FLAVIA SALLES FERRO * 1



Documentos relacionados
Cópia autorizada. II

O Sindicato de trabalhadores rurais de Ubatã e sua contribuição para a defesa dos interesses da classe trabalhadora rural

QUARTA CONSTITUIÇÃO (A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO)

A perspectiva de reforma política no Governo Dilma Rousseff

Revolução de Fatores: Crise de Movimento Tenentista. Resultado das eleições.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Carta de Paulo aos romanos:

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Nome: nº. Recuperação Final de História Profª Patrícia

Período pré-colonial

05/12/2006. Discurso do Presidente da República

REQUERIMENTO DE INFORMAÇÃO Nº, DE 2013 (Do Deputado Rubens Bueno)

1. Marcelo Rebelo de Sousa vai ser um bom Presidente da República?, RTP 1 - Prós e Contras,

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 10 de Junho de 2010

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Pesquisa de Opinião Pública Tema geral: Como o eleitor escolheu seus candidatos em 2010

Aula5 LEGISLAÇÃO PATRIMONIAL. Verônica Maria Meneses Nunes Luís Eduardo Pina Lima

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

A REVISTA OESTE NA CONSOLIDAÇÃO DO CENÁRIO POLÍTICO GOIANO

'yaabaaronaldo Tedesco'; 'Paulo Brandão'; ''Silvio Sinedino' Assunto:

IGUALDADE DE GÊNERO: UM BREVE HISTÓRICO DA LUTA PELO VOTO FEMININO NO BRASIL

INFORMATIVO. Novas Regras de limites. A Datusprev sempre pensando em você... Classificados Datusprev: Anuncie aqui!

Fundado em 17 de março de 2006 por Israel Silveira, diretor responsável, registro MTb - Preço para assinante R$1,00

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

MODERNIZAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NOS CICLOS DE ESTUDOS DA ADESG EM SANTA CATARINA ( ) Michel Goulart da Silva 1

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

PROPOSTA DE ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DE SÃO JOSÉ, DA GUARDA

A POLÍTICA NO SEGUNDO REINADO Aula: 33 Pág. 14. PROFª: CLEIDIVAINE / 8º Ano

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Colégio dos Santos Anjos Avenida Iraí, 1330 Planalto Paulista A Serviço da Vida por Amor

Planejamento. Ensino fundamental I 5 o ano. história Unidade 1. Ético Sistema de Ensino Planejamento Ensino fundamental I

PROFª Mestre Maria da Conceição Muniz Ribeiro A IMPLANTAÇÃO DO MODELO NIGHTINGALE NO BRASIL

TEXTO 1. 1.Texto de problematização:

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

A OFERTA DE UM REI (I Crônicas 29:1-9). 5 - Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao SENHOR?

81AB2F7556 DISCURSO PROFERIDO PELO SENHOR DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY NA SESSÃO DE 05 DE JUNHO DE Senhor Presidente, Senhoras Deputadas,

um novo foco para as mudanças

Geografia da Fome. Geopolítica da fome

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

PESQUISA ASSOCIATIVISMO E REPRESENTAÇÃO POPULAR:

O REGIME REPUBLICANO EM PORTUGAL PARLAMENTARISMO

REGIMENTO INTERNO DO SECRETARIADO NACIONAL DA MULHER

CRISE E RUPTURA NA REPÚBLICA VELHA. Os últimos anos da República Velha

Apoio. Patrocínio Institucional

Era Vargas: mudando os rumos da história

O maior desafio do Sistema Único de Saúde hoje, no Brasil, é político

Educação Patrimonial Centro de Memória

História/15 8º ano Turma: 1º trimestre Nome: Data: / /

Capítulo I das Atividades do Conselho

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO PERÍODO DA DITADURA NO BRASIL: E A COMISSÃO DA VERDADE

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

Associação Brasileira de Imprensa. Regulamentação Profissional 19/11/2010

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO PROJETO DE LEI Nº 7.222, DE 2002

Desafios de um prefeito: promessas de campanha e a Lei de Responsabilidade Fiscal 1

XIII. A República dos Marechais

PROJETO DE LEI Nº 14/2016 DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEGRA CAPÍTULO I

22/05/2006. Discurso do Presidente da República

ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 09 DE JUNHO DE 2014 Às vinte horas do dia nove de junho de dois mil e quatorze, na sede da Câmara Municipal, reuniu-se

ECONOMIA SOLIDÁRIA, RENDA DIGNA E EMANCIPAÇÃO SOCIAL 1

Maurício Piragino /Xixo Escola de Governo de São Paulo.

O IMPÉRIO DO BRASIL: PRIMEIRO REINADO Professor Eric Assis Colégio Pedro II

Estado da Paraíba PREFEITURA MUNICIPAL DE TAVARES GABINETE DO PREFEITO

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

Terça-feira, 5 de Maio de 2015 I Série A Número 2. da Assembleia Nacional REUNIÃO DA 3.ª COMISSÃO ESPECIALIZADA PERMANENTE DE 4 DE MAIO DE 2015

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA FENEIS SOBRE A EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS (EM RESPOSTA À NOTA TÉCNICA Nº 5/2011/MEC/SECADI/GAB)

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita à Comunidade Linha Caravaggio

Discussão Jurídica dos Direitos Humanos no âmbito da Saúde Pública.

A origem latina da palavra trabalho (tripalium, antigo instrumento de tortura) confirma o valor negativo atribuído às atividades laborais.

O IMPÉRIO E AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL - ( ) Maria Isabel Moura Nascimento

FUNDEP. Pesquisa de Opinião Pública Nacional

ORGULHO DE DEFENDER A POPULAÇÃO

FICHA BIBLIOGRÁFICA. Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC. Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC

PROJETO DE LEI Nº 8.272/2014

PROJETO DE LEI N o 7.633, DE 2006 (Apensado: PL 2.951, de 2008)

O que esperar do SVE KIT INFORMATIVO PARTE 1 O QUE ESPERAR DO SVE. Programa Juventude em Acção

AS VIAGENS ESPETACULARES DE PAULO

Assunto: Entrevista com a primeira dama de Porto Alegre Isabela Fogaça

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro com a delegação de atletas das Paraolimpíadas de Atenas-2004

DESEMBARGADOR SÉRGIO ANTÔNIO DE RESENDE PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

Só viverá o homem novo, não importa quando, um dia, se os que por ele sofremos formos capazes de ser semente e flor desse homem.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1934: 80 ANOS DE UM CAPÍTULO ESPECÍFICO NA CARTA MAGNA

Relatório: Os planos do governo equatoriano: incentivo ao retorno da população migrante 38

Boletim Econômico Edição nº 42 setembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

PROJETO DE LEI Nº de (Do Sr. Chico Lopes) Art. 1º - Fica criada a profissão de Educador e Educadora Social, nos termos desta Lei.

Produção: Fundação Republicana Brasileira Diagramação: Joshua Fillip

Palavras chave: Direito Constitucional. Princípio da dignidade da pessoa humana.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Lutar pelo êxito do governo Dilma e reforçar o papel do PCdoB

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Transcrição:

Deitando raízes na tempestade para colher o fruto da bonança : a trajetória política de Virgílio de Mello Franco na Revolução de 1930 e nogoverno Provisório FLAVIA SALLES FERRO * 1 Virgílio era uma grande figura, sem dúvida nenhuma. Um homem de grande valor, um jovem enérgico, autoritário, corajoso, tinha grandes virtudes. [...] Virgílio foi umagrande figura, eu o admiro (OLIVEIRA, 1979: 53-54). É dessa maneira que Juscelino Kubistchek, em entrevista para o CPDOC, define Virgílio de Melo Franco. Personagem pouco estudado, o intuito dacomunicação é compreender as razões que levaram JK a elogiá-lo. Para isso será apresentadasua trajetória política, seja na Revolução de 30, seja atuando como tenente civil nos primeiros anos posteriores à revolução. Virgílio de Melo Franco vinha de uma família de políticos, em sua primeira geração brasileira, ligaram-se aos Caldeira Brant e forneceram inúmeros quadros políticos ao império. Afrânio de Melo Franco, seu pai, foi figura proeminente da Primeira República e primeiro ministro do exterior do governo Vargas. (FAUSTO, 1972:43) Ele foi também diplomata brasileiro. Seu irmão era Afonso de Melo Franco, o qual exerceu o cargo de deputado federal e foi um dos líderes da UDN. Virgílio, Virgílio de Melo Franco vem de uma família de políticos, seu pai era Afrâniode Melo Franco, o qual foi diplomata e político brasileiro e seu irmão Afonso demelo Franco, o qual exerceu o cargo de deputado federal e foi um dos líderes daudn. Virgílio não percorreu caminhos diferentes, em 1918 se formou em direito pelafaculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e desde então seguiuvida política, a qual mereceu destaque no país. Ele foi deputado estadual por MinasGerais entre os anos de 1922-1930, foi protagonista na Revolução de 1930 ao lado daaliança Liberal, foi colaborador do jornal O Radical, o qual foi criado em junho de1932 com o intuito de apoiar o governo Vargas. Para compreender, portanto, a atuação do Virgílio de Melo Franco na Revolução de 1930 e no Governo Provisório é preciso abarcar seu contexto histórico. Anteriormente à década de 1930, a política brasileira pautava-se na dominação oligárquica. 1 Universidade Federal Fluminense, Mestranda.

2 Segundo Bóris Fausto, a Revolução de 1930 pôs fim à hegemonia burguesa do café, ocorrendo uma crise hegemônica desses setores sociais. O autor ainda reafirma o que Tristão de Ataíde escreveu em 1935: [...] em cinco anos de revolução, caminhamos mais, politicamente, que em meio século de xadrez liberal. Mas não no sentido da solução dos nossos problemas. Apenas no da fixação das forças em jogo, agora infinitamente mais consideráveis, poderosas, conscientes e unidas, que em 1930. O outubrismo foi, de certo modo uma infância do jogo revolucionário. Sua falência, portanto é uma maioridade.(lima, 1936: 242 apud FAUSTO, 1972:114) Sendo o outubrismo apenas uma infância no jogo revolucionário, transformações significativas na política e na sociedade brasileira ocorreram a partir dele, podendo ser considerado, assim, um evento de rupturas e melhorias. Compreender esse evento é uma maneira de conhecer o âmbito político e social da primeira metade do século XX. O rompimento com a política oligárquica inicia-se em 1929, quando as oligarquias de Minas Gerais entram em conflito com grupos políticos de São Paulo. Diante da candidatura paulista de Júlio Prestes, os mineiros entraram em aliança com os gaúchos, surgindo o nome de Getúlio Vargas para presidente. O Rio Grande do Sul era o terceiro estado com maior representatividade eleitoral. As oligarquias do estado da Paraíba, com a candidatura de Joao Pessoa para vice-presidente, também se alia a Minas Gerais e Rio Grande do Sul, ocorrendo uma coligação dos três estados sendo contrários à candidatura de São Paulo. Essa coligação foi denominada Aliança Liberal, sendo suas propostas pautadas em reformas no sistema político, entre os quais estavam a adoção do voto secreto e o fim das fraudes eleitorais. Eles defendiam direitos sociais, como jornada de 8 horas de trabalho, férias, salário mínimo, regulamentação do trabalho das mulheres e dos menores. Propunham também a diversificação da economia, com a defesa de outros produtos agrícolas além do café, e diminuição das disparidades regionais. (PANDOLFI, 2003). A Aliança Liberal era composta por tenentistas e democratas, cujos defendiam o rompimento com a política oligárquica excludente vigente da época. Dentro desse grupo, a condução do movimento revolucionário ficou a cargo dos tenentes e de um grupo de políticos civis, entre os quais faziam parte Osvaldo Aranha, Pedro Ernesto, Virgílio de Melo Franco,

3 Carlos de Lima Cavalcanti e João Neves da Fontoura, que devido à afinidade com as propostas tenentistas ficaram conhecidos como tenentes civis. (PANDOLFI, 2003) Participando como um tenente civil, Virgílio de Mello Franco atuou na Aliança Liberal, sendo um dos protagonistas da Revolução de 1930.Ele possuiu grande importância nos diálogos para a concretização da coligação entre os estados, como é possível perceber na carta enviada por Virgílio de Melo Franco a Epitácio Pessoa, no dia 7 de setembro de 1929, em que diz: Na campanha cívica em que estamos empenhados, cabe-me muita responsabilidade como um dos precursores da política de entendimento com o Rio Grande do Sul. (apud NABUCO, 1962: 5). Ele era o principal intermediário entre os tenentes e os veteranos chefes políticos no Rio de Janeiro. Após a derrota das urnas nas eleições de março de 1930, Virgílio enviou um telegrama a Antonio Carlos, datado de seis de março, dizendo que as eleições haviam sido fraudadas. Pensando dessa forma, e lutando para por fim à política vigente que permitia fraudes,virgílio, juntamente com José Américo, Osvaldo Aranha, Batista Luzardo, entre outros,estavam dispostosa alcançar o poder pelo caminho das armas, se necessário. (FAUSTO, 1972). Seguindo o caminho da luta armada, Osvaldo Aranha encomendou 16 mil contos de réis em material bélico e munições na Tchecoslováquia, que seria custeado a metade pelo Rio Grande do Sul, seis mil contos a Minas e dois mil à Paraíba. Porém, Minas Gerais não possuía recursos financeiros que permitissem pagar esse valor. Coube a Virgíliocustear através de empréstimos da Companhia Brasileira de Energia Elétrica, um adiantamento de três mil contos sobre um contrato ainda não em vigor. Em uma carta de Virgílio para Lindolfo Collor a respeito desse empréstimo ele escreve: obtidos graças a meus esforços junto aos Drs. Guilherme Guinle e César Rabelo, os quais os obtiveram do Sr. Paul McKee, então presidente da Companhia Brasileira de Energia Elétrica [...] por adiantamento de um contrato quando nenhum Banco do Rio de Janeiro quis emprestar ao Estado de Minas. Esse fato é confirmado pelo Dr. Raul Fernandes que, como consultor da Companhia, foi ouvido sobre o adiantamento. (apud NABUCO, 1962: 9) Virgílio chegou a Porto Alegre no dia 27 de julho de 1930 com o objetivo de atuar na preparação do movimento armado e ser o representante informal dos oposicionistas mineiros.

4 No mesmo dia chegou a notícia da morte de Joao Pessoa em Recife. Segundo Andrada (1987), vários fatores geraram um clima favorável à revolução, entre os quais estavam as diversas acusações de fraudes, o descontentamento popular após a crise econômica de 1929 e o rompimento da política oligárquica. Mas o que efetivamente acelerou a revolução foi o assassinato de João Pessoa, ocorrido em 26 de julho. Osvaldo Aranha e Getúlio Vargas, no dia 25 de setembro de 1930 marcaram a luta armada para o dia 3 de outubro, assim foi. A revolução iniciou em Porto Alegre nesse dia, ocorrendo à dominação de todas as guarnições militares da cidade, com exceção do 7º Batalhão de Cavalaria, comandado pelo coronel Benedito da Silva Acauã. Mas ao perceber que não havia condições para lutar, assinou rendição condicional, redigida por Virgílio. No dia 5 de outubro partiu para Santa Catarina e Paraná o primeiro destacamento pesado dos revoltosos, comandado por João Alberto. Virgílio participou sendo responsável por resolver questões políticas. Em 24 do mesmo mês ocorreu a deposição de Washington Luís, sendo assumida a chefia do Governo Provisório por Getúlio Vargas, no dia 3 de novembro. Após a vitória da Aliança Liberal, diversos cargos públicos foram distribuídos, porém Virgílio não aceitou nenhum. Muitas pessoas foram exoneradas de seus cargos, sendo substituídas pelos vitoriosos. Minas Gerais foi o único estado a não sofrer intervenção. Getúlio permitiu, como foi solicitado pela oligarquia mineira, que Olegário Maciel continuasse como governador do estado. Virgílio passou o final de 1930 e o inicio de 1931 doente, mas recuperado em maio, redigiu seu testemunho sobre a Revolução, no livro Outubro, 1930, o qual obteve grande sucesso e teve quatro edições em dois meses. A partir do livro há uma compreensão sobre as ideias de Virgílio sobre a política anterior a 1930 e também sobre o que almejavam os revolucionários. É uma importante fonte pois foi produzida por um dos protagonistas da revolução. O prestígio alcançado pelo seu livro é possível de ser observado no telegrama enviado por José da Rocha Vaz de Melo a Virgílio, no dia nove de dezembro de 1931 em que ele escreve: [...] Valho- me da opportunidade para solitar-lhe, outrossim, pela publicação de seu

5 precioso Outubro, 930, livro este que continua aqui a mais ampla repercussão, e que eu desejaria prol-o nas mãos de todos os patenses. No prefácio de seu livro, Osvaldo Aranha aponta que em Virgílio está a alma dos homens fortes. Nele está a tua grande e inalterável alma de revolucionário, que, como certas árvores solitárias, deita raízes na tempestade para poder frutificar a bonança[...] (ARANHA, 1980:XXII). Osvaldo Aranha em uma maneira de prestigiar a atuação política de Virgílio, refere-se a ele como portador de alma de revolucionário. Ele juntamente com outros políticos, entre eles o próprio autor do prefácio, estiveram dispostos a lutar pelo fim da política oligárquica, instituir direitos políticos e civis e foram capazes de pegar em armas para conseguir tal fim, ocorrendo com a Revolução de 30 o fim da política oligárquica. Sobre a proximidade de Osvaldo Aranha com o Virgílio de Melo Franco, Juscelino Kubistchek afirma que eles ficaram muito amigos, sendo Virgílio um jovem mineiro, muito inteligente, combativo, e que tinha prestado extraordinários serviços na Revolução de 1930. Por isso mesmo, tinha adquirido uma posição de liderança muito grande, na fase inicial da Revolução. (OLIVEIRA, 1976: 41) Virgílio atuou após a Revolução como interventor do Partido Republicano Mineiro, como é visto no telegrama a Virgílio datado de 17/08/1931: temos a honra de enviar a vex a seguinte indicação que acaba de ser votada unanimemente(sic) pelo congresso do partido republicano mineiro; o partido republicano mineiro representado pelos novecentos delegados aqui presentes de 211 dos 215 municípios e fiel interprete dos sentimentos de todo o povo de Minas Geraes assegura a vecx o mesmo leal apoio que lhe vem prestado desde as memoráveis jornadas da Alliança liberal e da revoluçao de outubro na finda e fundada esperança de que vexc se apressara em garantir a este estado um regimem (sic) de tolerância liberdade moralidade administrativa e justiça sob novo interventor que inspire confiança ao povo mineiro e a nação digne se vex aceitar os protestos do nosso mais alto apreço Arthur Bernardes Presidente Alaor Prata secretário Affonso Penna Junior levindo Coelho Eduardo Amaral Camillo Chaves. Como é possível perceber no telegrama, Virgílio foi um homem que possuiu intensa participação na Aliança Liberal e na Revolução de 30, sendo prestigiado pelos trabalhos prestados à Minas Gerais, compreendido também na moção enviada à Virgílio pelo Partido

Republicano de Leopoldina, assinada por Jairo Salgado, secretário, datada de 13 de Dezembro de 1931: 6 O Partido Republicano mineiro de Leopoldina, por proposta de seu presidente, aprovada unanimente por todos os seus membros presentes à reunião de hoje, nesta cidade: Tendo em alta conta os relevantes serviços por V. Excia. Prestados à causa da Revolução e do nosso glorioso estado de Minas Geraes; os sacrifícios que jamais poupou e mediu na defensão dos elevados e patrióticos princípios que encarna o tradicional Partido Republicano Mineiro, resolveu enviar a V. Excia. esta monção de inteira solidariedade e reconhecimento, que bem traduz o sentir collectivo do laborioso povo leopoldinense ao grande e heroico filho de Minas Geraes. É observável que Virgílio é um homem que possuiu reconhecimento em Minas Gerais pela sua atuação em prol de Minas Gerais. O Partido Republicano Mineiro foi o partido que possuiu maior influencia no Estado nesses anos e Virgílio nele atuou como interventor. Em agosto de 1931, o PRM realizou em Belo Horizonte um levante com o intuito de depor Olegário Maciel, interventor de Minas Gerais, para no seu lugar assumir Virgílio. O golpe contava com o apoio de Osvaldo Aranha e o beneplácito de Vargas. No entanto a tentativa foi desfechada pelo 12º. Regimento de Infantaria. Diante de divergências políticas entre o Partido Republicano Mineiro e a Legião de Outubro, as forças antagônicas iniciaram um acordo que foi a fundação do Partido Social Nacionalista (PSN). Virgílio foi um dos articuladores do PSN e integrou sua comissão diretora, ao lado, entre outros, de Venceslau Brás, Artur Bernardes e Antônio Carlos. Porém, Virgílio ao perceber que o Partido Social Nacionalista não serviria ao propósito de pacificação, renunciou ao seu posto na direção do partido. Após a Revolução Constitucionalista em que Virgílio lutou a favor de Vargas, ele articula a fundação do Partido Progressista de Minas Gerais, visando as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte marcada para 3 de maio de 1933. Nessas eleições o Partido Progressista derrotou o Partido Republicano Mineiro, fazendo 31 deputados, entre os quais Virgílio, contra seis do PRM. Virgílio de Mello Franco foi um político que participou intensamente das transformações da década de 1930, atuou em partidos lutando por reformas e pela democratização das instituições. De uma maneira geral, diversas conquistas devem ser abordadas.

7 Mudanças ocorreram na política, na sociedade e na economia após a Revolução de 1930. Na política foi diminuída a força local, ocorrendo um governo intervencionista e centralizador. Na área social foram criados o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, chamado Ministério da Revolução, e o Ministério da Educação e Saúde Publica. Foram promulgados decretos e leis de proteção ao trabalhador, entre os quais a jornada de trabalho no comércio e na indústria foi fixada em oito horas; o trabalho da mulher e do menor foi regulamentado; adotou-se a lei de férias; foi instituída a carteira de trabalho e o direito a pensões e aposentadorias. Em 1933 foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários; houve uma tentativa de nacionalizar o trabalho na indústria e no comércio, sendo exigida a presença de 2/3 de empregados nacionais nesses estabelecimentos. No âmbito econômico, os anos 30 marcam uma etapa importante nos rumos da economia brasileira. É a partir daí que se desencadeia o processo de industrialização do país. (PANDOLFI, 2010: 21) Uma associação que visava à continuidade pelas lutas políticas foi o Clube 3 de Outubro, fundado em 1931 como resultado de uma reunião de tenentes, convocada por Gois Monteiro na residência de Afrânio de Mello Franco, que então era ministro das Relações Exteriores, pai de Virgílio. (CARONE, 1975). Inicialmente foi presidido por Gois Monteiro e quatro meses depois a direção estava com Pedro Ernesto, nomeado em setembro daquele ano interventor do Distrito Federal e considerado uma das principais lideranças do tenentismo civil. (PANDOLFI, 2010: 21-22). Os objetivos do Clube eram: trabalhar pelo engrandecimento do Brasil. Propagar a grandeza da brasilidade. Combater sistematicamente as preocupações de regionalismo. Pugnar pela uniformização da lei, justiça e ensino. Obrigatoriedade do ensino primário. Ensino profissional gratuito. Gratuito ensino secundário. Cultura física. Só comprar o que for genuinamente nacional, salvo quando não exista similar no país. Fazer intensa propaganda contra as companhias estrangeiras que exploram oscilações cambiais para aumento de preço. Combater sistematicamente o luxo. (A PLATEIA, 1931: 17-12) O Clube herdado pelos tenentistas defendiam os pontos de vista nacionalistas, preocupavam-se com questões sociais, bem como pretendiam modificar a política, visando a o favorecimento a grupos menos favorecidos das camadas urbanas.

8 Virgílio fez parte do Clube 3 de Outubro, organização que defendia propostas reformistas. É possível observar que Virgílio possuiu uma trajetória política intensa em que defendeu tais valores. Participou comotenente civil na Aliança Liberal, foi um dos protagonistas da Revolução de 1930, disposto a pegar em armas. É possível entender que o sucesso da revolução dependeu dele e de outros homens que estavam dispostos a por fim na política oligárquica. Ele é um personagem importante para se compreender o pensamento e as lutas políticas dessa época. Após a revolução, ele não aceitou cargos públicos, porém continuou participando da política, principalmente no seu estado, Minas Gerais. Atuou em partidos políticos, até mesmo da fundação de um deles, porém quando seus valores não eram representados nestes, ele saía. Foi sócio do Clube 3 de Outubro, associação essa que representava os valores da luta dos tenentistas na Revolução de 30. Virgílio participou intensamente da política no Brasil na década de 30. Foi um homem, que como salientou Osvaldo Aranha, era um revolucionário que deitou raízes na tempestade esperando frutificar a bonança. REFERENCIAS: ANDRADA, Bonifácio de, A revolução de 30. In: Anais do VI Seminário de estudos mineiros: a revolução de 1930. Belo Horizonte: UFMG/PROED, 1987. CARONE, Edgard. O Estado Novo (1937-1945) São Paulo, Difel, 1976 Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001 FAUSTO, Boris. Arevolução de 1930: historiografia e história. São Paulo. Brasiliense,1972. NABUCO, Carolina. A vida de Virgílio de Melo Franco. Rio de Janeiro, José Olympio, 1962

9 PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas do regime. In: FERREIRA, Jorge. & DELGADO, Lucília de almeida Neves. O Brasil Republicano: volume 2 O tempo do nacional-estatismo. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira,2003