DESSECAÇÃO Preparando a semeadura. Mauro Antônio Rizzardi 1

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Transcrição:

DESSECAÇÃO Preparando a semeadura Mauro Antônio Rizzardi 1 A adoção da semeadura direta pressupõe a existência de cobertura morta, na forma de palhada. Essa cobertura morta pode ser obtida a partir da semeadura de culturas de cobertura, exclusivamente para cobrir o solo entre uma cultura econômica e outra; dos restos culturais obtidos a partir da colheita da cultura ou mesmo através da vegetação espontânea das plantas que se estabelecem em áreas não semeadas, comumente chamadas de áreas de pousio. A cobertura morta funciona como camada isolante entre a atmosfera e o solo, altera as condições de temperatura e umidade do solo, além de liberar compostos aleloquímicos que inibem a germinação das sementes ou o desenvolvimento das plântulas de determinadas espécies, conforme a cultura que forma essa cobertura morta. A manutenção de grande quantidade de palha sobre o solo proporciona pelo menos quatro benefícios ao agricultor, os quais são: proteção do solo contra a erosão, melhoria da fertilidade, aumento da população de micro e mesofauna e menor infestação de plantas daninhas. O tipo e a quantidade de resíduos vegetais presentes na superfície do solo dificultam a germinação e o estabelecimento de plantas daninhas pelo efeito físico da palhada e possíveis efeitos alelopáticos. Por exemplo, dependendo da quantidades de resíduos de trigo antecedendo a cultura de soja, os agricultores podem esperar duas vezes mais tempo para aplicar herbicidas pós-emergentes, e em outros, até suprimir o seu uso em áreas com elevadas quantidades de resíduos. No que diz respeito às plantas daninhas, a cobertura morta modifica a constituição qualitativa e quantitativa do complexo florístico que se desenvolve no terreno, por interferir no processo de quebra de dormência das sementes e pela sua ação alelopática sobre a germinação e o desenvolvimento das plântulas. A presença da palha pode reduzir a incidência de algumas espécies, 1 Eng. Agr., Dr., Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo. rizzardi@upf.br.

mas exige uma quantidade mínima de biomassa, com boa distribuição na área, o que nem sempre acontece, além de limitar o uso de herbicidas em préemergência. Para maximizar a capacidade de controle, deveriam existir quantidades de biomassa suficientes durante a fase inicial do ciclo das culturas, até haver o fechamento das mesmas (cruzamento de folhas e sistemas radiculares). Isso pode ser alcançado através do aumento da capacidade de produção de biomassa pelas culturas de cobertura, pelo uso de palhadas de degradação mais lenta, ou com o atraso na aplicação do herbicida de manejo da cobertura, quando for possível. A diversidade ou inexistência de coberturas vegetais traz como conseqüência, problemas diferenciados entre as regiões do Brasil, ou mesmo, entre lavouras dentro de uma mesma região. No sul do Brasil, antecedendo a cultura da soja, as situações que podem ocorrer são: - semeadura sobre restos culturais de culturas de inverno, como trigo e cevada; - semeadura sob culturas de cobertura no inverno como aveiapreta (Avena sativa L.) e azevém (Lolium multiflorum L.); - semeadura em áreas de pastejo animal; - semeadura em áreas de pousio de inverno. Acrescente-se a essas situações outras que ocorrem, principalmente no norte do Paraná, Centro-oeste e outras regiões do Brasil: - semeadura sob áreas de milho safrinha, onde o agricultor não semeia culturas de inverno, como o trigo, o que acarreta em amplo período de pousio entre a colheita do milho safrinha e a semeadura da soja; - semeadura sob culturas de cobertura como o milheto ou o sorgo. De forma similar ao descrito para a soja, antecedendo a cultura do milho também existem variações nas espécies de cobertura, onde no Sul do Brasil a semeadura é feita sob culturas de cobertura como a aveia, azevém, nabo forrageiro ou ervilhaca, ou no caso do milho safrinha, sob resteva da soja. Essa diversidade requer o conhecimento das diferentes alternativas de manejo e a especificidade do mesmo para cada situação. Por exemplo,

situações em que existe reduzida presença de palha, há ampliação na população e diversidade de espécies de plantas daninhas, as quais estarão com maior desenvolvimento por ocasião da semeadura da soja. DESSECAÇÃO A prática da dessecação consiste na eliminação das culturas de cobertura e das plantas daninhas antes da semeadura das culturas, utilizandose herbicidas com ação de contato ou sistêmica, mas geralmente de ação total sobre as plantas. Essa prática também é conhecida como operação de présemeadura ou de manejo. Essa prática é de fundamental importância para a semeadura direta, pois a sua realização possibilita que: - a operação de semeadura seja adequadamente realizada, pela eliminação da biomassa verde produzida pelas culturas de cobertura; - a emergência e o desenvolvimento inicial da cultura ocorra em condições mais favoráveis; - o manejo de plantas daninhas dentro do ciclo da cultura seja facilitado. As espécies daninhas presentes próximas época de semeadura das culturas, em que foram cultivados cereais de inverno, costumam ser de manejo mais simples do que nas áreas que estiverem sob pastagem ou pousio. Nas áreas ocupadas com cereais de inverno, o manejo adequado das plantas daninhas durante o ciclo da cultura resulta em baixa infestação e em plantas de menor porte, o que permite uma única aplicação de herbicida logo antes da semeadura da soja, por exemplo. Em áreas destinadas ao pastejo ou pousio de inverno, o controle das espécies daninhas deve ser realizado durante a estação de crescimento de forma que no cultivo da soja ocorra baixa infestação. Em áreas de soja a serem semeadas após o milho safrinha, ou mesmo naquelas áreas em que existam plantas daninhas de difícil

controle como buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis); poaiabranca (Richardia brasiliensis); trapoeraba (Commelina spp) e Ipomoea spp (corda de viola) deve-se adotar estratégias específicas para o controle das mesmas. Isso se deve, em geral, ao estádio avançado de desenvolvimento em que estas espécies se encontram no momento da dessecação e à realização dessa operação próxima a semeadura, quando a semeadora pode danificar as plantas, dificultando a ação herbicida. Dessa forma, essas espécies devem ser controladas durante a estação de crescimento ou com antecedência suficiente à semeadura da soja ou do milho (no caso de azevém), de forma a obter controle eficiente das mesmas DESSECAÇÃO E MATOCOMPETIÇÃO No manejo de plantas daninhas, o aspecto grau de interferência deve ser observado, tanto considerando as diferenças de competitividade entre espécies de plantas daninhas quanto às diferenças de habilidade competitiva entre cultura e plantas daninhas. Neste contexto, a época de emergência das plantas daninhas, em relação à emergência da soja, influencia a intensidade de redução de biomassa da cultura. Na emergência das plantas daninhas quatro dias antes da soja as perdas de biomassa foram de 42,4%, enquanto na emergência junto com a soja as perdas foram de 22,7%. As diferenças observadas na produção de biomassa relacionam-se ao fato de que, espécies que emergem mais cedo ganham vantagem sobre as que emergem mais tarde e tornam-se melhores competidoras por recursos do ambiente. Emergência rápida, associada à capacidade de dispersão, rápido crescimento e maturação precoce são estratégias adotadas por plantas daninhas que lhes permitem explorar mais rapidamente os espaços existentes na comunidade. Os resultados relacionados aos efeitos da época relativa de emergência culturas-ervas permitem adotar estratégias de dessecação que possibilitem à soja se estabelecer antes das ervas, o que trará grandes benefícios à cultura, diminuindo as perdas de rendimento

causadas pelas plantas daninhas. Uma das estratégias é alterar a época de semeadura em relação à dessecação da cobertura vegetal. Com o uso dessa estratégia obtém-se redução nas perdas de rendimento naquelas situações em que se faz a semeadura o mais próximo possível da dessecação. Para picão-preto e guanxuma, as perdas de rendimento mais que duplicaram quando a semeadura foi atrasada dos 3 para os 11 dias após a dessecação da cobertura vegetal. Essas diferenças de perdas de rendimento deram-se não pela dessecação em si, mas, principalmente, pelo fato de a soja ter sido semeada livre da presença de plantas daninhas, permitindo, assim, que a cultura tivesse vantagem competitiva em relação às plantas daninhas. Diferenças na época relativa de emergência afetam grandemente as habilidades competitivas de duas espécies. As primeiras plântulas a emergirem provavelmente irão apresentar maior desenvolvimento porque elas adquirem prioridade de acesso aos recursos do meio. O sucesso do uso de herbicidas pós-emergentes, como o uso de glyphosate em soja RR, depende da habilidade do produtor em determinar o momento correto de controlar as ervas. Esse momento correto relaciona-se tanto a aspectos relativos à eficácia do produto quanto ao efeito da planta daninha sobre a cultura. Sabe-se que, quanto mais desenvolvida a planta daninha maior é a dificuldade de controle, necessitando, em muitas situações, o aumento na dose do herbicida para que se obtenha o controle das plantas daninhas. ESTRATÉGIAS DE USO DA DESSECAÇÃO As estratégias para a dessecação são importantes de serem seguidas, pois elas visam proporcionar tanto a semeadura quando a emergência da cultura em um ambiente livre da presença de plantas daninhas. Estão disponíveis diferentes estratégias que podem ser adotadas na dessecação pré-semeadura das culturas:

Dessecação aplique-plante consiste na aplicação de um ou mais herbicidas imediatamente antes da semeadura. A escolha do produto ou produtos a serem usados na área normalmente é feita em função da composição florística da área e da população de ervas. Tal sistema de manejo é adotado por muitos agricultores com a finalidade de ganhar tempo e maximizar a utilização dos equipamentos disponíveis na propriedade. A dessecação aplique-plante também pode ser realizada entre sete e dez dias antes da semeadura. Essa alternativa apresenta como vantagem o tempo razoavelmente curto entre a aplicação e a semeadura, além do fato de possibilitar maior rendimento e melhores condições para o funcionamento das semeadoras de plantio direto. Nesta situação, pode-se incluir o uso do herbicida 2,4-D, pois devido a possibilidade de provocar danos à cultura da soja, não deve ser aplicado em intervalo de tempo inferior a 10 dias antes da semeadura da cultura. Dessecação seqüencial compreende a aplicação antecipada em relação a semeadura de um herbicida sistêmico não seletivo, complementada com a aplicação de outro herbicida de contato ou sistêmico, um a dois dias antes da semeadura da cultura. A primeira aplicação deverá ser realizada por volta de 20 dias antes da semeadura, podendo variar em função das condições climáticas e de infestação da área. Normalmente, este tipo de manejo é indicado para infestações elevadas; de plantas bem desenvolvidas ou de difícil controle. Neste sistema, a primeira aplicação possibilita eliminar a cobertura proporcionada pelas plantas de maior estatura, porém, de maneira geral não possibilita o controle daquela vegetação mais rasteira, protegida pela vegetação mais alta. Para o controle dessa vegetação, ou mesmo de plantas oriundas de um novo fluxo de emergência, é realizada uma segunda aplicação de manejo. Essa aplicação possibilita a semeadura no limpo, imediatamente após a sua aplicação, e também complementa o controle propiciado pela primeira dessecação através da eliminação de eventuais rebrotes ou mesmo de plantas que escaparam ao controle. Dessecação pós-emergência da soja Com o advento da transgenia, e a disponiblização de cultivares de soja resistentes ao herbicida glifosato, os agricultores, principalmente do Rio Grande do Sul, passaram a não realizar a

dessecação pré-semeadura, apostando na aplicação em pós-emergência da soja. A adoção desta prática somente é recomendada para aquelas situações de resteva de culturas de inverno, como o trigo, que, por ocasião da semeadura não existam plantas daninhas emergidas. Este tipo de manejo deve ser desestimulado, principalmente nas áreas com infestação de plantas daninhas, já que pode ocorrer perda expressiva na produtividade de grãos devido à interferência que elas causam à cultura. HERBICIDAS RECOMENDADOS Os herbicidas indicados para a operação de manejo pré-semeadura são: Amônio glufosinato Herbicida não seletivo de contato, inibidor da enzima glutamina sintase, a qual é importante na rota metabólica de incorporação do nitrogênio inorgânico. As plantas, principalmente dicotiledôneas, morrem pelo acúmulo de amônia no interior da célula. Não possui efeito residual no solo, podendo ser aplicado antecedendo tanto a cultura da soja quanto do milho. Pelo fato de não ser translocado podem ocorrer rebrotes quando aplicado em plantas desenvolvidas. Carfentrazone Herbicida seletivo para as culturas da soja e do milho, inibidor da protoporfirinogênio oxidase (Protox). Herbicida de contato que controla espécies dicotiledôneas, principalmente em estádios iniciais. De maneira geral seu uso ocorre em associação com glifosato. Clorimuron-etil Herbicida sistêmico seletivo para a cultura da soja, pertencente ao grupo das sulfoniluréias. Herbicidas desse grupo afetam a enzima Acetolactato sintase (ALS), a qual media a reação de síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. Usado, em mistura com glifosato, para complementar o controle de plantas daninhas de difícil controle, como buva. Nesta situação de uso possui restrições no controle de plantas de buva com mais de 20 cm de estatura, além de apresentar variações nos graus de controle entre anos e locais. Outra característica do produto é que, nas doses

em que é utilizado na dessecação, 50 a 90 g ha -1, apresenta efeito residual, suprimindo o desenvolvimento de algumas espécies daninhas. 2,4-D Herbicida sistêmico não seletivo para a cultura da soja, que atua como mimetizador da auxina. O herbicida 2,4-D age, nas plantas dicotiledôneas sensíveis, da mesma forma que as auxinas naturais, porém como são aplicados em doses maiores que os reguladores de crescimento, apresentam ação herbicida nas plantas da classe das dicotiledôneas. Seu uso é bastante antigo na operação de dessecação, para as culturas da soja, milho e trigo, entre outras. Nesta opção de uso, deve-se considerar o intervalo mínimo entre a utilização do produto e a semeadura da cultura. Em geral, este período é de 5 a 10 dias, dependendo da cultura e das condições ambientais ocorrentes após a aplicação do herbicida. Glifosato Herbicida sistêmico, eficiente no controle de espécies monocotiledôneas e várias espécies dicotiledôneas. O herbicida atua na enzima EPSPs, impedindo a formação dos aminoácidos triptofano, fenilalanina e tirosina. É um herbicida não seletivo, que as plantas não degradam rapidamente; no solo, a degradação é realizada por microorganismos. Embora não seja seletivo, existe variação considerável na quantidade de produto necessária para controlar várias espécies de plantas daninhas, pois algumas espécies são de mais difícil controle pelo glifosato, como corda de viola, poaia e trapoeraba. Essa deficiência pode se dever à dificuldade do produto em penetrar na planta, em razão das camadas cerosas das folhas, e/ou de translocar-se. Atualmente existem espécies de plantas daninhas resistentes a esse herbicida, como: azevém, buva e leiteira (Euphorbia heterophylla) Metsulfuron-metil - Herbicida sistêmico, pertencente ao grupo das sulfoniluréias. Herbicidas desse grupo afetam a enzima Acetolactato sintase (ALS), a qual media a reação de síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. Sua utilização em dessecação se restringe a aplicações antes da semeadura de cereais de inverno, como o trigo, e àquelas áreas em que se

respeite o intervalo de 60 dias entre a aplicação e a semeadura da soja e, 30 dias entre a aplicação e a semeadura do milho. A sua utilização passou a ocorrer em função do seu controle sobre buva, associado a custo baixo do produto. Paraquat + Diuron Compreende a mistura pré-formulada de herbicidas do grupo dos bipiridilios e uréias substituídas. Herbicida não seletivo de ação não sistêmica. Usado no sistema seqüencial de dessecação, na complementação do controle e na eliminação de plantas jovens, emergidas após a primeira dessecação. Possui ação rápida na planta, mas restringe-se a plantas nos estádios iniciais de desenvolvimento. Saflufenacil Herbicida de contato, inibidor da Protox. Possui amplo espectro de controle de espécies dicotiledôneas. Recomendado para o uso na dessecaçã9o pré-semeadura de culturas, dentre as quais destacam-se a soja, milho, trigo e arroz.

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE POSSÍVEIS MANEJOS Manejo de plantas daninhas em soja Semear no limpo, retardar ao máximo a emergência e crescimento das espécies daninhas e favorecer a emergência e crescimento da cultura - 5-4 - 3-2 - 1 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 Semanas em relação a semeadura

SUGESTÕES DE MANEJO Áreas sob pousio; pastagem e após milho safrinha - 5-4 - 3-2 - 1 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 Semanas em relação a semeadura SUGESTÕES DE MANEJO Resteva de trigo - 5-4 - 3-2 - 1 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 Semanas em relação a semeadura