisa tem natureza teórica, fundamentada pela bibliografia pertinente ao tema, bem como pela análise da legislação nacional. O método utilizado é o dialético, pois o objeto desta pesquisa é tratado no contexto social em que está inserido, e não de forma isolada (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 100-105). A pesquisa legislativa foi realizada nos meses de julho e agosto de 2015 no site do Palácio do Planalto, no site da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e no site do Ministério das Relações Exteriores, pelos termos sexo, gênero, identidade de gênero, travesti e transexual 1. Foram analisadas a Constituição Federal, as Constituições Estaduais, leis, decretos e portarias federais, resoluções de conselhos federais e tratados e convenções ratificados pelo Brasil, seja em âmbito global ou regional (Sistema Interamericano). A título exemplificativo foram trazidos instrumentos normativos estaduais, não tendo esta pesquisa, contudo, objetivo de esgotar a análise sobre os mesmos. 2 Desenvolvimento A análise proposta parte, primeiramente, da compreensão da proibição constitucional à discriminação, já que a discussão jurídica se dá no bojo deste mandamento constitucional. Para tanto, utiliza-se como base o direito da antidiscriminação, compreendido como o conjunto de conteúdos e institutos jurídicos relativos ao princípio da igualdade como proibição de discriminação e como um mandamento de promoção e respeito da diversidade. (RIOS, 2010, p. 76). Além da concepção formal do princípio da igualdade, de que todos são 1 Apesar de esta pesquisa ter como objeto a análise das leis antidiscriminatórias para as travestis, considerando que várias das suas demandas se relacionam e muitas vezes se confundem com as das transexuais, foi acrescido o termo transexual na busca dos instrumentos normativos.

iguais perante a lei, e da material, que preconiza o tratamento diverso a pessoas em situações diversas, a igualdade pode ser concebida como a proteção à discriminação. O conceito jurídico de discriminação é dado pela Convenção Internacional sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (ONU, 1968), pela Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979) e pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2007), todas ratificadas pelo Brasil. (RIOS; SOUZA; SPONCHIADO, 2014, p. 161). Com base nestes documentos, entende-se a discriminação como Qualquer distinção, exclusão, restrição, ou preferência que tenha o propósito ou o efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício em pé de igualdade de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos econômico, social, cultural ou em qualquer campo da vida pública. (RIOS, 2008, p. 20). A discriminação pode ocorrer de forma direta ou indireta. Por discriminação direta entendem-se as manifestações discriminatórias intencionais e conscientes, que podem se dar explicitamente, na aplicação da legislação ou na sua elaboração. (RIOS, 2008, p. 89-115). O combate à discriminação direta é extremamente importante, contudo, não é suficiente para aniquilar a materialização do preconceito. Isto porque, a discriminação está baseada em estereótipos enraizados cultural e historicamente, que se concretizam mais comumente de maneiras não intencionais, mas arraigadas em práticas cotidianas. Desta forma, é necessário atentar também para a discriminação indireta, que existe quando não há propósito discriminatório declarado ou assumido, o que a torna mais difícil de ser identificada, mas, nem por isso, menos nociva. (RIOS, 2008, p. 117). No Brasil, não há qualquer óbice à invocação da discriminação indireta para se ver cessar manifestações discriminatórias. Pelo contrário, a Constituição Federal, além de não restringir a aplicação do princípio da igualdade, prevê diversas normas igualitárias, ao longo de seu texto. Contudo, o desafio no combate à discriminação indireta é justamente de conseguir identificar e trazer à tona os mecanismos que reproduzem as formas de diferenciação ilegítimas nas estruturas sociais, para que possam ser rompidos. Neste sentido, é importante atentar para a discriminação institucional, compreendida como Those established laws, customs, and practices witch

systematically reflect and produce group-based inequities in any society 2 (HENRY, 2010, p. 427). Ela localiza a origem da discriminação no contexto social e organizacional, ao invés de vinculá-la às manifestações de preconceito individuais. Busca-se compreender a persistência da discriminação, mesmo em grupos ou sujeitos que imaginem agir despidos de preconceito, desvinculandose a escolha racional dos indivíduos à discriminação. Isto porque tanto as ações individuais como as coletivas estão inseridas em um contexto social discriminatório e, portanto, acabam produzindo efeitos multiplicadores da discriminação. (RIOS, 2008, p.134-140). A discriminação institucional se relaciona com dois elementos: poder e legitimidade (HENRY, 2010, p. 429). O primeiro se refere à ocorrência da discriminação pelas mãos de grupos que detém mais poder, e assim, utilizam sua posição privilegiada para estruturar as instituições de modo a reproduzir seus privilégios em detrimento de outros grupos. (RIOS, 2008, p. 136). O grupo discriminado, assim, sempre irá apresentar uma desvantagem em termos de poder. A legitimidade da discriminação institucional envolve a percepção de que uma determinada política institucional é justa e merecida, justificando a diferenciação entre os grupos. (HENRY, 2010, p. 429). Contudo, o conceito de legitimidade está em disputa, e, assim, o que parece legítimo pode, em realidade, configurar uma política dirigida contra determinados grupos, ou seja, uma política ilegítima, que produz inequidade e discriminação. Apesar de ser um efeito da discriminação, a discriminação institucional pode ser intencional, realizada com a finalidade de excluir um determinado grupo do acesso a políticas ou da abrangência de alguma legislação. Ainda, pode ser originada tanto da soma de ações discriminatórias de indivíduos que ocupam instituições, como de padrões de práticas discriminatórias. Considerando que a discriminação institucional se produz de diversas formas, deve-se identificar qual(is) modalidade(s) está(õ) envolvida(s) num determinado caso concreto, pois cada uma delas poderá ser combatida por meio de estratégias diversas, eficientes para determinada forma de atuação. (HENRY, 2010, p. 436). O ordenamento jurídico brasileiro trabalha com um modelo misto de critérios proibidos de discriminação, enumerando de forma exemplificativa os critérios de diferenciação, que podem ser ampliados pelo legislativo e pelo judiciário. Rios (2008, p. 53-54) refere que é por meio das lutas por reconhecimento que se amplia o rol de critérios proibidos ou que se alarga a compreensão de um critério já existente. Assim é o caso da proibição de 2 Aquelas leis estabelecidas, costumes e práticas que sistematicamente refletem e produzem inequidades baseadas no grupo em uma sociedade. (HENRY, 2010, p. 427, tradução nossa).

discriminação por motivo de sexo, prevista expressamente no ordenamento brasileiro, cujo conceito foi ampliado, a fim de abarcar a proibição de discriminação por orientação sexual, compreendendo-se que a discriminação sofrida pelos homossexuais se dá pela combinação dos sexos das pessoas envolvidas. Sendo assim, é perfeitamente adequado alargar-se a compreensão de discriminação por motivo de sexo para proibir a discriminação por orientação sexual, já que esta, ao fim e ao cabo, também é decorrente do fator sexo. (RIOS, 2008, p. 57). Da mesma forma, a discriminação por identidade de gênero pode ser abarcada pelo motivo de sexo, pois é decorrente da tida incoerência entre o gênero experimentado pelo sujeito e seu sexo biológico, relacionada à adoção da heteronorma como o padrão a ser seguido. Salientase que a proibição de discriminação por identidade de gênero e a por expressão de gênero está explicitamente prevista na Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância (OEA, 2013), assinada pelo Brasil em junho de 2013, mas que ainda não entrou em vigor, pois depende de, no mínimo, duas ratificações. De toda forma, o art. Art. 3º, IV, é explícito em proibir quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988), não sendo necessária a previsão expressa da proibição de discriminação por motivo de orientação sexual ou de identidade de gênero. Ademais, a simples invocação do direito à igualdade é suficiente para proteção dos sujeitos, independente da menção a um ou outro critério discriminatório. Contudo, as normas podem tanto ser utilizadas para transformação da realidade social, como para a manutenção da ordem discriminatória vigente. Neste sentido, Sheppard (1998, p. 155) chama a atenção para o fato de que a definição de igualdade como o direito de ser tratado de modo igual incorpora os interesses do grupo dominante e reforça a cultura, os valores e as crenças da instituição tradicional, em vez de pensar nas necessidades individuais de cada grupo. (SHEPPARD, 1998, p. 155). Desta forma, pela análise do corpo normativo nacional, busca-se verificar se as previsões constitucionais têm o condão de transformar a realidade social, garantindo direitos às travestis, ou se são utilizadas de forma a manter a heteronormatividade dominante. Para fins de análise, os instrumentos normativos pesquisados foram categorizados de acordo com o conceito utilizado: sexo e/ou gênero. Os critérios identidade de gênero, travesti e transexual foram verificados no bojo destes conceitos, considerando a sua relação com a compreensão dos mesmos. Observamos, por meio da análise dos instrumentos normativos estudados, que o conceito de sexo é utilizado pelo direito em duas situações diversas: ora é elencado como critério de classificação dos sujeitos, como, por exemplo, pela Lei do Registro Civil (Lei nº 6.015/1973), pela Lei da Previdência Social (Lei 8.213/1991) e pela Consolidação das Leis Trabalhistas, ora como

critério proibido de discriminação, como, por exemplo, a Lei dos Transtornos Mentais (Lei nº 10.216/2002), o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), diversas constituições estaduais 3 e tratados e convenções ratificados pelo Brasil 4. Apesar de dividirem os sujeitos pelo critério sexo, ou de proibirem a discriminação por este motivo, as normas não se preocupam em definir qual posição teórica utilizam para conceituá-lo, empregando este termo como algo unívoco, dado, óbvio e natural. O fato de não tomarem uma teoria como referência, contudo, não denota neutralidade do direito. Pelo contrário, ao procederem desta forma, acabam por traduzir a perspectiva essencialista, que pressupõe que as características biológicas são naturais, dadas, imutáveis e que vinculam o gênero e a sexualidade dos indivíduos (BEASLEY, 2006, p. 136-138). Isto porque, se utilizam de uma concepção binária de sujeitos ou se é homem, ou se é mulher usando como critério de definição os órgãos biológicos. Como esta perspectiva não leva em conta os aspectos identitários dos sujeitos para a conformação do conceito de sexo, as travestis são enquadradas na categoria homem no registro civil, na previdência social, na separação de banheiros e na destinação de estabelecimentos prisionais, ignorando a sua aparência e identificação com o feminino. Ou seja, o direito, baseado na heteronormatividade e nos binarismos de gênero, classifica os sujeitos pelo critério de sexo, que em verdade se traduz no sexo biológico, não dando guarida aos sujeitos que não se conformam com as normas de inteligibilidade. Desta forma, por meio da discriminação institucional é criada uma cidadania de segunda classe para aqueles sujeitos que não se enquadram exatamente na norma biológica, como é o caso das travestis, que são classificadas como homens, independente de se reconhecerem como do gênero feminino. Como exceção, apontamos a Resolução Conjunta nº 01 de 15 de abril de 2014 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de 3 Neste sentido são as constituições dos estados de Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e também a Lei Orgânica do Distrito Federal. 4 Neste sentido citamos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, a Declaração do Cairo, a Carta das Nações Unidas, a Declaração do Milênio da ONU, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (2014), que estabelece os parâmetros de acolhimento de pessoas LGBT em estabelecimentos prisionais, que possui elementos construcionistas sociais. Isso porque, ao trazer os conceitos de travesti e transexual, trata o sexo como a expressão biológica e fisiológica dos sujeitos, enquanto refere que o gênero é a dimensão cultural, não necessariamente atrelada a ele (BEASLEY, 2006, p. 144-150). Por sua vez, a Resolução nº 11 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (2014), que trata sobre a inclusão dos campos orientação sexual, identidade de gênero e nome social nos boletins de ocorrência emitidos pelas autoridades policiais brasileiras, traz outra perspectiva teórica sobre o conceito de sexo. Em vez de tratá-lo como uma verdade biológica, como os instrumentos normativos analisados anteriormente, esta Resolução trabalha com o conceito de sexo atribuído no nascimento, denotando traços queer. Falar em atribuição do sexo significa reconhecer que ele é não é natural, mas é um construto performativo, um ideal regulatório e classificatório dos sujeitos, que é materializado nos corpos de forma reiterada, de modo que é percebido como se fosse natural, como se sempre estivesse ali (BUTLER, 2002, p. 315-318). Reconhecer este papel performativo do sexo significa aceitar outras configurações para ele que não apenas o homem e a mulher. Desta forma, a resolução em análise explicita a possibilidade de que o sexo seja vivido fora da matriz heteronormativa, abrindo espaço para as travestis. Contudo, a posição desta resolução não é a regra. A maioria dos instrumentos normativos analisados não se preocupa em definir o conceito de sexo que está sendo empregado, tratando-o como se fosse algo dado, natural e indiscutível, seja para diferenciar sujeitos, seja para protegê-los da discriminação. Como já visto, esta postura acaba se traduzindo na perspectiva essencialista, binária, que conhece apenas dois tipos de sujeitos homens e mulheres deixando, assim, as travestis de fora do âmbito completo de sua proteção. No que tange à pesquisa pelo termo gênero, percebe-se que é utilizado pelos instrumentos normativos no sentido construcionista, ligado ao combate das desigualdades e da discriminação produzidas em razão das hierarquias de gênero construídas historicamente, que colocam mulheres, travestis e transexuais numa posição de inferioridade, dominação e opressão (WEEKS, 2010, p. 42). É também no bojo deste conceito, mais especificamente no conceito de identidade de gênero que o direito situa a proteção jurídica às travestis e transexuais. Identidade de gênero é concebida pela Resolução nº 11 do CNLBGT (2014) como a:

[...] experiência interna, individual e profundamente sentida que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo-se aí o sentimento pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, ciru rgicos ou outros) e outras expresso es de gênero, inclusive o modo de vestir-se, o modo de falar e maneirismos. (CNLGBT, 2014) Esta Resolução apresenta a identidade de gênero como uma experiência de cada sujeito, que pode ser vivenciada de forma diversa e independente ao sexo atribuído no nascimento, denotando um rompimento com as teorias essencialistas que condicionam o gênero como expressão cultural do sexo biológico. Ainda, afirma que a identidade de gênero, assim como a orientação sexual, podem ser autodeclaradas no momento do preenchimento do boletim de ocorrência. Ou seja, deixa a cargo dos sujeitos que decidam e definam como querem ser identificados, retirando do direito e dos agentes públicos esta função. Tal previsão traduz a perspectiva queer, que desnaturaliza o sujeito e o percebe como um processo construído no discurso, por meio da reiteração de ações que se constituem com força de autoridade e que produzem os enunciados que pronunciam. (BUTLER, 2002, p 315-318). Assim, sexo, gênero e sexualidade não são compreendidos como expressões naturais do sujeito, mas como efeitos das instituições que os estabelecem. Entender que o sujeito não é natural, ontológico, significa perceber que não há nenhum modelo original de sujeito a ser copiado. Ele é instituído conforme o contexto específico, e assim, pode ser estabelecido de formas diferentes (BUTLER, 2002, p. 332-339). No caso desta Resolução, fica a critério dos sujeitos pronunciarem sua identidade de gênero, aceitando-se, assim, que sejam experimentadas diversas conformações e relações entre sexo, gênero e sexualidade, não apenas aquelas estabelecidas pela heteronorma. O reconhecimento à identidade de gênero das travestis e transexuais é trabalhado pelos instrumentos normativos analisados em quatro situações: a garantia de uso do nome social, a atenção integral no sistema de saúde, o uso de banheiros conforme o gênero e o acolhimento em estabelecimentos prisionais. Todos os instrumentos normativos que tratam dos termos travesti e/ou transexual, abordam o reconhecimento do nome social, seja na escola, no atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), nos registros policiais e nos documentos oficiais de identificação de conselhos de classe. O nome social, para estes instrumentos normativos, é entendido como o nome pelo qual as pessoas se identificam e são reconhecidas pela sociedade (CNLGBT, 2014), se relacionando, assim, ao respeito à identidade de gênero das travestis e transexuais.

Outro aspecto do reconhecimento da identidade de gênero das travestis e transexuais está ligado à cirurgia de transgenitalização custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e regulada pela Portaria nº 2.803/2013, do Ministério da Saúde, que prevê o tratamento integral às travestis e transexuais pelo SUS, não se restringindo ao procedimento transgenitalizador. A existência de tratamentos hormonais, fonoaudiológicos, psicológicos, cirúrgicos e de atenção integral a travestis e transexuais no SUS significa o reconhecimento destas identidades de gênero pelo Estado. Como tal Portaria não limita os tratamentos de saúde à cirurgia de transgenitalização, dá um passo para o reconhecimento que o gênero e o sexo não possuem correspondência, podendo ser vividos de forma independente, não sendo necessária a adequação de um ou de outro. No que tange ao uso de banheiros conforme a identidade de gênero, a Resolução nº 12 do CNLGBT, de 2015 e a Portaria Normativa nº 001 de 2015 da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA, 2015) estabelecem parâmetros para a garantia de acesso e permanência de travestis e transexuais em diferentes espaços sociais, orientando, além do uso do nome social, que seja garantido o uso de banheiros, vestiários e demais espaços segregados por gênero, de acordo com a identidade de gênero de cada pessoa. A Resolução Conjunta nº 01/2014 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais, que estabelece os parâmetros para o acolhimento da população LGBT em estabelecimentos prisionais, também se preocupa com a proteção a identidade de gênero de travestis e transexuais. Para além da garantia do uso do nome social, esta Resolução prevê a possibilidade de travestis e transexuais utilizarem roupas conforme o gênero pelo qual se identificam, manterem seus tratamentos hormonais e acompanhamento de saúde específicos, garantindo seus caracteres secundários de acordo com o seu gênero. Ainda, prevê o tratamento isonômico entre trans-mulheres e as demais mulheres encarceradas e a sua reclusão em estabelecimentos prisionais femininos, o que denota uma compreensão de que o sexo não é o elemento definidor do gênero e classificador dos sujeitos. Apesar de trazerem avanços para o reconhecimento e para a não discriminação das travestis e transexuais, estes instrumentos normativos ainda são incipientes, tratando-se de portarias de órgãos federais, cuja abrangência se esgota dentro das competências destes órgãos, e resoluções de conselhos, que têm caráter de orientações. Não há nenhuma previsão legislativa encontrada no Brasil que organize e determine como devem ser tratadas as travestis e transexuais, seja no uso do nome social, na escolha de banheiros,

no atendimento de saúde ou no recolhimento prisional. Por outro lado, conforme visto, há diversas previsões legais que separam os sujeitos em razão do sexo biológico, o que acaba por gerar um tratamento às travestis em descordo com a sua identidadade de gênero. Assim, ao fim e ao cabo, tem ficado a cargo do Judiciário decidir tais questões, alargando ou diminuindo a compreensão da proibição da discriminação por motivo de sexo, a fim de abranger ou não a identidade de gênero das travestis. 3 Considerações Finais Por meio da análise dos instrumentos normativos nacionais, identificamos que o direito utiliza os conceitos de sexo e gênero como se fossem unívocos, óbvios, naturais, ignorando os debates teóricos contemporâneos, travados pelas perspectivas essencialista, construcionista social e queer. Este cenário de indefinição do direito acerca dos conceitos de sexo e gênero que está sendo empregado nas leis antidiscriminatórias não denota a sua neutralidade. Pelo contrário, considerando que as normas são feitas e aplicadas no bojo de uma sociedade heteronormativa, cujas relações de poder operam pela normalização da heterossexualidade compulsória, da dominação masculina e da inteligibilidade dos sujeitos, classificando como anormais todas aquelas pessoas que não encaixam neste padrão, o uso genérico de categorias aparentemente neutras, em verdade, reforça esta lógica, configurando-se como discriminação institucional. No caso das travestis, esta dita neutralidade acaba deixando-as de fora do âmbito de proteção das normas antidiscriminatórias, que são aplicadas apenas para quem corresponde aos padrões inteligíveis de sujeito. Percebe-se, assim, que estão presentes os elementos do poder e da legitimidade, característicos da discriminação institucional, na medida em que os grupos que detêm poder controlam as instituições e as regras, deixando de fora das políticas antidiscriminatórias as travestis, já que estas não correspondem aos padrões estabelecidos, marcando uma aparente legitimidade na sua diferenciação. Referências BEASLEY, Chris. Gender & Sexuality: Critical theories, critical thinkers. Londres: Sage, 2006. 304 p. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasilia, DF, 1988.

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