UM SISTEMA SIMPLES PARA MEDIÇÃO DE IMPEDÂNCIA ELÉTRICA DE TRANSDUTORES PIEZELÉTRICOS FRANCISCO J. ARNOLD



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Transcrição:

UM SISTEMA SIMPLES PARA MEDIÇÃO DE IMPEDÂNCIA ELÉTRICA DE TRANSDUTORES PIEZELÉTRICOS FRANCISCO J. ARNOLD Divisão de Telecomunicações, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Campinas R. Paschoal Marmo, 1888, Jd. Nova Itália, 13484-332, Limeira-SP, Brasil E-mails: arnold@ft.unicamp.br RODRIGO L. XIMENES, RANGEL ARTHUR, TALIA S. SANTOS Divisão de Telecomunicações, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Campinas R. Paschoal Marmo, 1888, Jd. Nova Itália, 13484-332, Limeira-SP, Brasil E-mails: ximenes@ft.unicamp.br, rangel@ft.unicamp.br, talia@ft.unicamp.br Abstract Measurements of electric impedance is one of the most important procedures for the characterization of piezoelectric transducers and application on structural health monitoring. In this work, we present a simple system for measuring impedance modula of piezoelectric transducer used in high power applications. The system is based on voltage and current peak detection. Levels of current are acquired using a current sensor performed on the frequency range of interest. Frequency range is determined by a digital potenciometer that tunes a monolithic function generator. The system is controlled by a microcontroller. The microcontroller communicates with a personal computer where results are stored and showed in LabView interface. The validation of the methodology has been performed using comparison of experimental results obtained from the system and from a commercial impedance analyser. The results show that the proposed system can measure satisfactorily impedances between decades of Ω and kω in a frequency range up to 43 khz. Keywords piezoelectric, transducer, impedance, microcontroller, LabView. Resumo A medição da impedância elétrica é um dos procedimentos fundamentais para a caracterização de transdutores piezelétricos e aplicações de monitorização de integridade estrutural. Neste trabalho é apresentado um sistema simples para medir o módulo das impedâncias de transdutores piezelétricos usados em aplicações de potência elevada. Este sistema é baseado na captação dos valores de pico de tensão e corrente. Os níveis de corrente são captados por um sensor de corrente em uma faixa de frequências de interesse. A faixa de frequências é determinada por um potenciômetro digital que sintoniza um gerador de funções monolítico. O sistema é controlado por um microcontrolador. O microcontrolador se comunica com um computador no qual se permite armazenar e mostrar resultados numa interface de LabView. A validação da metodologia foi feita pela comparação de resultados experimentais obtidos pelo sistema e por um analisador de impedâncias comercial. Os resultados mostram que o sistema proposto pode medir satisfatoriamente impedâncias entre décadas de Ω e kω numa faixa de frequências de até 43 khz. Palavras-chave piezoelétrico, transdutor, impedância, microcontrolador, LabView. 1 Introdução Transdutores piezelétricos são utilizados em uma vasta gama de aplicações. O conhecimento da curva da impedância elétrica é uma das características fundamentais desses dispositivos com a qual se permite determinar parâmetros físicos e, com isso, viabilizar o desenvolvimento de projetos de transdutores. Com o uso de modelos simplificados que determinam a impedância elétrica de um dispositivo piezelétrico, em que se toma por base as medições das frequências de ressonância e antiressonância e a capacitância intrínseca do dispositivo, pode-se determinar um conjunto de parâmetros físicos de um ressonador piezelétrico ou seu circuito elétrico equivalente (ANSI/IEEE, 176, 1987). A curva do módulo da impedância em função da frequência é suficiente para se extrair todos os parâmetros necessários para o cálculo dos componentes do circuito elétrico equivalente. Além da metodologia baseada em circuitos elétricos equivalentes, há também métodos numéricos onde dados experimentais provenientes da curva do módulo da impedância elétrica são ajustados a dados simulados de modelos matemáticos (Kwok et al., 1997; El Nachef et al., 1992; Sherrit et al., 1992, Pérez et al., 2010). A aplicação de qualquer um desses métodos passa pelo levantamento experimental de valores das impedâncias ou admitâncias dos dispositivos piezelétricos. Sendo assim é imprescindível que se disponha de um equipamento para a determinação experimental das impedâncias. A determinação experimental da impedância elétrica de dispositivos piezelétricos é feita com grande precisão por analisadores de impedância. Todavia, tomando como exemplo o analisador de impedâncias da Hewlett-Packard (HP4294A), estes equipamentos são caros, volumosos e pesados, consequentemente, sua utilização em ambientes industriais, em aplicações de monitoração de integridade estrutural (structural health monitoring SHM) e, sobretudo, em laboratórios de ensino ou com poucos recursos não é viável. Schmid (Schmid et al., 1990) apresentou uma metodologia para essas medições e citou técnicas 1712

possíveis para sua realização. Doerner (Doerner et al., 2007) desenvolveu um sistema para medições de impedâncias de ressonadores piezelétricos em banda larga de frequências priorizando o processamento de sinais com FPGAs e minimizando o uso de componentes analógicos. A monitoração de integridade estrutural (structural health monitoring SHM) é outra aplicação na área de engenharia em que sensores piezelétricos são fixados em estruturas de concreto e, a partir de variações na assinatura elétrica da impedância, se pode detectar falhas. Encontram-se na literatura trabalhos voltados a determinação de impedância. Peairs et al. (Peairs et al. 2002), apresentaram um método baseado em um divisor resistivo formado pelo dispositivo piezelétrico e um resistor shunt e a determinação da FFT da taxa entre as tensões de entrada e saída. Baptista e Vieira Filho (Baptista, Vieira Filho, 2009) empregaram também um divisor resistivo e, a partir da resposta em frequência, obtiveram a impedância do dispositivo piezelétrico com precisão. Wang e You (Wang, You, 2008) usaram uma técnica baseada em um circuito ponte balanceada por um potenciômetro digital e alimentada por pulsos quadrados. Atualmente, os autores deste trabalho estão desenvolvendo um sistema para acionamento elétrico de transdutores piezelétricos de potência, que seja simples, portátil e robusto. Este sistema é constituído por um circuito gerador de sinais, por um amplificador de potência e por uma malha que monitora informações elétricas do transdutor e corrige, quando necessário, as frequências de operação do mesmo. O primeiro estágio deste sistema tem a finalidade de identificar a frequência de operação que se deseja utilizar no transdutor. Dessa forma, é necessário incorporar ao sistema um medidor de impedâncias elétricas, que é o objeto deste trabalho. Este trabalho visa apresentar o desenvolvimento de um protótipo de medidor do módulo das impedâncias elétricas para dispositivos piezelétricos na faixa de dezenas de khz, de baixo custo e que forneça resultados com precisão satisfatória para permitir a identificação de uma frequência inicial de operação dos transdutores piezelétricos. A forma de determinação mais simples e mais disseminada da impedância de qualquer dispositivo eletrônico emprega um divisor resistivo (Dally et al., 1984). A Figura 1 ilustra o circuito usado para aplicar este método. Uma fonte de tensão com frequência ajustável é conectada ao transdutor (T) que se deseja determinar a impedância e a um resistor shunt (Rs) ligado em série. Com um osciloscópio pode-se medir a tensão aplicada V (canal CH1) e a tensão no shunt (canal CH2), proporcional a corrente no circuito. Com essas medições é possível determinar o módulo da impedância do dispositivo. Figura 1. Circuito para determinação de impedância de um transdutor (T) usando um divisor resistivo. Todavia, quando se trata de determinar o módulo das impedâncias de dispositivos piezelétricos as variações desta, próprias desse elementos, entre a ressonância e a anti-ressonância, tornam essa medida nem sempre fácil de ser realizada, uma vez que os níveis de corrente podem variar consideravelmente. Visando contornar este problema, neste trabalho optou-se por utilizar um sensor de corrente em substituição ao shunt. Com esse procedimento, nos terminais de saída do sensor será obtida uma tensão, proporcional à corrente, que excursione por uma faixa adequada para o processamento em sequência. 2 Descrição do sistema O diagrama de blocos do sistema é apresentado na Figura 2. Figura 2. Diagrama de blocos do sistema automatizado de medição de impedância elétrica. O princípio utilizado na concepção do protótipo que desenvolvemos consiste em usar um gerador de funções monolítico como fonte de tensão (circuito integrado XR2206, fabricado pela Exar). A saída deste gerador de funções é amplificada com um amplificador de corrente associado (Amp1) para aplicar um sinal no dispositivo em teste (Z L ). Z L é conectado em série ao primário de um sensor de corrente (LA25NP-SP14, fabricado pela LEM), que converte a corrente em uma tensão a ser amplificada pelo amplificador Amp2. Os sinais amplificados de Amp1 e Amp2 são enviados a detectores de pico. Os sinais analógicos dos valores de pico, proporcionais a tensão aplicada e a corrente no transdutor, são convertidos em sinais digitais pelos conversores A/D de um microcontrolador PIC18F4550 (Microchip). 1713

Este microcontrolador se comunica, por SPI (Serial Peripheral Interface), com um programa de computador desenvolvido com Labview (National Instruments). O Labview recebe os dados processados pelo sistema, exibe-os em tempo real em uma interface com o usuário e organiza-os em um arquivo a ser exportado para outros softwares. As características de processamento específicas do sistema, descritas a seguir, são coordenadas tanto pelo programa armazenado no microcontrolador, como naquele implementado no LabView. A configuração do circuito integrado (XR2206) para geração de ondas senoidais é mostrada na Figura 3. Os valores dos componentes utilizados no circuito da Figura 3 são: R1=220Ω, R2=2 50kΩ (potenciômetros digitais), R3=3,3kΩ, R4=R5=51kΩ, R6=100kΩ (trimpot), C1=100nF, C2=3,9nF, C3=1µF, C4=10µF e Vcc=5V. O controle de frequência de operação do XR2206 é definido pelo valor de uma resistência de um potenciômetro digital. A interface do Labview permite escolher a faixa de varredura de frequências do sinal a ser provido pelo gerador de sinais e controla e sincroniza o potenciômetro digital, para a definição da frequência do sinal gerado pelo XR2206. Para ajuste da frequência foram utilizados 2 potenciômetros digitais (MAX5497, fabricado pela Maxim Integrated) de 50 kω ligados em série. O amplificador Amp1, na configuração inversora e com booster de corrente (Pertence, 1996), é responsável por amplificar a tensão proveniente do XR2206 e ampliar sua capacidade de geração de corrente. Esta amplificação de corrente torna-se importante, uma vez que o sinal de tensão fornecido ao dispositivo piezelétrico deve conservar-se íntegro nas proximidades da ressonância, onde sua impedância atinge valor mínimo. O diagrama esquemático deste amplificador é mostrado na Figura 4. Figura 3. Configuração do circuito integrado XR2206 para geração de sinais senoidais. Figura 4. Amplificador de tensão e corrente do sinal fornecido pelo gerador de funções XR2206. Os valores dos componentes utilizados no circuito da Figuras 4 são: R1=10kΩ, R2=18kΩ, R3=1,0kΩ, R4=560Ω, Q1 = BD135, OpAmp = CA3140. A alimentação deste circuito é simétrica: ±15V. O amplificador Amp2 é responsável por amplificar o sinal fornecido pelo sensor de corrente. O circuito de Amp2 é mostrado na Figura 5. Foi utilizado um amplificador operacional CA3140 na configuração inversora (Pertence, 1996). Um filtro passa-baixas RC de primeira ordem é utilizado na saída deste amplificador para reduzir os ruídos de alta frequência presentes no sinal fornecido pelo sensor, que se intensificam quando este mede correntes de baixa amplitude. Figura 5. Circuito do amplificador do sinal fornecido pelo amplificador de corrente. Os valores dos componentes do circuito da Figura 6 são: R1=1kΩ, R2=100kΩ, CI1=CA3140. A alimentação deste circuito é simétrica: ±15V. Após ser definida uma frequência de teste, os sinais de saída captados nos amplificadores Amp1 e Amp2 são amostrados. Cada uma dessas tensões tem seu valor de pico detectado e enviado para 2 conversores analógico/digital (CAD) do microcontrolador PIC. O circuito de detecção de pico (Horowitz, Hill, 1989) é apresentado na Figura 6. A configuração escolhida para o detector de pico apresenta baixa corrente de fuga, que acaba sendo um problema maior quando a tensão de entrada diminui e satura CI1 negativamente. 1714

aplicando um pulso de 5 V no gate do MOSFET (terminal de reset na Figura 6). ligado em paralelo com o capacitor. Em seguida, uma nova frequência é gerada e o processo de medição é retomado. 3 Metodologia de testes Figura 6. Circuito do detector de pico. Os valores dos componentes do circuito da Figura 6 são: R1=47kΩ, R2=1kΩ, R3=47Ω, R4=1MΩ, C1=470µF, D1=D2=1N4148, CI1=CI2=CA3140, Q1=BS170. A alimentação deste circuito é simétrica: ±5V. O microcontrolador temporiza todas as aquisições de sinais, realizando as funções de controle dos conversores A/D e descarregamento dos capacitores dos detectores de pico. Os sinais provenientes do conversores A/D do microcontrolador são enviados ao LabView, onde se realiza a conversão das bases (binária para decimal) e se executa o cálculo da impedância de acordo com a Equação 1. v Z L = k v A B (1) Na Equação 1, v A e v B são as tensões nas saídas de Amp1 e Amp2, respectivamente; e k é um fator de calibração. Os resultados obtidos são armazenados em arquivos e mostrados, na forma gráfica do LabView, numa interface com o usuário. Na Figura 7 é mostrada a interface do usuário desenvolvida no LabView. O eixo horizontal da Figura 7 indica o número de leituras realizadas na faixa de varredura de frequência previamente definida pelo usuário. Para testar o sistema foram utilizados vários transdutores piezelétricos de potência comerciais. O modo de vibração mais importante desses transdutores situa-se na faixa de dezenas de khz, sendo que os valores comerciais mais conhecidos estão entre 20 e 40 khz. Os transdutores para aplicações em potências elevadas, geralmente, possuem fatores Q elevados e os valores do módulo das impedâncias variam consideravelmente entre dezenas de Ω e de kω. Os transdutores piezelétricos foram apoiados em estruturas mecânicas apropriadas visando minimizar os efeitos dos seus contatos mecânicos com outras peças e, dessa forma, não influenciar as medidas elétricas. A validação do sistema foi realizada tomando-se como referência os resultados experimentais obtidos com um analisador de impedâncias HP4294A. 4 Resultados e Discussão Os resultados são apresentados nas Figuras 8 a 10. Nessas figuras, os traços contínuos em preto foram obtidos com o analisador de impedâncias HP4294A. Todas as varreduras com o HP4294A possuem 200 pontos (frequências). Os resultados obtidos com o sistema desenvolvido estão representados por traços azuis. Figura 8. Módulo da impedância em função da frequência de um transdutor ultrassônico de potência com ressonância de 25 khz aproximadamente, fabricado pela UCE Ultrasonic Co. Ltda, China. Figura 7. Interface visual do LabView com um exemplo de curva de impedância de um transdutor piezelétrico determinada pelo sistema desenvolvido. Ao final de cada leitura, o microcontrolador descarrega os capacitores dos detectores de pico 1715

Figura 9. Módulo da impedância em função da frequência de um transdutor ultrassônico de potência com ressonância de 27 khz aproximadamente, fabricado pela UCE Ultrasonic Co. Ltda, China. Figura 10. Módulo da impedância em função da frequência de um transdutor ultrassônico de potência de 37 khz fabricado pela ATCP - Engenharia Física São Carlos SP, Brasil. A varredura de frequências realizadas pelo sistema desenvolvido não se dá em passos uniformemente espaçados. O potenciômetro digital apresenta resistência discretizada linearmente, porém o ajuste de frequências do XR2206 não é linear. Sendo assim, na configuração atual deste sistema, nas frequências inferiores o espaçamento entre as medições se dá em intervalos menores, gerando maior quantidade de informação. A utilização do sensor de corrente permitiu medir impedâncias entre dezenas de Ω e kω. Testes usando resistores shunt conduziram a maiores dificuldades de calibração do sistema, quando considerada a faixa de variações de impedância típicas dos transdutores piezelétricos de alta potência. Consequentemente, restringindo as medições a um intervalo mais restrito de impedâncias que não atende às necessidades das aferições de transdutores piezelétricos destinados a operações em potências elevadas. A resistência elétrica dos shunts é, normalmente, considerada pequena (inferior a 200Ω). Tal condição leva a algumas limitações de operação apontadas por Baptista e Vieira Filho (Baptista e Vieira Filho, 2009). Todavia, sobretudo, devido às largas variações do módulo de impedância dos transdutores piezelétricos de alta potência, a diferença de potencial obtida, proporcional à corrente no circuito, conduz a situações extremas para a amplificação dos sinais: a) o amplificador necessitaria ter elevado ganho nas frequências próximas da anti-ressonância, além de um eficiente processo de filtragem devido ao inerente aparecimento de ruídos, pois as correntes nestas frequências seriam muito reduzidas; b) o amplificador seria levado à saturação em frequências próximas da ressonância, como consequência do aumento das correntes. A calibração do sistema deve levar em conta a conversão de corrente para tensão, inerente ao sensor de corrente, e os ganhos de tensão produzidos por Amp1 e Amp2. Foram utilizados dispositivos com impedâncias conhecidas para se definir o fator de calibração adequado. Este fator calibração foi implementado no programa feito em LabView. A calibração do sistema é fator fundamental para a ampliação da faixa de medições das impedâncias. Nas proximidades da frequência de ressonância, devido ao aumento da corrente, a tensão de saída em Amp2 se eleva podendo gerar distorções do sinal e provocar imprecisões na leitura. De modo contrário, nas proximidades da anti-ressonância, a corrente se torna pequena e, com isso, a saída de Amp2 assume amplitudes reduzidas, as quais não podem ser detectadas pelos circuitos utilizados com precisão. O sistema desenvolvido permitiu varreduras de frequência na faixa de 4,5 a 43 khz. A ampliação da faixa de resposta em frequência é possível. Para isso, basta configurar o XR2206 com outros valores de potenciômetros digitais. Para frequências superiores a 100 khz é recomendável a substituição dos amplificadores operacionais empregados nos diferentes módulos do sistema por outros com resposta em frequência mais larga. O sensor de corrente utilizado opera baseado em conversão de tensão elétrica em uma corrente que circula pelo seus terminais de entrada. A resistência elétrica do sensor é menor que 0,745 Ω, muito inferior aos valores assumidos pelo módulo da impedância dos transdutores piezelétricos na faixa de frequencias considerada. Dessa forma, a queda de tensão devida à resistência elétrica do sensor é desprezível e a corrente que circula pelo indutor induz tensões que podem ser amplificadas internamente no próprio circuito. A entrada do sensor apresenta uma indutância, L p, de aproximadamente 0,5 mh. Portanto, se o dispositivo em teste apresentar uma capacitância resultante que ressoe com L p dentro da faixa de frequências de operação, deverá ocorrer saturação de Amp2 e insucesso nas medições. Além disso, é esperado que para frequências mais elevadas o efeito da reatância indutiva do sensor torne-se importante e gere diferenças de valores nesta faixa. Este efeito foi constatado nos resultados apresentados na Figura 10. Na Figura 10 observa-se uma maior discrepância de valores numa faixa de frequências superiores a 35 khz. Esta discrepância se deve a efeitos da reatância indutiva que aumenta em frequências mais elevadas e representa um fator limitante para o emprego de um 1716

sensor de corrente. Por conta disso, nosso sistema tem sua frequência máxima de operação em 43 khz. Um fator de calibração é utilizado para compensar os efeitos indutivos em frequência. Portanto, a utilização do sensor de corrente, apesar de facilitar as medições, impõe limitações, em termos de resposta em frequência, ao sistema desenvolvido. Pequenos desvios de frequência são verificados nos resultados comparativos apresentados nas Figuras 8 e 9. Essas diferenças podem ser justificadas por diferenças de calibração e resolução entre os equipamentos de medição e por efeitos de posicionamento do transdutor perante os circuitos de aferição das curvas. 5 Conclusão Os resultados apresentados mostram que o sistema desenvolvido realiza medições da magnitude da impedância elétrica de transdutores piezelétricos satisfatoriamente respeitando-se as limitações discutidas. Os resultados obtidos encontram-se razoavelmente ajustados com os valores de referência advindos de um analisador de impedâncias comercial. O sistema desenvolvido atende às necessidades de varredura preliminar, visando a determinação da frequência de operação do transdutor, do acionador de transdutores piezelétricos de potência em desenvolvimento. Uma vez que, em aplicações de potência elevada com transdutores piezelétricos excitados por amplificadores classe D, a carga (transdutor e filtro) deve possuir natureza indutiva para proteção dos circuitos de potência, a inserção de um sensor com características indutivas contribui para esta finalidade. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo 07639-4, pelo apoio financeiro dado ao projeto. Doerner, S., Schneider, T. and Hauptmann, P. R. (2007), Wideband impedance spectrum analyzer for process automation applications, Review of Scientific Instruments, vol. 78; 105101. Kwok, K., Chan, H. and Choy, C. (1997), Evaluation of the Material Parameters of Piezoelectric Materials by Various Methods. IEEE on Transactions on Ultrasonics, Ferroelectrics and Frequency Control, vol.44(4); pp.733-742. El Nachef, S., Brissaud, M. and Noterman, D. (1992), Limitations du modèle de Mason pour l identification des parameters complexes des céramicques piézoélectriques. Acustica, vol. 76; pp.209-223. Horowitz, P. and Hill, W. (1989). The Art of Electronics, Cambrigde University Press, New York - USA. Peairs, D. M., Park, G. and Inman, D. J. (2004), Improving Accessibility of the Impedance-based Structural Health Monitoring Method. Journal of Intelligent Material Systems and Structures. Vol.15; pp. 129-139. Pérez, N., Andrade, M. A. B., Buiochi, F. and Adamovski, J. C. (2010), Identification of Elastic, Dielectric, and Piezoelectric Constants in Piezoceramic Disks, IEEE on Transactions on Ultrasonics, Ferroelectrics and Frequency Control, vol.57(12); pp.2772-2783. Pertence, A. (1996). Amplificadores Operacionais e Filtros Ativos, Makron Books, 5ª Ed., São Paulo Brasil. Sherrit, S., Wiederick, H. and Mukherjee, B. (1992), Non-interative evaluation of the real and imaginary material constans of piezoelectric resonantors. Ferroelectrics, vol.134; pp.111-119. Schmid, M., Benes, E. and Sedlaczek, R. (1990), A computer-controlled system for the measurement of complete admittance spectra of piezoelectric resonantors. Measurements Scientific Technology, Vol.1; pp. 970-975. Wang, S. and You, C. (2008), A Circuit Design for Impedance-based Structural Health Monitoring. Journal of Intelligent Material Systems and Structures. Vol.19; pp. 1029-1040. Referências Bibliográficas ANSI/IEEE (1987) Standard on Piezoelectricity 176. Baptista, F. G. and Vieira Filho, J. (2009), A New Impedance Measurement System for PZT-based Structural Health Monitoring. IEEE Transactions on Intrumentation and Measurements, vol. 58(10); pp. 3602-3608. Dally, J. W., Riley, W. F. and McConnell, K. G. (1984). Instrumentation for Engineering Measurements, John Wiley & Sons, New York - USA. 1717