A BIBLIOTECA NO CONTEXTO DA NOVA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO 1Sarg PESSEC Jorge Filipe Pereira I. Introdução A expressão sociedade da informação tem vindo a ganhar notoriedade nos últimos anos, transparecendo diversas características daquela que é a sociedade atual, a sua forma de comunicar e eventualmente o futuro para onde ela se dirige. Atualmente é legítimo afirmar que a sociedade da informação está intrinsecamente presente no nosso dia-a-dia, mesmo se por vezes ela nos passa despercebida. De facto, desde a forma como o ser humano se relaciona, à forma de trabalho das organizações, leva a que a informação seja cada vez mais um bem necessário, quiçá vital, para o sucesso. Se a informação é assim tão importante para a sociedade e o seu desenvolvimento, igualmente importante é a forma como esta é disponibilizada. Rapidez, fidedignidade, qualidade, disponibilidade, são qualidades que necessariamente têm de estar presentes na forma como a informação é veiculada, desde a sua fonte até ao seu destinatário. Vivemos assim uma nova era que oferece múltiplas possibilidades de aprender, em que o espaço físico da escola, tão proeminente em outras décadas, neste novo paradigma, deixa de ser o local exclusivo para a construção do conhecimento e preparação do cidadão para a vida ativa 1. Não descurando ou menosprezando todas as outras fontes de informação, a Biblioteca assume-se como um repositório de informação e conhecimento por excelência. A UNESCO, em 1994, reconhece esta importância aprovando um manifesto sobre as bibliotecas públicas, com os princípios que devem reger a biblioteca e o seu funcionamento. Segundo este manifesto, a liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos democráticos e ter um papel activo na sociedade 2. Neste manifesto é ainda reforçado o papel da biblioteca na medida em que esta é a ( ) porta de acesso local ao conhecimento ( ) e ( ) fornece as condições básicas para a aprendizagem ao longo da vida, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural do indivíduo e dos grupos sociais. 2 No entanto, devido às exigências da nossa atual sociedade onde muitas vezes a informação solicitada tem carácter imediato, a tarefa da biblioteca torna-se difícil. De facto, os desafios são muitos e os obstáculos a ultrapassar variados. Por outro lado, devido ao carácter multidisciplinar de muitas organizações, leva a que a 1 Sociedade da Informação, do Conhecimento e da Aprendizagem: Desafios Para Educação No Século XXI in Revista de Educação, Vol. XVIII, nº 1, 2011 5 22. 2 Este Manifesto foi preparado em cooperação com a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas (IFLA) e aprovado pela UNESCO em Novembro de 1994. 1
biblioteca não consiga dar resposta a temas tão variados e específicos. Ademais, o clima de contenção orçamental a que temos vindo a assistir, leva a que a tarefa da biblioteca seja ainda mais penosa, devido à escassez de meios quer humanos quer materiais. Estará então a Biblioteca condenada ao fracasso? Essa instituição que existe desde que o homem reconheceu o valor do conhecimento e resolveu preservá-lo naqueles que seriam os primeiros livros? O futuro ditará uma resposta, mas entretanto, no presente, a Biblioteca tem de se conseguir adaptar e acompanhar a exigência da evolução da sociedade da informação. Num artigo publicado na revista Militar em 2007, salientava-se, no âmbito das bibliotecas militares, o seguinte: dado que nenhuma biblioteca possui toda a informação sobre todas as áreas do saber, pela cooperação entre várias bibliotecas é possível chegar mais próximo desse ideal e que na prática se pode consolidar na construção de um catálogo coletivo, disponível online, onde seja possível pesquisar nas bases de cada um dos ramos e/ou na base de uma ou várias bibliotecas em simultâneo garantindo a integração de procedimentos, a dinâmica e permeabilidade no acesso à informação 3. Este artigo parecia antever a direção a seguir pela Instituição Castrense na área de biblioteconomia, pois atualmente estão em curso dois programas de implementação de Bibliotecas em Rede: um no Exército (Catálogo Coletivo Bibliotecas Exército CCBE) e outro no Ministério da Defesa Nacional (Sistema Integrado de Bibliotecas do Ministério da Defesa Nacional SIB DN 4 ). Este é um passo importante, pois acrescenta um conjunto de vantagens para o leitor e para as bibliotecas envolvidas neste projeto. II. O Catálogo Coletivo das Bibliotecas do Exército (CCBE) O CCBE 5 foi criado pela diretiva n.º 05/VCEME/13, com a finalidade de harmonizar a integração dos registos das diversas Bibliotecas das U/E/O num catálogo coletivo que possibilitasse a sua disponibilização e divulgação na internet através de uma plataforma comum. Assim, com a implementação desta ferramenta, a informação das bibliotecas do Exército passou a estar acessível de forma prática e descentralizada. O software utilizado pelo CCBE 5 é o DocBWeb. No entanto, para se materializar a adesão ao CCBE 5, cada biblioteca teve de garantir o cumprimento das normas relativas à descrição bibliográfica, nomeadamente o preenchimento mínimo dos registos bibliográficos das suas obras. Atualmente o CCBE conta com a adesão das seguintes bibliotecas: Biblioteca do Exército (biblioteca digital, Hemeroteca, Regulamentos Militares); 3 Bibliotecas Militares Portuguesas: Um Recurso Negligenciado in Revista Militar, N.º 2463 - Abril de 2007, pp 487-0. 4 A designação SIB DN ainda não se encontra totalmente definida, o manual de procedimentos relativo a este projeto ainda se encontra em fase de elaboração, podendo ocorrer alterações. 5 Pode consultar o CCBE e a informação bibliográfica das bibliotecas aderentes em http://biblioteca.exercito.pt/psqbol.asp 2
Biblioteca da Academia Militar; DIE - Espólio da Engenharia Militar Portuguesa (Séc. XVIII); Biblioteca da Direção de Infraestruturas do Exército; Biblioteca do Colégio Militar; Biblioteca da Escola Prática dos Serviços; Cartoteca do Instituto Geográfico do Exército; Biblioteca do Instituto Geográfico do Exército; Biblioteca do Museu Militar do Porto. Num documento enviado às bibliotecas aderentes, o CCBE divulgou alguns dados estatísticos que demonstram o sucesso desta iniciativa, no que respeita à capacidade desta ferramenta em aproximar o conhecimento e património existente nas bibliotecas do Exército dos seus utilizadores. De facto, desde que foi implementado em 19 de março de 2013, o CCBE recebeu mais do que 4,8 milhões de visitas, um número apenas possível graças ao poder do sistema de informação. Gráfico demonstrativo do número de visitantes que consultou o CCBE desde 13MAR13 até 15FEV15. 6 6 Gráfico retirado do documento enviado pela Biblioteca do Exército - Catálogo Coletivo das Bibliotecas do Exército dados estatísticos MAR13 a FEV15. 3
Um outro dado interessante é a análise que se pode fazer da origem geográfica dos utilizadores que consultaram o CCBE 5, podendo observar zonas tão distantes como o Brasil, Estados Unidos, Rússia e, surpreendentemente, um grande número de utilizadores da China. Gráfico demonstrativo da origem dos visitantes que consultou o CCBE desde 13MAR13 até 15FEV15. 7 A Biblioteca da Escola Prática dos Serviços (EPS), dando cumprimento ao despacho n.º 05/VCEME/13, iniciou no ano de 2013 um período de atualização da sua base de dados bibliográfica. Esta tarefa viria a culminar com a integração do seu acervo no CCBE no ano de 2014. O fundo da Biblioteca da EPS conta atualmente com mais de 3900 obras literárias, que 7 Gráfico retirado do documento enviado pela Biblioteca do Exército - Catálogo Coletivo das Bibliotecas do Exército dados estatísticos MAR13 a FEV15. 4
abrangem temas tão diversos como: Ex- Colónias Ultramarinas, Descobrimentos Portugueses, História de Portugal, História Universal, catálogos, arte, livros escolares, dicionários e enciclopédias, legislação militar e civil, literatura portuguesa, revistas portuguesas e estrangeiras, etc. III. O Sistema Integrado das Bibliotecas do Ministério da Defesa Nacional Presentemente encontra-se em fase de conclusão o projeto de bibliotecas em rede liderado pelo Ministério da Defesa Nacional. Este novo catálogo tem por objetivo principal permitir o acesso à informação decorrente das bibliotecas aderentes (Exército, Marinha, Força Aérea, Liga dos Combatentes, Instituto Defesa Nacional, etc.) através de uma plataforma informática comum. O sistema informático adotado é o Horizon Sistema Bibliográfico de Gestão Integrada, que foi disponibilizado a todas as bibliotecas aderentes. A biblioteca da EPS faz parte deste catálogo desde o início do mês de junho do corrente ano. IV. A formação ministrada na EPS A Escola Prática dos Serviços é neste momento, ao nível do Exército, a entidade responsável por ministrar formação na área de biblioteconomia, nomeadamente através do curso de Operador de DocBase. Este curso resulta da necessidade de uniformizar procedimentos e preparar militares para operar o programa DocBase (software utilizado na maioria das bibliotecas do Exército), no desempenho de funções nas bibliotecas das U/E/O. Esta formação foi até ao ano transato ministrada na Direção de História e Cultura Militar (DHCM), tendo sido transferida para a EPS no ano de 2014. No mês de novembro de 2014 a EPS ministrou o 1º Curso de Operador de DocBase. Decorrente desta responsabilidade, a EPS iniciou ainda a elaboração do respetivo referencial de curso no ano de 2014. A sua aprovação viria a ocorrer em 16MAR15, estando desde essa data disponível para consulta e servindo como ferramenta de trabalho para o sucesso da respetiva formação. O curso DocBase tem a duração de 40 horas distribuídas por 5 dias úteis de formação. Os conteúdos ministrados são os seguintes: I - Técnica de biblioteconomia Organização de uma biblioteca O livro e os seus constituintes Normas de biblioteconomia II - Sistema informático de gestão de informação (DocBase) Catalogação (norma unimarc), descrição e indexação. Efetuar pesquisas no DocBase; Gestão de dados (ferramentas administrativas) 5
V. Conclusões Uma preocupação sempre presente na mente de quem tem responsabilidades na gestão de uma biblioteca, é proporcionar aos seus utilizadores o melhor apoio possível, para que estes consigam aceder à informação de que necessitam em tempo útil. Porém, todo um conjunto de inovações tecnológicas e transformações sociais (que anteriormente designamos por sociedade da informação ) vieram alterar o paradigma daquela que é a função da biblioteca. A informação disponível aumentou drasticamente, o tradicional suporte papel deu lugar a novos tipos de armazenamento (nomeadamente digitais), foram criadas novas ferramentas de descrição bibliográfica, o perfil dos utilizadores da biblioteca alterou-se completamente, entre outras. A biblioteca, como a conhecemos, não pode cingir-se ao espaço físico e aos seus livros, ela tem de se assumir como repositório de informação e, concomitantemente, ferramenta de pesquisa e de disponibilização de conhecimento. Dar resposta aos desafios aqui enunciados está longe de ser tarefa fácil, e só com estratégias de trabalho bem definidas, gestão de recursos (quer humanos, quer materiais), acompanhamento da inovação tecnológica, aliadas a uma interoperabilidade de instituições, a Biblioteca garantirá o seu lugar na plateia do conhecimento. Os sistemas integrados de bibliotecas em rede são assim um passo importante na aproximação da biblioteca à nova sociedade da informação. Através desta ferramenta é possível, num mesmo local, aceder a milhares de documentos e informação bibliográfica, tudo isto sem sair do conforto da casa do utilizador. Por outro lado, a economia de custos e meios que este tipo de sistemas proporciona, é o mote perfeito para servir de ignição ao lançamento de novos projetos nesta área, na qual a Instituição Castrense felizmente se encontra na vanguarda através das suas plataformas CCBE e SIB DN. VI. Bibliografia Catálogo Coletivo das Bibliotecas do Exército dados estatísticos MAR13 a FEV15: documento enviado às UU/EE/OO do Exército, pela Biblioteca do Exército. Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas: preparado em cooperação com a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas (IFLA) e aprovado pela UNESCO em Novembro de 1994. Referencial de Curso de Operador de DocBase. Sociedade da Informação, do Conhecimento e da Aprendizagem: desafios para a educação no século XXI in Revista de Educação, Vol. XVIII, nº 1, 2011 5 22. 6