1 QUANTIFICAÇÃO E SIGNIFICADO DO RUMO DAS DUNAS COSTEIRAS NA PLANÍCIE QUATERNÁRIA COSTEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO (SE/AL) CAMILA FERREIRA SANTOS, CUSO DE GAOGRAFIA/UEFS. Milageo@Bol.Com.Br LIANA MARIA BARBOSA, Depto de Ciências Exatas/UEFS. liana@uefs.br Apoio do CNPq. 1 INTRODUÇÃO As areias eólicas modernas ocorrem em desertos arenosos e em regiões costeiras. No Nordeste do Brasil, ocorrem dunas costeiras entre São Luís (MA) e Natal (RN), associadas à foz do Rio São Francisco (SE/AL) e à foz do Rio Real (BA). Barbosa & Dominguez (1992), Dominguez & Barbosa (1994) e Barbosa (1997) apresentam a morfologia desses campos de dunas costeiras, e, caracterizam as variações geomórficas no campo de dunas costeiras ativas como: (a) lençol de areia, uma superfície eólica destituída de formas de leito significativas, onde os sedimentos são transportados da praia para o interior da planície costeira em manto; (b) dunas isoladas e interdunas, situadas na porção intermediária, onde são identificadas dunas barcanas isoladas e amalgamadas (de poucos centímetros a 5m de altura) e zonas interdunares, mais baixas, por vezes vegetadas ou inundadas; (c) dunas compostas, na parte mais interna desse campo de dunas, que constitui uma megaforma de leito, com cristas transversais superimpostas, e, por vezes, o desenvolvimento de pequenas barcanas no flanco dorsal, ou a barlavento. Dunas de sombra, feições associadas com a vegetação, ocorrem normalmente nas partes mais internas do lençol de areia e das dunas isoladas e interdunas. Segundo Lancaster (1995), ambientes de sedimentação eólica podem ser estudados sob ponto de vista da morfologia e estilos de sedimentação, análise textural e composicional dos sedimentos, e, da dinâmica eólica, com relação aos processos de transporte, erosão e acumulação eólica. Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar o esboço cartográfico e a quantificação dos rumos de avanço das feições eólicas em um setor localizado aproximadamente na metade do campos de dunas costeiras ativas associados à foz do Rio São Francisco no trecho Pontal do Peba - Pontal da Barra (foz do rio), visando contribuir para a compreensão da morfologia na área.
Localização e geologia da planície quaternária costeira associada à desembocadura do Rio São Francisco e os campos de dunas costeiras. Simbologia: Depósitos de leques aluviais pleistocênicos (Qla), Terraços marinhos pleistocênicos (Qt1), Terraços marinhos holocênicos (Qt2), Depósitos lagunares (Ql), Depósitos fluviais (Qf), Depósitos de mangues (Qm), Dunas inativas (Qe1), Dunas ativas (Qe2) e Bancos recifais (Qr) (Bittencourt et al. 1982, Barbosa 1985, Barbosa & Dominguez 1994, Barbosa 1997). 2
3 2 METODOLOGIA Este estudo se fundamentou na interpretação de dois conjuntos de fotografias aéreas verticais pancromáticas na escala 1:20.000 obtidas pela TERRAFOTO S/A em 1957 e na escala 1:25.000 obtidas pelo SACS em 1960. Como base cartográfica foi adotada a folha SC.24-Z-B-III-3/MI-1668-3/Fazenda Velha 0,5 km região de Piaçabuçu, escala 1:50.000 elaborado pelo IBGE em 1986. O mapa geológico-geomorfológico apresentado por Barbosa (1997) e o esboço de Santos et al. (2000) foram usados para efeitos de comparação. Com a fotointerpretação pode-se demarcar a morfologia no campo de dunas e traçar os rumos de migração das dunas. Considerando a classificação morfodinâmica de Hunter et al. (1983) e Hesp (1992), o rumo de migração das formas de leito foram tabeladas de acordo com os intervalos 345 o -15 o, 15 o -25 o, 25 o -75 o, 75 o -105 o, 105 o -165 o, 165 o -195 o. Estes dados foram tabelados, e, posteriormente, foi calculada a freqüência em cada ano de observação. Os resultados foram digitalizados. 3 RESULTADOS A área estudada corresponde as coordenadas geográficas 10º25 00 e 10º27 11 lat S e 36º22 11 e 36º20 49 long W, cobrindo uma área aproximadamente de 11,025km 2. Nesta área foram delineadas as diferenças geomórficas, considerando a classificação apresentada em Barbosa (1997). A extensão da cobertura arenosa varia, portanto medindo-se o conjunto de fotografias de 1957, obteve-se no domínio de: (a) lençol de areia - 180m a 437,5m, (b) dunas isoladas e interdunas - 490m a 1.190m e, (c) dunas compostas - 265,5m a 827,5m. No setor intermediário, onde ocorrem dunas isoladas e interdunas, as medidas de rumo somaram 191 orientações, das quais 29,3% estão no rumo NE-SW, 70,1% de E-W e 0,5% de SE-NW. Há um predomínio do rumo E-W. Para o conjuntos de fotografias de 1960, a extensão obtida para cada domínio foi: (a) lençol de areia - 227,3m a 454,5m, (b) dunas isoladas e interdunas - 500m a 1.022,72m e, (c) dunas compostas - 340,9m a 681,8m. No setor intermediário, as medidas de rumo foram 286 orientações, que indicam 25,2% no rumo NE-SW e 74,0% de E- W. Aqui, também há predomínio do rumo E-W e ausência de medidas no rumo SE-NW. Estes dados apresentam resultados diferentes daqueles apresentados por Santos et al. (2000), que identificaram 43,38% de orientações no rumo SE-NW, em fotografias datadas do 1986. Analisando os sumários meteorológicos do INMET de 1986 para as estações Maceió e Aracaju, observa-se que esse ano foi mais chuvoso e, que somente um mês pode ser considerado seco: fevereiro para Maceió e dezembro para Aracaju.
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6 4 DISCUSSÃO Em termos percentuais não há variações significativas entre os rumos obtidos nos dois períodos analisados. Todavia com relação à concentração e à localização dos feixes NE-SW observam-se diferenças. Nas fotografias de 1957, os feixes NE-SW estão concentrados no interior da província dunas isoladas e interdunas. Enquanto, nas fotografias de 1960, os feixes NE-SW estão concentrados próximos ao lençol de areia, na porção mais externa da província analisada. Pela quantidade de formas de leito observadas em 1960, infere-se que a sedimentação eólica naquele ano foi favorecida pelos fatores climáticos e padrão de incidência dos ventos. REFERÊNCIAS BARBOSA, L.M. Dunas ao sabor dos ventos. Revista Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro: SBPC, no prelo. BARBOSA, L.M. Campos de dunas costeiras associados à desembocadura do Rio São Francisco (SE/AL): origem e controles ambientais. Salvador: Universidade Federal da Bahia. 1997. 202 p. (inédito) DOMINGUEZ, J.M.L.; BARBOSA, L.M. Controls on the Quaternary evolution of the São Francisco strandplain: roles of sea-level history, trade winds and climate. In: International Sedimentological Congress, 14, Recife-Pernambuco, Brazil, IAS. 1994. 39p. (Field trip guide). DOMINGUEZ, J.M.L.; BITTENCOURT, A.C.S.P.; MARTIN, L. Controls on Quaternary coastal evolution of the East-Northeastern coast of Brazil: roles of sea level history, trade winds and climate. In: Donoghue, J.F. et al. (eds.) Quaternary coastal evolution. Sedimentary Geology, 1992. 80, 213-232. HESP, P.A.. Flow dynamics over transverse dunes. In: Australia/New Zealand Geomorphology Research Group. Proceeding... Port Macquarie: NSW, 1992. pp. 33. HUNTER, R.E.; RICHMOND, B.M.; ALPHA, T.R. Storm-controlled oblique dunes of the Oregon coast. Geological Society of America Bulletin, v. 94, p. 1450-1465. 1983. SANTOS, L.. R. C. A.; BARBOSA, L. M.; ALBUQUERQUE, A. L. Dinâmica de sedimentação dos campos de duas costeiras ativas associadas à desembocadura do rio São Francisco - Miaí - Pontal da Barra - Litoral sul do Estado de Alagoas. Relatório de pesquisa. Maceió (2000). FAPEAL/ Área de atendimento - meio ambiente/ preservação dos ecossistemas alagoanos.