O AGRONEGÓCIO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

Documentos relacionados
O PIB DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO RIO GRANDE DO SUL

A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR NO BRASIL

O Agronegócio Familiar no Brasil e nos seus Estados: A Contribuição a Agricultura Familiar para a Riqueza Nacional

The Importance of Agribusiness Family In Brazil

ESTIMATIVA E MENSURAÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO

PIB do agronegócio baiano, 2004 Joaquim José Martins Guilhoto* Silvio Massaru Ichihara**

COMPARAÇÃO ENTRE O AGRONEGÓCIO FAMILIAR DO RIO GRANDE DO SUL E DO BRASIL AUTORES:

PIB do Agronegócio ESTADO DE SÃO PAULO

The participation of family farming in Ceará s GDP

PIB do Agronegócio ESTADO DE JULHO/2018 SÃO PAULO

PIB DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

JULHO/18. PIB do Agronegócio ESTADO DE MINAS GERAIS

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

MERCADO DE TRABALHO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ASPECTOS METODOLÓGICOS

AGRONEGÓCIO RIO DE JANEIRO. Coordenação Cepea: Ph.D Geraldo Barros Dr. Arlei Luiz Fachinello Dra. Adriana Ferreira Silva

PIB do Agronegócio do Estado de São Paulo

DEZEMBRO/18. PIB do Agronegócio ESTADO DE MINAS GERAIS

Seleção de Setores Econômicos a considerar na Análise.

CEPEA CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA ESALQ/USP

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

A IMPORTÂNCIA, O POTENCIAL E O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGÓCIO NA ECONOMIA BRASILEIRA

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

PIB do Agronegócio do Estado de São Paulo Estimativa com base em informações até outubro/16. Base: agosto/15

Marco Antonio Montoya Cássia Aparecida Pasqual Ricardo Luis Lopes Joaquim José Martins Guilhoto

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

AGROINDÚSTRIA. O BNDES e a Agroindústria em 1999 BNDES. ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 1 Gerência Setorial 1 INTRODUÇÃO 1 CONCEITO AMPLIADO

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

ESTIMATIVA E MENSURAÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO DO AGRONEGÓCIO DA ECONOMIA BRASILEIRA, 1994 A 2000 *

A mensuração do Produto Interno Bruto do agronegócio de Mato Grosso do Sul

A MENSURAÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO DO AGRONEGÓCIO DE MATO GROSSO DO SUL. Grupo de Pesquisa 10: Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional

BRASILEIRO Brazilian Agribusiness Cepea Report

As estimativas preliminares da FEE para o ano de 2001 no Estado indicam

The sectoral distribution of the Brazilian agribusiness GDP

PIB do Agronegócio do Estado de São Paulo

A VULNERABILIDADE DO AGRONEGÓCIO ÀS INFLUÊNCIAS DO TABELAMENTO DOS FRETES

COMPORTAMENTO HISTÓRICO DA PARTICIPAÇÃO DO SETOR RURAL NA COMPOSIÇÃO DO PIB DA PARAÍBA

EQUIPE MACROECONOMIA -CEPEA/Esalq/USP

Boletim de Conjuntura Agropecuária da FACE N.8 / abr-2012

Desenvolvimento Agrário PIB DAS CADEIAS PRODUTIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR. dezembro 2004

AGROINDÚSTRIA. O BNDES e a Agroindústria em 2001 INTRODUÇÃO. SETORES PRODUTIVOS 2 - SP2 Gerência Setorial 1

Informativo VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO DE CANA CAI PARA R$ 55 BILHÕES EM 2019

Prof. Clésio Farrapo

PRODUÇÃO INDUSTRIAL EM ABRIL DE 2003: DEMANDA INTERNA DEPRIMIDA AFETA INDÚSTRIA

Grupo de Pesquisa: 4 Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

A Economia das Bacias Hidrográficas do Plano Nacional de Recursos

Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro no Ano de 2017

Panorama Geral Agronegócio AULA/TEMA. Panorama Geral Agronegócio. Prof. Me. José Leandro Ciofi Você livre pra fazer a diferença!

CONTRIBUIÇÃO DA AGRICULTURA E DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR PARA O PIB DO NORDESTE. The importance of the family agribusiness to the northeast region GDP

BALANÇA COMERCIAL DO AGRONEGÓCIO PAULISTA NO ANO DE 2004

SCN 2010 Impacto das mudanças no PIB

MARCO ANTONIO MONTOYA Universidade de Passo Fundo- UPF CÁSSIA APARECIDA PASQUAL Universidade de Passo Fundo- UPF

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Janeiro 2013

Área temática: 8. Desenvolvimento rural e agricultura familiar. Palavras-chave: Agronegócio, Produto Interno Bruto, Santa Catarina.

Impactos da Seca Sobre a Economia de Pernambuco Fortaleza, 01/12/2016

N 106. Taxas de câmbio: metodologias e resultados. Eduardo Augusto Guimarães

Índice de Confiança do Agronegócio

PRODUTO INTERNO BRUTO DE ALAGOAS (PIB) PARA O ANO DE 2014

Uma análise insumo-produto para o setor de saúde e os impactos sobre o emprego e renda.

A PARTICIPAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO PIB BRASILEIRO: CONTROVÉRSIAS CONCEITUAIS E PROPOSTAS METODOLÓGICAS

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Monitor do PIB sinaliza crescimento de 0,1% no terceiro trimestre

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Julho/2013

GARGALOS DA INDÚSTRIA

Principais Resultados:

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Dezembro 2012

ATIVIDADES PRIMÁRIAS FAVORECEM DESEMPENHO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Abril 2016

Palavras-chave: Valor da produção municipal. PIB agropecuário. Produção agropecuária.

NOTA TÉCNICA Nº 0033_V1_2014 CADASTRO GERAL DE EMPREGO E DESEMPREGO DA CIDADE DE JARAGUÁ DO SUL - JUNHO DE

Geração de renda, emprego e impostos no agronegócio dos estados da região sul e restante do Brasil

PIB do agronegócio teve crescimento de 2,71% nos primeiros sete meses do ano

Evolução da participação dos setores de atividades econômicas na composição do PIB no estado de Mato Grosso do Sul/MS, no período de

Pesquisa Anual de Comércio 2010

Principais Resultados:

AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL

Transposição de água entre bacias, via economia. Carlos Roberto Azzoni Professor Titular de Economia FEAUSP

Avaliação de Impacto das Tecnologias da Embrapa: uma medida de desempenho institucional

Importações no período acumulado de janeiro até dezembro de 2015.

Regional deconcentration of agribusiness

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio

PRODUTO INTERNO BRUTO DO AGRONEGÓCIO CRESCEU 3,43% ATÉ AGOSTO

ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES MATOGROSSENSES JANEIRO a NOVEMBRO / Balança Comercial

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Fevereiro 2013

A IMPORTÂNCIA DA SOJA E MILHO NA REGIÃO DA ALTA MOGIANA

SUA IMPORTÂNCIA PARA SANTA CATARINA

TEXTO DE CONJUNTURA Nº 1

Agricultura no Brasil. Luciano Teixeira

VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DEVE AUMENTAR 2,99% EM 2018

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

PIB do agronegócio cresceu 4,28% de janeiro a outubro de 2016

Participação de importados na economia brasileira segue em crescimento

Data Agregado Agropecuária Indústria Serviços

com setembro de 2015.

PIB do agronegócio cresce 4% até setembro

Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro no Ano de 2015

Comércio é o único setor a registrar novas contratações

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Abril 2013

Transcrição:

O AGRONEGÓCIO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL Joaquim Guilhoto Fernando Gaiger Silveira Carlos Roberto Azzoni Silvio Massoru Ichihara TD Nereus 18-2004 São Paulo 2004

O AGRONEGÓCIO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL 1 Joaquim José Martins Guilhoto Universidade de São Paulo e University of Illinois Fernando Gaiger Silveira IPEA Carlos Roberto Azzoni Universidade de São Paulo Silvio Massoru Ichihara Universidade de São Paulo 1 INTRODUÇÃO Este paper tem por objetivo apresentar os resultados da pesquisa que fez um delineamento do nível de atividade do agronegócio da agricultura familiar no Brasil para o período de 1996 a 2003. Desta forma, o mesmo está organizado da seguinte forma, na seção 2 abaixo é feita a descrição da metodologia utilizada, a seção 3 apresenta os resultados para o Brasil e na seção 4 são apresentados os comentários finais. 2 REFERENCIAL METODOLÓGICO O papel das atividades agrícolas e do agronegócio em geral na economia brasileira sempre foi muito destacado, desde as origens, quando apenas esse tipo de atividade era 1 Os resultados apresentados aqui são derivados de uma pesquisa conduzida dentro da FIPE para o NEAD- MDA 1

desenvolvido no país, mas mesmo após a industrialização e, posteriormente, a terciarização acentuada da economia. A partir das aptidões naturais do clima e do solo, às quais se somam políticas econômicas de diversas dimensões, desde o financiamento até o desenvolvimento da pesquisa básica e aplicada, o agronegócio brasileiro é certamente um caso de sucesso, notadamente nos últimos anos. Esse sucesso, todavia, não é acompanhado pelo desenvolvimento de um conjunto de indicadores que possam exibir com precisão e detalhe a importância e a complexidade do setor, inclusive revelando aspectos, setores e dimensões que demandem intervenções adicionais por parte do poder público. O reconhecimento da abrangência com que se deve tratar o setor está presente desde os trabalhos pioneiros de Ray Goldberg e John H. Davis, na década de 50, tendo-se procurado dar um tratamento amplo para as atividades voltadas para a produção de bens e serviços de origem agropecuária, através do conceito de complexo agroindustrial envolvendo, além da agropecuária propriamente dita, as atividades a montante (antes da fazenda) e a jusante (depois da fazenda). Essas atividades tendem a ser extremamente interdependentes do ponto de vista econômico, social e tecnológico. Portanto, as políticas econômicas e setoriais, de um lado, e as estratégias das entidades representativas dos setores envolvidos, de outro, tenderão a ser mais eficazes sempre que levarem em conta tais interdependências. O complexo agroindustrial é referido comumente também como o setor de agribusiness ou o agronegócio, termo que parece ter recebido aceitação agora generalizada. O acompanhamento das evoluções conjunturais e das tendências de longo prazo do agronegócio é fundamental para os setores público e privado. Na economia globalizada de hoje, a sobrevivência na agricultura e no agronegócio como um todo depende da informação de boa qualidade, atualizada e ágil, e que seja produzida com metodologia cientificamente comprovada. Medidas de correção de rumo podem ser sugeridas e tomadas em tempo oportuno de modo a prevenir desvios indesejáveis na produção, no emprego, e no desempenho comercial. Além disso, é necessário contar com boa informação para o país como um todo, assim como para suas principais regiões, de forma a se possuir uma 2

abrangente avaliação do setor em escala nacional, que garanta o desejado equilíbrio regional e setorial no processo de desenvolvimento do agronegócio brasileiro. No caso brasileiro, a agricultura familiar é um segmento importante do complexo maior da economia do agronegócio. Sabe-se de sua importância social, seja pela geração de emprego e ocupação, seja pelo perfil dos produtos, basicamente destinados ao consumo alimentar nacional. É fundamental que também se tenha uma idéia de sua importância quantitativa no agronegócio e na economia brasileira como um todo. A metodologia para o cálculo do PIB do agronegócio familiar baseia-se na mesma técnica empregada no cálculo do agronegócio em geral, e fundamenta-se na intensidade da interligação para trás e para frente da agropecuária propriamente dita. O procedimento adotado para a estimativa do PIB do Agronegócio se dá pelo cálculo do Valor Adicionado a preços de mercado. Assim, tem-se que o Valor Adicionado a preços de mercado é obtido pela soma do valor adicionado a preços básicos aos impostos indiretos líquidos de subsídios sobre produtos e subtração da dummy financeira, resultando na seguinte expressão: VA PM = VA PB + IIL DuF (1) onde: VA PM = Valor Adicionado a Preços de Mercado VA PB = Valor Adicionado a Preços Básicos IIL = Impostos Indiretos Líquidos DuF = Dummy Financeira Para o cálculo do PIB do Agregado I (insumos para a agricultura e pecuária) são utilizadas as informações disponíveis nas tabelas de insumo-produto referentes aos valores dos insumos adquiridos pela Agricultura e Pecuária. As colunas com os valores dos insumos são multiplicadas pelos respectivos coeficientes de valor adicionado (CVA i ). Para 3

obter-se os Coeficientes do Valor Adicionado por setor (CVA i ) divide-se o Valor Adicionado a Preços de Mercado (VA PMi ) pela Produção do Setor (X i ), ou seja, CVA i VAPM i = (2) X i Desta forma, o problema de dupla contagem, comumente apresentado em estimativas do PIB do Agronegócio, quando se levam em consideração os valores dos insumos e não o valor adicionado efetivamente gerado na produção destes, foi eliminado. Tem-se então: PIB I k n = z i=1 ik CVA i (3) k = 1, 2 setor agricultura e pecuária i = 1, 2,..., 43 setores restantes onde: PIB Ik = PIB do agregado I (insumos) para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) z ik = valor total do insumo do setor i para a agricultura ou pecuária CVA i = coeficiente de valor adicionado do setor i Para o Agregado I total tem-se: PIBI = PIBI + PIB 1 I2 (4) onde: PIB I = PIB do agregado I e as outras variáveis são como definidas anteriormente. 4

Para o Agregado II (Agricultura e Pecuária) consideram-se no cálculo os valores adicionados gerados pelos respectivos setores e subtraem-se dos valores adicionados destes setores os valores que foram utilizados como insumos, eliminando-se o problema de dupla contagem presente em estimativas anteriores do PIB do Agronegócio. Tem-se então que: PIBII = VAPM zik CVA k k i (5) k = 1, 2 n i= 1 onde: PIB IIk = PIB do agregado II para agricultura (k = 1) e pecuária (k = 2) e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para o Agregado II total tem-se: PIB = PIB + PIB II II1 II2 (6) onde: PIB II = PIB do agregado II e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para a definição da composição das Indústrias de Base Agrícola (Agregado III) adotaram-se vários indicadores, como por exemplo: a) os principais setores demandantes de produtos agrícolas, obtidos através da estimação da matriz de insumo-produto; b) as participações dos insumos agrícolas no consumo intermediário dos setores agroindustriais; e c) as atividades econômicas que efetuam a primeira, segunda e terceira transformações das matérias-primas agrícolas. 5

Os Agregados II e III, portanto, expressam a renda ou o valor adicionado gerado por esses segmentos. No caso da estimação do Agregado III (Indústrias de Base Agrícola), adota-se o somatório dos valores adicionados pelos setores agroindustriais subtraídos dos valores adicionados destes setores que foram utilizados como insumos do Agregado II. Como mencionado, anteriormente, esta subtração visa a eliminação da dupla contagem presente em estimativas anteriores do PIB do Agronegócio, ou seja: onde: PIB k III k = 1, 2 = q k ( VA z CVA ) PM q qk q (7) PIB IIIk = PIB do agregado III para agricultura (k = 1) e pecuária (k = 2) e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para o Agregado III total tem-se: PIB = PIB + PIB III III1 III2 (8) onde: PIB III = PIB do agregado III e as outras variáveis são como definidas anteriormente. No caso do Agregado IV, referente à Distribuição Final, considera-se para fins de cálculo o valor agregado dos setores relativos ao Transporte, Comércio e segmentos de Serviços. Do valor total obtido, destina-se ao Agronegócio apenas a parcela que corresponde à participação dos produtos agropecuários e agroindustriais na demanda final de produtos. A sistemática adotada no cálculo do valor da distribuição final do agronegócio industrial pode ser representada por: DFG IIL PI = DFD (9) DF DF VATPM + VACPM + VASPM = MC (10) 6

PIB IV k = 12, k = MC * DF k + q k DFD DF q (11) onde: DFG = demanda final global IIL DF = impostos indiretos líquidos pagos pela demanda final PI DF = produtos importados pela demanda final DFD = demanda final doméstica VAT PM = valor adicionado do setor transporte a preços de mercado VAC PM = valor adicionado do setor comércio a preços de mercado VAS PM = valor adicionado do setor serviços a preços de mercado MC = margem de comercialização DF k = demanda final da agricultura (k=1) e pecuária (k=2) DF q = demanda final dos setores agroindustriais PIB IVk = PIB do agregado IV para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) Para o Agregado IV total tem-se: PIB = PIB + PIB IV IV1 IV2 (12) onde: PIB IV = PIB do agregado IV e as outras variáveis são como definidas anteriormente. O PIB total do Agronegócio é dado pela soma dos seus agregados, ou seja: 7

PIB = PIB + PIB + PIB + PIB k Agronegóciok Ik II k III k IVk = 12, (13) onde: PIB Agronegóciok = PIB do agronegócio para agricultura (k=1) e pecuária (k=2) e as outras variáveis são como definidas anteriormente. Para o Agronegócio total tem-se: PIB = PIB + PIB Agronegócio Agronegócio1 Agronegócio2 (14) onde: PIB Agronegócio = PIB do agronegócio e as outras variáveis são como definidas anteriormente. A metodologia descrita pode ser vista de uma forma esquemática na Figura 2.1, que apresenta o processo de obtenção do PIB do Agronegócio. Observa-se que o PIB do Agronegócio pode ser obtido tanto pela soma ponderada do PIB dos agregados como pela soma ponderada dos PIBs da Agricultura e da Pecuária. 8

Figura 2.1 Representação Esquemática do Processo de Obtenção do PIB do Agronegócio. Insumos Agricultura Insumos Pecuária Indústria Dist. e Serv. Indústria Dist. e Serv. PIB Agricultura PIB Pecuária PIB Agronegócio Ins. Agricultura Ins. Pecuária Ins. Agronegócio Agricultura Pecuária Agropecuária Ind. Agricultura Ind. Pecuária Ind. Agronegócio Dist. e Serv. Ag. Dist. e Serv. Pec. Dist./Serv. Agron PIB Agronegócio 9

3 DESEMPENHO DO PIB DO AGRONEGÓCIO FAMILIAR BRASILEIRO, 1995 A 2003 Conforme as bases teóricas empregadas neste trabalho, as análises vinculadas ao Produto Interno Bruto (PIB) podem ser desenvolvidas em diversos níveis de desagregação. Isso, porque, o Agronegócio no Brasil foi definido e mensurado para dois grandes complexos: Agricultura e Pecuária, sendo que cada complexo pode ser dividido em quatro componentes principais: a) insumos; b) o próprio setor; c) processamento; e d) distribuição e serviços. Além da possibilidade de se avaliar cada um dos quatro componentes dentro de cada um dos dois complexos, outra subdivisão relacionada com o objetivo principal da pesquisa - a distinção entre o Agronegócio Familiar ou Patronal - torna possível multiplicar ainda mais as formas de desagregação das análises. Dada a grande quantidade de combinação das análises, optou-se por desenvolvê-las através do fluxo apresentado na Figura 3.1. Sendo que cada bloco na figura corresponde às próximas seções. A disposição seqüencial visa, desta forma, enfocar a distinção do Agronegócio Familiar e Patronal. Busca-se efetivar a comparação entre as duas categorias usando as ramificações subseqüentemente posicionadas Na Figura 3.1, o primeiro bloco de análise corresponde a uma rápida avaliação da importância do Agronegócio e de seus dois grandes complexos, ao longo dos anos de 1995 a 2003. O segundo bloco aumenta o grau de detalhamento da análise anterior ao considerar a perspectiva do Agronegócio Familiar e Patronal. 10

No terceiro bloco, avalia-se a dimensão e a evolução do desempenho familiar e patronal através dos complexos agrícola e pecuário e de seus componentes correspondentes. Dentre os quatro componentes principais, o próprio setor e a indústria são detalhados com maior rigor na quarta e quinta etapas. No bloco 4, dentro do complexo agricultura, o estudo do setor agrícola é detalhado para as culturas de soja, milho, fumo e outras culturas. Ainda dentro da Agricultura, a indústria relacionada com este complexo é subdividida em 11 grupos: i) Madeira e mobiliário; ii) Celulose, papel e gráfica; iii) Álcool; iv) Indústria têxtil; v) Artigos do vestuário; vi) Indústria do café; vii) Indústria do fumo; viii) Beneficiamento de produtos vegetais; ix) Fabricação de açúcar; x) Fabricação de óleos vegetais; e xi) Outros produtos alimentares. Da mesma forma que no bloco 4, o bloco 5 detalha o setor e a indústria, mas com relação ao complexo da pecuária. O setor pecuário é então subdividido em 5 grupos: i) Aves; ii) Bovinos; iii) Leite; iv) Suínos; v) Outras criações animais; e a indústria em outros 5 grupos: i) Fabricação de calçados; ii) Abate de aves; iii) Abate de bovinos; iv) Abate de suínos e outros animais; e v) Indústria de laticínios. Para efeito de clareza e análise do texto, as tabelas completas para os valores do PIB do Agronegócio familiar do Brasil, em milhões de reais de 2003, são apresentadas no Anexo A. 11

Figura 3.1 Disposição seqüencial das analises para o Brasil 12

3.1 Desempenho do PIB do Brasil No período de análise, de 1995 a 2003, conforme pode ser visto no gráfico 3.1, o PIB do Brasil teve um crescimento acumulado de quase 16%, chegando a R$ 1.556 milhões de reais em 2003. Por sua vez o agronegócio, apesar de apresentar taxas de crescimento anuais baixas, ou mesmo negativas até 2001, tem uma boa recuperação em 2002 e 2003 por conta de um ambiente internacional e nacional favoráveis ao seu crescimento, chegando desta forma a um crescimento acumulado de quase 18% ao final da série. Desta forma, Gráfico 3.2, o agronegócio recupera e supera a sua participação no PIB do Brasil, observada no início da série, ou seja, de uma participação de 30,1% no PIB do Brasil de 1995, passa para uma de 30,6% em 2003. PIB Nacional (Milhões R$). 1600000 1500000 1400000 1300000 1200000 1100000 1000000 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 PIB Nacional em milhões Var. acumulada PIB-Brasil Variação acumulada do PIB do Agronegócio - Brasil 20% 15% 10% 5% 0% -5% Fonte: dados da pesquis a Gráfico 3.1 Evolução do PIB Total e do Agronegócio do Brasil 13

55% 45% 35% Participação do Agronegócio no PIB - Brasil 25% 15% 5% 30.1% 28.8% 27.6% 27.8% 28.1% 26.9% 27.1% 28.9% 30.6% Variação acumulada do PIB do Agronegócio - Brasil Variação acumulada do PIB Nacional -5% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Ano Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.2 Evolução do PIB do agronegócio do Brasil e Participação do agronegócio no Brasil O complexo das lavouras no agronegócio até 2001 apresentou uma tendência de participação declinante no agronegócio, passando de 71,5% em 1997 para 67,7% em 2001 (gráfico 3.3). Entre 2001 e 2003 devido ao excelente desempenho no crescimento das lavouras, que por sua vez puxou o crescimento do agronegócio como todo, esta participação aumento para 69% em 2002 e 69,7% em 2003, porém não conseguindo ainda recuperar a participação observada em no começo da série (70,2% em 1995). 14

100% 80% 60% 40% 20% 0% 29.8% 29.3% 28.5% 29.6% 30.8% 32.3% 32.2% 31.0% 30.3% 70.2% 70.7% 71.5% 70.4% 69.2% 67.7% 67.8% 69.0% 69.7% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 25.00% 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 0.00% -5.00% -10.00% Participação do complexo pecuário no PIB do agronegócio Participação do complexo agrícola no PIB do agronegócio Var. Acumulada do PIB do complexo agrícola Var. Acumulada do PIB do complexo pecuário Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.3 Evolução do PIB do complexo agrícola e pecuário e Participação do PIB do agronegócio agrícola dentro do Agronegócio do Brasil 3.2 O Desempenho do Agronegócio Familiar e Patronal do Brasil O segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2003, por 10,1% do PIB brasileiro (gráfico 3.4), o que equivale a R$ 157 bilhões em valores daquele ano. Tendo em vista que o conjunto do agronegócio nacional foi responsável, nesse ano, por 30,6% do PIB, fica evidente o peso da agricultura familiar na geração de riqueza do país. Concretamente, cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é tributário da produção agropecuária realizada pelos agricultores familiares, cabendo observar, ademais, que o desempenho recente da agropecuária familiar e do agronegócio a ela articulada vem sendo bastante positivo, superando, inclusive, as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. 15

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 70% 71% 72% 72% 72% 73% 73% 71% 69% 20% 19% 19% 19% 19% 18% 18% 20% 21% 10% 9% 9% 9% 9% 9% 9% 9% 10% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Participação do PIB dos outros setores Participação do PIB do Agronegócio Patronal Participação do PIB do Agronegócio Familiar Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.4 Participação do PIB do Agronegócio Familiar e Patronal no PIB do Brasil No período de 1995 a 2003, quando se abre o agronegócio brasileiro nos quatro complexos que o compõem, patronal pecuário e agrícola, e familiar pecuário e agrícola, observa-se que apesar das oscilações, as proporções das participações de dois destes caem, um se matem relativamente constante, e a exceção com crescimento na participação, é o complexo familiar pecuário (gráfico 3.5 e 3.6). O complexo familiar agrícola diminui a sua participação de 21,2% em 1995 para 20,6% em 2003, o complexo patronal agrícola fica ao redor dos 49,0%, e o complexo patronal pecuário aumenta a sua participação de 11,0% em 1995 para 12,3% em 2003. 16

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 19% 18% 18% 18% 19% 19% 19% 19% 18% 49% 49% 50% 50% 48% 47% 48% 49% 49% 11% 11% 11% 12% 12% 13% 13% 13% 12% 21% 21% 22% 21% 21% 20% 20% 20% 21% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Participacão do PIB do Complexo Patronal Pecuário Participacão do PIB do Complexo Patronal Agricola Participacão do PIB do Complexo Familiar Pecuário Participacão do PIB do Complexo Familiar Agricola Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.5 Participações do PIB dos Complexos Agropecuários Familiar e Patronal no PIB do Brasil 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 0.00% Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Familiar Pecuário Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Agrícola Variação Acumulada do PIB do Complexo Patronal Pecuário -5.00% -10.00% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.6 Variações anuais acumuladas do PIB dos Complexos Agropecuários Familiar e Patronal do Brasil 17

3.3 Os Complexos do Agronegócio Familiar e Patronal do Brasil O PIB do agronegócio resulta da agregação do PIB do Complexo Agrícola com o PIB do Complexo Pecuário, sendo que cada um é formado por quatro componentes principais - insumo, setor, indústria e distribuição. Nos tópicos a seguir é apresentada a evolução da participação de cada componente dentro do PIB de cada complexo, com ênfase na separação entre o que é de origem familiar e patronal, para o Brasil como um todo. 3.3.1 Os Componentes do Complexo Agrícola Familiar e Patronal do Brasil No Brasil, as quantias percentuais relacionadas com cada um dos quatro componentes do agronegócio familiar agrícola são diferentes àquelas referentes ao agronegócio patronal. Além disso, no decorrer dos anos, percebem-se mudanças na composição do agronegócio da agricultura familiar e patronal. O Gráfico 3.7 ilustra este fato. Em geral, para os segmentos familiar e patronal observa-se um aumento da participação dos insumos e do setor agricultura, uma queda na participação da indústria de transformação, e um aumento na participação do setor de distribuição no caso da agricultura familiar e uma queda na patronal. Na sua composição, a indústria tem um peso muito maior no agronegócio da agricultura patronal (39,3% em 2003) do que no agronegócio da agricultura familiar (27,3% em 2003), sendo este fato uma indicação que boa parte da produção familiar não passa por um processo de transformação, reduzindo desta forma a possibilidade de agregação de valor dentro da cadeia produtiva. Isto é confirmado pelo participação do setor agrícola no agronegócio, que foi de 34,2% em 2003, para o agronegócio da agricultura familiar, e de 25,4% para o agronegócio da agricultura patronal. 18

3.4% Participacões dos componentes no PIB no PIB - FAMILIAR - BR Participacões dos componentes no PIB no PIB - PATRONAL - BR 3.6% 3.6% 3.8% 4.4% 4.5% 4.6% 4.8% 5.0% 3.0% 3.2% 3.1% 3.3% 3.7% 4.0% 4.1% 4.2% 4.6% 90% 75% 31.2% 31.3% 31.2% 32.5% 30.7% 29.2% 30.7% 32.5% 34.2% 20.7% 21.0% 20.9% 22.5% 21.2% 20.2% 21.8% 23.4% 25.4% 60% 32.4% 33.8% 33.3% 33.4% 32.9% 32.5% 32.3% 32.0% 30.8% 45% 32.2% 33.8% 33.3% 33.7% 34.2% 34.6% 34.3% 33.7% 33.5% 30% 15% 33.2% 31.4% 31.9% 29.9% 30.7% 31.7% 30.3% 29.0% 27.3% 43.9% 42.0% 42.6% 40.8% 42.2% 43.3% 41.9% 40.4% 39.3% 0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Insumos não Agrícolas Setor: Agricultura Distribuição dos produtos Agrícolas Indústria de processamento dos produtos Agrícolas Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.7 Participação dos 4 componentes que formam o agronegócio da agricultura familiar e patronal do Brasil 3.3.2 Os Componentes do Complexo Pecuário Familiar e Patronal do Brasil Diferente do complexo agrícola, as quantias percentuais, relacionadas com cada um dos quatro componentes do agronegócio familiar pecuário, são bem próximas daquelas referentes ao agronegócio patronal como pode ser observado no gráfico 3.8. A maior participação no complexo pecuário fica por conta do setor de distribuição, com aproximadamente 38% do agronegócio da pecuária familiar e 40% do agronegócio da pecuária patronal. Nota-se a baixa participação do setor de transformação, com participação ao redor de 15% tanto no complexo patronal como familiar. No caso de insumos, tem-se uma participação maior no caso patronal (11,1% em 2003) que no familiar (9,6% em 2003). 19

No caso do setor primário da pecuária, a participação no complexo familiar é um pouco maior (37.6% em 2003) do que no patronal (34% em 2003). Participacões dos componentes no PIB no PIB - FAMILIAR - BR Participacões dos componentes no PIB no PIB - PATRONAL - BR 6.0% 6.3% 6.4% 6.5% 7.5% 8.0% 8.1% 9.2% 9.6% 7.1% 7.1% 7.0% 7.3% 8.6% 9.2% 9.2% 10.5% 11.1% 90% 75% 37.8% 36.5% 36.3% 36.4% 36.3% 36.6% 36.0% 36.3% 37.6% 32.4% 30.8% 31.1% 32.6% 33.2% 34.2% 33.9% 33.6% 34.0% 60% 45% 39.1% 39.3% 39.4% 40.1% 40.1% 39.9% 40.0% 39.1% 37.9% 41.7% 42.6% 42.7% 42.8% 41.6% 40.7% 40.9% 40.4% 40.2% 30% 15% 17.1% 17.9% 17.9% 17.0% 16.1% 15.5% 15.9% 15.4% 14.9% 18.8% 19.6% 19.2% 17.3% 16.6% 16.0% 16.0% 15.5% 14.7% 0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Insumos não Pecuários Setor: Pecuária Distribuição dos produtos Pecuários Indústria de processamento dos produtos Pecuários Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.8 Participação dos 4 componentes que formam o agronegócio da pecuária familiar e patronal do Brasil 3.3.3 A Evolução dos Componentes do Agronegócio Familiar e Patronal do Brasil Para buscar quais componentes são responsáveis pelo desempenho apresentado no Gráfico 3.6, é necessário avaliar o desenvolvimento dos componentes da agricultura e da pecuária inseridos nos contextos familiar e patronal. Os gráficos 3.9 e 3.10 demonstram o desenvolvimento PIB, a partir de 1995, de cada componente. 20

Chama atenção em todos os gráficos o crescimento do setor de insumos em todos os complexos analisados, tanto patronais como familiares. Em geral, observa-se também que o menor crescimento ocorre no setor industrial. O setor primário, por sua vez, tem apresentado as segundas melhores taxas de crescimento, seguidas pelas do setor de distribuição. Estas talvez sejam indicações, que ao contrário do que se esperaria, todos os segmentos têm caminhado na direção de uma menor agregação de valor dentro do processo produtivo, ao mesmo tempo que a dependência ao setor produtor de insumos tem aumentado. 100% 80% 60% 40% 20% 0% Variação acumulada do PIB dos componentes da agricultura familiar Variação acumulada do PIB dos componentes da agricultura patronal -20% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Insumos Setor: Agricultura Indústria Distribuição Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.9 Variação acumulada dos 4 componentes que formam o agronegócio da agricultura familiar e patronal do Brasil 21

120% 100% 80% 60% 40% 20% 0% Variação acumulada do PIB dos componentes da pecuária familiar Variação acumulada do PIB dos componentes da pecuária patronal -20% -40% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Insumos Setor: Pecuária Indústria Distribuição Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.10 Variação acumulada dos 4 componentes que formam o agronegócio da pecuária familiar e patronal do Brasil 3.4 O Setor e a Indústria Agrícola do Brasil Os dois gráficos seguintes (Gráfico 3.11 e Gráfico 3.12) detalham o PIB do componente Setor Agrícola, demonstrando a participação das culturas de soja, milho, fumo e das culturas restantes. Pelos dois gráficos pode-se se constatar que os percentuais do PIB gerado pela soja são maiores na agricultura patronal (13,5% em 2003) que na familiar (11.7% em 2003). No caso do item outras culturas, referente à agricultura patronal, os valores estão entre 4 e 5 pontos percentuais maiores, devido à diferença ocasionada pela menor produção percentual de milho (cerca de 2 pontos percentuais em 2003) e irrelevância, também, percentual da fumicultura nas propriedades patronais. A produção de fumo corresponde a 4% do PIB médio do setor agrícola familiar e 1,5% quando considerado o PIB total do complexo agrícola. 22

Através das linhas, nos gráficos 3.11 e 3.12, são expostas as variações acumuladas do PIB das culturas de soja, milho, fumo e outras culturas. Nesses gráficos a interpretação das variações deve ser realizada pelo eixo da direita. Comparando os dois tipos de agricultura (familiar e patronal) nota-se que as variações do PIB das culturas, com exceção do fumo são parecidas. A cultura da soja é a que apresenta o maior crescimento nos período de análise, tanto para a agricultura familiar (172%) quanto para a patronal (231%). 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 3.8% 4.4% 5.2% 4.2% 4.9% 4.7% 4.3% 4.4% 4.0% 5.7% 5.5% 4.7% 4.3% 5.0% 5.5% 5.1% 5.1% 5.9% 5.4% 6.5% 7.5% 6.9% 6.8% 7.1% 9.7% 10.6% 11.7% 85.1% 83.6% 82.6% 84.6% 83.3% 82.8% 80.9% 80.0% 78.4% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 200.0% 150.0% 100.0% 50.0% 0.0% -50.0% Outras Culturas Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Soja Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Fumo Soja Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Outras Culturas Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.11 Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 23

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 3.7% 4.0% 3.5% 2.9% 3.7% 3.8% 3.3% 3.5% 4.0% 5.9% 6.8% 8.5% 7.7% 8.7% 9.6% 10.6% 12.9% 13.5% 90.3% 89.1% 87.9% 89.3% 87.5% 86.5% 86.0% 83.5% 82.5% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 250.0% 200.0% 150.0% 100.0% 50.0% 0.0% -50.0% Outras Culturas Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Soja Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Fumo Soja Fumo Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Milho Var. Acumulada do PIB da Lavoura: Outras Culturas Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.12 Participação de algumas culturas que formam o setor da agricultura Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB As mudanças ocorridas na indústria de processamento da produção agrícola familiar, decorrentes no ano de 1995 a 2003, podem ser avaliadas pelo gráfico 3.13 e pela tabela 3.1. Nos setores industriais ligados à produção vegetal, sobressaem-se, no segmento patronal, as ligadas ao reflorestamento, à cana-de-açúcar, e à soja. Por outro lado, no agronegócio ligado aos agricultores familiares o grande grupo dos outros produtos alimentares abrangeu, em 2003, mais de 40% de todo o PIB da Indústria das Lavouras do segmento familiar. Ora, isso parece ser indicativo da maior diversificação produtiva dos agricultores familiares. Há, contudo, que sublinhar a importância das indústrias do fumo e, em menor grau, de fabricação de óleos vegetais e de beneficiamento de produtos vegetais, no caso do segmento familiar. No patronal, destacam-se, também, a produção de álcool, a fabricação de açúcar e a cadeia têxtil-vestuário. 24

90% 75% 60% 45% 30% 15% 0% 18.5% 21.9% 22.1% 27.4% 35.4% 34.6% 38.7% 38.7% 6.5% 41.4% 6.8% 7.3% 7.3% 16.6% 16.8% 17.5% 6.4% 7.6% 5.0% 6.5% 18.1% 7.8% 21.6% 16.0% 14.9% 16.7% 18.2% 24.4% 27.8% 18.3% 3.8% 24.5% 18.2% 14.7% 8.1% 3.7% 14.0% 15.8% 12.2% 6.6% 3.6% 5.6% 11.9% 4.6% 5.0% 5.7% 2.2% 4.7% 3.6% 2.1% 3.5% 9.1% 2.3% 2.3% 4.0% 3.3% 6.4% 3.2% 1.9% 2.2% 2.5% 1.9% 1.6% 4.2% 2.0% 3.0% 5.1% 1.4% 1.7% 1.7% 6.8% 6.7% 7.2% 4.0% 3.7% 5.1% 3.5% 5.3% 5.1% 4.2% 4.0% 3.6% 4.5% 5.2% 5.2% 5.1% 3.4% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Outros Produtos Alimentares Fabricação de Óleos Vegetais Fabricação de Açúcar Benef. Produtos Vegetais Ind do Fumo Indústria do Café Artigos do Vestuário Indústria Têxtil Álcool Celulose, Papel e Gráfica. Madeira & Mobiliário Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.13 Participação das indústrias vinculadas à agricultura familiar do Brasil Tabela 3.1 Variações acumuladas do PIB das indústrias vinculadas à agricultura familiar do Brasil Var. Acumulada do PIB da Indústria: 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Madeira & Mobiliário -23.4% -24.7% -37.8% -18.0% -6.3% -12.3% -10.0% -37.0% Celulose, Papel e Gráfica. -26.7% -29.8% -40.8% -6.1% 22.2% 13.0% 25.8% -2.4% Álcool -18.6% 1.5% -9.9% 15.1% 10.2% 17.6% 36.7% 75.0% Indústria Têxtil -29.0% -48.7% -69.4% -74.9% -73.2% -83.3% -82.9% -85.3% Artigos do Vestuário -23.5% -44.9% -64.1% -76.2% -75.4% -86.1% -87.4% -91.9% Indústria do Café -7.3% -8.3% 17.0% 40.1% 38.0% 7.5% -15.4% 0.3% Ind do Fumo 5.3% 23.1% -1.5% -21.5% -37.4% -43.9% -34.7% -46.7% Benef. Produtos Vegetais -5.0% 1.3% -4.5% -9.7% -17.2% -12.9% -1.9% 4.4% Fabricação de Açúcar -18.2% -14.7% -10.8% -0.5% 6.3% 22.3% 35.9% 48.5% Fabricação de Óleos Vegetais -1.5% 7.5% -2.0% -7.8% -29.3% -13.1% 4.3% 13.1% Outros Produtos Alimentares 10.3% 14.0% 28.9% 78.0% 92.3% 80.6% 66.5% 111.0% Total -6.6% -4.4% -12.9% -6.9% -8.1% -13.5% -10.9% -5.7% Fonte: dados da pesquisa 25

90% 20.4% 19.4% 19.2% 19.5% 16.9% 16.3% 17.7% 20.6% 19.1% Outros Produtos Alimentares 75% 60% 45% 4.9% 5.0% 5.7% 5.6% 3.7% 3.7% 3.8% 4.0% 8.3% 9.3% 9.9% 9.4% 2.7% 3.0% 2.9% 4.0% 10.6% 11.0% 10.4% 10.8% 10.8% 10.7% 10.2% 9.9% 5.1% 5.1% 6.3% 5.6% 5.6% 3.9% 9.0% 4.2% 9.4% 10.8% 6.3% 4.6% 4.4% 8.0% 4.0% 8.9% 10.5% 6.3% 5.0% 5.3% 8.4% 3.8% 7.3% 9.6% 7.1% 6.2% 6.5% 6.0% 5.4% 9.6% 9.4% 2.7% 3.0% 4.2% 5.8% 8.3% 8.7% 9.7% 7.5% Fabricação de Óleos Vegetais Fabricação de Açúcar Benef. Produtos Vegetais Ind do Fumo Indústria do Café Artigos do Vestuário 30% Indústria Têxtil 18.1% 17.4% 16.5% 16.4% 19.5% 22.6% 21.6% 20.5% 22.2% Álcool 15% Celulose, Papel e Gráfica. 0% 15.2% 15.3% 14.9% 14.5% 14.3% 14.5% 14.1% 12.3% 12.1% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Madeira & Mobiliário Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.14 Participação das indústrias vinculadas à agricultura patronal do Brasil 26

Tabela 3.2 Variações acumuladas do PIB das indústrias vinculadas à agricultura patronal do Brasil Var. Acumulada do PIB da Indústria: 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Madeira & Mobiliário -4.2% -5.4% -11.8% -11.8% -8.9% -11.7% -17.0% -15.8% Celulose, Papel e Gráfica. -8.6% -12.0% -16.5% 0.8% 18.8% 13.8% 16.2% 29.8% Álcool -6.6% 18.3% 0.2% 14.2% 17.1% 31.3% 50.0% 99.5% Indústria Têxtil -5.9% -8.8% -15.4% -6.0% -7.6% -15.1% -17.1% -18.2% Artigos do Vestuário -0.7% -5.4% -5.9% -16.5% -20.0% -33.8% -43.2% -58.0% Indústria do Café 3.4% 0.7% 35.6% 42.3% 37.5% 34.0% 12.8% 2.4% Ind do Fumo -13.9% -2.2% -18.4% -38.1% -53.6% -61.0% -55.7% -64.9% Benef. Produtos Vegetais 6.6% 15.2% 5.3% 2.0% -7.9% -2.6% 19.7% 20.4% Fabricação de Açúcar -6.1% -0.5% -0.7% -1.3% 13.1% 36.7% 49.3% 69.5% Fabricação de Óleos Vegetais -3.7% 12.0% 6.4% 6.9% -10.7% -3.1% 35.7% 35.2% Outros Produtos Alimentares -9.5% -9.1% -11.8% -22.0% -23.9% -17.2% 4.0% -0.6% Total -5.0% -3.6% -7.8% -6.2% -4.6% -4.5% 2.8% 5.9% Fonte: dados da pesquisa 3.5 O Setor e a Indústria Pecuária do Brasil Os Gráficos 3.15 e 3.16 apresentam a participação do PIB das criações no Setor Pecuário, relativas ao Agronegócio Familiar e Patronal. Pelos dois gráficos observa-se que as parcelas percentuais determinadas para cada tipo de criação são diferentes. A criação de aves é responsável pela maior parcela do PIB do agronegócio pecuário familiar (33% em 2003), seguida por leite (24,2% em 2003), e bovinos (22,6% em 2003). No agronegócio patronal, a bovinocultura de corte assume a maior parcela de representatividade, 47,1% em 2003. A importância do setor leiteiro, de aves e suínos é bem menor quando comparada a do universo familiar. A maior variação acumulada do PIB do setor pecuário tanto para o agronegócio familiar como patronal corresponde ao desenvolvimento da produção de aves. Já na indústria pecuária, gráficos 3.17 e 3.18, no segmento patronal dominam as relacionadas à pecuária, ou seja, o abate de bovinos e a fabricação de calçados. O abate de aves, a indústria de lacticínios, o abate de suínos são os ramos industriais que exibem uma 27

participação expressiva na composição da indústria pecuária ligada ao segmento familiar e que, ademais, se reflete em um predomínio desse segmento no conjunto dessas indústrias. 100% 120.0% Outros Pecuária 90% 80% 70% 13.0% 13.6% 9.9% 9.8% 32.1% 32.1% 10.0% 10.9% 30.4% 12.5% 12.4% 12.7% 12.8% 12.4% 11.8% 10.2% 10.1% 9.6% 10.1% 8.6% 8.5% 27.2% 24.9% 25.6% 23.8% 23.2% 24.2% 100.0% 80.0% Suínos Leite Bovinos 60% 60.0% Aves 50% 40% 30% 20% 10% 0% 24.9% 22.6% 24.2% 24.8% 25.5% 22.9% 23.1% 23.7% 21.7% 32.9% 30.9% 28.5% 25.8% 26.9% 27.3% 27.8% 21.2% 22.7% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 40.0% 20.0% 0.0% -20.0% -40.0% Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária Var. Acumulada do PIB: Suínos Var. Acumulada do PIB: Leite Var. Acumulada do PIB: Bovinos Var. Acumulada do PIB: Aves Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.15 Participação das criações que formam o setor da Pecuária Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 28

100% 90% 80% 11.5% 12.1% 8.4% 10.9% 10.8% 11.1% 11.2% 10.8% 10.2% 4.8% 4.6% 4.5% 4.4% 4.3% 4.3% 4.7% 4.3% 4.5% 19.6% 19.6% 20.5% 17.1% 15.9% 15.2% 13.9% 13.8% 14.4% 50.0% 40.0% 30.0% Outros Pecuária Suínos Leite 70% 60% 43.8% 43.1% 47.4% 47.8% 48.6% 50.4% 51.4% 49.9% 47.1% 20.0% 10.0% Bovinos Aves 50% 40% 30% 20% 10% 20.5% 19.9% 19.9% 19.7% 20.3% 19.0% 18.8% 21.2% 23.8% 0.0% -10.0% -20.0% -30.0% -40.0% Var. Acumulada do PIB: Outros Pecuária Var. Acumulada do PIB: Suínos Var. Acumulada do PIB: Leite Var. Acumulada do PIB: Bovinos 0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003-50.0% Var. Acumulada do PIB: Aves Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.16 Participação das criações que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 29

100% 100.0% Indústria de laticínios 90% 80.0% Abate de Suínos e Outros 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 42.4% 45.0% 43.1% 43.1% 38.3% 40.6% 39.3% 37.3% 36.4% 26.9% 24.7% 25.1% 24.6% 25.9% 25.6% 25.4% 24.7% 24.1% 11.5% 10.8% 10.4% 10.3% 10.6% 9.9% 8.6% 8.6% 9.1% 15.7% 16.0% 17.2% 18.6% 20.2% 20.4% 20.5% 23.0% 24.4% 60.0% 40.0% 20.0% 0.0% -20.0% -40.0% Abate de Bovinos Abate de Aves Fabricação de calçados Var. Acumulada do PIB da Indústria: Indústria de laticínios Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Suínos e Outros Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Bovinos Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Aves 0% 6.4% 6.3% 5.7% 4.5% 4.2% 4.0% 3.7% 3.5% 3.2% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003-60.0% Var. Acumulada do PIB da Indústria: Fabricação de calçados Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.17 Participação das criações que formam o setor da Pecuária Familiar no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 30

100% 40.0% Indústria de laticínios 90% 15.1% 16.6% 16.5% 17.6% 16.3% 16.1% 15.9% 15.0% 14.5% 30.0% Abate de Suínos e Outros 80% 9.7% 8.9% 9.3% 9.9% 10.7% 10.6% 11.9% 11.8% 12.9% 20.0% Abate de Bovinos 70% 17.9% 16.6% 17.8% 20.7% 23.4% 23.9% 25.2% 26.6% 26.1% 10.0% Abate de Aves 60% 50% 40% 30% 20% 10% 12.0% 11.1% 10.8% 45.3% 46.8% 12.3% 45.5% 13.1% 13.2% 13.4% 14.9% 39.4% 16.7% 36.5% 36.1% 33.7% 31.7% 29.8% 0.0% -10.0% -20.0% -30.0% -40.0% Fabricação de calçados Var. Acumulada do PIB da Indústria: Indústria de laticínios Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Suínos e Outros Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Bovinos Var. Acumulada do PIB da Indústria: Abate de Aves 0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003-50.0% Var. Acumulada do PIB da Indústria: Fabricação de calçados Fonte: dados da pesquisa Gráfico 3.18 Participação das criações que formam o setor da Pecuária Patronal no Brasil e as respectivas variações acumuladas do PIB 31

4 COMENTÁRIOS FINAIS O segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2003, por 10,1% do PIB brasileiro, o que equivale a R$ 157 bilhões em valores daquele ano. Tendo em vista que o conjunto do agronegócio nacional foi responsável, nesse ano, por 30,6% do PIB, fica evidente o peso da agricultura familiar na geração de riqueza do país. Concretamente, cerca de 1/3 do agronegócio brasileiro é tributário da produção agropecuária realizada pelos agricultores familiares, cabendo observar, ademais, que o desempenho recente da agropecuária familiar e do agronegócio a ela articulada vem sendo bastante positivo, superando, inclusive, as taxas de crescimento relativas ao segmento patronal. Entre 2001 e 2003, período em que a agropecuária brasileira apresentou elevadas taxas de crescimento, o segmento familiar do agronegócio cresceu 16,8% frente aos 15,3% relativos ao setor patronal. No que se refere à produção primária, ou seja, ao comportamento da agropecuária stricto sensu não se observaram diferenças, tendo a agropecuária nacional aumentado em 26,4% seu valor agregado entre 2001/2003. Esse desempenho extraordinário. deve-se ao comportamento das lavouras e, em menor medida, à pecuária familiar. O valor adicionado do segmento das lavouras passou de R$ 68 bilhões em 2001, para R$ 93 bilhões em 2003. Considerando todo período 1995-2003, observa-se que, grosso modo, não ocorreram alterações na participação das cadeias produtivas da agropecuária familiar no PIB do agronegócio nacional, que, como se apontou, é ao redor de 1/3. Efetivamente, durante todo o período, a participação do segmento familiar variou entre 32,2% e 33,6%, tendo crescido 0,7 pontos percentuais entre 1995 e 2003. Esse incremento foi devido ao comportamento das cadeias produtivas da pecuária, onde o segmento familiar aumentou sua participação em 3,8 pontos percentuais no período e passando a responder, em 2003, por 40,6% do agronegócio ligado a produção animal. 32

O agronegócio associado ao segmento familiar apresentou desempenhos inferiores ao patronal nos anos de 2000, 2001 e 2002, tendo tido, nos demais anos, performances melhores. Na segunda metade da década de 90, o agronegócio apresentou taxas de crescimento baixas, quando não negativas, com o PIB tendo aumentado, entre 1995 e 2000, somente 0,1%. Esse desempenho deveu-se, particularmente, ao comportamento das lavouras e de sua agroindústria, bem como ao segmento industrial da pecuária patronal. Vale notar que nesse período, a pecuária familiar e as cadeias produtivas a ela relacionadas aumentaram de maneira expressiva seu valor adicionado. Assim, a cadeia da produção animal dos agricultores familiares (insumos, setor, indústria e distribuição) cresceu 3,4% a.a. no período 1995-2000. Esse bom desempenho continuou nos primeiros anos da atual década, pois, entre 2000 e 2003, o agronegócio pecuário familiar aumentou seu valor adicionado em 3,8% ao ano. Já no que se refere ao segmento patronal, o que se sobressaiu é o comportamento da produção vegetal, cujo valor adicionado aumentou em 1,5 vezes, entre 1995 e 2003, ou seja, a uma taxa de crescimento anual de 4,8%. Todavia, esse comportamento não se refletiu integralmente no conjunto das cadeias produtivas ligadas a produção vegetal do segmento patronal, uma vez que, nesse caso, a taxa de crescimento anual foi de 2,1%. Isso parece mostrar que o crescimento das lavouras não tem se espraiado para os setores industriais e de serviços a ela articulados. Situação diversa do que se observa no caso da produção animal desenvolvida pelos agricultores familiares, onde se assiste a uma dispersão menor das taxas de crescimento anual dos diversos setores produtivos insumos, pecuária em si, indústria e distribuição. Como resultado do desempenho do agronegócio familiar descrito acima, observouse, de um lado, um aumento da importância das atividades ligadas à produção animal no agronegócio familiar, cuja participação passou de 34,1%, em 1995, para 37,4%, em 2003. De outro lado, assistiu-se a uma diminuição na diferença entre o PIB do setor primário e o PIB do agronegócio, ou seja, houve um aumento do valor adicionado na produção agropecuária stricto sensu que não se fez acompanhar dos valores adicionados nos setores industriais e de serviços a montante e a jusante. Efetivamente, enquanto, em 1995, o PIB do 33

agronegócio era 3,7 vezes o PIB da agropecuária, em 2003, esse fator caiu para 3,3. Vale sublinhar que essa diminuição foi maior no caso das lavouras do segmento patronal e de pouca envergadura para a produção animal do segmento familiar. Isso parece apontar que o crescimento do agronegócio nos últimos anos foi baseado no crescimento da atividade primária das lavouras sem ocorrer o espraiamento na indústria de transformação, pois nos setores de insumos e de distribuição as taxas de crescimento nos valores adicionados foram, respectivamente, superiores ou semelhantes às observadas para a produção primária. No caso dos insumos, verificam-se aumentos expressivos tanto para as lavouras como para a pecuária, especialmente após 1999, o que parece refletir as alterações na política cambial. Ainda que tenha ocorrido uma aproximação dos fatores de multiplicação do PIB da agropecuária para o PIB do agronegócio entre os segmentos familiar e patronal, é evidente, ainda, que as produções desenvolvidas pelos agricultores patronais apresentam relações mais estreitas com os setores industriais e de serviços. Ou seja, há ainda espaço para a agregação de valor nos cultivos e criações desenvolvidas pelos agricultores familiares, significando uma participação ainda mais expressiva das cadeias produtivas articuladas à agricultura familiar. Esse cenário se faz evidente pelo fato de que no segmento patronal a participação da indústria de base agropecuária é da ordem de 1/3, enquanto no agronegócio familiar foi de 22,7%, em 2003. No que concerne às participações dos setores de insumos e de distribuição as diferenças são pouco expressivas. Esse descompasso, como já foi apontado, é inexistente no caso da produção animal, onde o segmento industrial respondeu, em 2003, por 14,9% e 14,7% dos PIBs familiar e patronal, respectivamente. Outra particularidade da cadeia da produção animal é a maior participação no PIB do setor de insumos, que, em 2003, foi responsável por 10,5% do PIB do agronegócio pecuário, enquanto que nas lavouras essa participação foi de 4,7%. A estrutura de composição do PIB do agronegócio familiar e patronal e sua evolução recente, discriminadas pelos cultivos e sub-setores industriais, chama a atenção o crescimento vertiginoso da soja tanto no segmento familiar como no patronal. Em termos 34

de pecuária, nota-se uma concentração na bovinocultura de corte nos patronais e uma maior diversificação nos familiares, onde se destaca a avicultura e produção leiteira. As estimativas do PIB do agronegócio familiar e sua evolução nos últimos oito anos (1995 a 2003) mostram, claramente, que os pequenos agricultores ou os agricultores familiares respondem por parcela expressiva da riqueza nacional, ainda mais tendo em vista a insuficiência de terras, as dificuldades creditícias, o menor aporte tecnológico, a fragilidade da assistência técnica e a subutilização da mão-de-obra. Essa relativa punjança decorre, de uma lado, da existência de parcelas importantes do segmento familiar que se encontram integradas aos setores agroindustriais e da distribuição e, de outro, à utilização plena de suas terras. Cabe destacar o quão importante são esses agricultores nas atividades da pecuária de pequeno porte altamente articulada com os setores industriais, na fumicultura e no beneficiamento de produtos alimentares. Há, por fim, muito espaço para o crescimento do agronegócio familiar, tendo em conta que a amplificação da atividade primária de caráter familiar em direção ao agronegócio é de menor envergadura que no segmento patronal, isto é, no caso do Brasil o PIB da agricultura familiar é multiplicado por 2,8 em 2003, para se ter o agronegócio, esse fator é de 3,6 para o patronal e já foi da ordem de 4,0 no segmento patronal em meados dos anos 90. 35

ANEXO A Valores do pib do agronegócio familiar, patronal e total para o brasil, 1995 a 2003 Tabela A.1 - Produto Interno Bruto dos Complexos Agrícola e Pecuário, 1995 a 2003, R$ Milhões de 2003, BRASIL. Anos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 PIB NACIONAL 1,342,350 1,378,037 1,423,118 1,424,995 1,436,188 1,498,816 1,518,489 1,547,748 1,556,182 PIB de Outros Setores da Economia 938,949 981,305 1,030,066 1,029,428 1,033,055 1,094,941 1,107,584 1,100,949 1,080,385 PIB do Agronegócio 403,400 396,733 393,052 395,567 403,134 403,875 410,905 446,798 475,797 PIB do COMPLEXO AGRÍCOLA 283,108 280,601 281,125 278,665 279,004 273,328 278,539 308,204 331,778 PIB - INSUMOS 8,878 9,210 9,178 9,633 10,946 11,300 11,755 13,577 15,564 PIB - SETOR AGRÍCOLA 67,571 67,619 67,479 71,020 67,371 62,565 67,902 80,077 92,855 PIB da produção utilizada como insumos 6,090 6,310 6,294 6,627 6,298 5,849 6,348 7,486 8,680 PIB da produção vendida 61,481 61,309 61,185 64,393 61,074 56,716 61,555 72,591 84,175 PIB - INDÚSTRIA 115,126 108,933 110,762 104,695 107,760 108,834 107,360 114,481 118,594 PIB - DISTRIBUIÇÃO 91,533 94,839 93,705 93,318 92,926 90,629 91,521 100,069 104,765 PIB do COMPLEXO PECUÁRIO 120,293 116,132 111,927 116,902 124,130 130,547 132,366 138,594 144,019 PIB - INSUMOS 8,054 7,853 7,587 8,139 10,079 11,339 11,633 13,773 15,102 PIB - SETOR PECUÁRIO 41,382 38,251 37,031 39,888 42,779 45,853 45,957 48,097 51,092 PIB da produção utilizada como insumos 9,274 8,896 8,608 9,276 9,968 10,684 10,709 11,207 11,905 PIB da produção vendida 32,108 29,355 28,423 30,612 32,811 35,168 35,249 36,890 39,187 PIB - INDÚSTRIA 21,838 22,014 20,927 20,057 20,370 20,608 21,102 21,457 21,240 PIB - DISTRIBUIÇÃO 49,019 48,014 46,382 48,817 50,902 52,747 53,673 55,267 56,585 Fonte: Dados da pesquisa 36

Tabela A.2 - Produto Interno Bruto do Agronegócio Familiar e Patronal, 1995 a 2003, R$ Milhões de 2003, BRASIL. Anos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 PIB do AGRONEGÓCIO 403,400 396,733 393,052 395,567 403,134 403,875 410,905 446,798 475,797 PIB do Agronegócio Familiar 129,901 128,073 127,957 129,164 135,570 134,688 134,048 143,176 156,597 PIB da AGRICULTURA FAMILIAR 85,592 84,374 84,928 82,534 86,173 82,324 80,937 87,308 98,066 PIB - INSUMOS 2,935 3,001 3,016 3,170 3,755 3,720 3,746 4,228 4,917 PIB - SETOR AGRÍCOLA 26,691 26,369 26,488 26,860 26,477 24,036 24,871 28,355 33,575 PIB da produção utilizada como insumos 2,146 2,192 2,204 2,325 2,300 2,052 2,158 2,489 2,926 PIB da produção vendida 24,545 24,177 24,284 24,536 24,178 21,984 22,713 25,867 30,649 PIB - INDÚSTRIA 28,380 26,511 27,133 24,711 26,430 26,093 24,541 25,298 26,762 PIB - DISTRIBUIÇÃO 27,586 28,493 28,291 27,792 29,511 28,476 27,779 29,426 32,812 PIB da PECUÁRIA FAMILIAR 44,309 43,699 43,029 46,630 49,397 52,364 53,111 55,869 58,531 PIB - INSUMOS 2,667 2,737 2,749 3,027 3,688 4,177 4,312 5,123 5,594 PIB - SETOR PECUÁRIO 16,766 15,968 15,633 16,988 17,951 19,152 19,105 20,282 22,023 PIB da produção utilizada como insumos 2,879 2,911 2,933 3,246 3,430 3,702 3,734 3,922 4,149 PIB da produção vendida 13,887 13,057 12,700 13,742 14,521 15,450 15,370 16,359 17,875 PIB - INDÚSTRIA 7,560 7,837 7,693 7,908 7,960 8,127 8,450 8,600 8,715 PIB - DISTRIBUIÇÃO 17,317 17,157 16,954 18,707 19,799 20,909 21,245 21,865 22,199 PIB do Agronegócio Patronal 273,499 268,660 265,095 266,403 267,564 269,186 276,857 303,622 319,200 PIB da AGRICULTURA PATRONAL 197,516 196,227 196,197 196,131 192,831 191,004 197,601 220,896 233,713 PIB - INSUMOS 5,943 6,209 6,163 6,463 7,191 7,581 8,009 9,350 10,647 PIB - SETOR AGRÍCOLA 40,880 41,250 40,991 44,159 40,894 38,529 43,031 51,722 59,279 PIB da produção utilizada como insumos 3,945 4,118 4,090 4,302 3,998 3,797 4,189 4,997 5,754 PIB da produção vendida 36,936 37,132 36,901 39,857 36,896 34,733 38,841 46,725 53,526 PIB - INDÚSTRIA 86,747 82,422 83,629 79,984 81,331 82,741 82,819 89,182 91,833 PIB - DISTRIBUIÇÃO 63,946 66,346 65,414 65,526 63,415 62,153 63,742 70,642 71,953 PIB da PECUÁRIA PATRONAL 75,983 72,433 68,898 70,272 74,733 78,183 79,255 82,726 85,488 PIB - INSUMOS 5,387 5,116 4,838 5,112 6,391 7,162 7,322 8,650 9,508 PIB - SETOR PECUÁRIO 24,616 22,283 21,398 22,900 24,828 26,701 26,853 27,815 29,068 PIB da produção utilizada como insumos 6,395 5,985 5,676 6,030 6,538 6,982 6,975 7,285 7,757 PIB da produção vendida 18,221 16,297 15,723 16,870 18,290 19,719 19,878 20,530 21,312 PIB - INDÚSTRIA 14,278 14,177 13,234 12,149 12,410 12,481 12,652 12,858 12,525 PIB - DISTRIBUIÇÃO 31,702 30,857 29,428 30,110 31,103 31,839 32,428 33,403 34,386 Fonte: Dados da pesquisa 37