EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TRAJETÓRIAS E ESTRATÉGIAS DE MUDANÇAS NO PROCESSO EDUCACIONAL Silvana Cruz 1 Resumo: O presente artigo aborda a história da Educação Ambiental, através das Conferências Internacionais de Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento. Analisa o papel da Educação e do grande desafio lançado à escola na era pós-moderna, que é a construção de uma cidadania plena e conseqüentemente de uma sociedade menos desigual. Aponta a prática da Educação Ambiental como estratégia de implementação ao desenvolvimento sustentável, fazendo uso da metodologia interdisciplinar para trabalhar o meio ambiente de forma transversal no currículo escolar, conforme as orientações preconizadas pelos PCN s Parâmetros Curriculares Nacionais. Palavras-chave: Sustentável. Educação Ambiental; Meio Ambiente; Desenvolvimento A preocupação com o meio ambiente planetário não é algo recente na sociedade, porém com o advento da Revolução Industrial (séc. XVIII), há toda uma transformação no ambiente planetário devido à grande quantidade de produtos e embalagens produzidos para atender o mercado consumidor. Como o modelo de desenvolvimento econômico capitalista é de natureza exploratória e predatória, as conseqüências provocadas por esse processo são extremamente impactantes ao planeta Terra como: a desertificação, a chuva ácida, 1 Mestra em Educação, Professora da Universidade do Estado do Amazonas e Pedagoga da Universidade Federal do Amazonas. 1
aumento da temperatura no planeta, poluição: sonora, visual e atmosférica, escassez de água entre outros. É com base nessas questões ambientais e somadas às outras como: a utilização dos recursos renováveis e não-renováveis, a explosão demográfica mundial até meados do século XXI, que estudiosos, empresários, professores e especialistas de várias áreas do conhecimento, reuniram-se em Roma e fundaram o Clube de Roma, em 1968, um grande marco na história do movimento ambiental por ter discutido e colocado o problema ambiental em nível planetário. O resultado desse encontro, segundo Reigota, deixa claro a necessidade urgente de se buscar meios para a conservação dos recursos naturais e controlar o crescimento da população, além de se investir numa mudança radical na mentalidade de consumo e procriação (1998:10). Dessa reunião foi publicado o livro Limites do Crescimento, que foi durante muito anos referência internacional às políticas públicas e projetos. Podemos dizer que o encontro de Roma impulsionou e contribuiu nas questões teóricas ambientais para a realização da 1 Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia (1972), promovida pelas Nações Unidas. Como resultado desta conferência, foi elaborada uma resolução que traz em seu bojo um dos princípios que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais. Reigota, considera que surge daí o que se convencionou chamar de educação ambiental (1998:11). Podemos frisar que durante o período de quase três décadas aconteceram também vários encontros, congressos, conferências e seminários sobre a inserção da Educação Ambiental nas políticas públicas dos diversos países comprometidos com o meio ambiente planetário, como: Belgrado (1975); Tbilissi (1977); Moscou (1987), todos esses eventos foram de extrema importância para a construção da Educação Ambiental. Ressalta-se que a UNESCO é o organismo da ONU responsável pela divulgação e realização da nova perspectiva educativa e realiza seminários regionais em todos os continentes, procurando estabelecer os seus fundamentos filosóficos e pedagógicos. 2
Registra-se a publicação do livro O Nosso Futuro Comum, conhecido como relatório Brundtland, que forneceu subsídios temáticos para a Conferência (Rio-92), foi neste evento que o termo desenvolvimento sustentável tornou-se conhecido. Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente (CMMAD), desenvolvimento sustentável é definido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades (CMMAD; 1988:43 apud Barbieri, 1997:23). Já na Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), mais de 170 países assinaram tratados nos quais se reconhece o papel central da educação para a construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado, o que requer responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário E é isso que se espera da Educação Ambiental no Brasil, que foi assumida como obrigação nacional pela Constituição promulgada em 1988 (PCN s, 1998:24). No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, assegura no Art. 225: Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defende-los para as presentes e futuras gerações. Consagra no inciso VI, do parágrafo 1, do Art. 225, a incumbência do Poder Público de promover a Educação Ambiental em todos os níveis e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente C.F (1989:88-89). A Escola é um local privilegiado para se trabalhar a temática ambiental, haja vista que temos um universo a ser explorado. Pode-se desenvolver a criatividade do aluno no ensino das artes, através de pintura, desenhos, poesias, músicas, toadas no âmbito regional, danças entre outras. Durante a UNCED (RIO-92), foi realizado um encontro paralelo a Conferência com representantes da sociedade civil para se discutir metas e tratados sobre a educação ambiental, como afirma Leonardi, no encontro da sociedade civil ( Fórum Global), do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidades. Desse tratado foi produzido um documento com quinze princípios, dos quais serão destacados: 3
A educação ambiental deve ser crítica e inovadora, seja na modalidade formal, não-formal e informal. Ela é tanto individual como coletiva. Não é neutra, é um ato político, voltado para a transformação social. A educação ambiental deve buscar uma perspectiva holística, relacionando homem, natureza e universo, e também ser interdisciplinar. Além disso, deve buscar a solidariedade, igualdade e respeito através de formas democráticas de atuação, bem como promover o diálogo. A educação ambiental deve valorizar as diversas culturas, etnias e sociedades, principalmente aquelas dos povos tradicionais. A educação ambiental deve criar novos estilos de vida, desenvolver uma consciência ética, trabalhar pela democratização dos meios de comunicação de massa. Objetiva formar cidadãos. (1997:394) A prática da educação ambiental deve ser baseada nesses princípios a fim de que se possa construir uma cidadania plena. Foi elaborado na referida conferência a AGENDA 21 como um documento que deverá nortear as políticas públicas do meio ambiente durante o século 21 por todos os países signatários da ONU ( Organização das Nações Unidas). Como nos lembra Cruz (2001:14), esta recomendação da Agenda 21, foi instituída no Brasil em abril de 1999, com a institucionalização das políticas nacionais de educação ambiental nessa data. Vale frisar que cada Estado da União tem sua própria agenda ambiental específica. Para trabalhar a educação ambiental é necessário compreender o significado ou a concepção que se tem de meio ambiente. Pode-se dizer que ainda não há consenso sobre meio ambiente na comunidade científica em geral, isto implica dizer que dependendo da área do conhecimento e ou da representação social que se tem, cada um tenderá a dar o seu conceito de meio ambiente. Dentre os vários teóricos consultados, vale ressaltar a definição de Reigota (1997:14) que define o meio ambiente como: Lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. É neste contexto das políticas públicas que a escola deverá adotar no seu cotidiano escolar a prática da educação ambiental. De acordo com os PCN s (1998) 4
o tema Meio Ambiente deverá ser trabalhado de forma transversal e interdisciplinar no currículo escolar. O referido documento recomenda que: O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria (PCN s, 1998:47). A eficácia da implementação das políticas públicas depende de alguns critérios na visão de Leff, como: É necessário reconhecer os efeitos dos processos econômicos atuais sobre a dinâmica dos ecossistemas. É preciso avaliar as condições ideológicas, políticas, institucionais e tecnológicas que determinam a conservação e regeneração dos recursos de uma região, os modos de ocupação do território, as formas de apropriação e usufruto dos recursos naturais e de divisão de suas riquezas, bem como o grau e as maneiras de participação comunitária na gestão de suas atividades produtivas (2006:25). Para Loureiro, a Educação Ambiental pode ser definida como: Uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúdica e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente (2002:25). Nesse sentido deverão ser planejadas atividades educativas que proporcionem mudanças positivas em relação à natureza, isto implica dizer que deverão ser enfatizadas novas posturas de hábitos, atitudes e valores éticos ao meio ambiente. Temos no ambiente amazônico elementos naturais que já foram incorporados em nossa cultura, como é o caso das toadas dos bois-bumbás do Festival Folclórico de Parintins, que são perfeitamente adequadas para se trabalhar a educação ambiental, utilizando a metodologia interdisciplinar, como exemplo :... Os arcos, as flechas, os tacapes As lanças se erguem, o Pajé vai orar A dança do Povo Valente 5
Da tribo Guerreira, Kamayurá Proclama os quatro elementos A terra, o fogo, a água e o ar... (Lira e Cabral : 1997). É bom lembrar, segundo Cruz (2001:2), quando afirma que: O Brasil com suas riquezas naturais possui um patrimônio incalculável, segundo a ONG Conservation International, dos 17 países mais ricos em biodiversidade do mundo entre os quais figuram Estados Unidos, China, Índia, África do Sul, Indonésia, Malásia e Colômbia, o Brasil está em primeiro lugar disparado: detém 23% do total de espécie do planeta conforme dados publicados na revista Exame (2001-54). No que concerne aos recursos hídricos, o Brasil, dispõe de 12% de água doce superficial do mundo (Folha do Meio Ambiental, 2000 p.13). A Amazônia, Salati&Santos apud Pereira, abriga cerca de 2.000 espécies de peixes, entre elas o maior peixe de escama de água doce; o pirarucu (Arapaima gigas). Existem cerca de 300 espécies de répteis em toda a bacia amazônica. As cobras, com 175 espécies, são o grupo com maior diversidade, seguida dos lagartos. Fazem parte deste grupo, os chamados bichos-de-casco (quelônios). Existem na Amazônia 10 espécies de quelônios, entre elas a tartaruga gigante da Amazônia ( Podocnemis expansa ) que pode chegar a pesar até 75 Kg. Das 9.040 espécies de pássaros conhecidas em toda a bacia Amazônica. Das cerca de 4.620 espécies de mamíferos conhecidos mundialmente, 500 são encontradas na região (2002:25). Então, com toda a riqueza que o nosso país possui e em particular a Amazônia brasileira tem, não podemos mais aceitar as desigualdades e injustiças sociais praticadas ao nosso povo. Faço um convite a todos, vamos proteger a nossa biodiversidade, nossos rios, igapós, igarapés, lagos, nossas matas, nossos pássaros... Enfim, vamos cuidar melhor do Planeta Terra? 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental; Parâmetros curriculares nacionais : meio ambiente, saúde. Brasília,1998.. Constituição da República Federativa. São Paulo: Editora Ática S.A., 1989. CRUZ, Silvana Heloísa Ferreira. Defendendo a natureza. Manaus, 2001.. A Educação Ambiental no Município de Parintins em Relação às Atividades Antrópicas e sua Problemática Ambiental. Dissertação Defendida em 2001 do Mestrado da Faculdade de Educação do Amazonas UFAM, 2001. REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. Brasiliense. São Paulo,1994.. Meio Ambiente e representação social. _ 2 ed. _São Paulo: Cortez, 1997. TOADAS OFICIAIS DO BOI-BUMBÁ GARANTIDO. FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS AMAZONAS BRASIL, 1997. LEONARDI, Maria Lúcia Azevedo. A educação ambiental como um dos instrumentos de superação da insustentabilidade da sociedade atual. In: CALVALCANTI, Clóvis. Meio ambiente. Desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez : Recife : Fundação Joaquim Nabuco, 1997. LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2006. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação Ambiental e Movimentos Sociais na Construção da Cidadania Ecológica e Planetária. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo et al. Educação Ambiental : repensando o espaço da cidadania. _ São Paulo: Cortez, 2002. PEREIRA, Henrique. Biodiversidade : a Biblioteca da Vida. In: RIVAS, Alexandre; FREITAS, Carlos Edwar de Carvalho. Amazônia: Uma Perspectiva Interdisciplinar. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2002. 7