O pingue-pongue do inquérito policial



Documentos relacionados
O COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições legais; e

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, no uso de suas atribuições legais,

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Promoção de Arquivamento n.º

Ajustes no questionário de trabalho da PNAD Contínua

Motivos de transferência do negócio por parte dos franqueados

5 Considerações finais

DDoS: como funciona um ataque distribuído por negação de serviço

Modelo concede flexibilidade a hospitais públicos

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. (Alterada pelas Resoluções nº 65/2011 e 98/2013) RESOLUÇÃO Nº 20, DE 28 DE MAIO DE 2007.

POR QUE AS EMPRESAS NÃO DEVEM INVESTIR EM PROGRAMAS DE INCLUSÃO?

EXPECTATIVAS COM RELAÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

da Qualidade ISO 9001: 2000

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

MANUAL DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA MNPJ

DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DA INICIATIVA

pena pode chegar a 5 (cinco) anos de detenção, mas são destituídos de periculosidade e, em geral, recaindo na modalidade culposa.

SEFAZ-PE DESENVOLVE NOVO PROCESSO DE GERÊNCIA DE PROJETOS E FORTALECE OS PLANOS DA TI. Case de Sucesso

SECRETARIA DE ESTADO DA MICROEMPRESA E DA EMPRESA DE PEQUENO PORTE

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

O Papel do DPP. Escritório do Procurador-Geral. Introdução

PROCEDIMENTO E ORIENTAÇÃO PARA FISCALIZAÇÃO DOS CONTRATOS DE SERVIÇOS TERCEIRIZADOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE

Esse produto é um produto composto e tem subprodutos

Aprimoramento através da integração

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

COMO COMEÇAR 2016 se organizando?

Satisfação dos consumidores: estudo de caso em um supermercado de Bambuí/MG

COMO TER TEMPO PARA COMEÇAR MINHA TRANSIÇÃO DE CARREIRA?

A computação forense e perícia digital na sociedade contemporânea

PROVIMENTO CONJUNTO Nº 06/2015-MP/PGJ/CGMP

ITAUTEC S.A. GRUPO ITAUTEC REGIMENTO INTERNO DO COMITÊ DE AUDITORIA E DE GESTÃO D RISCOS

CARTILHA SOBRE DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL APÓS A DECISÃO DO STF NO MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 880 ORIENTAÇÕES DA ASSESSORIA JURIDICA DA FENASPS

Brasil. 5 O Direito à Convivência Familiar e Comunitária: Os abrigos para crianças e adolescentes no

7 perguntas para fazer a qualquer fornecedor de automação de força de vendas

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

PROGRAMA MUNICÍPIO ECOLEGAL: GESTÃO PARA O MEIO AMBIENTE

Seguridade Social e Dívida Pública Maria Lucia Fattorelli i

Controle Social e Controle do Estado

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Inflação castiga mais o bolso dos que menos têm

RELATORIO DA ATIVIDADE 534

Nós o Tempo e a Qualidade de Vida.

A APRENDIZAGEM DO ALUNO NO PROCESSO DE INCLUSÃO DIGITAL: UM ESTUDO DE CASO

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

PROCEDIMENTO DA DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS ART. 6º E 7º

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

EMPREENDEDORISMO DE. Professor Victor Sotero

Unidade I Conceitos BásicosB. Conceitos BásicosB

Equipe OC- Olimpíadas Científicas

Altera e consolida o Plano de Cargos e Salários da Câmara Municipal de Córrego do Ouro, e dá outras providências.

Ministério Público Federal Procuradoria da República em São Paulo - SP

difusão de idéias QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Um processo aberto, um conceito em construção

Fanor - Faculdade Nordeste

MEIO AMBIENTE Fiscalização ambiental: seu posto está preparado?

*C38FEB74* PROJETO DE LEI

SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVÓRCIO CONSENSUAL NÃO MAIS NECESSITA SER HOMOLOGADA PELO STJ APÓS NOVO CPC

Memorias Convención Internacional de Salud Pública. Cuba Salud La Habana 3-7 de diciembre de 2012 ISBN

1. Escopo ou finalidade da iniciativa

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RESOLUÇÃO Nº 36, DE 6 DE ABRIL DE 2009 (Alterada pela Resolução nº 51, de 09 de março de 2010)

ERRADICAR O ANALFABETISMO FUNCIONAL PARA ACABAR COM A EXTREMA POBREZA E A FOME.

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

RELATÓRIO DA CORREIÇÃO EXTRORDINÁRIA PARCIAL REALIZADA NA SEGUNDA AUDITORIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL & SAÚDE: ABORDANDO O TEMA RECICLAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR

ESTATUTO DAS LIGAS ACADÊMICAS Diretoria de Extensão e Assuntos Comunitários

A experiência da Engenharia Clínica no Brasil

ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FORNECEDORES DE MEDICAMENTOS - ABFMED

PÓS-GRADUAÇÃO EM: POLÍTICAS E GESTÃO PRISIONAL

Empreenda! 9ª Edição Roteiro de Apoio ao Plano de Negócios. Preparamos este roteiro para ajudá-lo (a) a desenvolver o seu Plano de Negócios.

SENSO COMUM X CIÊNCIA: O AVANÇO DO CONHECIMENTO AO LONGO DA HISTÓRIA. Palavras chave: Conhecimento, Ciência, Senso Comum, Pesquisa Científica.

ASSOCIAÇÃO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AUTONOMIA DO CORPO DE BOMBEIROS DA BRIGADA MILITAR

Leila Burgos de Carvalho Moreira Eng. Química Coordenadora de Indústrias e Serviços COIND/DIRRE/INEMA

Os fazeres do coordenador pedagógico: gico: da clareza conceitual à eficiência da açãoa. Prof. Francisca Paris

Supreme Court. Courts of Appeals. Federal Circuit. District Courts. Court of Int l Trade, Claims Court, and Court of Veterans Appeals

MATERIAL DE AULA LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996.

Apresentação do Curso

Art. 13. As extrações serão realizadas em sala franqueada ao público, pelo sistema de urnas transparentes e de esferas numeradas por inteiro ;

Capítulo 2 Objetivos e benefícios de um Sistema de Informação

tada Participamos do processo de confecção de Tem tinta de cabelo, tem tinta de parede, tem tinta de metal e mais tinta com a gente!

CUSTOS DA QUALIDADE EM METALURGICAS DO SEGMENTOS DE ELEVADORES PARA OBRAS CÍVIS - ESTUDO DE CASO

3o Plano Municipal de Segurança de Diadema Resultado das Consultas Populares julho 2011

Projeto de Desenvolvimento de Software. Apresentação (Ementa) e Introdução

5 Conclusão. FIGURA 3 Dimensões relativas aos aspectos que inibem ou facilitam a manifestação do intraempreendedorismo. Fonte: Elaborada pelo autor.

5 Instrução e integração

Desafios de um prefeito: promessas de campanha e a Lei de Responsabilidade Fiscal 1

GABINETE DO CONSELHEIRO FÁBIO GEORGE CRUZ DA NÓBREGA PARECER

Boletos registrados e o fim dos boletos sem registro COBRE. fácil online

FORMAÇÃO DE JOGADORES NO FUTEBOL BRASILEIRO PRECISAMOS MELHORAR O PROCESSO? OUTUBRO / 2013

17/5/2009. Esta área de conhecimento tem o objetivo de utilizar de forma mais efetiva as pessoas envolvidas no projeto (equipe e stakeholders)

Futuro Profissional um incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho

QUALIDADE. Avaliação positiva

Matriz Geral de sistematização Trilha: Governança democrática e colaborativa

DESEMBARGADOR SÉRGIO ANTÔNIO DE RESENDE PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

WORKSHOP DE PESQUISA PROJETO ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA E DEMOCRACIA

PREVISÃO DE DEMANDA - O QUE PREVISÃO DE DEMANDA - TIPOS E TÉCNICAS DE PREVISÃO DE DEMANDA - MÉTODOS DE PREVISÃO - EXERCÍCIOS

1. Referencial Teórico a essência da informática para a administração pública

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa

Transcrição:

O pingue-pongue do inquérito policial Marina Lemle 09/07/2010-03:00. O inquérito policial é a peça-chave que abre tanto quanto fecha as portas do processo de incriminação no Brasil. Um estudo realizado ao longo do ano de 2009 em cinco capitais brasileiras Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília e Porto Alegre constatou que a investigação criminal, sob o modelo do inquérito policial, privilegia a atividade burocrática e cartorial em detrimento da atividade investigativa. De acordo com o sociólogo Michel Misse (foto), professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador da pesquisa, isso ocorre porque o inquérito busca formar a culpa e não apenas apontar a probabilidade de materialidade e de autoria para subsidiar a ação penal. Em todas as delegacias pesquisadas há um excesso de papeis visando a atividade-fim o relatório da investigação e cuja função deveria ser apenas preliminar e administrativa, afirma Misse na introdução do livro "O inquérito policial no Brasil uma pesquisa empírica", resultante do estudo. Ele destaca ainda o preocupante afastamento tanto entre agentes policiais e delegados quanto entre delegados e membros do Ministério Público, apesar da interdependência das funções que realizam. "Descobrimos haver uma separação entre a investigação policial técnica e o inquérito enquanto modelo que captura a investigação sob orientação política, disse o professor na mesa redonda que antecedeu o lançamento do livro durante Seminário Internacional Violência e Democracia na América Latina, realizado em 1 de julho no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Rio. Em cada um dos cinco estados, a pesquisa foi coordenada por um especialista: no Rio, por Misse; no Distrito federal, por Artur Trindade Costa, da Universidade de Brasília; no Rio Grande do Sul, por Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, da PUC-RS, em Pernambuco, por José Luiz Ratton, da Universidade Federal de Pernambuco; e em Minas Gerais por Joana Vargas, que era da Universidade Federal de Minas Gerais e acaba de entrar para a UFRJ. O estudo foi sugerido pela Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que promove uma campanha para repensar o papel do inquérito e necessitava de

embasamento científico que sustentasse sua posição ou apontasse a necessidade de revisão. Para o presidente da Fenapef, Marcos Vinício de Souza Wink, o esforço acadêmico confirmou a percepção da entidade sobre os problemas do inquérito e a necessidade de mudanças para dar celeridade e eficiência ao processo investigatório. Na orelha do livro, Wink afirma que o inquérito policial gera burocracia, contradições entre opiniões policiais e jurídicas, interferências políticas, baixa taxa de esclarecimentos criminais e um pingue-pongue de documentos entre a polícia e o Ministério Público. Na mesa organizada para divulgar os principais resultados do estudo, Michel Misse esclareceu que os pesquisadores não entraram na discussão jurídica, doutrinária ou política, limitando-se a realizar uma etnografia em delegacias da Polícia Civil nos cinco estados. Acompanhamos os trabalhos nas delegacias e analisamos dados estatísticos e de bancos de dados como o do Ministério Público do Rio de Janeiro, ao qual fomos os primeiros a ter acesso, contou o professor. Segundo ele, não foi feita pesquisa na Polícia Federal porque os pesquisadores tiveram dificuldades em obter concordância da instituição para acompanhar os trabalhos, o que os desmotivou. Ferrari ou carroça? Presente à mesa, o vice-presidente da Fenapef, Paulo Roberto Poloni Barreto, afirmou que nos inquéritos da Polícia Federal a burocracia é tão grande que 60% são despachos, carimbos e envios que não acrescentam nada. É carenagem de Ferrari em carroça puxada por burros, afirmou, referindo-se aos inquéritos. Ele afirmou que no pingue-pongue entre a Polícia e o Ministério Público gera-se uma quantidade imensa de papéis. O computador facilitou a produção de textos, mas trouxe o efeito perverso de aumentar a produção de papéis, resultando em autos volumosos, cheios de folhas inúteis que não têm valor provante, enquanto as provas se escondem no meio delas, disse. Para Poloni, a finalidade da burocracia do inquérito é justamente fazer demorar a apresentação dos casos. Elementos de prova vão se diluindo com o tempo, criando condições para absolvição, penas leves ou arquivamento. A morosidade da Justiça Criminal é auxiliada pelo burocrático inquérito policial, que não evoluiu como os crimes, lamentou. Uma prova da ineficiência do sistema, segundo o policial federal, é que há muitos inquéritos e poucas condenações.

O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Sindelpol-RJ), delegado Sergio Simões Caldas, reconhece que algumas polícias judiciárias ainda não conseguiram vencer barreiras cartoriais, deixando de transformar documentos meramente formais em substâncias probatórias efetivas. Porém, ele ressalta que o inquérito contém um conjunto de peças importantes para o promotor de Justiça fundamentar a denúncia e instruir o processo criminal. Além disso, é o procedimento que se usa no Brasil todo. Para ele, a solução dos problemas passa pelo incentivo a medidas que aumentem a celeridade e a qualidade do procedimento. Viés classista? Caldas lamenta que o livro não traga propostas sobre a substituição do instituto do inquérito. Ele enfatiza que "a estratégia pragmática de formulação de uma pesquisa depende da vertente do grupo que contratou o trabalho", o que, a seu ver, não diminui o valor da pesquisa realizada, mas torna necessário "considerar esse viés de interesse classista compartimentado na análise do resultado". O estado do Rio de Janeiro é, de acordo com Caldas, um bom exemplo, pois a Polícia Civil teria conseguido quebrar paradigmas de excessos cartoriais e de formalismos procedimentais. "No Rio, a esmagadora maioria das delegacias de polícia já foi transformada em legal, funcionando de forma online e diminuindo sobremaneira os formalismos cartoriais", afirma. De acordo com o delegado, no Rio vários órgãos do Ministério Público já acessam eletronicamente o conteúdo das apurações criminais em trâmite nas delegacias de polícia. "O Tribunal de Justiça e o Ministério Público mudaram o discurso onde a culpa da baixa produção ministerial era das polícias", afirma. Sem ciclo completo ou carreira única Na introdução do livro, Michel Misse cita como um problema comum a todas as capitais estudadas o grande volume de ocorrências criminais em comparação ao número de investigadores e delegados incumbidos de dar-lhes tratamento. Esta constatação, segundo o professor, é agravada pela desconexão prática do trabalho investigativo com a rotina de policiamento preventivo das polícias militares. No caso do homicídio doloso, afirma o professor, o problema é agravado pelo fato de que a preservação do local do crime nem sempre é feita pela Polícia Militar, a primeira

a chegar. Além de não ser treinada para investigar, não é permitido à PM realizar as investigações iniciais, decisivas neste e em outros tipos de crime. Em compensação, verificou-se que grande parte dos crimes que apresentam melhor taxa de elucidação resultam de flagrantes, isto é, em boa medida do trabalho das polícias militares e em menor medida de investigações da Polícia Civil. Polícias de ciclo completo poderiam resolver esse problema, mesmo mantendo as duas corporações separadas, sugere Misse. O professor relata ainda um persistente conflito de saberes entre os policiais investigadores e os delegados bacharéis em Direito que ocupam a posição de autoridade policial. Verificou-se que há conflitos de interesses entre essas categorias resultantes da inexistência de uma carreira única, que premiasse os policiais mais experientes e dedicados com o posto de autoridade policial, como em outros países, observa. Para comissário, conflito é especulação De acordo com o diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro, comissário Franklin Bertholdo Vieira, não existe este conflito. A autoridade policial sempre prestigiou o trabalho da tiragem, afirma. Segundo ele, os delegados e os profissionais que colhem e materializam as provas - investigadores, inspetores, comissários e peritos - formam um conjunto que trabalha com o mesmo objetivo. A autoridade policial determina a diligência, mas dá liberdade de trabalho, garante o comissário, que trabalha na Delegacia de Homicídios. A seu ver, o trabalho da Polícia Civil vem melhorando com o desenvolvimento de novos programas como o das delegacias legais, que integraram os sistemas, e o Dedic - Programa de Delegacias de Dedicação ao Cidadão. Para o comissário, a baixa produtividade do inquérito policial se deve à falta de recursos materiais e para treinamento de policiais voltados para a investigação. De acordo com ele, a Polícia Judiciária foi sucateada durante muito tempo, quando foram privilegiados investimentos na Polícia Militar, para o combate e a contenção do crime. É mais fácil e barato investir na PM, diz Bertholdo Vieira, que também é diretor da União dos Comissários de Polícia e da Coligação dos Policiais Civis. Ele acredita haver interesses políticos por trás tanto do Ministério Público quanto da PM, que tirariam proveito do comprometimento da qualidade da Polícia Judiciária. Como o MP se vê como dono do inquérito, todas as falhas são usadas para esvaziar o trabalho da Polícia Civil. Já a PM quer ganhar o inquérito para si, tirando-o da autoridade policial. A P2 nada mais é do que a Polícia Judiciária Militar, explica. Segundo ele, o MP é um fiscal do inquérito, mas não o seu presidente. Na mesa redonda do lançamento do livro, a professora e co-autora Joana Vargas questionou o papel do Ministério Público. O MP fica na posição de apenas encampar o inquérito ou reenviá-lo ao delegado por considerar que as provas são insuficientes, dando-lhes novos prazos. Para cumprir prazos legalmente estabelecidos, o inquérito mal-sucedido não fica em lugar nenhum, até que, passados meses - e em não poucos casos, anos - ele venha a ser arquivado. Isso foi amplamente observado durante a pesquisa.

Livro aborda inquérito em outros três países A problemática do inquérito policial em cada estado é apresentada pelos coordenadores locais da pesquisa nos cinco primeiros capítulos, que formam a primeira parte do livro. Na segunda parte, é discutida a investigação criminal em três países - Argentina, Espanha e França. O livro tem 475 páginas. Mais informações no portal Booklink. Publicado em: http://www.comunidadesegura.org/pt-br/materia-o-pingue-ponguedo-inquerito-policial, 09/07/2010