Estrutura a Termo da Taxa de Juros e Imunização: Novas Perspectivas na Gestão do Risco Taxa de Juros em um Fundo de Pensão

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Transcrição:

Estrutura a Termo da Taxa de Juros e Imunização: Novas Perspectivas na Gestão do Risco Taxa de Juros em um Fundo de Pensão Autoria: Sérgio Jurandyr Machado, Luis Felipe Jacques da Motta Resumo: O termo imunização denota a construção de uma carteira de investimentos de forma a torná-la imune a variações nas taxas de juros. O artigo busca comparar a performance de duas alternativas de imunização propostas por Fong e Vasicek (1984) e Balbás e Ibáñez (1998), respectivamente. A partir de um exame das características básicas da modelagem do mercado de juros e dos modelos de imunização, simula-se uma série de estruturas a termo para o mercado brasileiro. A partir dessa descrição probabilística da evolução futura da estrutura a termo, é possível calcular o valor em risco da diferença entre o ativo e o passivo de um fundo de pensão. Os resultados permitem não apenas avalizar a estratégia mais eficiente de imunização, como também explicitar a superioridade da performance das duas alternativas em relação à tradicional estratégia que restringe o gerenciamento do risco à compatibilização da duration de ativos e passivos. Introdução O valor presente da diferença entre ativos e passivos retrata a capacidade de um fundo de pensão em satisfazer as obrigações impostas pelo plano de benefícios acordado entre participantes e patrocinadores. Desta forma, a taxa real de juros é uma das mais importantes premissas econômicas utilizadas pelo gestor financeiro de uma fundação. Um modelo de taxas de juros constitui-se em uma descrição probabilística da evolução futura das mesmas. A incerteza decorre do fato de que a informação disponível em um determinado momento do tempo não é suficiente para descrever, de forma perfeita, a estrutura a termo futura das taxas de juros. A análise quantitativa representada pelo modelo será, portanto, um espelho dessa incerteza. O gerenciamento de ativos em função das características do passivo é denominado asset/liabilty management (ALM). Se o montante e timing dos dispêndios podem ser antecipados com exatidão, a estratégia menos arriscada para a entidade de previdência consiste em aplicar o valor presente desses dispêndios em títulos sem cupom com data de vencimento idênticas às dos pagamentos a serem efetuados. Ao adotar esse método para a aplicação dos recursos disponíveis, o gestor estará construindo uma carteira dedicada. As carteiras dedicadas são, por natureza, isentas do risco taxa de juros. Ainda que seja possível adotar a estratégia de dedicação para horizontes de investimento de curta duração, o mercado brasileiro de renda fixa praticamente inviabiliza esse tipo de operação no médio e longo prazo. As Letras do Tesouro Nacional LTN, títulos prefixados e sem pagamentos intermediários, possuem prazo médio de 7,83 meses (janeiro/004). Ademais, praticamente todo o fluxo de saída de um fundo de pensão está indexado à variação anual de um índice de preços. O Tesouro Nacional não emite títulos com cláusula de atualização monetária sem o pagamento de cupons intermediários. Uma opção consiste em se criar um portfolio de títulos com cupom que minimize a probabilidade de perdas associadas a alterações na curva da taxa de juros. Essa estratégia,

denominada imunização, busca tornar uma carteira de títulos de renda fixa imune aos efeitos de pequenas modificações paralelas da curva da taxa de juros. Figura 1: Evolução da Estrutura a Termo (Swap BM&F DIxIGP-M) 30 Taxas de Juros Reais 5 0 15 10 5 0 30 90 180 360 70 Dias Corridos 3/1/003 3/6/003 3/11/003 Entretanto, conforme descrito na figura 1, a assunção de que a curva da taxa de juros irá se modificar apenas por meio de movimentos paralelos é demasiado ingênua. Ademais, existem formas alternativas de se igualar a duration de ativos e passivos. Pode-se adotar uma estratégia barbell o vencimento dos títulos que compõem a carteira estão distantes da duration do passivo ou uma estratégia bullet o vencimento dos títulos que compõem a carteira se aproximam da duration do passivo. A primeira estratégia é mais arriscada, uma vez que os cupons estarão expostos por um prazo maior ao risco de reinvestimento (risco de imunização). A teoria de imunização evoluiu no sentido de minimizar esse grau de barbelização. Desta forma, Fong e Vasicek (1984) e, posteriormente, Balbás e Ibáñez (1998) expandiram o conceito de imunização ao propor estratégias de administração de risco baseadas em choques arbitrários sobre a estrutura a termo. O objetivo desse artigo é testar a eficiência dessas duas alternativas a partir do cômputo do valor em risco (VaR) associado a cada uma delas. Para efeito deste artigo, definese o valor em risco como o menor valor presente da diferença entre ativos e passivos do fundo, para um dado nível de confiança (99%). Para gerar os choques arbitrários das taxas de juros foi utilizado o modelo proposto por Ho e Lee (1986). Por simplificação, o passivo será reduzido a cinco saídas de caixa, 1, 4, 36, 48 e 60 meses após a data de construção das carteiras (novembro de 003). O artigo encontra-se organizado da seguinte maneira: o item trata do risco de imunização, o item 3 discute as peculiaridades da modelagem do mercado de renda fixa, o item 4 descreve uma taxonomia básica dos modelos sobre a estrutura a termo, o item 5 apresenta as carteiras imunizadas e o item 6, o cálculo do VaR e os resultados da análise. Risco de imunização A literatura sobre gerenciamento do risco taxa de juros é vasta, estando associada, basicamente, à especificação de medidas alternativas de duration. A cada modelo particular de comportamento futuro da estrutura a termo corresponderá uma medida de sensibilidade dos preços dos títulos. Soto (004) realiza uma análise pormenorizada desses modelos e conclui

que a diferença entre os métodos se restringe basicamente ao número de fatores e a forma como estes influenciam a curva de juros, reduzindo a imunização a uma questão de dimensão (onde cada dimensão é equivalente a um fator) de duration a ser alcançada. Esse tipo de metodologia restringe a imunização a um movimento particular da curva de taxa de juros. Se a estrutura a termo futura for diferente da prevista por esse movimento, o portfolio estará sujeito a perdas. De acordo com Machado e Figueiredo (004), Fong e Vasicek (1984) foram os primeiros a propor uma estratégia de administração de risco para uma carteira exposta a choques arbitrários da taxa de juros. A hipótese básica do modelo consiste na divisão do risco taxa de juros em dois componentes básicos: a magnitude da alteração sofrida pela estrutura a termo e o tipo de título (ou portfolio) exposto a essa modificação. O segundo termo representa uma medida de risco de imunização. A minimização desse risco busca reduzir a variabilidade do valor de um título em função de movimentos aleatórios das taxas de juros. Ao testar a hipótese, Fong e Vasicek (1984) demonstram que o risco de imunização pode ser descrito pela variável M = n ( ti D) PV ( CFi ) i, onde D é a duration do título (ou n PV ( CF ) i o horizonte de investimento), t i é o prazo do fluxo i e PV CF ) é o valor presente do fluxo i. Trata-se, portanto, de uma medida de dispersão que tenderá a zero na medida em que a data de recebimento dos cupons se aproximar da duration da carteira. De fato, M será igual a zero se o portfolio for composto apenas por um título sem cupom. A estratégia de ALM consistirá, portanto, em minimizar M para uma dada duration do passivo. De acordo com Fabozzi (000), na imunização de carteiras com múltiplos horizontes de investimento, o piso da dispersão dos ativos não será zero, mas sim o valor da dispersão do passivo. Recentemente, Balbás e Ibáñez (1998) propuseram uma nova medida para o risco de imunização. Os autores introduzem o conceito de condição de imunização fraca (weak immunization condition, no original). Esta é verificada quando da existência de pelo menos um título i no portfolio que, em decorrência de um choque k na estrutura a termo, seja capaz Vi( k) de produzir um retorno maior ou igual ao retorno esperado: R, onde Vi(k) representa Pi o retorno do título i na ocorrência do choque k, Pi o preço do título i e R o retorno esperado. A condição pode ser interpretada da seguinte forma: um investidor que tenha certeza da ocorrência de um determinado choque k irá comprar um título cuja rentabilidade esperada não será comprometida pela alteração na curva de juros. Suponha agora que exista um subconjunto de choques para os quais a condição de imunização fraca não se verifica. Nesse caso, o risco da estratégia de imunização pode ser calculado a partir das perdas decorrentes da ocorrência de tais choques e a minimização do risco de imunização estará associada à minimização dessas perdas. Para tanto, os autores sugerem a adoção de uma medida do risco de imunização ~ N representada pela seguinte expressão: i ( i 3

~ N = n ti D PV ( CFi ) i n PV ( CFi ) i Em N ~, diferentemente do que ocorre no cálculo de M, as mudanças na estrutura a termo resultarão em um menor impacto no risco de imunização, já que o termo t i D tende a ser inferior a ( t i D). Modelagem no mercado de juros A modelagem de instrumentos de renda fixa possui características próprias que a distinguem da modelagem de outros ativos financeiros. De acordo com Vieira Neto (1999), essas idiossincrasias podem ser resumidas nos seguintes pontos: a) Tendência de reversão à média: as taxas de juros reais tendem a ser mover em direção a uma média de longo prazo (steady state). Tal tendência encontra respaldo na teoria econômica, na medida em que uma política monetária restritiva tende a se tornar neutra (ou expansionista) após a ocorrência do impacto negativo desejado sobre o nível de produto e renda. De forma análoga, políticas monetárias expansionistas tendem a ser seguidas por políticas neutras ou restritivas; b) Os modelos sobre a estrutura a termo envolvem a descrição do processo estocástico da curva de juros em vários pontos e não somente em um determinado prazo. Ao contrário de outros ativos financeiros, os títulos de renda fixa que realizam pagamentos intermediários (cupons) são afetados por taxas de juros de prazos distintos que, normalmente, apresentam valor também distinto; c) As volatilidades nos diversos pontos da estrutura a termo (vértices) costumam diferir e as correlações entre os diferentes vértices de taxa de juros não são perfeitas, decrescendo na medida em que aumenta a distância entre os mesmos. O mercado brasileiro reproduz, de forma similar aos mercados internacionais, essas mesmas características. Entretanto, no que diz respeito a reversão à média, deve-se salientar que, ao contrário dos países de mercado financeiro desenvolvido onde as taxas de médio e longo prazo não são facilmente contaminadas pelos problemas de curto prazo, no Brasil, é praticamente impossível identificar e medir a taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo. Desta forma, optou-se, nesse artigo, por um modelo que negligenciasse o processo de reversão à média. Uma proposta de taxonomia A construção de uma taxonomia objetiva uma melhor compreensão das principais características dos modelos que tentam descrever a estrutura a termo, distinguindo e classificando-os em subcategorias. Cabe salientar que o exercício se restringe apenas aos seis modelos apresentados a seguir, embora o número de métodos disponibilizados na literatura seja infinitamente superior. 4

Figura : Taxonomia dos Modelos de Estrutura a Termo Endógeno Exógeno Fator Único VASICEK (1977) CIR (1985) HO-LEE (1986) HULL-WHITE (1990) Multifatorial HJM (199) DUFFIE-KAN (1996) Nos modelos unifatoriais, apenas um fator é o responsável por explicar uma fração significativa do movimento total das taxas de juros. A associação a apenas uma fonte de incerteza não é demasiadamente restritiva. Hull (000) afirma que um modelo unifatorial implica todas as taxas movendo-se na mesma direção, mas não na mesma intensidade. A estrutura a termo nem sempre tem a mesma forma e um amplo espectro de curvas de taxas de juros pode ocorrer sob a perspectiva desse método. Dentre outros, pode-se citar os seguintes choques passíveis de ocorrência: Paralelo: i = i i t t + Multiplicativo: i = i ( 1 i) t t + Lognormal aditivo: i = i + iln( 1+ α t) / αt t t Os modelos unifatoriais se dividem ainda em endógenos também denominados modelos de equilíbrio e exógenos. Nos modelos endógenos, a curva de juros em um dado tempo t é derivada analiticamente a partir dos parâmetros definidos e não há garantia de que ela será idêntica à curva de mercado efetivamente observada. Esse aspecto controverso do procedimento endógeno é normalmente apresentado pelos analistas financeiros como o responsável pela maior utilização dos modelos exógenos. Nestes últimos, o procedimento é calibrado de forma a ajustar a estrutura a termo inicial à curva de juros efetivamente observada no mercado. Em um artigo seminal, Vasicek (1977) descreve o processo para o cálculo da taxa instantânea de juros a partir da seguinte equação diferencial estocástica: dr = a( b r) dt + σdz onde a, b e σ são constantes que descrevem a taxa de reversão à média, a média e o desviopadrão, respectivamente, da taxa de juros de curto prazo e dz um processo de Wiener básico no qual z tem uma distribuição normal com média zero e variância t. Intuitivamente, pode-se compreender o processo descrito por Vasicek como o impacto sobre a taxa de juros de curto prazo decorrente da variação infinitesimal do tempo e da variância associada σ dz. Sempre que r for maior que b, o termo a(b - r) será negativo, impactando negativamente a taxa de curto-prazo. Analogamente, sempre que r for menor que b, o impacto será positivo. Dessa forma, temos um processo de reversão à média. O ponto fraco do método proposto por Vasicek decorre do fato de que o modelo pode gerar taxas reais de curto prazo negativas, o que dificilmente ocorrerá na realidade. Nesse sentido, Cox, Ingersoll e Ross (1985) propõem um procedimento alternativo em que a taxa de juros instantânea será descrita pela expressão: dr = a( b r) dt + σ rdz. O componente representado pela raiz de r impede que as taxas de juro de curto prazo tornem-se negativas. 5

De acordo com Vieira Neto (1999), o método de Ho e Lee (1986) foi o pioneiro na linha dos modelos exógenos, tendo contribuído significativamente para uma nova perspectiva de modelagem da estrutura a termo da taxa de juros. O modelo pode ser descrito pela seguinte expressão: θ ( t) dr = dt + σdz t onde θ (t) é uma função determinista escolhida de forma a possibilitar que o modelo seja capaz de gerar, na data inicial, uma estrutura a termo idêntica à observada no mercado. Em contrapartida, o procedimento proposto por Ho e Lee desconsidera uma eventual tendência de reversão a média da taxa de juros de curto prazo. Hull e White (1990) exploram essa deficiência do modelo de Ho e Lee, propondo uma extensão do modelo de Vasicek: θ ( t) dr = a( r) dt + σdz. a θ (t) Portanto, a taxa de juros de curto prazo tende à média a uma taxa a. No modelo a de Hull e White, diferentemente do proposto por Ho e Lee, a análise contempla um espectro mais amplo de volatilidade, já que a mesma é afetada concomitantemente pela constante de reversão à média a e pelo desvio-padrãoσ. Atualmente, existe uma tendência em se estender a análise da estrutura a termo por meio da utilização de modelos multifatoriais. Heath, Jarrow e Morton (199), Duffie e Kan (1996) e vários outros autores têm buscado incrementar a acuracidade dos modelos propostos por meio da inserção de novos fatores de incerteza. Vieira Neto (1999) ressalta que estes novos fatores representam, basicamente, a adição da variância associada a múltiplos pontos da estrutura a termo, ao invés da tradicional análise que assume um deslocamento na mesma direção de todos os pontos da curva de juros. Desta forma, as taxas de curto e longo prazo poderiam se mover em direções opostas. Essa multiplicidade de dimensões será tanto mais eficiente quanto menor a correlação entre as variâncias observadas em pontos distintos da estrutura a termo. Os modelos multifatoriais estão normalmente associados a uma implementação mais lenta e dispendiosa e, portanto, o analista deve examinar criteriosamente o trade-off existente, especialmente no caso das taxas apresentarem alto grau de correlação. Dada a taxonomia e as características básicas dos modelos descritos, o gestor de recursos poderia indagar se realmente existe um método que deva ser eleito como o mais apropriado para o exame do comportamento futuro das taxas de juros. Vários critérios podem ser identificados como necessários a um modelo de estrutura a termo. A princípio, o método deve ter significado econômico, ser implementável e aproximar de forma bastante precisa os preços observados no momento da análise. Ocorre que não apenas um, mas vários modelos citados (Ho e Lee, Hull e White, Heath, Jarrow e Morton, dentre outros) preenchem esses requisitos básicos e, portanto, são elegíveis. 6

Apesar de toda a evolução da teoria financeira sobre o assunto, não há garantia de que o processo estocástico escolhido será capaz de predizer de forma precisa os movimentos futuros da estrutura a termo. Portanto, a escolha recairá sobre aquele procedimento passível de implementação que, na opinião do analista financeiro, melhor se adaptar aos movimentos futuros mais prováveis. Para efeito deste artigo, o modelo escolhido para a simulação da estrutura a termo foi o proposto por Ho e Lee (1986). Conforme salientado anteriormente, tal modelo negligencia o processo de reversão à média. Assim, não há necessidade de se trabalhar com o conceito de taxa de juros real de equilíbrio de longo prazo. Construindo carteiras imunizadas Suponha que para a obtenção dos dois portfolios imunizados, estejam disponíveis os seguintes instrumentos financeiros indexados ao IGP-M: Tabela 1: Características dos títulos públicos e privados em 03/11/003 Título Vencimento Preço(em R$) Duration (em dias) NTN-C 01/07/05 1.537,36 399,94 NTN-C 01/04/08 1.413,96 986,51 Debênture SABESP 01/03/07 14.431,9 489,33 Debênture COPEL 01/03/07 14.581,90 678,69 Fonte: Andima e Bovespa Suponha, ainda, que determinado fundo de pensão possua um passivo (indexado ao IGP-M) com as características descritas na tabela : Tabela : Características do passivo em 03/11/03 Data Pagamentos (valores em R$) 01/11/004 70.000.000,00 01/11/005 70.000.000,00 01/11/006 70.000.000,00 01/11/007 70.000.000,00 01/11/008 70.000.000,00 Valor Presente 70.54.947,03 Duration (em dias) 715,77 ~ Dispersão N (em dias) 309,36 Dispersão M (em dias ) 17.078,9 Fonte: Elaboração Própria A construção das carteiras pressupõe que haverá total liquidez para os instrumentos utilizados, ou seja, os títulos poderão ser adquiridos no mercado secundário pelos preços descritos na tabela 1. Cabe salientar que foram desconsiderados os custos de transação envolvidos, além dos impostos incidentes sobre as operações. A diferença no risco de crédito dos títulos públicos e privados está refletida nas taxas de desconto utilizadas para cômputo dos preços. Basicamente, o problema de programação linear consiste em minimizar o risco de imunização ( M ou N ~ ), sujeito às seguintes restrições: 7

a) Duration do ativo igual a do passivo; b) Valor presente do ativo igual ao do passivo; c) Dispersão do ativo igual ou maior que a do passivo; d) Somatório dos percentuais dos títulos em carteira igual a 100%; e) Impossibilidade de venda a descoberto de qualquer um dos títulos que integra a carteira; f) Limitação do percentual de aplicação em debêntures e demais valores mobiliários de renda fixa de emissão de companhia aberta a 0% do total da carteira (resolução CMN n 311/003). Os portfolios construídos estão descritos nas tabelas 3 e 4: Tabela 3: Carteira imunizada ~ N - 01/11/03 Descrição Vencimento % da Carteira Valor de Mercado (R$) NTN-C 01/07/05 18,85 50.947.940,19 NTN-C 01/04/08 41,4 111.94.76,14 Debênture SABESP 01/03/07 0,00 54.050.980,33 Debênture COPEL 01/03/07 19,73 53.313.750,37 Total 100,00 70.54.947,03 Fonte: Elaboração própria Tabela 4: Carteira imunizada M - 01/11/03 Descrição Vencimento % da Carteira Valor de Mercado (R$) NTN-C 01/07/05 31,56 85.99.76,49 NTN-C 01/04/08 50,5 135.809.790,65 Debênture SABESP 01/03/07 15,64 4.81.891,67 Debênture COPEL 01/03/07,55 6.863.50,1 Total 100,00 70.54.947,03 Fonte: Elaboração própria Mensurando a eficiência de uma carteira imunizada Formatadas as carteiras imunizadas, deve-se testar a eficiência das mesmas na redução dos riscos associados às taxas de juros. A questão do VaR da diferença entre ativos e passivos adquire especial importância a partir da publicação da Resolução MPS/CGPC n 6, de 30 de outubro de 003, que regulamenta a portabilidade. De acordo com a resolução entende-se por portabilidade o instituto que faculta ao participante transferir os recursos financeiros correspondentes ao seu direito acumulado para outro plano de benefícios de caráter previdenciário operado por entidade de previdência complementar ou sociedade seguradora autorizada a operar o referido plano. O direito acumulado para fins de portabilidade irá impor às fundações uma gestão de risco ainda mais eficiente, sob pena das mesmas incorrerem em grandes perdas financeiras quando do eventual exercício da portabilidade por parte dos integrantes do plano. O valor em risco será obtido a partir de uma simulação. A distribuição dos cenários se baseia no modelo estocástico de Ho e Lee (1986) e pode ser verificada no apêndice I 1. Uma vez definidos os cenários para as taxas de juros, pode-se calcular os preços para todos os ativos integrantes da carteira, gerando uma distribuição de retornos que será utilizada para o cômputo do VaR. A estrutura a termo inicial é representada pela curva da Swap DI x IGP-M, disponibilizada pela BM&F em 03/11/003: 8

Figura 3: Estrutura a Termo (03/11/003) Taxas de Juros (% aa) 19 17 15 13 11 9 7 5 1 3 4 5 6 7 Dias Corridos Taxas de Juros Reais (% a.a) Juros + Spread O spread utilizado no cômputo dos preços dos títulos privados foi fixado em 4,0% a.a para todos os vértices, taxa idêntica ao spread verificado nas negociações efetuadas no mercado secundário em 03/11/003. A tabela 5 traz os resultados referentes aos dois portfolios imunizados e, ainda, a uma carteira obtida a partir de uma naive strategy, na qual apenas a duration do ativo foi igualada a do passivo, negligenciando a questão da dispersão. A estratégia de imunização de Balbás e Ibáñez (1998) se mostrou a mais eficiente: Tabela 5: Valor em Risco Estratégia VaR (99%) ~ Carteira imunizada N (986.100,13) Carteira imunizada M (1.49.935,66) Naive Strategy (imunização tradicional) (1.59.855,45) Fonte: Elaboração Própria Cabe salientar que estes resultados foram obtidos a partir da utilização de uma volatilidade de aproximadamente,0% a.a para as taxas de juros reais. Trata-se de uma perspectiva otimista que contempla uma maior estabilidade para o mercado brasileiro nos próximos anos. Entretanto, caso o gestor opte por um cenário mais conservador, é bastante provável que as carteiras imunizadas que minimizam a dispersão tenham uma performance ainda mais eficiente em relação à imunização tradicional. Conclusão Até recentemente, o fluxo de pagamentos de parcela significativa dos fundos de pensão era inferior ao montante recebido dos beneficiários a título de contribuição. Atualmente, a situação se inverteu e estratégias como a imunização adquirem importância especial. Num futuro próximo, é possível que tais estratégias venham a desempenhar um papel ainda mais importante, uma vez que a previsibilidade do fluxo de saídas aumentará na 9

mesma proporção do incremento do número de benefícios concedidos por tempo predeterminado. Este estudo apresentou uma evidência direta de que o modelo proposto por Balbás e Ibáñez (1998) foi mais eficaz do que o de Fong e Vasicek (1984) no gerenciamento do risco taxa de juros de um fundo de pensão. Não obstante, ambos os modelos obtiveram performance superior à obtida pela imunização tradicional (naive strategy), o que comprova a importância do risco de reinvestimento sobre a performance da carteira e, por conseguinte, a necessidade de incluí-lo no gerenciamento de riscos associados a carteiras de renda fixa. A escolha do processo gerador das estruturas a termo e da volatilidade associada influenciam o resultado final. Entretanto, trata-se de uma opção do gestor, que deve fazê-lo de modo a tentar retratar os cenários futuros que, em sua opinião, tenham a maior probabilidade de ocorrência. A estratégia de imunização viabiliza, ainda, a gestão ativa dos recursos restantes do fundo de forma não necessariamente correlacionada ao perfil do passivo. O percentual de ativos a imunizar e os fatores que influenciam tal decisão constituem objeto de relevância para análise futura. Referências bibliográficas BALBÁS, A.; IBÁÑEZ A. When Can You Immunize a Bond Portfolio, Journal of Banking & Finance, v., p. 1571-1595, 1998. COX, J.C.; INGERSOLL, J.E.; ROSS, S.A. A theory of the term structure of interest rates, Econometrica, v. 53, p. 385-407, 1985. DUFFIE, D.; KAN, R. A yield-factor model of interest rates, Mathematical Finance, v. 6, p. 379-406, 1996. FABOZZI, F.J., Bond Markets, Analysis and Strategies, Prentice Hall International, New Jersey, 000. FERREIRA, R. Gerenciamento do Risco Taxa de Juros: Redesenhando uma Estratégia de Imunização com o Uso de Derivativos, Resenha BM&F, v. 146, p. 65-84, 001. FONG, H.G.; VASICEK, O.A. A Risk Minimizing Strategy for Portfolio Immunization, The Journal of Finance, v. 39, p. 1541-1546, 1984. HEATH, D.; JARROW, R.; MORTON, A. Bond pricing and the term structure of interest rates: a new methodology for contingent claims valuation", Econometrica, v. 60, p. 77-105, 199. HO, T.S.Y., LEE, S.B., Term structure movements and pricing interest rate contingent claims, Journal of Finance, v.41, p. 1011-109, 1986. 10

HULL, J., WHITE, A., Valuing derivative securities using explicit finite difference method, Journal of Financial and Quantitative Analysis, v. 5, p. 87-100, 1990. HULL, J. Options, futures and other derivatives, Prentice-Hall International, New Jersey, 000. MACHADO, S.J.; FIGUEIREDO, A.C. Derivativos e Imunização: Aumentando a Eficiência na Gestão da Carteira de Renda Fixa de um Fundo de Pensão, Revista ADM.MADE, v.3, 004. SOTO, G.M., Duration Models and IRR Management, Journal of Banking & Finance, v.8, p. 1089-1110, 004. VASICEK, O.A., An equilibrium characterization of the term structure, Journal of Financial Economics, v. 5, p. 177-188, 1977. VIEIRA NETO, C.A. Modelagem da Estrutura a Termo da Taxa de Juros e Avaliação de Contratos Derivativos, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 1999. 11

APÊNDICE I 11,119% 11,008% 10,614% 9,667% 10,691% 10,13% 9,07% 9,39% 10,066% 9,671% 9,7800% 8,617% 8,8050% 9,7431% 9,39% 8,59% 8,405% 9,3006% 8,8136% 8,035% 8,878% 8,4133% 8,4751% 8,0313% 7,6665% 360 70 1080 1440 1800 Dias Corridos 1 Uma árvore de taxa de juros consubstancia-se em uma representação aproximada do processo estocástico em tempo discreto. Nesse sentido, utilizou-se o software DerivaGem, disponível em Hull (000). Por simplificação, o exercício contemplou apenas cinco passos, o que significa a obtenção de 81 diferentes curvas para as taxas de juros. A probabilidade de ocorrência de cada uma dessas curvas é distinta, embora esse fato tenha sido desconsiderado na análise. As taxas intermediárias foram obtidas por meio de uma interpolação linear. Esse tipo de estratégia corresponde à imunização tradicional. Os instrumentos financeiros utilizados são os mesmos (tabela 1), embora a composição da carteira seja obviamente diferente. 1