UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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Transcrição:

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE COMBATE AOS DANOS AMBIENTAIS: INOVAÇÕES DA LEI 9.605/98 Por: Vitor César Agostinho de Oliveira Orientador (a) Profª. Mônica Melo Rio de Janeiro 2010

2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE COMBATE AOS DANOS AMBIENTAIS: INOVAÇÕES DA LEI 9.605/98 Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Ambiental. Por: Vitor César Agostinho de Oliveira

3 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família que sempre apoiou meus estudos e encontra-se ao meu lado em todos os momentos.

4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, em especial a minha mãe.

5 RESUMO A Lei 9.605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, é sem dúvida um dos maiores avanços em relação à legislação ambiental Brasileira, contudo a sua aplicação prática não condiz com seus dispositivos. Os juristas ainda têm muita dificuldade em aplicar tal norma legal, muitos deles alegam ser a mesma Inconstitucional, o que não traduz a realidade, isso porque o próprio artigo 225 parágrafo 3º da Constituição Federal regulamentou as sanções Penais em relação à responsabilização das pessoas jurídicas e físicas que cometem danos ambientais. O presente trabalho monográfico buscou demonstrar, que a legislação penal Ambiental Brasileira pode se tornar um forte aliado no combate aos danos ao meio ambiente, entretanto ainda há muito a se caminhar para a aplicação de tal norma.

6 METODOLOGIA O tema analisado pelo presente trabalho teve como motivação os inúmeros Danos Ambientais provocados por grandes empresas no Brasil durante as últimas décadas e a possibilidade de se combater tais danos através de uma legislação ambiental mais rígida. Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados livros, artigos, jurisprudência e Internet. Discorrendo sobre os conceitos de Dano Ambiental e aplicação da Lei 9.605/98, destaca-se o posicionamento dos autores Edis Milaré, José Goldemberg, Geraldo Ferreira Lamfreti, Vladimir Passos Freitas, Álvaro Luiz Valery, Fernando de Almeida Pedroso e Rogério Rocco, quanto à evolução da responsabilidade penal das Pessoas Jurídicas por crimes ambientais e sua aplicação as Pessoas Jurídicas de Direito Público, ressalta-se o posicionamento dos autores Eugênio Raul Zaffaroni, Érika Bechara, Luiz Regis Prado, Miguel Reale Júnior, Claus Roxin, Jose Carlos de Oliveira Robaldo, Paulo Bessa Antunes e Vladimir Passos Freitas, tratando-se do conceito jurídico de Meio Ambiente e Evolução normativa do Direito Ambiental, os doutrinadores Aloísio Ely, José Afonso da Silva, Ada Pellegrini Grinover e André Tostes discorrem com brilhantismo sobre o tema.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I - Do Dano Ambiental e a Lei 9605/98 10 CAPÍTULO II - Da responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica por Crimes Ambientais 23 CAPÍTULO III Do papel do Direito na Sociedade como ciência capaz de reduzir os danos ambientais 41 CONCLUSÃO 57 BIBLIOGRAFIA 60 INDICE 62 FOLHA DE AVALIAÇÃO 64

8 INTRODUÇÃO Constata-se neste trabalho que a lei 9605/98 continua sendo de difícil aplicabilidade dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Buscar-se-á demonstrar a necessidade latente de controlar o Meio Ambiente através dos instrumentos disponíveis no meio social, neste contexto o Direito é a ciência que mais pode contribuir com a melhoria do mesmo. No primeiro momento deste trabalho será data ênfase a criação da referida lei 9605/98, sua evolução histórica, a aplicação das penas, o procedimento penal, e o entendimento dos doutrinadores acerca da mesma. Verificando-se que os crimes ambientais se dividem em crimes contra a Fauna; crimes contra a Flora; Poluição e outros crimes ambientais; crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural e Artístico, e ainda crimes contra a administração Ambiental. Observar-se-á com a edição da lei 9605/98, o surgimento da principal inovação em matéria penal dos últimos anos no Direito Brasileiro, a responsabilização penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais. Muitas discussões surgiram no meio jurídico brasileiro sobre tal tema, de um lado a Doutrina clássica que não admite este tipo de responsabilidade, aplicável na visão destes somente as pessoas físicas, devido aos princípios que regem o Direito Penal, principalmente o da personalidade das penas.

9 De outro lado a doutrina mais moderna, entendendo que a responsabilidade penal possui sanções não pessoais que, por este fato, atingem inocentes e culpados (razão de não se poder falar em violação do princípio da personalidade das penas), as penas de prisão estão, a passos largos, colocadas à margem do sistema punitivo estatal, por maior razão, o legislativo poderá e deverá estabelecer penas apropriadas às pessoas jurídicas. No terceiro momento deste trabalho demonstrar-se-á como o direito pode atuar na sociedade no sentido de minimizar os danos ao meio ambiente, punindo os agentes que cometem ilícitos ambientais, e regulando as atividades que impliquem em impactos ambientais. Fica claro que o Direito é um instrumento capaz de reduzir tais danos, desde que os Tribunais Brasileiros passem a aplicar as normas ambientais em vigor, o que ainda encontra muita reluta por parte de nossos magistrados. O Direito não tem o poder de restaurar o mal que é causado a natureza, de toda forma poderia esta ciência funcionar como um meio punitivo e repressivo contra os danos ambientais.

10 CAPÍTULO I DO DANO AMBIENTAL E A LEI 9605/98 A palavra dano deriva do latim dammu e significa prejuízo, perda. Logo, considerando que toda e qualquer decisão envolve algum tipo de risco e que, na atual conjuntura social, impossível a concepção de vida sem qualquer interferência no meio natural, impõe-se ao Direito, juntamente com os demais ramos da ciência, a árdua tarefa de orientar o comportamento dos indivíduos sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável. A doutrina ambiental pátria buscou estabelecer um conceito para dano ambiental, enunciado na lei 6938/81, a lei de Política Nacional do Meio Ambiente, considerando-o como sendo a lesão aos recursos ambientais com conseqüente degradação, ou seja, uma alteração adversa da qualidade de vida e do equilíbrio ambiental. Para Edis Milaré (2002), o conceito de dano ambiental, embora amplo e aberto, à semelhança do próprio conceito de meio ambiente é delimitado pelas noções de poluição e degradação da qualidade ambiental. (MILARÉ, 2002, p, 35). No Direito Ambiental, embora o princípio orientador da política ambiental consista em prevenir o dano a ter que remediá-lo, a atuação da lei 9605/98 sob o aspecto preventivo se dá somente de forma indireta, isto porque sua aplicabilidade surge a partir do dano ocorrido, tendo a mesma uma natureza direta repressiva e não preventiva.

11 A questão ambiental, que hoje aparece como um dos assuntos que devem ser discutidos tanto pelo Poder Público quanto pela coletividade, merece atenção especial, isso porque somente agora o homem teve idéia de que a sua sobrevivência está condicionada à administração racional dos recursos naturais. Para José Goldemberg (1999): A questão do dano ambiental surgiu há muitos anos, desde os tempos dos jardins de Éden, a expulsão do homem do Jardim se deu pela utilização predatória dos recursos naturais, o fato de o homem ter exaurido o solo e perturbado a sua capacidade de manter as macieiras produtivas é que destruiu o Jardim de Éden e redundou a sua expulsão de lá (GOLDEMBERG, 1999, p. A-2 ). Isso explica um pouco do que ocorre hoje em dia, grandes empresas visando os lucros e a produtividade, fazem dos nossos Jardins do Éden seu trampolim para o desenvolvimento, pouco importando os danos que venham causar em nosso Meio Ambiente. De acordo com as definições colocadas pelo Mestre Geraldo Lamfredi (2001): A lei de Política Nacional do Meio Ambiente, apenas delimitou as noções de degradação da qualidade Ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente e poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população, criando condições adversas às atividades sociais e econômicas, e afetando as

12 condições estéticas ou sanitárias do Meio Ambiente (LAMFREDI, 2001, p. 28). O dano ambiental, gravame típico da sociedade industrial, tem características próprias, que orientam o tratamento que as várias ordens jurídicas a ele conferem. O dano ambiental caracteriza-se de diversas formas, primeiro pela pulverização de vítimas, pois o mesmo afeta uma pluralidade difusa de vítimas, pois o bem ambiental é bem de uso comum do povo, depois por ser sempre de difícil reparação, deste surge o instituto da responsabilidade civil, que deve agir tanto na prevenção quanto na reparação, o que não ocorre diretamente com a lei de crimes ambientais, que age somente na repressão, ou seja, após consolidado o dano. Em se tratando de reparação, na maioria das vezes o interesse público é de obter a reparação indireta e em espécie do dano, mesmo porque quase sempre o dano é praticamente irreparável. Neste contexto a lei 9605/98 vem a suprir uma necessidade social de punição na esfera penal, visando punir aos agentes que degradam o meio ambiente, buscando não uma reparação mais uma repreensão para que não cometam mais estes ilícitos. O dano ambiental é quase sempre de difícil valoração e nem sempre é possível o cálculo da totalidade do mesmo (FREITAS, 1996). Com isso ao longo dos anos vem se descobrindo que toda a sociedade é responsável pela degradação do meio ambiente, o mais rico polui com sua atividade industrial e comercial e o mais pobre por falta de condições econômicas de viver condignamente, e pelo pouco acesso as informações ecológicas. Surgem a partir do dano novas formas de conduta frente à natureza, condutas que devem ser lideradas pelos diversos ramos da sociedade, sejam por engenheiros, médicos, professores, por estudiosos do Direito, ou por qualquer cidadão comum, estas condutas visam conscientizar o homem de que a natureza existe para proporcionar-lhe meios de sobrevivência, tendo em vista que o meio ambiente vinha sendo posto em último lugar na hierarquia de valores, isso devido a extrema valoração de direitos individuais.

13 Não há que se falar em dano ambiental, sem falar em desenvolvimento sustentável e impacto ambiental, o princípio do desenvolvimento sustentável, está amplamente ligado ao dano ambiental, isso porque os recursos naturais não são inesgotáveis, e portanto é imperioso que as atividades sejam planejadas de modo a possibilitar a coexistência harmônica, entre o homem e o meio onde está inserido, com isso o legislador constituinte demonstrou sua preocupação com o tema ao inserir no texto da Constituição Federal, que o desenvolvimento das atividades econômicas, embora não admitam a intervenção do poder público, deverão respeitar algumas diretrizes, entre elas a que impõe a preservação do meio ambiente. A aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável justifica posturas que tendem a evitar a produção de bens agressivos ao meio ambiente, reduzindo a emissão de poluentes ou diminuindo o risco de ocorrerem danos ambientais significativos oriundos de atividades econômicas exploradas sem que haja a chamada consciência ambiental. O dano ambiental resulta sempre em um impacto ambiental, a qual o meio ambiente é afetado, às vezes de forma muito significativa, outras vezes de forma menos significativa. A Constituição de 1988 expressa o conceito de impacto ambiental, exigindo que, para ser considerada impactante, o fato ocorrido deve ter potencial de causar significativa degradação, como ensina o mestre Mitta (2002 ) nos termos da Constituição Federal, impacto ambiental não é qualquer alteração do meio ambiente, (MITTA, 2002, P, 57) por outras palavras, considera-se impacto ambiental a alteração drástica e de natureza negativa da qualidade ambiental.

14 1.1 A lei 9605/98 Em meados da década de 1990 a pressão internacional sobre o Brasil foi aumentando consideravelmente, isso porque repetidos danos provocados pelas indústrias nacionais e a conseqüente banalização destes danos fez crescer a idéia de que os responsáveis tinham que ser punidos de alguma forma, com isso começou a ser discutida no Congresso Nacional, a criação de uma lei de natureza penal com o intuito de punir todos aqueles que causarem danos ambientais, inclusive as pessoas Jurídicas. Após sete anos de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada a tão esperada Lei de Crimes Ambientais, que entrou em vigor, em seus aspectos penais, a partir de 30.03.98. Como a lei não só cuida de sanções criminais, mas também administrativas, estas ainda estão pendentes de regulamentação. Assim, quando já aprovado o seu projeto na Câmara dos Deputados, ele teve que sofrer algumas alterações, ditadas pelo próprio Executivo, ante as pressões dos grandes produtores agrícolas. Banidos, de véspera, os pontos essenciais que atingiam a dita classe, como, por exemplo, o que previa reclusão de até quatro anos para certos danos contra a flora. Ao presidente da República coube apenas vetar, e ceder às pressões. Entretanto, no conjunto, a Lei é de bom quilate, caracterizando-se como um diploma normativo moderno, dotado de regras avançadas, estabelecendo coerentemente quase todas as condutas administrativas e criminais lesivas ao meio ambiente, sem prejuízo das sanções civis, já existentes em outras leis específicas. Neste contexto é necessário falar sobre responsabilidade, tendo em vista que a lei supra atribuiu novas responsabilidades para todos os poluidores do meio ambiente.

15 A responsabilidade surge como derivação de uma obrigação anterior, à qual o responsável deixou de observar. É uma noção peculiar a todas as relações jurídicas, visando assegurar a observância de alguma obrigação nela existente, ou porque se assumiu tal obrigação, seja em decorrência de um fato ou ato, ocorrido ou praticado (COSTA NETO, 1999, p.34-36). Um contexto geral a responsabilidade exprime a obrigação de responder por alguma coisa, revelando o dever jurídico em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão que lhe sejam imputáveis, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções legalmente previstas. No Direito Ambiental a responsabilidade poderá se dar em três esferas: cível, penal e administrativa, já no Direito penal devido ao bem indisponível que o regula, muitas vezes de caráter irreparável, devendo assim ser a responsabilidade subjetiva, personalíssima e atender aos ditames da teoria geral do delito, será um sujeito responsabilizado criminalmente quando sua conduta violar ou contribuir para a violação de um bem jurídico tutelado na esfera penal e ainda possuir culpabilidade. Detecta-se no Direito Ambiental, três esferas básicas de atuação, quais sejam: a preventiva, a reparatória e a repressiva. A preventiva está voltada para o momento anterior a consumação do dano, ou seja, o mero risco, atendendo ao objetivo fundamental do Direito ambiental. Importante aqui ressaltar que na prevenção ocorre ação inibitória, enquanto que nas demais, a reparatória e a repressiva, se limitam a tratar do dano já causado, que é quase sempre incerto, de difícil reparação e custoso. Antes, as regras para os crimes ambientais estavam embrenhadas num confuso emaranhando de leis, geralmente conflitantes entre si, após a criação da lei foram sistematizadas adequadamente, numa só ordenação, as

16 normas de direito penal ambiental, possibilitando o seu conhecimento pela sociedade e a sua execução pelos entes estatais. Contudo, mesmo no âmbito penal, nem todos os atos lesivos à natureza, foram abrangidos pela lei 9605/98, como era a intenção original de seus idealizadores. Assim, muitas normas do Código Penal, da Lei de Contravenções Penais e do Código Florestal permanecem em vigor, como é caso, respectivamente, do delito de difusão de doença ou praga, de poluição sonora e de proibição da pesca de certos animais marinhos, entre outros. Com certeza, a referida lei, lapidada por juristas de renome, assemelha-se, no seu formato, ao Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Código de Defesa do Consumidor, que são leis de terceira geração, visando promover a qualidade de vida e a dignidade humana, em um País cheio de contrastes e marginalização social. De todo modo, a Lei de crimes ambientais com os seus 82 artigos (incluindo-se os vetados), distribuídos em oito capítulos, regulamenta o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 - esta, na esfera do meio ambiente, é uma das mais avançadas do mundo. De principal novidade, a lei introduziu no nosso ordenamento jurídico, a responsabilidade penal da pessoa jurídica, prevendo para elas tipos e sanções bem definidos, diversas daquelas que só se aplicam à pessoa humana, tendo tal tema imensa discussão em nosso ordenamento pátrio, o que será abordado detalhadamente neste trabalho em capítulo posterior. Um grande obstáculo enfrentado por esta lei está nos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização ambiental, em relação à institucionalização desses, pois faltam recursos. (financeiros, organização, metas). Como exemplo a falta de condições necessárias para combater as queimadas ocorridas na Amazônia durante todos os anos.

17 Renomados juristas criticaram a lei supra, por considerar que responsabiliza, com reprimenda elevada de detenção de três meses a um ano - art. 32, lei 9605/98, àquele que maltrata animais silvestres, domesticados etc., enquanto o Código Penal prevê aos maus tratos, crime contra seres humanos, pena de detenção de dois meses a um ano ou multa (artigo 136 CP). No geral, a doutrina concorda que a lei supra foi positiva, tendo procurado trazer melhor exeqüibilidade das sanções penais, visto isso nas situações delituosas não tidas como de grave ameaça ou violência à pessoa, pois possuem a possibilidade de serem substituídas por penas restritivas de direitos. Com isso a lei não mais salvaguarda o intuito preventivo-repressivo da pena, mediante a privação da liberdade do criminoso, sendo esta a exceção, pois há nas normas modernas consonância com a problemática penitenciária do país, levando-se em consideração a teoria do Direito Penal mínimo, que entende serem as penas de privação de liberdade aplicáveis somente para os casos de extrema gravidade nos delitos, ou seja, somente deverá ser privado de sua liberdade aquele que oferece algum risco real e direto para a sociedade como um todo. Os crimes ambientais dividem-se em: crimes contra a Fauna; crimes contra a Flora; Poluição e outros crimes ambientais; crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural e Artístico, e ainda crimes contra a administração Ambiental. Há também os casos de infração administrativa ambiental, sendo esta toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. (Vide art.70 lei 9605/98). Neste sentido o ilustre doutrinador Julio Fabbrini Mirabete (2001) define muito bem o conceito de crime omissivo: crimes omissivos são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico (MIRABETE, 2001, p. 46).

18 As infrações encontram-se claramente definidas, contendo penas uniformes e graduação alternada. Existe ainda de forma inteligente na lei, a possibilidade de extinguir a punibilidade, basta que seja apresentado laudo que comprove a recuperação do dano Ambiental. A maioria das penas tem o limite máximo de quatro anos. As penas privativas de liberdade de acordo com a lei 9605/98 são aplicadas apenas às pessoas físicas e podem ser substituídas por penas restritivas de direitos, existe ainda a possibilidade de ocorrer o Sursis, isto é, a substituição condicional da pena privativa de liberdade, desde que esta não seja superior a três anos, tendo em vista que o artigo 16 da referida lei que, derrogou o artigo 77 do código Penal ao tratar do prazo para ocorrer a citada substituição condicional. O código Penal aplica o Sursis nos casos de crimes com a pena Privativa não superior a dois anos, já a lei de crimes Ambientais confere tal instituto, substituindo aquelas penas que não sejam superiores a três anos, sendo certo que esta lei confere dispositivo mais benéfico, apesar de seu caráter especifico. Já as penas restritivas de direitos são penas autônomas e podem substituir as penas privativas de liberdade quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade indicarem que a substituição seja suficiente para a reprovação e prevenção do crime. (vide artigo 7º da lei 9605/98). A respeito de tal tema pode-se citar algumas das penas restritivas de direitos previstas na lei: a) Prestação de serviços à comunidade : Nesta o condenado prestará serviço gratuito nos parques, jardins públicos e unidades de conservação, sendo estas as reservas biológicas, reservas ecológicas, estações ecológicas, parques nacionais e etc. (vide artigo 40 parágrafo 1º da lei 9605/98), de acordo com o código Penal, o terceiro não poderá cumprir a tarefa conferida ao condenado e esta tem que ser conforme aptidões deste, que irá cumpri-la em oito horas semanais, sem prejudicar a sua jornada de trabalho. O serviço prestado a comunidade poderá consistir em restaurar o

19 dano causado, e esse poderá ser em benefício da coisa particular ou pública, dependendo do caso haverá um sistema específico de reparação; b) suspensão de atividades: poderá ser total ou parcial. Ocorrerá dede que seja constatado que há desobediência às regras expressas nas leis federais, municipais e estaduais, apenas. (artigo 11 da Lei 9605/98): c) prestação pecuniária : Ocorre pelo pagamento em dinheiro àqueles que sofreram com o dano, podendo a vítima ser entidade pública ou privada com o fim social. O valor deverá ser fixado pelo Juiz. (artigo 12 da lei supra); d) interdição temporária de direitos : Há um impedimento explícito de o condenado contratar com o poder público. Não poderá participar de licitações nem receber doações, subvenções e subsídios dos órgãos públicos, inclusive bancos e agências de financiamento estatais. A pena será de cinco ou três anos, sendo referente, respectivamente, a crimes dolosos e crimes de natureza culposa; e) recolhimento domiciliar: apresenta-se como meio de evitar o recolhimento carcerário comum nas sanções. O condenado trabalhará, sem vigilância, exercendo as atividades autorizadas pelo juiz. Para garantir sua eficácia, segundo a maioria dos penalistas, esta pena restritiva de direitos deveria ser cumulada com outra pena de natureza restritiva, que seja voltada à recuperação do meio ambiente; f) multa que poderá ser aplicada em duas etapas: tratando-se de prestação pecuniária por parte do infrator ou referindose aos casos em que serão fixadas por instrumentos normativos, sendo calculadas com base nos critérios do Código Penal. (Art. 18 c/c Art. 8º, IV lei 9605/98), o pagamento será feito à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, sendo este deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator. A importância é fixada pelo juiz. (Art.12 lei 9605/98). As multas, além de previstas como sanções penais, estão previstas como penas administrativas. (Art. 72 da lei 9605/98). A pena de multa prevista para a pessoa jurídica será calculada seguindo os critérios presentes no Código Penal, ou seja, o pagamento da multa será feito com base em valor fixado na sentença e será calculado em dias-multa, sendo de no mínimo 10 e no máximo 360 dias-multa. O valor máximo, quando mostrar-se ineficaz frente ao valor da vantagem auferida, poderá ser aumentado em até três vezes. (Art.

20 18 lei 9605/98 c/c Art. 49 1ºCP), O valor pago na multa é revertido ao fundo penitenciário. Os dias-multa tem por base o salário-mínimo vigente ao tempo do fato, não podendo ser inferior ao trigésimo nem superior a cinco vezes esse salário. Comparando-se o máximo da sanção penal de multa e da sanção administrativa de multa, constata-se gritante desproporção, podendo esta multa atingir até R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais, Art. 75 da lei 9605/98). A doutrina de uma forma geral considera a pena de multa a mais característica para a punição das pessoas jurídicas. Existe ainda uma punição prevista na lei que poderá ser considerada a mais grave em se tratando de pessoa Jurídica, é o critério da despersonalização, previsto no artigo 24 da lei 9605/98, trata-se da liquidação forçada do ente coletivo que, em termos comparativos, assemelha-se à pena de morte da pessoa física que é permitida em alguns países. A despersonalização da pessoa jurídica ocorre quando esta é constituída ou utilizada com o fim de facilitar, permitir ou ocultar a prática de crime definido na lei ambiental. Neste caso o ente coletivo estará agindo de má-fé e contra o Estado que autorizou a sua criação. Com a liquidação da pessoa jurídica, seus bens serão perdidos em favor do Fundo Penitenciário Nacional, pois referido patrimônio é tido como instrumento do crime que levou à sua despersonalização. A despersonalização da pessoa jurídica é sanção decorrente da inovação advinda por esta lei supra citada, baseando-se esta no potencial de delinqüir inerente ao ente coletivo. Diante do exposto pode-se observar algumas das principais inovações criadas junto com a lei 9605/98, realizando uma breve análise comparativa. Antes as legislações penais ambientais eram de difícil aplicação, isto porque as leis eram esparsas, com o advento da lei 9605/98 a legislação ambiental é consolidada, as penas têm uniformização e gradação adequadas e as infrações são claramente definidas; a pessoa jurídica não era responsabilizada criminalmente, hoje a lei define a responsabilidade da pessoa

21 jurídica - inclusive a responsabilidade penal - e permite a responsabilização também da pessoa física autora ou co-autora da infração; a pessoa jurídica não tinha decretada liquidação quando cometia infração ambiental, agora a pessoa jurídica pode ter liquidação forçada no caso de ser criada e/ou utilizada para permitir, facilitar ou ocultar crime definido na lei, e seu patrimônio é transferido para o Patrimônio Penitenciário Nacional; outra inteligência da lei é que antes a reparação do dano ambiental não extinguia a punibilidade, de forma inteligente hoje a punição é extinta com apresentação de laudo que comprove a recuperação do dano ambiental; havia a impossibilidade de aplicação direta de pena restritiva de direito ou multa, agora a partir da constatação do dano ambiental, as penas alternativas ou a multa podem ser aplicadas imediatamente; a aplicação das penas alternativas era possível para crimes cuja pena privativa de liberdade fosse aplicada até 02 (dois) anos, com o advento da lei supra é possível substituir penas de prisão até 04 (quatro) anos por penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade. A grande maioria das penas previstas na lei tem limite máximo de 04 (quatro) anos, dando tratamento de direito penal mínimo, levando-se em conta a situação carcerária do país; a destinação dos produtos e instrumentos da infração não era bem definida, hoje em dia produtos e subprodutos da fauna e flora podem ser doados ou destruídos, e os instrumentos utilizados quando da infração podem ser vendidos; matar um animal da fauna silvestre, mesmo para se alimentar, era crime inafiançável, mais uma vez levando-se em conta o direito penal mínimo se a pessoa matar um animal para saciar a fome dela mesma ou de sua família, a lei descriminaliza o abate, no entanto o fato de matar o animal simplesmente continua sendo considerado como crime; os maus tratos contra animais domésticos e domesticados era contravenção, hoje além dos maus tratos, o abuso contra estes animais, bem como aos nativos ou exóticos, passa a ser crime; não havia disposições claras relativas a experiências realizadas com animais, agora experiências dolorosas ou cruéis em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, são consideradas crimes, quando existirem recursos alternativos. A lei 9605/98 além de estabelecer os crimes contra o meio ambiente, estabelece também punições

22 para aqueles que de alguma forma danificam o patrimônio histórico e cultural do nosso país, e também para aqueles que continuam praticando ações que possam vir a destruir o meio ambiente e colocar em risco a vida de pessoas, como a soltura de balões, expressamente prevista na lei como um crime. Estes foram alguns exemplos das alterações ocorridas com o advento da lei, claro parece para os operadores do direito que a lei supra facilitou o trabalho em se tratando de danos ambientais, pois sintetizou de uma forma adequada os crimes que antes estavam espalhados em outras normas legais, que muitas vezes não eram aplicadas, ou careciam de regulamentação. Neste ano a lei 9605/98 estará completando doze anos de existência e ainda desperta críticas por parte de muitos doutrinadores, no sentido de que a lei em referência não prospera em seu conteúdo, quando por exemplo, responsabiliza penalmente a pessoa jurídica, ou tipifica culposamente o ato de "destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação em propriedade privada alheia (.art. 49).", assim como, ao estabelecer reprimenda mais elevada (art.32, pena - detenção de três meses a um ano e multa), àquele que "maltrata animais silvestres ou domesticados, nativos ou exóticos", ao passo que ao próprio ser humano, a lei penal prevê a magra pena de detenção de dois meses a um ano ou multa ao delito de maus tratos.(art. 136, CP). Entretanto como visto suas inovações podem vir a se tornar um forte aliado contra os crimes praticados contra o meio ambiente.

23 CAPÍTULO II A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIMES AMBIENTAIS. A comunidade internacional somente despertara para a formação de uma consciência verde no momento em que a luta pelo desenvolvimento econômico a qualquer preço começou a ser mitigada. A convenção de Estocolmo, em 1972 foi um marco para os movimentos sociais, que terminaram por impor frutos na legislação brasileira, que timidamente começou a regulamentar a devastação desenfreada do nosso patrimônio ambiental. Neste sentido a lei 6938/81, que instituiu a Política Nacional para o meio ambiente, foi a certidão de nascimento do Direito Ambiental Brasileiro, apesar da lei de zoneamento industrial, de 1980, ter a primazia de enunciar primeiro a questão sob uma ótica holística de meio ambiente. O artigo 225 da nossa Constituição Federal de 1988 incorporou ao nosso ordenamento jurídico institutos então conhecidos por poucos segmentos sociais, desenvolvimento sustentável e meio ambiente ecologicamente equilibrado, passam a integrar o conceito de cidadania, influenciado pelos direitos humanos internacionalmente reconhecidos, como o direito ao desenvolvimento a saúde e à educação, a saúde do trabalhador, diretamente atingida pelos efeitos da poluição, sendo esta uma bandeira que interessava tanto ao poder público quanto ao empresariado. O caráter transdiciplinar do direito ambiental extrapola as fronteiras do público e do privado, ficando além de simples relações de direito entre