Aula 05. Parte Geral. I Pessoas (continuação)

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Turma e Ano: 2016 (Master B) Matéria / Aula: Direito Civil Objetivo 05 Professor: Rafael da Mota Monitor: Paula Ferreira Aula 05 Parte Geral I Pessoas (continuação) 1. Pessoa Natural 1.3. Direitos da Personalidade 1.3.4. Espécies Direito ao nome Art. 16, CC. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. As pessoas também possuem direito ao chamado ognome, que é aquele que fez referência aos antepassados da pessoa. Ex.: Júnior, Filho, Neto etc. A alteração do nome é possível, mas isso deve ser feito de forma motivada e sempre com autorização judicial (art. 57 da LRP). Para Maria Celina Bodin de Moraes, o nome deve ser um instrumento de promoção da dignidade do ser humano. Quando ele é um limitador da dignidade, há fundamento para a mudança. A análise será sempre casuística. A alteração de nome pode decorrer de alteração de gênero. É consenso no Superior Tribunal que se a pessoa realizou a cirurgia de alteração de gênero, ela pode alterar o nome e o sexo. Discute-se, hoje em dia, se é possível a mudança de nome sem a cirurgia.

Art. 17, CC. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. O art. 17 do Código Civil comporta exceção, isto é, o nome da pessoa pode até ser levado a desprezo público quando envolver o embate com o direito à informação. Art. 18, CC. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. O art. 18 do Código Civil estabelece que o nome da pessoa não pode ser utilizado em propaganda comercial. Essa previsão dá a entender que o nome alheio pode ser utilizado para outros fins que não seja comercial, e isso não é verdade. Sem a autorização da pessoa, o nome não pode ser utilizado para qualquer fim. Portanto, o rol do artigo 18 é exemplificativo. Art. 19, CC. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Para fins de proteção, o pseudônimo é registrado no INPI. Será registrado no RCPN apenas no caso de sua inclusão no nome (ex.: Lula, Xuxa). No caso do registro no INPI, presume-se que prevalece a anterioridade do registro, mas o STJ vem relativizando, levando em conta a repercussão social do pseudônimo. Direito à imagem Art. 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

A crítica feita ao dispositivo acima é que ele condiciona a proteção do direito à imagem à violação de outro direito (honra, moral, respeitabilidade, boa fama). Isso é ruim, pois a imagem tem que ser protegida independentemente de condicionamento; basta que a pessoa não queira que sua imagem seja veiculada. Ex.: site do curso afirma que o professor de Direito Civil é o melhor do Brasil. Apesar da propaganda positiva, ele pode exigir que isso seja retirado. A expressão utilizada para fins comerciais dá a impressão de que, desde que seja utilizada para qualquer outro fim, a imagem poderia ser utilizada independentemente de autorização. Ocorre que sem autorização a imagem não pode ser utilizada para qualquer fim. Direito à privacidade Art. 21, CC. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. A grande discussão que surge neste contexto é em relação as biografias não autorizadas. Há um embate entre a privacidade e a liberdade de pensamento, expressão, informação e cultura. Tínhamos um projeto de Lei 393/2011 que previa que a ausência de autorização não impede a publicação, desde que a pessoa tenha relevância. O projeto de lei não andou em razão da ADI 4815. Esta ADI foi ajuizada pela associação nacional das editoras de livros e objetiva a declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto dos artigos 20 e 21 do Código Civil, pretendendo que sejam permitidas as biografias não autorizadas antes ou depois da morte do biografado. Esta ADI considerou inconstitucional a necessidade de autorização, isto é, permitiu a publicação de biografia de pessoas públicas independentemente da autorização destes. Optou-se pelo direito da liberdade de cultua, expressão e informação. Caso o biografado se sinta lesado, ele pode requerer a prestação jurisdicional, exigindo direito de resposta, retratação ou até mesmo indenização pecuniária. O que não pode acontece é uma censura prévia.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 20 E 21 DA LEI N. 10.406/2002 (CÓDIGO CIVIL). APARENTE CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DE INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE DE CENSURA OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV; 220, 1º E 2º) E INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). [...] 3. A Constituição do Brasil proíbe qualquer censura. O exercício do direito à liberdade de expressão não pode ser cerceada pelo Estado ou por particular. 4. O direito de informação, constitucionalmente garantido, contém a liberdade de informar, de se informar e de ser informado. O primeiro referese à formação da opinião pública, considerado cada qual dos cidadãos que pode receber livremente dados sobre assuntos de interesse da coletividade e sobre as pessoas cujas ações, público-estatais ou público-sociais, interferem em sua esfera do acervo do direito de saber, de aprender sobre temas relacionados a suas legítimas cogitações. [...] 6. Autorização prévia para biografia constitui censura prévia particular. O recolhimento de obras é censura judicial, a substituir a administrativa. O risco é próprio do viver. Erros corrigem-se segundo o direito, não se cortando liberdades conquistadas. A reparação de danos e o direito de resposta devem ser exercidos nos termos da lei. 7. A liberdade é constitucionalmente garantida, não se podendo anular por outra norma constitucional (inc. IV do art. 60), menos ainda por norma de hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de se estar a resguardar e proteger outro direito constitucionalmente assegurado, qual seja, o da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem. 8. Para a coexistência das normas constitucionais dos incs. IV, IX e X do art. 5º, há de se acolher o balanceamento de direitos, conjugando-se o direito às liberdades com a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da pessoa biografada e daqueles que pretendem elaborar as biografias.

9. Ação direta julgada procedente para dar interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar inexigível autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes). 2. Pessoa Jurídica 2.1. Conceito Segundo Caio Mário da Silva Pereira: Pessoa jurídica é o conjunto de pessoas naturais ou de bens constituídos na forma da lei com uma destinação específica e personalidade jurídica distinta da dos seus integrantes. Este conceito, hoje, está defasado. Isto porque a pessoa jurídica pode ser formada por uma pessoa natural (EIRELI), por um conjunto de pessoas naturais ou por um conjunto de bens (fundações de Direito Público ou de Direito Privado). O princípio da separação das personalidades (personalidade da pessoa jurídica diferente da de seus integrantes) era visto de forma absoluta na vigência do CC/16. Hoje pode ser relativizado por conta do instituto da desconsideração da personalidade jurídica.