"Steve. Jobs mudou a nossa vida" Testemunho do português que privou com o Sr. Apple



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Transcrição:

Do Porto à Califórnia José Salcedo trouxe o primeiro Mac para Portugal, em 1984. Seguiram-se 20 anos de contactos com um "visionário destemido" "Steve Jobs mudou a nossa vida" Testemunho do português que privou com o Sr. Apple Texto HUGO FRANCO tivesse aterrado um extraterrestre no aeroporto a reação não teria sido muito diferente. O empresário português José António Sal- Secedo não esquece a expressão de estranheza dos passageiros e dos funcionários da alfândega quando o viram chegar proveniente de um voo dos Estados Unidos com um Macintosh no meio da bagagem. Em janeiro de 1984, um Mac em Portugal mais parecia uma geringonça saída de um filme de ficção de científica de Steven Spielberg. "Tinha-o comprado na Califórnia. Era o primeiro computador da Apple a entrar no nosso país. Uma grande novidade", recorda o homem que já na altura era um fã incondicional do design e da tecnologia da Apple. Salcedo lecionava na faculdade de ciências da Universidade do Porto e apercebeu-se rapidamente de que aquela máquina de design apurado e a cheirar a futuro seria uma ferramenta de trabalho imprescindível para os seus alunos. E se pedisse à Apple algumas máquinas iguais à sua? Foi o que fez, sem hesitar. A ousadia foi recompensada. "Steve Jobs ofereceu-nos quinze Macintoshes. Foi uma grande alegria." Nos tempos que se seguiram, trocou algumas cartas com o fundador da Apple, e no verão de 1988 surgiu uma oportunidade única que não iria desperdiçar: o engenheiro português foi convidado para trabalhar por algumas semanas na Next, a segunda empresa de informática criada por Jobs (o americano saiu da Apple em 1985 em litígio e regressou em 1997 como um herói). Durante a estada no coração do Silicon Valey, encontrou-se com o milionário californiano cerca de dez vezes. "No meu último dia a trabalhar na Next, um pouco antes de regressar a Portugal, Jobs convidou-me para jantar com ele. Queria saber como estava a correr o projeto no Porto com os seus quinze computadores." A conversa ao jantar correu tão bem que o norte-americano decidiu oferecer dois computadores Next à universidade portuguesa. "Estes eram mais potentes do que os Macintoshes de 84. Tratava-se de estações de trabalho muito sofisticadas para a época." Construtor de futuros Nos anos que se seguiram, o portuense, que hoje tem 60 anos de idade, voltou a privar com Steve Jobs por mais dez vezes, após algumas intervenções públicas do senhor Apple na universidade de Stanford e em Paio Alto, na Califórnia. "Não me podia considerar amigo dele mas os nossos encontros acabaram por ser muito produtivos". José Salcedo, que se doutorou em engenharia elétrica e física em Stanford em 1981, e passou metade da sua vida entre o sol da Califórnia e os chuviscos do Porto, não tem dúvidas: "Steve Jobs mudou a minha vida, pois transmitiu-me um conjunto de valores único." As conversas que mantiveram durante horas a fio permitem-lhe ter uma visão singular do homem que morreu esta quarta-feira de cancro no pâncreas aos 56 anos: "Tinha uma visão muito clara e corajosa do que é o futuro, não do ponto de vista do programador mas do utilizador de computadores." Mais do que isso, era "um construtor de futuros". A sua paixão "obstinada, obsessiva e sistemática" levava-o a ter capacidade de vencer todas as dificuldades. "Ao chegar ao futuro, a realidade demonstrava que ele tinha razão". Os produtos que Jobs concebeu, de uso simples mas com aparência sofisticada, provam a tese do português: o Apple 11, o Macintosh, o estúdio de filmes de animação Pixar, o ipod, o iphone e o ipad não são mais do que o futuro transformado em realidade. "A marca de Jobs vai perdurar para sempre", assegura o português, que não hesita em apelidar o seu trabalho de "visionário, belo e corajoso". Salcedo não considera exageradas as comparações feitas com o génio de Leonardo Da Vinci ou Thomas Edisson, ou com o empreendedorismo de Henry Ford. "É um inventor sem paralelo na história recente." E se alguém o lembra que o americano era também um homem de génio intempestivo, ele defende-o com honra: "Jobs ficava insatisfeito quando os colaboradores não davam o melhor de si". Mantém-te esfomeado e curioso Na seu já longo percurso profissional, Salcedo seguiu à letra o lema de vida ensinado pelo homem da Apple, na célebre conferência de 2005, em Stanford, e que segundo a lenda foi ouvida e lida

por mais de seis milhões de pessoas: Stay hungry, stay foolish, pediu Jobs aos fiéis de todo o mundo. A frase é mais profunda do que parece à primeira leitura. O português explica: "Jobs pedia-nos para estarmos eternamente insatisfeitos, fazer perguntas atrás de oersuntas. não termos medo de arriscar e nunca esmorecermos a curiosidade intelectual. Pedia-nos também para nunca perdermos a inocência, a criatividade e o empreendedorismo" Inspirado nos ensinamentos de Jobs, Salcedo criou uma empresa de alta tecnologia de lasers de alta precisão chamada Multiwave Photonics. "Os lasers fazem parte da minha vida desde os 19 anos, quando construí o meu primeiro laser", revela. A empresa emprega mais de vinte pessoas, tem sede na Maia e um escritório em São José. na Califórnia, quase vizinho ao quartel-general da Apple. Há mais um caminho cruzado entre o português e o californiano: o filho de Salcedo trabalha há oito anos em São Francisco na Pixar, a empresa de animação criada por Jobs. "Ele está lá por mérito próprio", acrescenta. A última semana tem sido de luto para milhões de pessoas e também para este empresário do norte. Jobs há muito que apresentava uma debilidade física gritante. Nas suas conferências, os jeans Levis ficavam-lhe já demasiado largos ao corpo. Depois do anúncio da sua doença, em 2004, ou do transplante ao fígado em 2009, a esperança de uma recuperação era pequena. Ainda assim, a sua morte foi recebida com surpresa: "É um momento triste para mim. Perdi uma pessoa muito importante na minha vida", refere José Salcedo Jobs acabou por morrer onze anos mais cedo do que o homem que inspirou a sua obra: Leonardo Da Vinci hfranco HUGO FRANCO @ expresso.impresa.pt O QUE ELES DISSERAM DE JOBS "Alcançou uma das raras proezas da história da humanidade: mudou a forma como vemos o mundo" BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos da América "Os seus efeitos serão sentidos por muitas gerações futuras" BILL GATES, Fundador da Microsoft "O mundo perdeu um ser humano incrível. Steve deixou uma empresa que só ele podia ter construído" TIM COOK, Diretor-geral da Apple "Agora compreendo por que o iphone 5 só pode ser chamado 4S. O S quer dizer Steve, iphone para Steve" XUE Ql, Bloguer chinês

STEVE JOBS DIXIT "Você quer continuar a vender água açucarada para o resto da vida ou quer mudar o mundo?" 1983, quando contratou John Sculley, então presidente da Pepsi "Ser o homem mais rico do cemitério não me preocupa... Ir para cama a pensar que fiz algo maravilhoso... É isso que me interessa" 1993, "Wall Street Journal" "É melhor sermos piratas do que alistarmo-nos na Marinha" 1983, no lançamento do PC Macintosh "Muitas vezes as pessoas não sabem o que querem até que lhes mostramos" 1998, revista "Business Week" "Libertou-me e fez-me entrar num dos períodos mais criativos da minha vida" 1985, quando foi despedido por John Sculley "Steve Jobs tinha a capacidade única de levar a tecnologia ao homem e à mulher da rua" DURÃO BARROSO, Presidente da Comissão Europeia "Há homens que criam mundos novos ou que mudam o mundo. Por isso os admiramos, como génios visionários" CAVACO SILVA, Presidente da República Portuguesa "Steve, obrigado por seres um mentor e um amigo(...) Vou ter saudades tuas" MARK ZUCKERBERG. Criador do Facebook "Todos estes equipamentos tecnológicos são maravilhosos, mas não ter nada para fazer também pode ser maravilhoso" Sem data, revista "Wired" "A eletrónica é uma atividade a que posso sempre voltar quando precisar de colocar comida sobre a mesa" Sem data, revista "Wired" "A morte é o destino que todos partilhamos. Nunca ninguém lhe escapou" 2005, discurso em Stanford "Queria que os meus filhos me conhecessem" 2011, no último encontro com o biógrafo, quando este lhe perguntou porque se tinha exposto tanto no livro

Sete anos a resistir O cancro que minou Steve Jobs durante sete anos, acabando por matá-10, é completamente diferente daquele que vitimou, em meses, o tenor Luciano Pavarotti, em 2007, ou a deputada Maria José Nogueira Pinto em julho, embora lhe dêem o mesmo nome. O diagnosticado em 2004 ao criador da Apple não era um cancro do pâncreas, o mais comum e normalmente mais agressivo, mas sim um tumor neuroendócrino do pâncreas. Os neuroendócrinos não se desenvolvem nas mesmas células dos cancros mais graves, aparecem em qualquer órgão que tenha células com dupla origem: endócrinas (responsáveis pelas secreções internas) e neurais (com ligação ao sistema nervoso). São de evolução lenta e o doente pode até vir a morrer de outra causa. Ainda não é possível a deteção precoce destes tumores.

O passado de um génio com mau génio incómodo Despediu pessoas no elevador, não reconheceu a primeira filha e tomou doses cavalares de LSD. O patrão da Apple no seu pior Assumir uma filha da ex-namorada com quem passara um verão inconsequente nas montanhas de Santa Cruz, na Califórnia, não encaixava nos planos do pai da Apple. Aos 23 anos, Steve Jobs estava demasiado ocupado a gerir os primeiros milhões de dólares de um negócio emergente para se dar ao trabalho de ouvir os queixumes de Chris-Ann Brennan, a artista plástica que havia engravidado por descuido. O empresário recusou-se a assumir a paternidade desde o nascimento da pequena Lisa. E nem os resultados dos testes ao sangue, que garantiam em 94,1% que era o pai da menina, o fizeram mudar de ideias. "Qualquer um pode ser o pai dela", argumentava. O tribunal discordou e obrigou-o a pagar a pensão de alimentos da filha: 385 dólares por mês. Num golpe supremo de ironia, decidiu batizar, nesse ano de 1978, o novo computador da Apple, com o mesmo nome da filha. Com um tom burocrático, a Apple garantia que Lisa era somente a sigla de Local Integrated Software Arquitecture. Quanto a Lisa Nicole Jobs, que hoje é uma jornalista consagrada, só viria a ser reconhecida pelo milionário anos depois. Em meados da década de 70, Steve Jobs era o cliché vivo do hippie californiano do pós-woodstock: viajou para a índia com um ex-colega da universidade em busca de sensações místicas, regressou de cabelo rapado como um monge budista, deixou de comer carne mas em compensação ingeria doses industriais de LSD. As experiências alucinogénias com os ácidos levaram-no a trips épicas: "E, de repente, havia todo um campo de trigo a tocar Bach", contava Jobs à "Time" em 1983, num artigo que expôs pela primeira vez o lado mais negro do patrão da Apple. Jobs ficou furioso com o retrato feito sobre si nas páginas da revista, mas não abriu demasiado o flanco: "Não me importo se as pessoas não gostarem de mim. Bem talvez me importe um bocadinho...". Antes de se tornar um chefe implacável, e não raras vezes irascível, já demonstrava o mau génio para com os colegas e até superiores hierárquicos quando foi trabalhar em 1974 para a Atari, uma empresa de videojogos. "A sua mente viajava a cem à hora", descreve um ex-chefe. "Os engenheiros do laboratório não gostavam dele. Consideravam-no arrogante e prepotente." Os níveis de popularidade eram tão baixos que teve de aceitar uma proposta para ir trabalhar apenas depois da hora de jantar, quando não havia mais funcionários nas instalações. Temido até nos elevadores Durante o seu reinado à frente na Apple, foi apelidado entre outros epítetos menos simpáticos, de "tirânico perfeccionista com o ego de um imperador". Muitos funcionários tinham receio de se cruzar com ele nos corredores da empresa. Não era caso para menos. Steve Jobs podia despedir uma pessoa durante uma curta viagem de elevador, se esta não soubesse de cor as características de um qualquer produto que tivesse a ser desenvolvido na empresa. "O meu trabalho não é ser fácil com as pessoas. O meu trabalho é torná-las melhores", gostava de dizer em jeito de desculpabilização. O seu estilo de liderança parecia inspirado no centralismo democrático, fórmula com rótulo soviético. Podia interromper bruscamente o início do discurso de um colaborador quando o considerava previsível: "Já percebi. Mas o que eu penso disso é o seguinte...". Sempre que isso acontecia, a ideia era diametralmente oposta à do seu interlocutor, que era arrumado por KO. Os biógrafos de Jobs lembram que o californiano não perdoava amadorismos e não admitia menos do que a excelência. Os detratores garantem que ele era obcecado com o controlo e tinha como ambição secreta a criação na empresa de dezenas de mini- Jobs: homens visionários, empreendedores e megalómanos. Em 2008, o culto da personalidade atingiu um novo patamar, com a Apple University. Missão? Ensinar os empregados da empresa a "pensar e a tomar decisões" como Steve Jobs. HUGO FRANCO hfranco @ expresso.impresa.pt