O Voto Facultativo e a PEC 61/2016

Documentos relacionados
Direitos Políticos Ativos Capacidade Eleitoral Ativa: sufrágio, voto e escrutínio. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ELEITORAL. Alistamento Eleitoral e Resolução TSE n.º /03. Prof. Roberto Moreira de Almeida

Direito Constitucional

DIREITOS POLITICOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS

IUS RESUMOS. Direitos Políticos. Organizado por: Samille Lima Alves

DIREITOS POLÍTICOS. Introdução

/FACE: 1

CURSO FORMAÇÃO CIDADÃ DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS POLÍTICOS E SISTEMAS ELEITORAIS (ARTS 14 AO 17)

Direito. Constitucional. Direitos Políticos

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2017

CURSO FORMAÇÃO CIDADÃ DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. Victor Barau

Aula 17. Direitos Individuais: Direitos da Nacionalidade e Direitos Políticos

DIREITO ELEITORAL. Direitos Políticos Direitos Políticos Passivos - Capacidade Eleitoral Passiva: Condições de Elegibilidade

DIREITO CONSTITUCIONAL

Os Direitos Políticos na CF/88 Parte II

Aula nº 02 (Direitos Políticos)

Revogação do mandato do Presidente. Pode?

11/07/2017 DIREITOS POLÍTICOS CONCEITO NACIONALIDADE X CIDADANIA

O processo administrativo foi encaminhado à. signatária para exame.

Questões Aula 2 Constituição Federal Profª Alessandra Vieira

CIDADANIA Direitos políticos e sufrágio

CF/88 - CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL DE 1988

São instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania popular (poder de cada membro da sociedade estatal de escolher os seus

Dr. NEY GUTEMBERG MAIA COSTA BONFIM OAB/BA advogado TEMA: DIREITO ELEITORAL ELEITOR

Justiça Eleitoral. Eleição Suplementar de Itatinga - 1º Turno Resultado da totalização ITATINGA

ww.concursovirtual.com.b

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 94, DE 2015

Democracia e Sistema Eleitoral Brasileiro

DIREITO ELEITORAL. Diplomação dos Eleitos. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Direitos políticos. Introdução. Previsão normativa. Exercício da soberania popular

Cotas para mulheres?

Reforma (Emendas e Revisão) e Mutação da Constituição

DIREITO ELEITORAL. Sistemas Eleitorais Sistema Majoritário e Sistema Proporcional. Prof. Roberto Moreira de Almeida

DIREITO ELEITORAL (TJ-MG / JUIZ / FUNDEP / 2014)

PROFESSOR ALI MUSTAPHA ATAYA

Observação: Os trechos destacados da cor azul são trechos retirados literalmente do código eleitoral.

EDITAL DE ELEIÇÃO DOS CENTROS ACADÊMICOS DO INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS RIO VERDE

DIREITO ELEITORAL. UNIDADE 1 Direito Eleitoral Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15/07/1965)

NACIONALIDADE. Em qualquer hipótese, a nacionalidade deverá ser requerida pelo estrangeiro.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ ELEITORAL DA 159.ª ZONA ELEITORAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE:

DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS POLÍTICOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Instituições de Direito Profª Mestre Ideli Raimundo Di Tizio p 42

Sistema Político Brasileiro, Democracia e Sistema Eleitoral

Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Direito Constitucional - 40 Professor(a): Marcelo Tavares Monitor(a): Beatriz Moreira Leite Aina

Catalogação na Publicação (CIP)

DAS ELEIÇÕES. SISTEMA ELEITORAL (arts. 82 a 86; 105 a 113 do CE)

19/08/17. Atualidades. Projeto de Reforma Política. Prof. Grega

1. DIREITOS POLÍTICOS (art. 1o, II; artigos 14 a 17, da CF) ESPÉCIES: DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

Direito Constitucional

A distância entre o sonho e a conquista chama-se ATITUDE!

VOTO NULO NÃO ANULA ELEIÇÃO

Direitos políticos encarnam o poder de que dispõe o indivíduo para interferir na estrutura governamental, através do voto.

João Paulo Oliveira. Direito Eleitoral. 5ª edição Revista, ampliada, atualizada

DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI BIÊNIO 2015/2016 TITULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Curso/Disciplina: Direito Eleitoral. Aula: Bibliografia. Cidadania. Soberania Popular. Professor (a): Bruno Gaspar Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

REGULAMENTO DAS ELEIÇÕES PARA O COLEGIADO DO DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS E CONSELHO DEPARTAMENTAL CAPÍTULO I DA FINALIDADE

A IMPORTÂNCIA DO VOTO DA PESSOA IDOSA NAS ELEIÇÕES DE 2018

CAPÍTULO I DA FINALIDADE

Esclarecimentos sobre o acto eleitoral para quem vota no estrangeiro

Tribunal Regional Eleitoral da Bahia

Edital de eleição do diretório acadêmico da UEPA Castanhal DACAST

DIREITO ELEITORAL. Alistamento Eleitoral Alistamento Eleitoral e Resolução-TSE Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A DAR PARECER ÀS PROPOSTAS DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO RELACIONADAS À REFORMA POLÍTICA (PEC 182, DE 2007, E APENSADAS)

Aula nº 03 (Direitos Políticos)

C A R G O R E I T O R DOCENTE TA DISCENTE % TOTAL OBTIDO % VOTOS VÁLIDOS Situação ,42

Curso/Disciplina: Direito Eleitoral Aula: Direito Eleitoral - Exercícios 02 Professor : André Marinho Monitor : Virgilio. Aula 02 EXERCÍCIOS

DIREITO ELEITORAL. Infidelidade Partidária. Coligações Partidárias. Cláusula de Desempenho. 2ª Parte. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

PORTARIA IME n.º 502 de 12 de março de 1997

TORRES PARECER Nº, DE

PORTARIA IEE Nº D007/2015

As propostas da Reforma Política que pode ser votada na Câmara em abril

Continuando o conteúdo que vimos no início da semana 3, vamos estudar a medida provisória e as leis de iniciativa popular.

DIREITO CONSTITUCIONAL

ELEIÇÕES 2016 O QUE VOCÊ PRECISAR SABER

Cidadania e voto: breve discussão

EDITAL N o 004/ DA FINALIDADE

Evolução da Disciplina. Direito Constitucional CONTEXTUALIZAÇÃO INSTRUMENTALIZAÇÃO

Resumo de Direito Eleitoral parte constitucional

Aula 10 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

EDITAL PARA ELEIÇÃO DO CENTRO ACADÊMICO DE PSICOLOGIA - Capsi-2017 (CA)

Sumário CAPÍTULO 1 - DEMOCRACIA Democracia: conceito e história

DIREITO ELEITORAL. Eleições Lei 9.504/97 Disposições Gerais e Coligações. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Olá Prezados(as) Alunos(as) e Concurseiros!!

IUS RESUMOS. Características e funções da Justiça Eleitoral. Organizado por: Samille Lima Alves

DIREITO CONSTITUCIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA CAMPUS DE VITÓRIA DA CONQUISTA BAHIA

Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE RONDÔNIA

Direito Constitucional

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Piauí - CRMV-PI

Anexo I FICHA DE INSCRIÇÃO Chapa candidata no processo eleitoral do Grêmio Estudantil IFRO Campus Colorado do Oeste Gestão 2014/2015

Direitos políticos. Conceitos fundamentais. Direitos políticos positivos. Direitos políticos positivos e direitos políticos negativos.

Portaria EE nº 02/2019, de 06/02/2019 PORTARIA

REGULAMENTO DA ELEIÇÃO DOS REPRESENTANTES DO CONSELHO CONSULTIVO REFERIDOS NAS ALS. D) A F) DO N.º 2 DO ART. 109.º DA LEI N. 26.º, N.

INSTRUÇÃO NORMATIVA CEESP 01/2018. Considerando o teor dos artigos 1º, 1º da Resolução n /2017, do Tribunal Superior Eleitoral, que

Transcrição:

O Voto Facultativo e a PEC 61/2016 Voto Facultativo. Resolvi escrever um pouco sobre o assunto após analisar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 61/2016. Esta proposta tem como objetivo tornar o voto facultativo no Brasil. Antes de adentrarmos à questão é muito importante diferenciamos: o voto e o direito de sufrágio. O que é o Direito de Sufrágio? Sufrágio (de aprovação, apoio) é o direito subjetivo de natureza política que tem o cidadão de eleger (capacidade eleitoral ativa), ser eleito (capacidade eleitoral passiva) ou participar da organização e da atividade do Poder Estatal. Portanto, sufrágio é o direito que se exterioriza no voto, que, portanto, é a exteriorização ou materialização desse direito (sufrágio), implicando uma declaração de vontade (CERQUEIRA, 2012) Esse conceito explicita bem o direito de sufrágio que pode ser resumido no direito que o cidadão possui de participar da vida política do Estado. O direito de sufrágio pode ser classificado como ativo e passivo. Ativo direito de votar e Passivo: direito a ser votado. O voto portanto é instrumento para a efetivação do direito de sufrágio.

Voto Obrigatório A Constituição Federal de 88 (CF/88) determina em seu artigo 14, 1º, inciso I, a obrigatoriedade do voto. Assim dispõe: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (.) 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I obrigatórios para os maiores de dezoito anos; (.) Estão excluídos dessa obrigatoriedade os analfabetos, os maiores de 70 anos, bem como os maiores de 16 e menores de 18 anos. Lembrando ainda que os estrangeiros e, durante o serviço militar, os conscritos não podem alistar-se. O Voto Facultativo: Muito se discute no Brasil acerca desse voto obrigatório, sobretudo porque países com democracias consolidadas possuem em seu ordenamento a previsão do voto facultativo. Pois bem, tecnicamente, o voto no Brasil é FACULTATIVO. Apesar da disposição constitucional, conforme visto acima, ser clara e explícita no sentido da obrigatoriedade, a verdade é outra. Vamos exemplificar: O cidadão que no dia da eleição vai até a urna e vota em branco ou nulo, exerceu o seu direito de

sufrágio (sufragou), contudo, não votou. Porque, segundo parte da doutrina, o voto é a manifestação da vontade e esta deve ser tida como válida. Neste sentido, se analisarmos a dicção da lei Eleitoral (Lei 9504/97), que leva em conta na apuração do vencedor das eleições apenas os votos válido; o voto não é obrigatório (já que a pessoa pode optar por não votar em ninguém branco ou nulo). Vejamos o que determina o art. 2º da Lei 9504/97: Art. 2º Será considerado eleito o candidato a Presidente ou a Governador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. O que é obrigatório é o comparecimento eleitoral ou a justificativa para aqueles que não sufragarem. Importante: Essa discussão é de base teórica. Em provas e concursos a banca normalmente espera que a resposta seja: voto é obrigatório. PEC 61/2016 A PEC 61/2016 tem o objetivo tornar o voto facultativo no texto constitucional. Pela proposta os parágrafos 1º e 2º do art. 14 da CF/88 passariam a vigorar com a seguinte redação: Art. 14 (.) 1º O voto é facultativo e o alistamento eleitoral obrigatório. 2º Não podem se alistar como eleitores os menores de 16 anos, os estrangeiros e, durante o período de serviço militar, os conscritos. Assim, o alistamento eleitoral continuaria a ser obrigatório,

mas o voto (aí incluindo o comparecimento eleitoral) passaria a ser facultativo. Proposta muito interessante e que reflete a realidade brasileira. Nas eleições de 2016 batemos o recorde em abstenções (pessoas que não compareceram à votação), votos brancos e nulos. Não votei, como proceder? Para aclarar um pouco a situação de quem não pôde comparecer à votação: Quem não comparece à eleição para votar ou apresentar justificativa (quando está fora do seu domicílio eleitoral) deve justificar o seu não comparecimento no prazo máximo de 60 dias junto à justiça eleitoral. Caso o eleitor esteja fora do país, o prazo é de 30 dias contados do seu retorno. O Tribunal Superior Eleitoral disponibiliza em seu site formulários online para esta justificativa. Caso a pessoa não justifique no prazo ou tenha a sua justificativa indeferida pelo juiz eleitoral, deverá arcar com uma multa, caso não queira ficar inadimplente com a justiça eleitoral. Esta multa, em valores atualizados, pode variar de R$ 1,05 até R$ 3,51 por turno ausente. O valor da multa pelo não comparecimento e não justificativa é irrisório, o que justifica ainda mais a PEC 61/2016. Em algumas cidades, o cidadão tem que pagar transporte coletivo para ir até o local de votação e por certo gastará mais do que gastaria pagando essa multa.

Gostou do artigo? Compartilhe com seus amigos. Leia também: Estado Laico Laicidade e Governo Mulheres na Política: Elas gastam menos Grande abraço a todos!