Registro: 2014.0000554XXX ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565, da Comarca de São Caetano do Sul, em que é apelante MARLENE (Omitido) e apelada JACUTINGA COMERCIAL E CONSTRUTORA LTDA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 4ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: DERAM PROVIMENTO EM PARTE AO RECURSO. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente) e MAURO CONTI MACHADO. São Paulo, 9 de setembro de 2014. Grava Brazil Relator Assinatura Eletrônica
APELAÇÃO Nº: XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 APELANTE: MARLENE (Omitido) APELADA: JACUTINGA COMERCIAL E CONSTRUTORA LTDA COMARCA: SÃO CAETANO DO SUL JUIZ PROLATOR: SÉRGIO NOBORU SAKAGAWA Ação de rescisão contratual c.c. indenização - Procedência - Inconformismo da ré Acolhimento em parte - Inadimplemento da compradora incontroverso - Possibilidade de rescisão pelo vendedor Perda de 10% que se mostra razoável para ressarcir prejuízos - Apelada que decaiu em parte mínima (art. 21, par. ún, CPC) Ônus sucumbenciais bem distribuídos - Sentença reformada em parte, para minorar o percentual de retenção Recurso provido em parte. VOTO Nº 194XX I - Trata-se de sentença que, em ação de rescisão contratual cumulada com indenização (motivada pelo inadimplemento do comprador), julgou o feito procedente, para declarar rescindido o compromisso de compra e venda e determinar a devolução dos valores recebidos pela autora, descontado o percentual de 25%, a título de indenização por perdas e danos. Confira-se fls. 150/154. Inconformada, apela a ré (fls. 156/159). Sustenta a abusividade da "fixação das perdas e danos em percentual correspondente a 25% do valor por ela adimplido", alegando que 10% é a percentagem ideal. Defende a ocorrência de sucumbência Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 - São Caetano do Sul - Voto nº 194XXE 2
recíproca, uma vez que a apelada pleiteou a condenação à indenização em 25% do valor atualizado do contrato, e não do valor adimplido, de modo que os ônus devem ser repartidos. O preparo foi recolhido (fls. 160/162), sendo o apelo recebido (fls. 163) e contrariado (fls. 164/180). O recurso foi, inicialmente, distribuído a outra Relatoria, sendo redistribuído a este Desembargador em 09.05.14, em cumprimento à Resolução n. 643/2014. da sentença apelada. É o relatório, adotado, quanto ao mais, o II - A apelada ajuizou a demanda, em junho de 2009, objetivando a rescisão contratual, além de reparação por perdas e danos, haja vista a inadimplência da apelante com relação ao pagamento de parte das prestações avençadas em compromisso de compra e venda de imóvel. O i. Julgador de origem acolheu as pretensões, sob o fundamento de que "a Requerida justifica o inadimplemento em decorrência da superveniente alteração das circunstâncias financeiras acontecidas no curso contratual, e, além disso, justifica o não pagamento das parcelas anuais pelo fato de estarem condicionadas ao 'habite-se"... sem razão em sua irresignação, porquanto confessa sua mora, aliás, regularmente constituída". Pontua, assim, que "não há como se afastar a pretensão indenizatória da Requerente, que busca se ver ressarcida dos prejuízos decorrentes da dissolução da avença... E tal indenização deve ser considerada no percentual indicado pela Requerente, amparada, para tanto, na jurisprudência trazida à Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 - São Caetano do Sul - Voto nº 194XXE 3
colação, que estabelece 25% do valor pago". De início, cabe consignar ser pacífico, perante este E. Tribunal de Justiça, o entendimento de que, na hipótese de rescisão contratual motivada pelo inadimplemento do comprador, este tem direito à devolução das prestações pagas, independentemente de reconvenção 1. Todavia, sendo exclusivamente sua a culpa pelo insucesso da avença, razoável admitir a perda de parte das prestações adimplidas, a fim de indenizar a vendedora dos gastos de administração e aqueles decorrentes naturalmente do inadimplemento contratual. Nessa senda, mormente em se tratando de contratos de consumo, ao mesmo passo que o percentual de retenção não deve ser ínfimo a ponto de prejudicar a atividade empresarial, também, não pode ser elevado a ponto de onerar excessivamente o consumidor (art. 51, IV, do CDC). Por essa razão, considerando que a apelante jamais esteve na posse do imóvel e tendo em vista que a apelada poderá facilmente revendê-lo - inclusive com lucro -, inexistindo relevante prejuízo, o percentual de retenção em 25% das parcelas pagas se mostra realmente elevado, assistindo razão à apelante na pretensão de minorá-lo. Assim, ao encontro do pleiteado pela 1 Súmula 3, TJSP: "Reconhecido que o compromissário comprador tem direito à devolução das parcelas pagas por conta do preço, as partes deverão ser repostas ao estado anterior, independentemente de reconvenção." Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 - São Caetano do Sul - Voto nº 194XXE 4
parte, a perda de 10% dos valores pagos se mostra suficiente para ressarcir satisfatoriamente a apelada, além de se mostrar ser condizente com o percentual que vem sendo adotado por esta C. Câmara Julgadora, vide os seguintes precedentes: "Consoante a jurisprudência, o compromissário comprador que deixa de cumprir o contrato em face da insuportabilidade da obrigação assumida tem o direito à restituição do que foi pago, devidamente corrigido (RSTJ 31:51, 77:235), de uma única vez (RT 809/311), com dedução do equivalente a 10%, para remunerar o promitente vendedor das despesas administrativas (RSTJ 92:191, 99:274, 106:/334, 153:/395 e RT 809:311)." (Apelação n. 0006489-07.2011.8.26.06 04, Rel. Theodureto Camargo, j. em 21.05.2014 - destaque não original) "Entende esta Colenda Câmara, que nas hipóteses de rescisão por culpa do comprador, a rigor, apenas os dez por cento sobre o valor das prestações pagas é que poderiam vir a ser exigidos. Não sobre o valor do contrato. Estes é que representariam a indenização préfixada ou taxa de administração. Desta forma, têm os requeridos direito à devolução das quantias efetivamente pagas, descontadas 10% (a título de despesas, inclusive com a administração), corrigidas monetariamente desde o desembolso, e juros legais de mora a contar da citação." (Apel. n. 0012784-34.2012.8.26.0084, Rel. Des. Luiz Ambra, j. em 21.05.2014 - negrito não original) Por derradeiro, no que diz respeito à Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 - São Caetano do Sul - Voto nº 194XXE 5
sucumbência, nota-se que o apelado teve acolhidos os pedidos de rescisão contratual e, em parte, o indenizatório, decaindo, dessa forma, em parte mínima do pedido, razão pela qual fica mantida a distribuição dos ônus de sucumbência determinada na origem (art. 21, par. ún., do CPC). Em conclusão, reforma-se a r. sentença recorrida, para determinar a devolução de 90% das parcelas adimplidas, corrigidas monetariamente pela Tabela Prática deste E. Tribunal, desde o desembolso, e acrescidas de juros de mora, de 1% ao mês, desde a data deste julgamento. III - Ante o exposto, dá-se provimento em parte ao recurso. É o voto. DES. GRAVA BRAZIL - Relator Apelação nº XXXXXXX-55.2009.8.26.0565 - São Caetano do Sul - Voto nº 194XXE 6