Clarissa Lopes de Oliveira 1 Anete Charnet Gonçalves da Silva 2 Márcia de Oliveira Menezes 3 INTRODUÇÃO

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ANÁLISE DO PROCESSO DE INCLUSÃO DE UMA ALUNA COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM UM CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, SOB A PERSPECTIVA EPISTEMOLÓGICA DE LUDWIK FLECK Clarissa Lopes de Oliveira 1 Anete Charnet Gonçalves da Silva 2 Márcia de Oliveira Menezes 3 INTRODUÇÃO No século XX, inicia-se uma movimentação mundial pela inclusão educacional e o respeito a diferença, registrada em documentos mundiais, a exemplo da Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) e Declaração de Salamanca (1994), e nacionais, como a Constituição Federal (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), que estimulam a reflexão sobre os parâmetros educacionais ao longo da nossa história. A partir do século XXI, os paradigmas educacionais são questionados e a educação tradicional tem todos os seus alicerces abalados com uma nova visão educacional, na perspectiva da inclusão. Surgem leis mais consistentes e direcionamentos sobre os direitos e deveres dos professores e alunos sob essa nova ótica. A igualdade, o direito de estar na escola, de participar da escola e de ter uma educação direcionada para as suas particularidades, a adequação do sistema escolar ao aluno e não o aluno ao sistema escolar. Destaca-se nesse cenário a educação sob o aspecto das necessidades educacionais especiais e como agir diante delas. E é nesse contexto que aparecem inúmeras discussões sobre a inclusão no ensino básico e posteriormente no superior. São inúmeros os trabalhos acadêmicos que tratam da educação inclusiva no ensino básico (CORREIA, 1999; LADEIRA; AMARAL, 1999; CARVALHO, 2004; CARNEIRO, 2007), mas e no ensino superior? 1 Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Endereço eletrônico: cl-oliveira@outlook.com 2 Professora Adjunta Aposentada da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Pesquisadora do GEPECC. Endereço eletrônico: anetecharnet@yahoo.com.br 3 Professora Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Pesquisadora do GEPECC. Endereço eletrônico: marciaomenezes14@gmail.com 445

Uma pesquisa encontrada no documento do Programa Incluir (BRASIL, 2013) registra o crescimento de mais de 350% no número de ingressos com necessidades educacionais especiais (NEE) no ensino superior brasileiro, durante o período de 2003 a 2011. Mas será que esses números são referentes apenas a integração ou são efetivos na inclusão? Todos os professores do ensino superior sabem o que é inclusão? Estão preparados para receber esses alunos? Essas indagações permeiam o início e o caminhar desta pesquisa. No curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista, ingressou no ano de 2014 uma aluna com paralisia cerebral, que diante das leis e direcionamentos para uma educação inclusiva para pessoas com necessidades especiais, cabem as perguntas: essa aluna está se sentindo inclusa no curso? Possui dificuldades de interação com colegas de turma e/ou professores? Os professores sentem que suas práticas estão sendo inclusivas? Eles se sentem preparados para práticas inclusivas? Os professores sabem o que é inclusão? Acreditam que a inclusão de alunos com NEE em turmas regulares são efetivas? A instituição preparou e/ou dialogou com os professores antes de receberem a aluna no curso? Eles se sentem preparados para práticas inclusivas? A instituição adaptou o ambiente para receber a aluna? O núcleo de inclusão conversou com os professores antes de receber a aluna na instituição? Como o núcleo de inclusão tomou conhecimento sobre o ingresso da aluna na instituição e o que foi feito a respeito? Essas perguntas serão feitas no decorrer da pesquisa. De que forma está acontecendo o processo de inclusão de uma aluna com Necessidades Educacionais Especiais (paralisia cerebral) no Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UESB, campus de Vitória da Conquista? Diante dos questionamentos colocados pretende-se analisar o processo de inclusão de uma aluna com Necessidades Educacionais Especiais (paralisia cerebral) no Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UESB, campus de Vitória da Conquista, a partir da compreensão de professores e da discente, considerando as características pedagógicas e metodológicas que estruturam o curso. METODOLOGIA O presente estudo tem uma abordagem de caráter qualitativo, buscando a opinião 446

das pessoas sobre o tema que será investigado: a inclusão. Ao trabalhar com a realidade social, leva em consideração que o ser humano se distingue não apenas por suas ações, mas por pensar sobre o que faz e interpretar sobre como age (MINAYO, 2006). Trata-se de um estudo de caso por ser um estudo profundo e exaustivo de um objeto, segundo Gil (2002), de forma que permita amplo detalhamento de conhecimento. O autor ainda destaca que esse tipo de pesquisa pode ser usado como estudo-piloto para esclarecimento de um campo maior da pesquisa e com mais objetos. A pesquisa será realizada na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista, no período do primeiro ao segundo semestre de 2017, por meio da aplicação de entrevistas para a aluna com paralisia cerebral, para os professores que já ministraram aulas à aluna e para técnico especializado do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão de Pessoas com Deficiência (NAIPD) da instituição. A aluna se encontra, atualmente, no quarto semestre do curso, e no ato da pesquisa estará no quarto semestre. Foi escolhida para a pesquisa seguindo a recomendação da Declaração de Salamanca (1994) ao inferir que a pessoa com deficiência tem o direito de expressar seus desejos em relação a sua educação, logo, possuí o direito inerente de ser consultada sobre o assunto. Do corpo docente, composto de mestres e doutores, serão selecionados aqueles que já ministraram disciplinas para a aluna e se disponibilizarem participar da pesquisa por meio do termo de consentimento. O NAIPD foi escolhido devido á necessidade de perceber a posição da universidade quanto ao processo de inclusão da aluna, já que ele é considerado um espaço que gesta, administra e implanta ações que promovem o acompanhamento de alunos com necessidade de Educação Especializada. Atualmente proporciona a seleção de ledores, tradutores, transcritores, intérpretes para alunos cegos e surdos, como também apoia a realização da inscrição do vestibular. Segundo o próprio site da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), ele vem auxiliando os colegiados que necessitam de maiores detalhes sobre cada caso de deficiência que recebem (UESB, s.d.). Para a construção das informações sobre o objeto de estudo foram elaboradas entrevistas semiestruturadas (GIL, 2002; MINAYO, 2009), uma combinação de questões abertas e fechadas, focalizando o tema proposto de maneira que o entrevistador ao abordar o entrevistado tome cuidado com o que pergunta, a forma como pergunta, a linguagem utilizada e a sequência das perguntas, partindo de perguntas básicas até as que revelem a busca do objetivo do estudo (MANZINI, 2003). Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, o presente estudo tem como foco a 447

exploração do conjunto de opiniões sobre o tema inclusão, e, para tanto buscará pontos em comum e diversidade de opiniões. De acordo com Bardin (1979 apud MINAYO, 2009), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que busca obter, por meio de um procedimento sistemático, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de variáveis inferidas dessas mensagens. Nesse sentido, os procedimentos metodológicos descritos por Minayo (2009) serão considerados como: categorização, inferência, descrição e interpretação. Para a análise das informações obtidas será utilizada a perspectiva epistemológica de Ludwik Fleck (1935), que sugere que os pensamentos sobre um determinado fato estão condicionados a um coletivo de pensamento que determinam um estilo de pensamento. Nesse sentido, para o autor, o conhecimento está vinculado à dependência de fatores socioculturais e empíricos, que exercem uma influência sobre a realidade social. O autor ainda acrescenta que essa consciência do estilo de pensamento coletivo quase nunca é percebida pelo indivíduo e que exerce uma coerção absoluta sobre o seu modo de pensar, sendo simplesmente impensável uma oposição. Esses elementos teóricos (coletivo e estilo de pensamento) associados a estudos de outros autores que também serão considerados para auxiliar na construção e interpretação dos fatos no decorrer da pesquisa são importantes para o entendimento do momento histórico, político, social e econômico em que ocorre o processo de inclusão da aluna na universidade. Trata-se de um estudo em andamento para a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Ciências Biológicas na UESB. RESULTADOS ESPERADOS Espera-se com essa pesquisa caracterizar o processo de inclusão de uma aluna com paralisia cerebral, sob a perspectiva dos professores que lecionaram para a aluna, da própria aluna que tem o direito de se manifestar sobre a educação que lhe é oferecida no ensino superior e do núcleo de inclusão da instituição que é o responsável direto pelo processo de inclusão de pessoas com necessidade de Educação Especializada. Palavras chave: Ensino Superior. Inclusão. Epistemologia de Ludwik Fleck. 448

REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/ Tailândia, 1990.. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. CARVALHO, R. É. Educação Inclusiva: com os pingos nos is. Porto Alegre: Mediação, 2004. CORREIA, L. de M. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto, Portugal: Porto, 1999. FLECK, L. Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010 (Tradução de Georg Ote e Mariana De Oliveira). GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. LADEIRA, F.; AMARAL, I. A Educação de Alunos com Multideficiência nas Escolas de Ensino Regular. Lisboa: Ministério da Educação, 1999. MANZINI, E. J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semiestruturada. In: MARQUEZINE: M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE; S. (Orgs.) Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003. p.11-25. MINAYO, M. C. S. (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 14. ed., Petrópolis: Vozes, 2006. UESB. Projeto Pedagógico do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas. Vitória da Conquista- BA, 2012. 449

UESB. PROGRAD: Pró Reitoria de Graduação. Disponível em: http://www2.uesb.br/ proreitorias/prograd/wp-content/uploads/estrutura_prograd_ detalhada.pdf. Acessado em: 31/08/2016. 450