Educação Ambiental Formal - uma Necessidade Obrigatória



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Transcrição:

1 Educação Ambiental Formal - uma Necessidade Obrigatória Resumo: Este artigo tem por objetivo geral apresentar educação ambiental formal (EAF) à ser aplicada nos cursos de administração, diante da formalização legal da Lei Federal n 9795-99 dos critérios dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-MEC). Desta forma, destaca-se como objetivos específicos a caracterização das questões didático/pedagógicas da EAF vinculadas à legislação e aos PCN-MEC e a caracterização dos conteúdos a serem observados no curso de administração. A metodologia utilizada para o estudo foi baseada em pesquisas bibliográficas, artigos, revistas, periódicos e meio eletrônico. Como resultados do estudo apresenta-se a caracterização das questões didático/pedagógicas no ensino, da obrigatoriedade legal em incluir esses conteúdos sócio-ambientais nos cursos formais e em particular no curso de administração e de forma complementar, quais os conteúdos a serem adotados e abordados. Palavras-chave: Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Educação Ambiental, Lei Federal n 9795-99. 1 Introdução O homem durante muito tempo destruiu o meio ambiente sem qualquer noção ou interesse pela preservação ambiental, utilizou os recursos naturais como se o planeta fosse infinito e esses recursos inesgotáveis. Nos dias de hoje a sociedade já está sofrendo com a escassez dos recursos, e lentamente vem se conscientizando a adotar uma postura mais coerente com os princípios que regem o funcionamento dos ecossistemas naturais. Assim, nos últimos anos a sociedade passou a cobrar dos setores públicos e privados uma mudança no desenvolvimento atual para um modelo de desenvolvimento sustentável que possa ser compatível com a evolução e o crescimento econômico sem a destruição da natureza e dos seres humanos. Partindo do princípio que qualquer mudança que a vida moderna requer passa primeiramente pela educação, é por meio dela que se atinge o objetivo de realmente mudar os paradigmas da sociedade. Educando os cidadãos desde a infância, por meio da educação formal, ajudando a transformar seu caráter, para que se torne uma pessoa consciente de suas ações, e reforçando essa transformação por meio da educação informal, a educação ambiental nas comunidades, nas empresas, enfim, atingindo todos os níveis sociais, só assim será possível atingir o desenvolvimento sem que se prejudique o ecossistema. Diante desse contexto, e pela necessidade de cumprir a legislação, os cursos de administração têm papel fundamental na consciência voltada para o desenvolvimento sustentável, visto que a evolução e o crescimento econômico de um país também depende do bom desempenho das organizações, nada mais importante do que a educação ambiental formal seja aplicada na preparação dos seus administradores. Em face a este problema, o artigo aborda a problemática atual, o desenvolvimento sustentável fazendo frente a esta problemática e a educação ambiental formal com o objetivo de desenvolver, estados físicos, intelectuais e morais referente à mudança que a sociedade precisa para aproveitar melhor seus recursos. Igualmente conscientizar sobre a forma que o planeta precisa ser tratado para sobreviver a tantos impactos ambientais, tendo um futuro mais humano e sustentável. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Meio Ambiente

As preocupações com a preservação do meio ambiente e recursos naturais surgiram somente na metade do Século XX, onde grupos sociais começaram a questionar e alertar a sociedade para as conseqüências nefastas da destruição dos recursos e de como o futuro do planeta estaria seriamente prejudicado, caso não começassem a acontecer mudanças mundiais com relação à preservação do meio. Na tentativa de entender o que ocorre efetivamente em termos de danos ambientais e preservação do meio ambiente Fellemberg 1980, descreve o conceito de poluição ambiental. A idéia de poluição ambiental abrange uma série de aspectos, que vão desde a contaminação do ar, das águas e do solo, a desfiguração da paisagem, erosão de monumentos e construções até a contaminação da carne de aves com hormônios. As causas destes fenômenos são processos de industrialização; de utilização dos recursos naturais e do contínuo aumento populacional, que força uma crescente produção de alimentos e um consumismo desenfreado ocasionando um grande impacto ambiental. A Legislação Federal vigente no Brasil coloca de forma clara e abrangente o que são impactos ambientais (IA). A Resolução CONAMA 001, de 23 de janeiro de 1986 define IA como sendo [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas no meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a) a saúde, segurança e o bem estar social; b) as atividades sociais e econômicas; c) a biota; d) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e e) a qualidade dos recursos ambientais. Todas as atividades originadas da natureza se desenvolvem em ciclos onde tudo é temporário: nasce, cresce, desenvolve-se, reproduz-se e morre. A morte continua com a decomposição de sua matéria, originando uma nova base, ou substrato, para início de uma nova vida, reiniciando o ciclo. A natureza é sábia, como se diz, pois conseguiu um equilíbrio ótimo há milhões de anos, sempre despejando toneladas diárias de resíduos que são reaproveitados integralmente (Zulauf, 1995) através de processos de decomposição, fermentação, evaporação e modificação naturais do meio ambiente. Nós, seres humanos, nos desenvolvemos da mesma maneira, sendo que ao produzirmos resíduos não os reaproveitamos, pelo contrário, somente degradamos o meio ambiente em que vivemos, desequilibrando todo o desenvolvimento do ciclo natural. Conforme Hutchesom (2000), outros fatores preponderantes desta crise ecológica são o aumento exponencial da população humana; a degradação das terras, das comunidades florestais, das fontes de água e de outros mananciais aquáticos; a destruição da camada de ozônio; e a crescente escassez de recursos naturais e a extinção das espécies. Sob uma perspectiva ecológica tais situações surgem em virtude de perturbações no sistema ecológico das comunidades bióticas e no meio ambiente global como um todo. A noção de que a natureza é um recurso explorável e consumível está tão profundamente enraizada na cultura dos homens modernos que talvez seja difícil imaginar uma relação alternativa entre os seres humanos e o equilíbrio da comunidade Terra tornandose uma triste ilusão imaginar que os recursos naturais são infindáveis. Devido ao caráter finito das matérias primas e pela industrialização desenfreada da atualidade, o setor industrial é amplamente reconhecido como o fator preponderante na degradação ambiental do planeta. Sendo assim as questões ambientais apresentam-se como desafios para as ciências resolverem. Os fenômenos ambientais, também chamados de ecológicos, apresentam-se com características complexas e distintas, portanto, apontar soluções para estes problemas ambientais; alguns de dimensões globais devem incorporar as novas perspectivas do desenvolvimento sustentável. 2

3 2.2 Desenvolvimento Sustentável Tiveram início na década de 60 as primeiras reflexões sobre os riscos da degradação do meio ambiente, na primeira discussão internacional, em 1972, na Suécia, através da Conferência de Estocolmo. Considerada como um marco do gerenciamento das questões ambientais a nível internacional. A Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) reuniu-se pela primeira vez em 1984, publicando em 1987 o Relatório Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum. A partir deste documento ficou conhecida a idéia de Desenvolvimento Sustentável (DS). O termo Desenvolvimento Sustentável foi cunhado por Robert Allen, que define como desenvolvimento requerido para obter a satisfação duradoura das necessidades humanas e o crescimento (melhoria) da qualidade de vida.(allen APUD BELLO, 1998, P.16). Embora presente nas discussões políticas internacionais, não existe uma única definição que seja compartilhada universalmente, ainda que exista um consenso em se adotar aquelas contidas no relatório Nosso Futuro Comum (1991), as quais fundamentaram a conceituação do DS, destacando os pontos centrais do conceito de desenvolvimento sustentável, elaborados pela CMMAD. De acordo com CMMAD (1991, p. 4), o Desenvolvimento Sustentável é um [...] tipo de desenvolvimento capaz de manter o progresso humano não apenas em alguns lugares e por alguns anos, mas em todo o planeta e até um futuro longínquo. Assim o desenvolvimento sustentável é um objetivo a ser alcançado não só pelas nações em desenvolvimento, mas também pelas industrializadas. Sachs (1993) define o desenvolvimento sustentável como sendo socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente prudente. Entretanto, Sachs (1993) sugere que devam ser adotadas cinco dimensões para o planejamento ou aplicação do DS: Sustentabilidade social, Sustentabilidade econômica, Sustentabilidade ecológica e espacial, Sustentabilidade cultural. Seguindo esta dimensão, em busca da sustentabilidade, há que se colocar em prática, ações verdadeiramente sustentáveis. A educação ambiental formal, tema deste artigo, juntamente com o uso de tecnologias limpas pode fazer parte do caminho para a busca da sustentabilidade. Entende-se por tecnologias limpas, conjunto de conhecimentos que se aplicam em determinadas atividades visando maximizar benefícios, melhoria ou desempenho. O desenvolvimento econômico e o bem estar do ser humano dependem dos recursos da Terra. O Desenvolvimento sustentável é simplesmente impossível se for permitido que a degradação ambiental continue. É preciso através de um desenvolvimento ambientalmente sustentável conseguir com que o crescimento econômico e o meio ambiente sejam compatíveis e ao mesmo tempo interdependentes e necessários. A alta produtividade, a tecnologia moderna e o desenvolvimento econômico podem e devem coexistir com um ambiente saudável. 2.2.1 Ações Sustentáveis Com o confronto inevitável entre o modelo de desenvolvimento econômico vigente que valoriza o aumento de riqueza em detrimento da conservação dos recursos naturais e a necessidade vital de conservação do meio ambiente, surge a discussão sobre como promover o

4 desenvolvimento das nações de forma a gerar o crescimento econômico, mas explorando os recursos naturais de forma racional e não predatória. É fundamental a sociedade impor regras ao crescimento, à exploração e à distribuição dos recursos de modo a garantir as condições da vida no planeta. Nos documentos assinados pela grande maioria dos países, incluindo-se o Brasil, fala-se em garantir o acesso de todos aos bens econômicos e culturais necessários ao seu desenvolvimento pessoal e a uma boa qualidade de vida, relacionando-o com os conceitos de desenvolvimento e sociedade sustentáveis. Hoje, mais do que antes, a sustentabilidade do planeta depende da confluência das ações de todos os países, de todos os povos. As grandes desigualdades entre ricos e pobres são prejudiciais a todos. Todas as nações só têm a ganhar com a sustentabilidade mundial e todas estão ameaçadas caso não consigamos essa sustentabilidade. Seguindo estes critérios, em busca da sustentabilidade, há que se colocar em prática ações verdadeiramente sustentáveis, como a adoção da educação ambiental, tema principal deste trabalho, e o uso de tecnologias limpas. Partindo-se do princípio de que tecnologia é um conjunto de conhecimentos que se aplicam a determinadas atividades visando maximizar benefícios, melhoria ou desempenho, pode-se afirmar que as tecnologias limpas são o caminho para alcançar-se o desenvolvimento sustentável. Como exemplo de tecnologias limpas pode-se citar a utilização do Sistema de Gestão Ambiental- SGA, adequação às leis ambientais, auditorias ambientais, planejamento estratégico sustentável, projetos de recuperação e melhoria ambiental, monitoramento e antecipação sistemáticos, uso de tecnologias limpas fabris e de serviços, cuidados com a imagem e a responsabilidade social e fundamentalmente as mudanças na cultura organizacional através da educação ambiental. 2.3 Educação Ambiental A Educação Ambiental vem sendo introduzida de modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro só nos últimos tempos, embora alguns temas relacionados com a questão ambiental já estivessem presentes, eventualmente, no programa das disciplinas. Pode-se considerar os anos 60/70 como um marco contemporâneo de crescimento dos movimentos sociais em defesa do meio ambiente. O poder das reivindicações e a iminência dos problemas ambientais formaram uma poderosa pressão política sobre os Estados nacionais e organismos internacionais, o que acabou resultando na I Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em Estocolmo, na Suécia, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972. Foi uma conferência em que compareceram mais de 100 representantes de Estado, o que não impediu uma participação paralela de cerca de 250 organizações da sociedade civil. Dessa conferência da ONU resultaram inúmeros estudos e documentos e foi estabelecida uma agenda. A partir daí, houve uma sucessão de iniciativas desse tipo, até chegar-se a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O principal documento extraído da II Conferência foi a Agenda 21. Trata-se de um programa recomendado para os governos, agências de desenvolvimento, Órgãos das Nações Unidas, organizações não-governamentais e para a sociedade civil de um modo geral, para ser colocado em prática a partir de sua aprovação, em 14 de junho de 1992, ao longo do século 21, em todas as áreas em que a atividade humana interfira no meio ambiente. Uma característica desse documento, que tem caráter abrangente, foi incorporar uma série de decisões anteriores que vinham sendo tomadas em conferências específicas e temáticas.

5 Tal é o caso da Conferência Intragovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental, organizada pela UNESCO e pelo PNUMA e realizada em 1977, que definiu educação ambiental como uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. Esta conferência é o referencial fundamental da Educação Ambiental como pratica a ser desenvolvida no cotidiano das sociedades, entendida como instrumento essencial de sensibilização nas questões ambientais contemporâneas e como prática que busca educar as pessoas para cuidarem melhor do meio ambiente. Neste evento definiu-se a natureza da Educação Ambiental, seus objetivos, suas características e estratégias pertinentes nos planos nacional e internacional, referendando o Programa Internacional de Educação Ambiental. Foi o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975 pela UNESCO/PNUMA. A Agenda 21 incorporou, junto a outros temas relacionados ao meio ambiente, as decisões de Tbilisi sobre Educação Ambiental, no seu capítulo 36, que trata da promoção do ensino, da conscientização e treinamento em relação à questão ambiental. Um dos aspectos principais das recomendações da Agenda 21 sobre Educação Ambiental refere-se à reorientação do ensino formal no sentido de incorporá-la, salientando que: o ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino básico sirva de fundamento para o ensino em matéria de ambiente e desenvolvimento, este último deve ser incorporado como parte essencial do aprendizado. [...] O ensino é também fundamental para conferir consciência ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas de comportamentos em consonância com o desenvolvimento sustentável e que favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de decisão. Para ser eficaz, o ensino sobre o meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do sócio-econômico e do desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual), deve integrar-se em todas as disciplinas e empregar métodos formais e informais e meios efetivos de comunicação. Entende-se por educação ambiental não-formal ou informal, processo educativo que se realiza através de campanhas populares visando a formação de atos e atitudes que possibilitem a preservação dos recursos naturais como a fauna, a flora, os rios, as matas e a correção de processos degenerativos da qualidade de vida na Terra. Já a educação ambiental formal ou escolar como também é conhecida; pode ser entendida como um processo educativo que envolve regularmente a rede de ensino, através da atuação curricular, tanto no planejamento quanto na execução de currículos. No processo formal a educação está sujeita a pedagogia, produz seus métodos, estabelece regras e constitui executores especializados. O desenvolvimento deste artigo tem como foco principal à educação de caráter formal. 2.3.1 Fundamentos Legais da Educação Ambiental no Brasil A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n 6.938/81), que dispõe sobre fins, mecanismos de formulação e aplicação da Política Nacional do Meio Ambiente, consagra a Educação Ambiental e estende, no seu Artigo 2, inciso X. a Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. O Decreto n. 88.351/83, que regulamenta esta lei, estabelece que compete as diferentes esferas do Poder Público orientar a educação, em todos os níveis, para a participação efetiva

do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente, cuidando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias complementem o estudo de ecologia. O parecer n. 819/85 do MEC, de 1985 reforça a necessidade da inclusão de conteúdos ecológicos, ao longo do processo de formação que se desenvolve no ensino de 1 e 2 graus, integrados a todas as áreas do conhecimento, de forma sistematizada e progressiva, possibilitando a formação da consciência ecológica do futuro cidadão. Já o parecer n. 226/87, de 1987, do Conselho Federal de Educação, aprovado por unanimidade, considera a necessidade da inclusão da EA dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1 e 2 graus. Recomenda, ainda, a incorporação de temas ambientais da realidade local compatíveis com o desenvolvimento social e cognitivo dos alunos e a integração escola-comunidade como estratégia de aprendizagem. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 dedica o Capítulo VI ao Meio Ambiente e, no artigo 225, inciso VI, expressa a responsabilidade individual e coletiva da sociedade na implementação e prática da EA. [...] Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. O caput do mesmo artigo constitucional incorpora o papel da sociedade para a manutenção do ambiente equilibrado. [...] Cabe ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. A Lei que institui a Política Nacional de Educação Ambiental reflete este princípio constitucional quando envolve e chama a atenção de toda a sociedade para a sua responsabilidade e o seu comprometimento de promover a educação ambiental. A Portaria n. 678/91 do MEC, de 1991 determina que a educação escolar deve contemplar a Educação Ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Por sua vez, a portaria n. 2.421 do mesmo ano institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho para EA com o objetivo de definir, com as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no país, elaborar proposta de atuação do MEC na área de educação formal e não-formal para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. O Plano Decenal de Educação Para Todos (1993-2003, do Ministério da Educação) tem como objetivo a satisfação das necessidades básicas das crianças, jovens e adultos e a ampliação dos meios e do alcance da sua educação básica, tendo a dimensão ambiental como um de seus componentes. A Proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), de 1994, elaborada pelo MEC/MMA/MINC/MCT, objetiva capacitar o sistema de educação formal e não-formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades. Com base nas recomendações de Tbilisi, acordadas em âmbito internacional, o Congresso Nacional instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental por meio da Lei n 9.795 de 27 de abril de 1999, que [...] Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Em seu artigo 1, define Educação Ambiental da seguinte maneira: entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. E complementa: A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (art.2 ). 6

7 3 Análise da Educação Ambiental Formal 3.1 Caracterização das questões didático/pedagógica da EAF vinculadas à legislação e ao PCN-MEC Os Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1997), absorvem a dimensão ambiental como um Tema Transversal nos currículos do Ensino Fundamental. Os PCN são lançados como subsídio para apoiar o projeto da escola na elaboração do seu currículo. A grande novidade desta iniciativa é a inserção dos Temas Transversais, que inclui Ética, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Saúde, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, que permeiam todas as disciplinas, buscando ajudar a escola a cumprir seu papel institucional de fortalecimento da cidadania. Mas é fato que nem o reconhecimento da necessidade nem a obrigatoriedade da lei são suficientes, para garantir a existência da EA na escola, muito menos sua qualidade. A prática de EA na escola busca assegurar um ensino-aprendizagem que torne os estudantes aptos a compreenderem o conceito de meio ambiente, seus processos e dinâmicas. É necessário, também, que eles compreendam o seu lugar, seu papel e sua responsabilidade com os processos e as dinâmicas característicos do meio ambiente. Sancionada pelo presidente da República, após quase cinco anos de debates e discussões, esta lei reconhece, enfim, a Educação Ambiental como um componente urgente, essencial e permanente em todo processo educativo, formal e/ou não-formal. Vale destacar que a lei define que a presença no ensino formal da Educação Ambiental deve abranger os currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: Educação Infantil; Ensino Fundamental; Ensino Médio, Educação Superior; Educação Especial; Educação Profissional; Educação de Jovens e Adultos, todavia, não deve ser implantada como disciplina específica nos currículos. A proposta do MEC para a prática da EA na escola, implementada pela Coordenação Geral de Educação Ambiental, é a inserção da temática ambiental nos currículos, aliada a adoção de uma nova postura de toda comunidade escolar, que pode ser exercitada em projetos de EA articulados com o projeto educativo da escola. E os professores são os principais agentes de implantação da EA na escola. Por isso mesmo, é necessário lhes oferecer formação para desenvolver a capacidade de compreender, refletir e ensinar os temas relacionados ao meio ambiente. Conforme as referências dos Parâmetros Curriculares, publicados pelo MEC, e da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, a escola procura formar indivíduos que compreendam a realidade e tenham capacidade de criticá-la, que se preocupem com o destino coletivo e saibam se posicionar diante dos desafios do mundo. Para os cidadãos conscientes, tratar de meio ambiente torna-se uma tarefa inerente ao seu cotidiano, visto que é um tema universal e que dele depende a vida no planeta. A Educação Ambiental é um caminho para formação de indivíduos em questões essenciais para a qualidade de vida e para a construção da cidadania. A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental foi, sem dúvida alguma, onde melhor se explicitou o campo de atuação da Educação Ambiental na escola, por meio da transversalização do tema meio ambiente, ou seja, a temática ambiental deverá estar presente nos currículos dos vários níveis de ensino, porém não de modo disciplinar, como acontece nas outras áreas. Não foram os Parâmetros que fizeram do tema Meio Ambiente algo transversal às áreas curriculares, pois de certo modo essa transversalidade já existia na realidade. Não é a toa que as reflexões mais apuradas sobre a questão ambiental não a reduzem apenas a uma defesa tópica da natureza, ou do meio ambiente, mas mostram que através dessa perspectiva

questionamos mais amplamente o mundo em que vivemos. As questões ligadas ao meio ambiente são transversais à vida como um todo; logo, também aos objetos das áreas e disciplinas. Esse raciocínio sobre a transversalidade do tema Meio Ambiente acaba por mostrar o caminho da introdução da Educação Ambiental no ensino formal. De forma latente e sob vários enfoques, a questão ambiental já está presente no interior das áreas curriculares. O que é preciso é revelá-la e ampliá-la, provocando uma reavaliação do universo escolar, estimulando as áreas e disciplinas a se aproximarem mais da realidade. A partir da instituição dos PCNs na educação brasileira, o importante é refletir estas alterações e como está sendo proposta sua implementação. Diante da introdução de temas transversais, deve-se verificar como estão estruturados os conteúdos escolares, sua origem, qual o papel da escola na sociedade globalizada em que vivemos atualmente para examinarem-se como os temas transversais podem ser trabalhados. Assim como a ciência, o ensino também é usado, na maior parte das vezes, como forma de impor um aprendizado, principalmente quando obriga o aluno a aceitar aquilo que ele não entende para que serve. Será que os temas historicamente priorizados estão dando conta de esclarecer as pessoas para agir em relação aos problemas ambientais, sociais, econômicos do tempo atual ou se mantêm numa mesma origem. Todas as idéias desenvolvidas argumentam a favor de que o tema Meio Ambiente se incorpore ao cotidiano escolar como Educação Ambiental, por intermédio das áreas do conhecimento, e não apenas se mantenha como um tema excepcional em semanas ou atividades comemorativas. O objetivo é encontrar nas áreas e disciplinas contribuições efetivas que podem dar a partir de sua própria natureza, no entendimento, na ampliação e no enriquecimento da questão ambiental. A idéia é que isso possa ocorrer sem que o professor tenha que fugir do seu programa, que ele possa integrar no seu curso, conforme a especificidade de sua área, o tema ambiental. Para isso há necessidade de mudança na forma de desenvolver o processo educativo e se reconhece que, primeiramente, os professores devem ser capacitados para trabalhar nesta nova abordagem, com este ensino diferente. Devem estar preparados para intervir a partir de um paradigma que percebe as inter-relações possíveis para o ambiente, onde o humano é um sujeito que está nele, interagindo, transformando e sofrendo transformações, relacionando-se, sofrendo as influências das relações dos outros componentes deste meio entre si. Portanto, na forma como são propostas pelo MEC, os PCNs não devem ser vistos com a perspectiva de promoção e concretização de mudança no sistema de ensino. Contrariamente, ao serem organizados a partir do contexto atual e enfocando a problemática cotidiana, os conteúdos curriculares convertem-se em instrumentos emancipatórios cujo valor e utilidade podem ser percebidos pelos alunos. Sendo tratados a partir da perspectiva da transversalidade transformada em eixo, isto é, como conhecimentos necessários para a cidadania na sociedade globalizada, o sentido das matérias tradicionais muda, adquire um novo valor, contribuindo na conquista dos objetivos para a vida em sociedade desenvolvida e consciente. Quando os temas sociais são tratados como fins do ensino, os conteúdos curriculares se tornam instrumentos cujo domínio e uso possibilita a obtenção de mudanças perceptíveis. Esta relação entre os temas transversais e os conteúdos curriculares se torna uma forma de aproximar o científico do cotidiano. O tecnológico, do ético. Ao invés de se trabalhar os temas transversais da forma como é proposta, com os problemas sociais sendo tratados transversalmente por dentro das disciplinas e conteúdos tradicionais, sugere-se transformá-los integralmente em questão social como eixo articulador do currículo. Isto implica que as disciplinas tradicionais passem a orientar seus planejamentos nos temas sociais mais relevantes, sugerindo, através de suas práticas e 8

9 reflexões específicas, soluções coletivamente produzidas para estes problemas, numa atitude educacional interdisciplinar. A educação para o ambiente apresenta um papel preponderante para esta transformação dos temais transversais em eixo de ensino, não mais como uma disciplina compartimentalizada, para impulsionar esta mudança que se percebe possível com a apropriação e subversão dos PCNs. Acredita-se assim que tal proposta levará as disciplinas tradicionais reverem seus conteúdos e paradigmas, com vistas a explicarem as causas e proporem soluções para os problemas representados pela questão social. A partir daí vislumbra-se possibilidades efetivas de mudança no sistema de ensino, que poderá gerar alterações lentas, mas consistentes, no mundo escolar e acadêmico. Assim, como a cultura, o ensino é um produto de idéias relevantes de uma determinada época. Se as idéias avançam, é necessário que o ensino também se atualize, acompanhando as idéias. Atualmente requerem-se pessoas críticas, autônomas e emancipadas, capazes de respeitar os demais seres e o ambiente e, ao mesmo tempo, defender seus direitos e lutar por sua sobrevivência dentro de uma sociedade sustentável. Estratégia Definida Ocasião para Uso Vantagens/Desvantagens Discussão em classe: Esta É utilizada para permitir que os Ajuda a compreender as questões. atividade envolve toda a classe e estudantes exponham suas opiniões Encoraja o estudante a desenvolver as cada estudante contribui oralmente a respeito de um dado habilidades de expressão oral e informalmente (grande grupo). problema. autoconfiança ao falar em público. Dificuldades em iniciar as discussões. Discussão em grupo: Envolve toda Quando assuntos polêmicos estão a classe com professor atuando sendo tratados. como supervisor (pequenos grupos). Brainstorming (ou mutirão de idéias): Atividades que envolvem pequenos grupos aos quais se pedem soluções para um dado problema, sem se preocupar com análises críticas. Trabalho de grupo: Envolve a participação de grupos de 4 a 8 membros, que se tornam responsáveis pela execução de uma tarefa. Debate: Requer a participação de dois grupos para apresentar idéias e argumentos de pontos de vista opostos aos demais colegas de classe. Questionário: Desenvolvimento de um conjunto de questões ordenadas a ser submetido a um dado público. As respostas, analisadas, dão uma variedade de indicativos. Deve ser usado como um recurso para encorajar e estimular idéias voltadas a solução de um dado problema. É adequada quando se necessita executar várias tarefas ao mesmo tempo. A classe, com vários grupos, pode abordar diferentes aspectos de um mesmo problema ou focalizar problemas diferentes. Estratégia útil quando assuntos controvertidos estão sendo discutidos e existam propostas diferentes de soluções. Usado para obter informações e/ou efetuar amostragem de opinião das pessoas em relação a uma dada questão. Pode ajudar a definir a extensão de um problema. Ilustração 01a: Estratégias de Ensino para a Prática da Educação Ambiental Fonte: adaptado de Dias (2000, p. 220). Pode resultar no desenvolvimento de relações mais positivas entre alunos e professores. Permite que alguns alunos evitem o envolvimento. Estímulo a criatividade, liberdade. Dificuldades em evitar avaliações ou julgamentos prematuros das sugestões, em obter idéias originais. Permite que os alunos se responsabilizem por uma tarefa e exercitem a capacidade de organização. As atividades precisam ser monitoradas de modo que o trabalho não envolva apenas alguns membros do grupo. Permite o desenvolvimento das habilidades de falar em público e ordenar a apresentação de fatos e idéias. Requer muito tempo de preparação. Aplicado de forma adequada, o questionário produz excelentes dados, dos quais podem ser extraídas conclusões ou indicações para atividades. A dificuldade está no tempo requerido. Estratégia Definida Ocasião para Uso Vantagens/Desvantagens

10 Estratégia Definida Ocasião para Uso Vantagens/Desvantagens Reflexão: Pode ser considerado o Usado para encorajar o Envolvimento de todos. Não pode ser oposto do mutirão de idéias, desenvolvimento de idéias em avaliado diretamente. Requer grande porém, também destinado a resposta a um problema. O tempo experiência prática em um largo produção de idéias. É dado tempo recomendado é de 10 a 15 minutos. conjunto de informações. aos estudantes para que sentem em algum lugar e pensem acerca de um problema específico. Imitação da mídia: Esta estratégia estimula os estudantes a produzir sua própria versão dos jornais, dos programas de rádio, TV e filmes. Projetos: Os alunos, sob supervisão, planejam, avaliam e redirecionam um projeto sob um tema específico. Através desta estratégia, os estudantes podem obter informações de sua escolha e leválas a outros grupos. A depender das circunstâncias e do assunto a ser abordado, os produtos podem ser distribuídos na escola, aos pais e a comunidade. Realização de tarefas com objetivos a serem alcançadas a longo prazo, com maior envolvimento da comunidade. Solução de problemas: Esta Busca de solução para problemas estratégia está ligada a muitas identificados. outras; considera que ensinar é apresentar problemas e aprender a resolvê-los. Jogos de Simulação: Os participantes operacionalizam, através de jogos, as diversas situações de um dado tema, sempre ligado a sua realidade. Exploração do ambiente local: Prevê a utilização/exploração dos recursos locais próximos para estudos, observações, etc. Identificação, análise e discussão das conseqüências de um dado problema da comunidade ou mesmo de aspectos positivos relevantes. Compreensão do metabolismo local, ou seja, da interação complexa dos processos ambientais a sua volta. Ilustração 01b: Estratégias de Ensino para a Prática da Educação Ambiental Fonte: adaptado de Dias (2000, p. 220). Pode ser uma forma efetiva de aprendizagem e ação social. Para ser efetivo, o que é produzido deve ser razoavelmente comparável em qualidade à mídia existente, se for para uma circulação maior. As pessoas concebem e executam o próprio trabalho, o professor apenas sugere. Às vezes, o professor, mesmo vendo as falhas, deve permitir que eles mesmos as verifiquem. O estudante treina/exercita a sua capacidade de resolver problemas apresentados, em um contexto real. O orientador deve conhecer a fundo a questão abordada. Facilita o envolvimento do aluno com sua realidade, pois conhece as conseqüências dos resultados obtidos. Dificuldades na apresentação de alternativas de soluções factíveis. Agradabilidade na execução; grande participação das pessoas envolvidas; vivência em situações concretas. Requer planejamento minucioso. 3.2 Caracterização dos conteúdos a serem observados no curso de administração O ensino da educação ambiental é obrigatório por lei no Brasil. De acordo com a lei (PCN98) é obrigatório a inserção do tema meio ambiente em todos os níveis educacionais, inclusive no ensino universitário. Essa influencia e altera os currículos e conteúdos abordados em todos os níveis formais de ensino, inclusive o curso de graduação em administração. Diante disto, a inclusão de uma disciplina no currículo do curso de administração contempla o que preconiza a legislação ao ser adotada e praticada a "interdisciplinaridade" e a "transversalidade". Neste sentido, sugere-se como ementa básica para ser adotada em disciplina referente a educação ambiental, os seguintes tópicos de abordagens: Ementa: a) Ecologia - Limitações geo-espaciais; - Destruição do meio ambiente;

11 4 Conclusões - Poluição e poluentes; - Impactos causados pela empresa. b) DS - Desenvolvimento Sustentável - Histórico; - Evolução; - Novas oportunidades de negócios, emprego e renda; - Responsabilidade social - RS. c) Tecnologias Limpas - Tecnologias limpas gerenciais; - TL fabris; - TL nos serviços; - Logística reversa. d) Gestão Integrada - Norma ISO 14000 - Rotulagem, ACV e Desenvolvimento Ambiental; - Norma ISO 14001 - SGA; - Norma ISO 14010 - Auditoria Ambiental; - Norma ISSO 9002 - Qualidade produto/serviço; - Norma BS 8800 - OHSAS 18001 - Saúde e segurança; - Responsabilidade Social - AS 8000, ações sociais e balanço social; - Norma para exportação de alimentos e frutas. e) Legislação Sócio-Ambiental - Estudo de Impacto Ambiental (EIA)/ Relatório de Impacto no Meio Ambiente (RIMA); - Estatuto da cidade - Estudo de Impacto na Vizinhança (EIV)/ Relatório de Impacto na Vizinhança (RIV); - Legislação Ambiental Federal, Estadual e Municipal; - Legislação das Relações Sociais. f) Implementação Operacional da Gestão Integrada - Programas Sustentáveis; - Diagnóstico; - Objetivos e Metas; - Autoridade e Responsabilidade; - Manuais da Qualidade; - Procedimentos; - Instruções; - Registros. g) Gestão Empresarial Sócio-ambiental (GESA ) e Gestão Pública Sustentável (GPS) - Indicadores sócio-ambientais. Transcorridos quase 30 anos em que começaram as recomendações e propostas oriundas das Conferências Internacionais iniciadas em 1972 em Estocolmo e a garantia de implementação da Educação Ambiental pela Constituição Federal de 1988, a Educação Ambiental é uma atividade pouco aceita e desenvolvida no Brasil. Não existe uma sistematização para a EA, nem em nível de conteúdo das disciplinas nem quanto aos programas das escolas, apesar das recomendações das Conferências Internacionais em se adotar medidas para estabelecer um programa interdisciplinar de educação sobre o meio ambiente e do Estado tomar para si o dever de implementá-la, visto que é papel do poder

12 público a promoção da EA em todos os níveis de ensino, segundo as Constituições Federais e Estaduais. Soma-se isto a pouca importância dada ao tema enquanto atividade educacional, ainda não faz parte do currículo escolar e da escola como um todo, pois se trata de uma proposta ampla. Aparece também à necessidade e a importância na formação, capacitação e atualização de pessoal para se trabalhar com o conteúdo ambiental, de forma a serem introduzidos no currículo escolar com sucesso. Acredita-se que EA formal precisa envolver não só o poder público e a Comunidade escolar, mas precisa da ajuda da Comunidade como um todo através da conscientização da importância da EA, as pessoas precisam aprender a ver o quadro global que cerca um dado problema ambiental, sua história, seus valores, percepções, fatores econômicos e tecnológicos, e os processos naturais ou artificiais que o causam e que sugerem ações sustentáveis para saná-los. Ao sancionar a lei 9.795/99, aparentemente alguma coisa está sendo feita, mas entre os resultados esperados e as intenções colocadas no papel, são necessárias ações reais, concretas e ágeis, para não passar por expectativas frustradas e desacreditadas pela sociedade brasileira. O direito a informação e o acesso às tecnologias, capazes de viabilizar o desenvolvimento sustentável, constituem assim, um dos pilares desse processo de formação de uma nova consciência sobre meio ambiente sustentável. 5 Referências ANTUNES, P. de B. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Renova, 1990. BELLIA, V. Introdução à economia do meio ambiente. Brasília: IBAMA, 1996. BELLO, C. V. V. ZERI uma proposta para o desenvolvimento sustentável, com enfoque na qualidade ambiental voltada ao setor industrial. Florianópolis, 1998. Dissertação de mestrado em Eng. Produção. Universidade Federal de Santa Catarina. BREDARIOL, L.V.C. Cidadania e política ambiental. Rio de Janeiro: Record, 1998. CASCINO, F. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores. São Paulo: SENAC, 1999. CMMAD - Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991. DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5 ed. São Paulo: Global, 1998. DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 6 ed. São Paulo: Gaia, 2000. DIEGUES, A. C. S. O mito da natureza intocada. São Paulo: NUPAUB/USP, 1994. FELLEMBERG, G. Introdução aos problemas da poluição ambiental. Tradução de Juergen Heinrich Maar, São Paulo: EPU-Springer/USP, 1980. 196p.

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