SELEÇÃO DE ÁRVORES MATRIZES DE Anadenanthera colubrina (VELL.) BRENAN. OCORRENTES EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA ATLÂNTICA. Karla Daniele Araujo da Silva 1, Bruno Quinelato Alves 1, Mariana Cruz de Souza 1, Adelson Lemes da Silva Júnior 1, Lucimara Cruz de Souza 1, Francisco Davi da Silva 1, Fábio Demolinari de Miranda 2, Marcos Vinicius Winckler Caldeira 3 1 Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Agrárias e Engenharias/ Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular/ Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento, Alto universitário, s/n Guararema, Alegre ES, Brasil, karlaaraujo@gmail.com, brunoqalves@outlook.com, scruz.mariana@gmail.com, adelsonlemes@yahoo.com.br, lucimaracruz@yahoo.com, daviagro@alu.ufc.br. 2 Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Exatas e Naturais e da saúde / Departamento de Biologia, Alto Universitário, s/n Guararema, Alegre ES, Brasil, fademolinari@yahoo.com.br. 3 Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Ciências Florestais e da Madeira, Av. Gov. Lindemberg, 316 Centro, Jerônimo Monteiro - ES, Brasil, mvwcaldeira@gmail.com. Resumo O objetivo desse trabalho foi selecionar indivíduos da espécie Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, localizados em um fragmento de Floresta Atlântica no Espírito Santo, para serem utilizados como matrizes para coleta de sementes nativas, apropriadas e viáveis para trabalhos de recuperação e restauração de ambientes florestais degradados. Para isto, indivíduos adultos foram selecionados por toda a extensão do fragmento, estabelecendo um inventário a 100% das árvores. Foram mensurados a altura e o DAP (diâmetro a altura do peito, a 1,30 m do solo), georreferenciados e avaliados quanto ao aspecto fitossanitário, distribuição e estabelecimento na paisagem e condições de luminosidade. No total 46 árvores foram selecionadas, onde os valores para altura variaram de 12 m a 27 m e DAP variaram de 16 cm a 78 cm, no entanto, destaca-se os indivíduos AC01.1, AC09.1, AC18.1, AC27.1, AC34.1, AC36.1 e AC39.1, pois apresentam altura e DAP superiores aos valores médios descritos na literatura. Assim, a seleção de árvores matrizes torna-se imprescindível, pois expressa padrões de qualidade quanto a obtenção de sementes e produção de mudas. Palavras-chave: Angico branco, inventário florestal, sementes nativas. Área do Conhecimento: Ciências Biológicas Introdução A Floresta Atlântica é um conjunto de formações vegetais, que inicialmente abrangiam uma área de aproximadamente 1.300.000 km 2 (MMA, 2010). Em função do elevado índice de interferência, a área tem sido afetada pela fragmentação e, apesar dessa acentuada devastação o bioma abriga uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil (MARTINI et al., 2007; MITTERMEIER et al., 2004). Para promover a restauração dessas áreas é necessário atentar-se a importância da produção de mudas de boa qualidade. Desta forma, entende-se que plantas resultantes de sementes com a maior capacidade de adaptação a eventos catastróficos e que já estejam aclimatadas a ambientes específicos, possam ter um maior sucesso quanto ao seu desenvolvimento. O uso de árvores matrizes para a coleta de sementes é um método amplamente utilizado, sendo muitas vezes escolhidas em virtude da facilidade do acesso (ROGALSKI et al., 2005). Árvores-matrizes são aquelas que apresentam características superiores as demais da mesma espécie. Para um maior ganho genético, é necessária uma seleção ampla, que garanta não apenas indivíduos superiores, mas que também seja mantida a variabilidade genética da nova população que será estabelecida (NOGUEIRA, 2007). 1
Neste contexto, destaca-se a espécie Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan., popularmente conhecida como angico branco (LORENZI, 2009). Classifica-se como uma espécie secundária, encontrada em áreas de transição de secundária para tardia. Possui forte capacidade de aclimatação, além de outras características de interesse, como forma da copa e volume de sementes, tornando-a adequada para arborização urbana e de grandes praças, recuperação de áreas degradadas e plantios florestais mistos (ARAÚJO et al., 2006). Desta forma, o objetivo do trabalho foi selecionar indivíduos da espécie A. colubrina, localizados em um fragmento de Floresta Atlântica no Espírito Santo, para serem utilizados como matrizes para coleta de sementes nativas, apropriadas e viáveis para trabalhos de recuperação e restauração de ambientes florestais degradados. Metodologia O estudo foi realizado em um fragmento florestal situado próximo a Usina Hidrelétrica da Rosal pertencente à empresa CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), com aproximadamente 93 hectares e 20 km de distância da sede do município de Guaçuí - ES (20 53 latitude Sul e 41 42 de longitude Oeste) (SANSEVERO et al., 2006). A área de estudo é classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana, de clima subtropical, com precipitação e temperatura anuais em torno de 1.246 mm e 19 C, respectivamente, com um relevo acidentado e altitude média de 650 metros (MARTINS; CAVARARO, 2012; ALVARES et al., 2013). Indivíduos adultos foram selecionados por toda a extensão do fragmento, estabelecendo um inventário a 100% das árvores. Todos os indivíduos selecionados foram identificados e demarcados com GPS (Sistema de Posicionamento Global). Para essa amostragem foi utilizado o método de busca exaustiva, ou seja, toda a área foi percorrida para um levantamento do número de indivíduos de A. colubrina. Cada indivíduo foi avaliado dendrometricamente, sendo mensurados a altura e o DAP (Diâmetro a altura do peito, usualmente medido a 1,30 m do solo). A altura das árvores foi estimada por avaliação visual (olho nu) e o diâmetro a altura do peito foi estabelecido com o auxílio de uma fita diamétrica. Além disto, a seleção realizada levou em consideração o aspecto fitossanitário, distribuição e estabelecimento dos indivíduos na paisagem e as condições de luminosidade. Tais descrições foram baseadas em ficha de campo para cadastro e caracterização de árvores matrizes. Resultados Um total de 46 indivíduos adultos foram demarcados e avaliados quanto a características dendrométricas, posição na paisagem e aspectos fitossanitários. Dentre os selecionados, 21 indivíduos se localizavam no interior do fragmento florestal e 25 indivíduos estavam na borda, demonstrando a ampla amostragem na área de estudo. Os valores de DAP das árvores selecionadas variaram de 16 cm (AC 17.1 e AC 19.1) a 78 cm (AC 18.1), enquanto que para a altura variaram de 12 m (AC 11.1 e AC 32.1) a 27 m (AC 25.1, AC 26.1 e AC 42.1) (Tabela 1). Tabela 1- Caracterização e localização de 46 indivíduos de A. colubrina avaliados, segundo a altura e DAP. (Continua) MATRIZ ALTURA DAP COORDENADAS ALTITUDE (m) AC01.1 22 76,5 S 20 45' 38.5" / W 041 32' 03.6" 462 AC02.1 18 34 S 20 53' 36.2" / W 041 42' 39.1" 607 AC03.1 22 36 S 20 53'24.7"/ W 041 42' 22.6" 480 AC04.1 17 59 S 20 53' 36.4" / W 041 42' 38.0" 539 AC05.1 24 55,5 S 20 53' 36.5" / W 041 42' 38.1" 545 AC06.1 22 35 S 20 53' 35.9" / W 041 42' 38.0" 550 AC07.1 18 40,2 S 20 53' 36.2" / W 041 42' 38.8" 555 AC08.1 20 54 S 20 53' 36.3"/ W 041 42' 39.5" 562 AC09.1 22 68 S 20 53' 37.0" / W 041 42' 39.2" 565 AC10.1 18 46 S 20 53' 37.1" / W 041 42' 39.2" 569 2
Tabela 1- Caracterização e localização de 46 indivíduos de A. colubrina avaliados, segundo a altura e DAP. (Conclusão) Discussão MATRIZ ALTURA DAP COORDENADAS ALTITUDE (m) AC11.1 12 24 S 20 53'37.3" / W 041 42' 39.6" 573 AC12.1 13 43 S 20 53' 37.4"/ W 041 42' 39.3" 577 AC13.1 16 47 S 20 53' 38.4" / W 041 42' 39.2" 580 AC14.1 16 52 S 20 53' 38.3"/ W 041 42' 39.2" 582 AC15.1 18 12 S 20 53' 36.7 / W 041 42' 40.3" 583 AC16.1 19 59 S 20 53' 36.2" / W 041 42' 41.6" 592 AC17.1 18 16 S 20 53' 36.0"/ W 041 42' 42.4" 595 AC18.1 23 78 S 20 53' 36.0" / W 041 42' 43.2" 590 AC19.1 24 16 S 20 53' 35.7" / W 041 42' 42.4" 599 AC20.1 24 50,5 S 20 53' 35.8" / W 041 42' 42.3" 600 AC21.1 16 20 S 20 53' 35.3" / W 041 42' 41.9" 604 AC22.1 22 59 S 20 53' 34.9" / W 041 42' 42.4" 605 AC23.1 14 29,5 S 20 53' 26.6" / W 041 42' 30.8" 646 AC24.1 22 38 S 20 53' 26.4" / W 041 42' 29.2" 643 AC25.1 27 48 S 20 53' 24.5" / W 041 42' 38.1" 549 AC26.1 27 54 S 20 53' 24.7" / W 041 42' 38.6" 551 AC27.1 24 73 S 20 53' 25.0" / W 041 42' 38.0" 550 AC28.1 18 37 S 20 53' 22.2" / W 041 42' 37.1" 562 AC29.1 20 41 S 20 53' 24.1" / W 041 42' 39.0" 568 AC30.1 20 19 S 20 53' 25.9" / W 041 42' 38.9" 581 AC31.1 28 50 S 20 53' 26.4" / W 041 42' 30.2" 589 AC32.1 12 39 S 20 53' 27.0" / W 041 42' 30.1" 594 AC33.1 25 45 S 20 53' 27.1" / W 041 42' 30.2" 596 AC34.1 24 62 S 20 53' 37.1" / W 041 42' 39.2" 569 AC35.1 22 23 S 20 53' 27.4" / W 041 42' 30.2" 605 AC36.1 26 66 S 20 53' 26.2" / W 041 42' 29.6" 610 AC37.1 26 52 S 20 53' 26.2" / W 041 42' 28.0 616 AC38.1 23 45 S 20 53' 26.7" / W 041 42' 28.1" 641 AC39.1 22 43 S 20 53' 26.5" / W 041 42' 28.2" 643 AC40.1 26 62 S 20 53' 26.2" / W 041 42' 27.9" 618 AC41.1 24 37 S 20 53' 25.2"/ W 041 42' 26.2" 619 AC42.1 27 52 S 20 53' 25.1" / W 041 42' 25.5" 624 AC43.1 24 51 S 20 53' 25.7" / W 041 42' 25.5" 624 AC44.1 24 52 S 20 53' 26.0"/ W 041 42' 25.6" 625 AC45.1 22 48 S 20 53' 26.1" / W 041 42' 25.3" 627 AC46.1 23 38 S 20 53' 26.3" / W 041 42' 25.3" 653 A seleção de árvores matrizes, baseados em características fenótipicas, há anos tem sido uma metodologia que auxilia diversas pesquisas e produção, atuando como pré-melhoramento. Segundo Sena (2008), a escolha de matrizes deve respeitar a finalidade a que se destina, pois além de possuírem características como DAP e altura superiores, em casos onde a finalidade é a restauração de áreas degradadas deve-se incluir nos parâmetros de seleção características como o tamanho da copa e o volume de frutos e sementes. Avaliando as características citadas anteriormente, este estudo julgou todas as 46 árvores selecionadas como matrizes com potencial para grande produção de sementes. No entanto, Carvalho (2002) descreve a espécie A. Colubrina como indivíduos que atingem grande porte, possuindo entre 10 m a 20 m de altura e 30 cm a 60 cm de DAP, porém, alguns indivíduos merecem destaque por apresentarem altura e DAP superiores ao descrito, sendo eles os indivíduos AC01.1, AC09.1, AC18.1, AC27.1, AC34.1, AC36.1 e AC40.1. 3
Assim, pode-se observar que a seleção de árvores matrizes é imprescindível pois expressa padrões de qualidade, que num futuro próximo acarretará em benefícios a produtores e melhoristas de modo geral (HOPPE et al., 2004). Entretando, as sementes de várias espécies florestais podem se comportar de diversas formas quando submetidas a diferentes períodos de tempo e temperaturas. No caso da A. colubrina, a exposição das sementes a partir de 24 h às condições adversas de temperatura e umidade, promove redução na viabilidade (GARCIA; NOGUEIRA; ABREU, 2004). Portanto, em virtude do comportamento diferenciado das sementes, e com o intuito de conservar a diversidade genética nas futuras gerações é necessário atrelar outros estudos que envolvam a viabilidade das sementes e a diversidade genética da população (SEBBENN, 2006). Conclusão Por meio do georreferenciamento e avaliação do potencial do indivíduos como matrizes, torna-se possível estabelecer estratégias para a continuidade dos trabalhos de colheita de sementes nativas na região, servindo como instrumento na obtenção de mudas, fornecendo base para conservação da espécie e reflorestamento de áreas degradadas. Agradecimentos À CAPES pelo financiamento da bolsa concedida. Universidade Federal do Espírito Santo e ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES), pelo financiamento desta pesquisa. Referências ALVARES, C. A. et al. Köppen s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, n. 6, p. 711-728, 2013. ARAUJO, F. S. et al. Estrutura da vegetação arbustivo arbórea colonizadora de uma área degradada por mineração de caulim, Brás Pires, MG. Revista Árvore. 30(1). p.107-116, 2006. CARVALHO, P. E. R. Angico-Branco. Circular Técnica 56, Colombo: Embrapa Florestas, p.10, 2002. GARCIA, L. C.; NOGUEIRA, A. C.; ABREU, D. C. A. Influência do envelhecimento acelerado no vigor de sementes de Anadenanthera colubrina (Vellozo) Brenan - Mimosaceae. Ciência Florestal, v. 14, n. 1, p. 85-90, 2004. HOPPE, J. M. et al. Produção de Sementes e Mudas Florestais. Caderno Didático 1, p. 388, 2004. LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4 ed. São Paulo: Instituto Plantarum, 2009. 384 p. MARTINI, A. M. Z. et al. A Hot-point within hotspot: a high diversity site in Brazil Atlantic Forests. Biodiversity and Conservation. v.16, p.3111-3128, 2007. MARTINS, L.; CAVARARO, R. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Sistema fitogeográfico. Inventário das formações florestais e campestres. Técnicas e manejo de coleções botânicas. Procedimentos para mapeamentos. IBGE. Rio de Janeiro, 2012. MITTERMEIER, R. A. et al. Hotspots Revisited: Earth s Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions.Washington, DC: Cemex, 2004. 390p. MMA (Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal). Mata Atlântica: patrimônio nacional dos brasileiros / Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e 4
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