ID 841: O CADASTRO PREDIAL MULTIFUNCIONAL EM PORTUGAL: PROPOSTA DE REFORMULAÇÃO DO SEU ATUAL MODELO DE EXECUÇÃO

Documentos relacionados
Encontro Nacional de Zonas de Intervenção Florestal, Seia,

SiNErGIC Um contributo para a gestão e ordenamento do território. Carlos Caeiro. Espinhal (Penela), 04 de Setembro 2010

PRÁTICAS DE CADASTRO PREDIAL

Propostas de alteração à Proposta de Lei n.º 69/XIII

LICENCIAMENTO ZERO. Desafios para um novo paradigma nos serviços públicos. Patrocinador Principal Apoio Patrocinadores Globais APDSI

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 306/XII. Exposição de Motivos

FACULDADE DE CIÊNCIAS UNIVERSIDADE DO PORTO Mestrado em Engenharia Geográfica CADASTRO PREDIAL. Maria Augusta Silva

Administração Pública Eletrónica O Que Falta Fazer?

Experiências em Cadastro Predial ao Nível da Gestão

Comunicado do Conselho de Ministros extraordinário de 21 de outubro de 2017

Revisão do Plano Diretor Municipal de Armamar Relatório de Ponderação dos Resultados da Discussão Pública

12. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NA DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS 12.1 PRODUTORES DE INFORMAÇÃO (RISCO, PERIGO, CRISE)

Henrique Silva, Instituto Geográfico Português, ESIG 2008 Sessão INSPIRE Tagus Park, Oeiras 16 de Maio 2008

CADASTRO PREDIAL TEÓRICA /2018

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 67/XIII. Exposição de Motivos

O Sistema Nacional de Indicadores de Ordenamento do Território e a sua articulação com outros sistemas de indicadores

REFLEXÃO SOBRE A ARTICULAÇÃO ENTRE PMEPC S E PDM S REFLEXION ON THE ARTICULATION BEETWEN MUNICIPAL EMERGENCY PLANS AND SPATIAL PLANS

GRUPO DE TRABALHO DO CADASTRO

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E INCIDÊNCIAS NOS IGT ENQUADRAMENTO E REFLEXÕES

Proposta de Lei n.º 161/XIII

Metropolitano de Lisboa Plano de ação para a igualdade entre mulheres e homens

RESUMO PARA OS CIDADÃOS

FUNDO FLORESTAL PERMANENTE PROMOÇÃO DO INVESTIMENTO, DA GESTÃO E DO ORDENAMENTO FLORESTAIS

Sensibilizar para o Desperdício Alimentar

Proposta de Lei n.º69/xiii. Exposição de Motivos

1. DEFINIÇÃO, ANTECEDENTES E VISÃO DO PNAC 2020/2030

A ACÇÃO DO SISTEMA FISCAL SOBRE O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

A sua inscrição será considerada e confirmada apenas quando os cheques forem recebidos.

Plano de Melhoria. Avaliação Externa IGEC. 13 a 16 de abril 2015

ORGANIZAR Unidades de gestão florestal Entidades de gestão florestal

Ação de sensibilização

Ação de sensibilização. Execução de Cadastro Predial

O COMPETE 2020 ANEXO I

PROGRAMA OPERACIONAL SUSTENTABILIDADE E EFICIÊNCIA NO USO DE RECURSOS RESUMO PARA OS CIDADÃOS

A Posição de Portugal na Europa e no Mundo. Território português

Apresentação de trabalho profissional

Normas de Funcionamento do Orçamento Participativo da Freguesia de Sabóia. Odemira OP 100% Entidade Parceira:

Escola Secundária de Cacilhas Tejo

DECRETO N.º 143/XIII. Cria um sistema de informação cadastral simplificada e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro

Rita Calca. 1ª Sessão de trabalho 21 Novembro Castro Verde

ANÚNCIO PARA PARTICIPAÇÃO NO LEVANTAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA REDE DE INFRAESTRUTURAS TECNOLÓGICAS

II.1. Ortofotomapas de 2015

AVISO CONVITE PARA APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURA AVISO N.º CENTRO-G

Subprograma Ação Climática Programa LIFE Sessão Divulgação Convocatória 2014

BARRA. Prática Profissional do Ordenamento do Território e da Paisagem. Participação Pública e Resultados

Lei n.º 78/2017 de 17 de agosto. Cria um sistema de informação cadastral simplificada e revoga a Lei n.º 152/2015, de 14 de setembro

Enquadramento da Estratégia Nacional para as Florestas. João Soveral, vice-presidente

Exposição de Motivos

Desformalização, eliminação e simplificação de actos

Comunicado. Novos regulamentos do setor do gás natural

Tendo sido consultada a Comissão Nacional de Proteção de Dados, nos termos da Lei n.º 67/98, de 26 de outubro;

ANEXO D SGMF PROJETOS 2018

Conselho Local de Ação Social de Coimbra

PLANO DE TRANSIÇÃO E ALTERAÇÕES

LINHAS DE ORIENTAÇÃO PARA A AUDITORIA INTERNA

Enquadramento: a nossa Floresta

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA AUTOAVALIAÇÃO E DAS AÇÕES DE MELHORIA

Regulamento n.º / 2016

Política de Coesão da UE

II.1. Ortofotomapas de 2015

OOP1: Elaborar documentos de apoio à implementação de políticas Peso: 45% OOP2: Garantir a gestão sustentável dos recursos naturais Peso: 35%

AVISO DE ABERTURA PARA CANDIDATURAS BANCO DE TERRAS

Experiência da Gaiurb em Angola

PROJETO DE LEI N.º 615/XII/3.ª Alteração dos limites territoriais entre as freguesias de Murtede e Ourentã, do município de Cantanhede.

Sessão de Esclarecimento Póvoa de Lanhoso. 07 de Fevereiro de 2014

O CADASTRO DA PROPRIEDADE EM PORTUGAL

A Propósito dos SIG. 18 de Maio de Convento de N. Sr.ª da Saudação Castelo de Montemor-O-Novo

ACOMPANHAMENTO DA AÇÃO EDUCATIVA RELATÓRIO DA 2ª INTERVENÇÃO

Diário da República, 1.ª série N.º de agosto de Artigo 21.º. Lei n.º 78/2017

1 TERMOS DE REFERÊNCIA (Artigo 74.º do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial)

Compreender o mecanismo de cálculo do IVA, identificando as operações tributáveis e os sujeitos passivos;

Intervenção. Fim do sistema de quotas leiteiras

DO SUL AO NORTE: HABITAR JOVEM

Política de. Coesão da UE Propostas da Comissão Europeia. Política de. coesão

ESTATUTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

REPUBLICAÇÃO DO ANÚNCIO PARA PARTICIPAÇÃO NO LEVANTAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA REDE DE INFRAESTRUTURAS TECNOLÓGICAS

ESTRUTURA FLEXÍVEL DA DGO

Artigo 1.º Objeto O presente decreto-lei consagra o «Estatuto da Pequena Agricultura Familiar», adiante designado por Estatuto.

DO INTERIOR AO LITORAL ALGARVIO: HABITAR JOVEM

Gestão das informações públicas sobre ocupação territorial Integração de cadastros públicos. Brasília/DF 09 de maio de 2017

Ordenamento do Espaço Rural

Programa de Desenvolvimento Rural

REGULAMENTO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM PÓVOA DE VARZIM

Disciplina: Geografia A Módulo 4,5 e 6

Diogo Soares da Silva Elisabete Figueiredo Isabel Rodrigo Universidade de Aveiro, Portugal

Proteção de Dados Pessoais e o Regulamento da UE: desafios para as entidades públicas e privadas e respostas especializadas

ESTATUTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VALLIS LONGUS PLANO DE AÇÃO DE MELHORIA

Regulamentação da Cartografia para os Instrumentos de Gestão do Território. rio. O caso do Município de Loures

Eixo Prioritário III - Valorização e Qualificação Ambiental e Territorial

CONSELHO CIENTÍFICO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO CONTÍNUA APRESENTAÇÃO DE ACÇÃO DE FORMAÇÃO NAS MODALIDADES DE CURSO, MÓDULO E SEMINÁRIO

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA Gabinete do Presidente. Natal com Justiça

PT Unida na diversidade PT A8-0351/5. Alteração

O procedimento administrativo da Declaração de Utilidade Pública para efeitos de constituição de servidão administrativa.

IV Jornadas da Engenharia Civil Água Pública O Futuro do Regadio em Portugal

Componente de Formação Técnica

Comissão de Agricultura e Mar TEXTO DE SUBSTITUIÇÃO PROPOSTA DE LEI N.º 69/XIII/2.ª (GOV) - CRIA UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO CADASTRAL SIMPLIFICADA

PROJECTO DE LEI N.º 53/XI/1.ª CONSAGRA A CATIVAÇÃO PÚBLICA DAS MAIS-VALIAS URBANÍSTICAS PREVENINDO A CORRUPÇÃO E O ABUSO DO PODER

Transcrição:

ID 841: O CADASTRO PREDIAL MULTIFUNCIONAL EM PORTUGAL: PROPOSTA DE REFORMULAÇÃO DO SEU ATUAL MODELO DE EXECUÇÃO Regina PIMENTA 1 ; José-Paulo de ALMEIDA 2 ; José António TENEDÓRIO 3 1 Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (NOVA FCSH), Universidade Nova de Lisboa, regina.pimenta@sapo.pt 2 FCTUC - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, uc25666@uc.pt 3 Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (NOVA FCSH), Universidade Nova de Lisboa; ja.tenedorio@fcsh.unl.pt RESUMO: O desenvolvimento sustentável dum território requer uma eficaz articulação das suas componentes sociais, ambientais e económicas. Os sistemas de suporte à gestão territorial, que possibilitam o registo, disponibilização, integração e gestão de dados sobre o território, são relevantes ferramentas para implementar as políticas públicas inspiradas no paradigma da sustentabilidade. Neste contexto, o cadastro predial multifuncional tem um papel estruturante constituindo as fundações para um sistema de gestão territorial. Contudo, na actualidade e no futuro, o cadastro predial multifuncional terá que ir mais além do simples registo da delimitação 2D dos prédios; terá que permitir também a gestão das diversas áreas de jurisdição de forma a garantir uma coordenação e abordagem consistente para o planeamento de políticas futuras, legislação, normas, modelos e disponibilização de informação conducentes a um desenvolvimento sustentável do território como um todo. Portugal está longe de atingir este patamar de progresso, pois continua a ser dos poucos países da Europa que não tem uma cobertura integral do território por cadastro geométrico. Passados quase dez anos desde a criação do Sistema Nacional de Exploração e Gestão de Informação Cadastral (SiNErGIC), é importante fazer uma reflexão sobre a sua relevância no desenvolvimento das políticas públicas nacionais. Assim, esta comunicação pretende contribuir com uma reflexão crítica sobre o que foi realizado até ao momento em Portugal, essencialmente ao nível das componentes jurídica e metodológica que suportam o cadastro multifuncional, numa tentativa de compreender porque não se alcançaram resultados satisfatórios. Por último, adiantam-se novas abordagens, recorrendo a tecnologias e normas internacionais mais recentes, no sentido de operacionalizar soluções mais expeditas e menos dispendiosas para as campanhas cadastrais. PALAVRAS-CHAVE: Cadastro Predial Multifuncional; LADM; SiNErGIC; Sistema de Informação Cadastral Simplificado. 1035

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Esta comunicação é inspirada no facto dos sucessivos governos identificarem a temática referente ao cadastro como pertinente e urgente, de se referir que existem competências técnicas e humanas para a sua execução, e de a nível mundial a metodologia já estar com um nível de maturidade bastante elevado. Apesar de todos estes fatores favoráveis, Portugal é dos poucos países da Europa que não tem uma cobertura cadastral integral. Assim, destacam-se dois dos objetivos que se pretendem atingir: - Identificar os principais benefícios do cadastro predial, analisar a situação do cadastro em Portugal, o que implicará efetuar uma revisão do estado da arte no Mundo e em Portugal, com uma descrição sumária das evoluções legislativas e das principais abordagens metodológicas aplicadas ao longo do tempo. - Apresentar as principais dificuldades da execução do cadastro, identificando soluções metodológicas, suportada nas melhores práticas aplicadas em outros países, com as devidas adaptações ao caso português. 2. OS BENEFÍCIOS DO «CADASTRO PREDIAL MULTIFUNCIONAL» O cadastro predial multifuncional, contribui para o desenvolvimento económico de um país. Ao longo de centenas de anos, tem sido aplicado e executado, de acordo com as necessidades e propósitos, que no início tinham um carácter fiscal, mas que, com as evoluções dinâmicas, entre as sociedades e o valor do solo, conduziram a que o cadastro fosse adquirindo novas funções e importância (figura 1). Figura 229 Principais fases da relação Sociedade Ocidental/Solo (Pimenta R., 2017 adaptado de Ting e Williamson, 1999, citados por Bogaerts et. al., 2002 1036

Os benefícios de um sistema cadastral tornam-se ilimitados, até porque os sistemas cadastrais encontram-se em constante evolução como consequência dos desenvolvimentos tecnológicos e sociais. Na figura 2, expõem-se alguns dos benefícios do cadastro multifuncional». Figura 230 Benefícios do cadastro multifuncional (Pimenta R., 2017). 3. O CADASTRO NO CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL Os sistemas cadastrais constituem os alicerces para os vários setores da atividade e para uma eficaz gestão do território, conduzindo a que no geral, todos os países trabalhem para melhorar os seus sistemas cadastrais com vista a satisfazer as suas necessidades futuras. Relativamente às metodologias aplicadas, não existe uma solução única, no campo do cadastro na Europa no momento atual. Diferem de país para país, como resultado da influência da cultura, da história e de outras razões sociais, na sua execução e aplicação. O conteúdo do cadastro nos países europeus está mais ou menos definido na legislação pertinente de cada país. 1037

No contexto Europeu, Portugal continua a integrar a lista dos poucos países que ainda não tem cobertura cadastral geométrica correspondendo atualmente apenas a 50% do território valor este que se mantém desde 1994, de acordo com os dados consultados no site da Direção Geral do Território (DGT, 2018), O primeiro passo oficial para a execução do cadastro, em Portugal, surgiu em 1801 através de Alvará Régio. Na segunda década do século XX, é introduzido o conceito de cadastro geométrico da propriedade rústica (CGPR). Em 1995 é introduzido o conceito de cadastro predial, na sua nova designação oficial; e, mais recentemente, tendo em vista os seus fins e terminologia internacional, são realizadas referências a cadastro multifuncional. Toda a legislação nacional reconhece e reafirma a importância do cadastro nos seus preâmbulos. No entanto, o certo é que, para além do que foi feito entre as décadas de trinta e sessenta do século passado, pouco mais se fez. Nos últimos 25 anos, somam-se várias iniciativas e tentativas de execução de protótipos sem, contudo, existirem dados oficiais publicados, com custos elevados para o país, sem que exista qualquer retorno. Iniciou-se nos anos 1990/2000 a execução do cadastro em três concelhos (que nunca chegou a ser formalmente concluída), iniciou-se também um processo de execução do cadastro em 2011 (que logo terminou) e, mais recentemente, em 2013 e 2014, iniciou-se um projeto piloto em sete concelhos, e mais recentemente em 2017, foi lançado o cadastro simplificado, conforme se ilustra na figura 3. Figura 231 Execução do cadastro em Portugal desde 1926 até à atualidade (Pimenta R., 2017). 1038

4. DIFICULDADES NA EXECUÇÃO DO «CADASTRO» EM PORTUGAL Atualmente, apenas cerca de 50% da área total do território nacional (praticamente toda na metade sul do Continente), foram identificados nas operações cadastrais realizadas entre 1926 e 1994, no âmbito do cadastro geométrico da propriedade rústica (CGPR). (DGT, 2018) Um dos motivos que dificultam a realização do cadastro prende-se também com o facto de termos divisões de propriedades muito pequenas, ou seja, prédios rústicos com dimensões pequeníssimas principalmente na metade norte do país, o que dificulta a sua identificação e subsequente georreferenciação. Também o facto de sermos um país com vagas cíclicas de migração, internas e externas, com uma concentração populacional excessiva no litoral e um acentuado despovoamento no interior, que se tem vindo a agravar ao longo do tempo, têm dificultado, e tantas vezes impedido, a identificação dos proprietários nestas zonas mais despovoadas ou mesmo abandonadas. Apesar das características enunciadas e muito próprias do nosso país, sistematizam-se na figura 4, as principais problemáticas associadas à execução do cadastro em Portugal. Figura 232 Dificuldades na execução do «Cadastro Multifuncional» em Portugal (Pimenta R., 2017) 1039

A existência de uma infraestrutura de informação cadastral (que assegure a partilha, harmonização de dados e interoperabilidade) permitirá uma melhor articulação entre os diferentes serviços públicos, com repercussões muito positivas, não só na segurança e no comércio jurídico relacionados com imóveis, como nas diversas áreas de atuação, ambiente, economia, agricultura, entre outras, facilitando o acompanhamento e redefinição das suas estratégias e políticas. 5. UMA PROPOSTA GERAL DE REFORMA DO «CADASTRO» COM VISTA À SUA OPERACIONALIZAÇÃO FUTURA Neste ponto é efetuada uma breve análise à abordagem metodológica em vigor e estipulada na execução dos projetos pilotos no âmbito do SiNErGIC. A nova proposta irá suportar o novo sistema, que designaremos de sistema nacional de informação cadastral (SNIC), conforme se ilustra na figura 5. Atualidade: SINERGIC Proposta : SNIC Aquisição Cartografia de Suporte Ortofotos Toponímia Aquisição Cartografia de Suporte Imagens satélite Drones (Fonte: Ortofotos DGT) (Fonte: DigitalGlobe imagens satélite, WorldView3 e Pleiades com resolução 30-50 cm) O QUE ALTERA: Maior rigor na cartografia de suporte (30 cm), de forma a permitir mais trabalho de gabinete. O trabalho de campo, só terá lugar nas situações estritamente necessárias. Os ortofotomapas e toponímia, poderão ser obtidos por fontes mais atuais e bastante difundidas (Imagens satélite e drones) Aquisição de Dados Cadastrais Aquisição de Dados Cadastrais Gabinetes de Atendimento Receção, validação e retificação de declaração de titularidade fornecidos pelo proprietário Levantamento de campo (reconhecimento e completagem) Representação geográfica em gabinete (suportado em imagens satélite de alta resolução, 30-50 cm, com suporte a drones em algumas situações) Introdução do número único prédio Integração de sistemas/dados entre entidades envolvidas no cadastro predial (interoperabilidade BD). O QUE ALTERA: Investimento no trabalho de gabinete e articulado entre AP (entidades envolvidas na execução do cadastro predial), em detrimento do trabalho de campo. O modelo definido, deverá ser orientado a objetos 1040

Consulta Pública Gabinete de consulta Pública Consulta de caracterização provisório Análise e resolução de reclamações Análise e validação de dados (nova etapa) Processo automático para verificação de dados entre as entidades AP envolvidas No caso de não detetadas incongruências - o proprietário será notificado para confirmação dos dados, com prazo para aceitação ou reclamação. Inclui a hipótese de se efetuar o levantamento de campo (reconhecimento e completagem) com a colocação de marcos (o que será opcional nesta fase) No caso de detetadas incongruências o proprietário será notificado para comparecer (com os elementos necessários) no balção único cadastro predial. Poderão ser introduzidas penalizações para o não cumprimento. NOTA: Introdução da obrigatoriedade de coerência de dados e delimitação física do prédio, para que possa existir transmissão de imóvel. O QUE SE ALTERA: Trabalho articulado entre entidades públicas. Automatização dos processos de análise e verificação de dados. Auscultação presencial junto do proprietário, só quando estritamente necessária (e através do balção único/cadastro predial). Introdução de mecanismos de penalização para as situações não regularizadas (por notificação conjunta por exemplo: DGT, Finanças e Conservatórias). - Criação do balcão único cadastro predial/interoperabilidade entre sistemas/dados matriz predial, registo predial e delimitação geográfica prédio (através numero único prédio) - Criação tribunal arbitrário para a resolução de conflitos - Introdução da figura de técnico de cadastro predial Figura 233 Abordagem metodológica atual versus abordagem metodológica proposta (Pimenta R., 2017) 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reforma do cadastro é uma necessidade urgente. Hoje, Portugal é dos últimos países da União Europeia que não possui uma cobertura geométrica cadastral integral. Apesar dos vários investimentos em protótipos, produção legislativa, grupos de trabalho, debates, sessões de esclarecimento, produção de documentos técnicos, a realidade é que continua a não existir articulação entre as diversas entidades públicas, que assegurem os princípios básicos definidos e imperativos para o cadastro e para um sistema cadastral capaz de impulsionar e contribuir para o desenvolvimento do país. As recentes tragédias, vivenciadas como consequência dos incêndios florestais que assolaram sobretudo o centro de Portugal no verão de 2017, e cujo resultado foram 108 vítimas mortais 93, obrigam a medidas concretas, rápidas e a esforços articulados. Este é o momento de mudança, onde se procuram soluções, onde se repensa a gestão da floresta, a prevenção dos incêndios, as 93 De acordo com o jornal «Expresso» de 24.10.2017 1041

atuações de combate mais céleres e eficazes. Sendo o cadastro uma base fundamental para a concretização desta mudança, é portanto, reforçada a esperança que a recente criação do Sistema de Informação Cadastral Simplificado, venha a cumprir com a sua finalidade, de sistema de cadastro que apoiará os proprietários na identificação dos seus prédios rurais e mistos. Apesar de existir ainda um longo caminho a percorrer, relativamente à aplicabilidade da Lei n.º 78/2017 de 17 de agosto, que passa por definições técnicas e operacionais em diversas matérias, produções e publicação de decretos regulamentares vários, produção de relatório final, decorrente da sua aplicabilidade aos protótipos selecionados, é importante obter resultados e conclusões sobre as dificuldades existentes de forma a se indicarem caminhos alternativos, pois até ao momento e dos vários protótipos pagos e desenvolvidos no âmbito do SiNErGIC, não se conheceram resultados oficiais, mesmo conscientes, que possam ter existido problemas e que os resultados possam não corresponder às expetativas, teria sido útil a sua divulgação numa perspetiva até de mudança e de aperfeiçoamento. Existe uma tendência de viragem de paradigma, de um SiNErGIC, definido numa base conceptual complexa, morosa e rigorosa, que demorou anos a ser contextualizado, para um novo modelo cadastral simplificado, direcionado nesta fase para a propriedade rústica e mista e muito assente na operacionalização; tanto que, por oposição ao anterior, parte para a implementação ainda com muitos aspetos a serem definidos e legislados. Talvez este possa constituir um passo fundamental para a concretização do cadastro e uma gestão eficiente do território, menos onerosa e com ganhos de eficácia pela eliminação de custos de contexto associados ao investimento que exige o modelo em vigor, Quanto mais tempo passa, mais difícil será dispor de cadastro atualizado e maiores serão os custos da sua execução. É urgente e impõe-no: a nossa economia; as nossas finanças públicas; as nossas políticas sectoriais; a nossa justiça (com os numerosos litígios nos nossos tribunais que seriam evitados e a redução de custos e de tempo na decisão dos existentes); e, finalmente, mas não em último, impõe-no a segurança jurídica do cidadão. 1042

7. BIBLIOGRAFIA Bogaerts, Theo; Williamson, Ian p.; Fendel, Elfriede M. (2002). The role of land administration in the accession of Central European countries to the European Union. Land Use Policy. Oxford: Elsevier, pages 29 46. ISSN 0264-8377.19. Direção Geral do Território (DGT) : http://www.dgterritorio.pt/cadastro/ (acedido a 20 de maio 2018) Ting, L. and Williamson, I.P. (1999). Cadastral Trends: A Synthesis. The Australian Surveyor. Vol.4(1) pages 46-54. Pimenta, R. (2017). Metodologias em Cadastro Predial Multifuncional. Artigo no âmbito da componente letiva do Curso de Doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial. FCSH/UNL. Lisboa, Portugal. Pimenta, R. (2017). Problemáticas na execução do Cadastro Multifuncional em Portugal. Artigo no âmbito da componente letiva do Curso de Doutoramento em Geografia e Planeamento Territorial. FCSH/UNL. Lisboa, Portugal. 1043