Página 38 de 141 6.2 ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS (acervo civil) ficha 04: Antiga Fábrica da CICA Fachada frontal da Fábrica da CICA Vista lateral esquerda da Fábrica da CICA Vista dos fundos da Fábrica da CICA Vista lateral direita da Fábrica da CICA 1. Município: Delfim Moreira 3. Designação: Antiga Fábrica da CICA 5. Propriedade: Pública: Prefeitura Municipal 7. Situação de ocupação: Própria 9. Proteção legal existente: Nenhuma 2. Distrito: Sede 4. Endereço: Rua Presidente Tancredo Neves, 260 6. Responsável: Prefeitura Municipal 8. Uso atual: Repartições da Prefeitura/ SIAT - MG 10. Proteção legal proposta: Tombamento
Página 39 de 141 11. Histórico: Ao longo das décadas de 1940 e 1950, o investimento na produção de polpa de marmelo em Delfim Moreira podia ser observado através do estabelecimento de diferentes fábricas de alimentos na região, entre elas a Cica, empresa cujo nome é reconhecido em todo o território nacional. A famosa indústria se fixou na principal via de acesso à cidade, na rua Presidente Tancredo Neves, n 260, iniciando suas atividades em 1944. Fábrica da CICA FOTO: Acervo Prof. Sérgio Ricardo de Faria, s/d A fábrica produzia doces de goiaba, abóbora e ervilha in natura, entretanto, foi a polpa de marmelo que impulsionou a economia da empresa, a qual apresentava um imponente conjunto arquitetônico capaz de suportar sua intensa atividade. A construção revelavase semelhante às indústrias européias existentes durante a Revolução Industrial, destacando-se na paisagem municipal devido a sua fachada de tijolos à vista e à chaminé deslocada do corpo da edificação. A indústria possuía, ainda, uma casa localizada na lateral do terreno que fora construída com o objetivo de abrigar o escritório e a residência do gerente administrativo Antônio Carreteiro. A fábrica funcionou a todo vapor até a década de 1970, época em que a economia de polpa de marmelo entrou em uma grave crise que prejudicou inúmeros comerciantes, fazendeiros e empresários de Delfim Moreira. Após seu fechamento, a empresa de sabonetes e pastas-de-dente Gessy Lever comprou o espaço e montou no local, por poucos anos, sua própria linha de produção, mas já na década de 1980 a edificação foi vendida à indústria de baralho Zap. Em 1990, o estabelecimento abrigou uma fábrica de bolsas, mas a falta de sucesso no empreendimento levou, por fim, a aquisição do imóvel por parte da Prefeitura no ano de 2002. Após quatro anos, a sede administrativa do governo municipal acabou sendo fixada no local, onde funciona até os dias atuais. Ao longo do tempo, a antiga fábrica da Cica sofreu intervenções na sua parte interna e externa, com destaque para a demolição de um dos galpões localizado ao fundo do terreno no intuito de expandir a área reservada aos parques de exposições e shows diversos. Em um dos depósitos ainda é possível visualizar um desgastado desenho relativo à época de funcionamento da fábrica de alimentos, no qual o elefante representativo da marca Cica e arrastado por personagens de Maurício de Souza Mônica e Cebolinha. A casa da fábrica, entretanto, apresenta muitas características originais, revelando-se em bom estado de conservação. A antiga indústria permanece despertando a curiosidade de todos aqueles que visitam a cidade, seja pela peculiaridade de sua arquitetura, seja pelo importante papel econômico exercido na história de Delfim Moreira. 12. Análise de entorno: A antiga fábrica está localizada na via que dá acesso ao centro de Delfim Moreira - a rua Tancredo Neves. O entorno imediato é pouco edificado, mas no sentido da área central começam a se concentrar algumas edificações de uso residencial, com no máximo dois pavimentos. São geralmente alinhadas com o logradouro público e afastadas das divisas lateralmente. Nota-se uma tendência de adensamento vertical em pontos específicos. O fechamento dos terrenos é feito através da própria edificação ou por muretas de alvenaria.
Página 40 de 141 A pavimentação da via principal é constituída por asfalto aplicado diretamente sobre antigos paralelepípedos, e o calçamento, existente apenas no lado da fábrica, acontece em piso cimentado, com largura um pouco maior do que um metro. Sua ocupação se dá somente por postes de iluminação, lixeira e telefone público. No lado contrário, o espaço é encurtado e ocupado por mudas de novas árvores. A rua possui mão-dupla de circulação, sendo permitido o estacionamento paralelo em um dos lados. O tráfego é intenso e de maior velocidade do que na área mais central, pois comporta a entrada e saída diária de veículos da cidade. O trânsito de pedestres é muito pequeno. Todos os imóveis dispõem de infra-estrutura básica, como água tratada, rede de esgoto, e coleta de lixo. A alta chaminé é um elemento que compõe diversas visadas do edifício, podendo ser vista por quem entra na cidade ou por observadores do bairro Vila Rica, que está mais alto e afastado do centro. 13. Descrição: O prédio da antiga fábrica de marmelo situa-se num terreno em declive e, no ponto de menor altitude, alcança dois pavimentos. Três grandes volumes integrados são distribuídos em um partido profundo, conformando espaços generosos e de amplos pés-direitos. Acoplados a esses volumes principais estão alguns blocos secundários de menores dimensões. Ao lado esquerdo da construção está a antiga casa do ex-gerente administrativo da fábrica. A única separação física entre as duas edificações é uma escadaria em cimento rústico, que dá acesso a uma área comum de circulação. Esse espaço encontra-se num nível superior à parte mais baixa do lote, onde estão localizados galpões anexos, estruturados em madeira e com cobertura em telha de fibrocimento. Nos fundos, o terreno ganha largura e se aplana, - devido à proximidade com o Ribeirão do Lavrado - dando espaço a uma enorme área gramada, utilizada inclusive como estacionamento para ônibus. Ainda mais adiante percebe-se a presença de pavilhões, dispostos de maneira a demarcar os limites do espaço. No lado direito há um caminho cimentado para acesso de automóveis, ladeado por canteiros gramados. Há também uma pequena área edificada auxiliar, ao lado da qual está implantada uma longa chaminé com a inscrição CICA. Na região frontal do lote, a edificação encontra-se alinhada com uma larga calçada, de pavimentação em paralelepípedos de granito, utilizada como estacionamento. O fechamento é constituído por uma cerca de toras de madeira com uma tela metálica fixada, essencialmente na área de passagem de veículos, além da existência de um muro de alvenaria branco que completa a extensão do terreno pelo lado direito. A construção é formada por estrutura autoportante em alvenaria de tijolos maciços, com cintamentos a meia altura e nos coroamentos. O sistema também possui travamentos internos, através de vigas transversais e pilares com mísulas. As coberturas dos blocos são independentes, cada qual com um caimento diferente. São compostas por engradamento metálico e vedação em telha de fibrocimento. Nos compartimentos frontal e de fundos, as cumeeiras dos telhados de quatro águas são paralelas à Rua Presidente Tancredo Neves. A cobertura central também possui quatro águas, mas tem cumeeira perpendicular à via. Por último, os dois telhados intermediários restantes, são constituídos por uma água e têm linha de cumeada paralela à rua. A fachada principal, de linhas retas e quase nenhum adorno, insere a edificação na tipologia estilístico-formal do Art Déco. Apresenta módulos proporcionais, mas suas aberturas não são simétricas. O plano central - de maior altura possui um portão de madeira no sistema de correr em duas folhas, e uma janela de dimensão vertical quase duas vezes maior que a horizontal. Acima dessas aberturas encontra-se uma marquise, que marca o princípio do coroamento, onde ainda é possível observar uma antiga logomarca da CICA centralizada,
Página 41 de 141 além do próprio nome da fábrica em alto relevo. O remate acontece em platibanda formada por frisos que se assemelham a uma cornija. Os planos laterais possuem o mesmo coroamento, entretanto têm menor altura e, desse modo, quando encontram o plano central, formam uma superfície escalonada. No lado direito existem duas aberturas de janelas iguais às citadas anteriormente, tratando-se de um tipo de vão recorrente por toda a construção, podendo variar apenas a altura. São constituídas por enquadramento em alvenaria na cor branca e esquadria em reticulado de cimento vedada por vidro. No lado esquerdo, duas essas aberturas ficam contíguas à uma porta central de folha única com sistema de abrir e vedação de madeira. Pintura de quadrinhos na área interna Interior da antiga fábrica A fachada frontal é a única que possui acabamento com reboco e pintura na cor branca, enquanto as demais têm esse tipo de revestimento apenas nos elementos estruturais de travamento e nos enquadramentos das aberturas, sendo o material predominante das paredes o tijolo aparente. No interior da edificação, a declividade do terreno é vencida por uma série de escadas laterais que atravessam arrimos de tamanhos variados. A quantidade reduzida de paredes transversais contribui para a formação de um ambiente único, sendo os desníveis os responsáveis pela divisão do espaço. Em relação aos acabamentos, quando há revestimento de piso, ele é cimentado, e as paredes são pintadas em tons de amarelo e cinza. No local onde funcionam algumas repartições da prefeitura existem divisórias. No teto, o engradamento das coberturas pode ser facilmente visualizado, devido à inexistência de forros. 14. Intervenções: Ao longo do tempo, a antiga fábrica da Cica sofreu notáveis intervenções de adequação, que não causaram grande interferência na estética do edifício. Na parte externa, um galpão foi demolido para dar espaço ao parque de exposições existente na área posterior do terreno. No corpo principal da edificação, as coberturas foram trocadas e, conseqüentemente, algumas empenas laterais tiveram que ser erguidas; certas esquadrias perderam parte de suas vedações fixas, que foram substituídas por básculas. Alguns vãos foram suprimidos e outros abertos. Um bloco anexo foi construído na lateral direita, encobrindo esquadrias originais. 15. Estado de conservação: Bom 16. Análise do estado de conservação: As envoltórias da edificação encontram-se com manchas de desgaste, sujidade, lodo em pontos de infiltração e perda de material em alguns locais de encontro com as coberturas.
Página 42 de 141 Muitas esquadrias estão com vidros quebrados e algumas nem possuem mais vedação. A fachada frontal possui remendos de revestimentos inacabados. 17. Fatores de degradação: Os principais motivos para o estado de conservação diagnosticado são a exposição da edificação a intempéries como chuva e fortes variações de temperatura, além da acomodação natural da estrutura, principalmente depois de ter recebido carregamentos diferentes com as novas coberturas. 18. Medidas de Conservação: Manutenção periódica dos aspectos físicos, estruturais e compositivos da edificação; Contratação de um técnico especialista em caso de alterações estruturais e/ ou compositivas, assim como de ligações elétricas; Instalação de sistema de combate e prevenção contra incêndios, mantendo-o sempre em perfeito funcionamento; Aplicação de legislação urbana que impeça o adensamento; Manutenção da rua e da calçada. 19. Referências documentais: ENTREVISTAS: SILVA, Luiz Antônio Magalhães. Delfim Moreira, 05 de fevereiro de 2007. Entrevista concedida a Luciana Christina Cruz e Souza BIBLIOGRAFIA: FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicações técnico-científicas / Júnia Lessa França, Ana Cristina de Vasconcellos; colaboração: Maria Helena de Andrade Magalhães, Stella Maris Borges. - 7. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004. 242 p. FERREIRA, Jurandyr Pires (org.). Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1959. NASCIMENTO, Guido Gilberto. Delfim Moreira Achegas à sua formação histórica. Lorena, SP, 2002. 20. Informações complementares: - - - 21. Ficha técnica: Levantamento: Elaboração: Mariana Rabelo (arquiteta), Luciana Souza (Historiadora), Luiz Antônio Magalhães Silva (Secretário de Turismo) fevereiro de 2007. Mariana Rabelo (arquiteta), Luciana Souza (Historiadora) fevereiro e março de 2007. Revisão: Joseana Costa (arquiteta) março de 2007.