Coorte coprológica em catadores de uma cooperativa de triagem de resíduos sólidos



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NOTA PRÉVIA / PRIOR NOTE Coorte coprológica em catadores de uma cooperativa de triagem de resíduos sólidos Coprocological cohort in waste pickers from a recycling cooperative of solid waste Juliana Carriconde Hernandes 1 Érico Kunde Corrêa 2 Luciara Bilhalva Corrêa 3 Kelly Kathleen Almeida Heylmann 4 Vânia Raquel Duarte Pereira 5 Jaqueline Radin 6 Ana Lúcia Coelho Recuero 7 Claudiomar Soares Brod 8 Rev Panam Infectol. 2015;17(1):37-41 Received : 19/2/2015 Approved: 5/4/2015 1 Doutoranda do Programa de pós-graduação em Parasitologia. Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos Sólidos e Sustentabilidade. Centro de Controle de Zoonoses. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 2 Professor adjunto do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos Sólidos e Sustentabilidade. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 3 Professora adjunta do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos Sólidos e Sustentabilidade. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 4 Acadêmica do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos Sólidos e Sustentabilidade. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 5 Engenheira Ambiental e Sanitarista. Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão em Resíduos Sólidos e Sustentabilidade. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 6 Doutoranda do Programa de pós-graduação em Parasitologia. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil 7 Doutora em Medicina Veterinária. Centro de Controle de Zoonoses. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. 8 Professor Titular do curso de Medicina Veterinária. Centro de Controle de Zoonoses. Universidade Federal de Pelotas. RS, Brasil. RESUMO A pesquisa teve como objetivo diagnosticar enteroparasitos em trabalhadores de uma cooperativa de triagem de material reciclável na cidade de Pelotas-RS, por meio de um estudo de coorte, realizado em duas Etapas, onde na 1ª Etapa, 87,5% dos trabalhadores estavam parasitados, sendo 75% deles patogênicos e 12,5% comensais. Na 2ª Etapa retornou-se à cooperativa e verificou-se uma diminuição da prevalência para 75%, dos quais 12,5% eram patogênicos e 62,5% eram comensais. Devido à intervenção terapêutica ou à motivação pelas palestras conferidas, houve uma diminuição da prevalência de enteroparasitos patogênicos na população estudada. Palavras-Chave: Catadores; Resíduos Sólidos; Parasitos; Saúde Pública ABSTRACT The objective of this research is to diagnose enteroparasites in workers from a recycling cooperative in the city of Pelotas, RS, through a cohort study, performed in two stages. In the 1 st stage, 87.5% of workers were parasited, where 75% of these parasites were pathogenic and 12.5% were commensal. In the 2 nd stage, the researchers returned to the cooperative and verified a decrease in the prevalence to 75%, being 12.5% of them pathogenic and 62.5% of them commensal. Due to therapeutic intervention or through lectures, there was a diminishing of the prevalence of pathogenic enteroparasites on the studied population. Keywords: Solid Waste Segregators; Solid Waste; Parasites; Public Health 37

Hernandes JC (1) et al. Coorte coprológica em catadores de uma cooperativa de triagem de resíduos sólidos INTRODUÇÃO As cooperativas de triagem de resíduos sólidos são uma oportunidade para que os catadores possam se organizar, aumentar a geração de renda e melhorar as condições de trabalho (1-2). Grande parte desses locais ainda demonstram alguma precariedade em relação às instalações (3), higiene, equipamentos de segurança e programas de capacitação (4), expondo estes à contração de doenças (2). Os resíduos recicláveis frequentemente chegam às cooperativas misturados com matéria orgânica putrescível, contaminantes biológico e tóxico, dentre outros. Assim, é grande a propensão dos trabalhadores contraírem doenças infecciosas, dentre elas as parasitárias (5) ; atrelado a isso, existe a vulnerabilidade socioeconômica e as condições precárias de saneamento básico, higiene e nutrição desses trabalhadores (6). O objetivo deste trabalho foi diagnosticar a presença de enteroparasitos em trabalhadores de uma cooperativa de triagem de resíduos sólidos na cidade de Pelotas- -RS, através de um estudo de coorte. METODOLOGIA A cidade de Pelotas possui cinco cooperativas de resíduos recicláveis com um número médio de 12 catadores em cada uma, representando uma população alvo de cerca de 60 operários. Como projeto piloto, foi realizado um estudo de coorte em uma das cooperativas que possuía 13 trabalhadores, dos quais somente oito aceitaram participar das duas etapas do estudo que resultaram em 48 exames de fezes. 1ª Etapa - coleta de material fecal para a execução de exames parasitológicos, esclarecimento sobre os parasitos encontrados bem como encaminhamento ao Posto de Saúde dos parasitados para tratamento. Foram coletadas três amostras por indivíduo em dias alternados. 2ª Etapa - coleta de três amostras fecais de cada trabalhador para estudo coprológico seis meses após a 1ª Etapa, para verificar se, após medicação e palestras, continuavam parasitados. As técnicas parasitológicas utilizadas foram Ritchie (7) e Faust (8). As amostras foram analisadas no Centro de Controle de Zoonoses da Universidade Federal de Pelotas (CCZ-UFPel) com observação em microscópio óptico, com um aumento de 10x e 40x. Os resultados foram analisados pelo programa Epi info versão 6.04. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da UFPel, sob o registro nº 19902013.9.0000.5317. RESULTADOS Na 1ª Etapa do estudo 87,5% (7/8) dos trabalhadores apresentavam-se com alguma forma parasitária, dos quais 75% (6/8) destes parasitos eram patogênicos e 12,5% (1/8) comensais, sendo que em 12,5% (1/8) foi observado resultado negativo. Após palestra com esclarecimento sobre os parasitos encontrados, os prejuízos à saúde por eles provocados e as medidas de prevenção recomendadas, os catadores parasitados foram abordados separadamente e encaminhados para a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, previamente contactada, para receber tratamento. Os cooperados que procuraram atendimento foram tratados com uma dose única do medicamento Mebendazol (500 mg). Já na 2ª Etapa da pesquisa, observou-se que 75% (6/8) dos indivíduos ainda estavam parasitados e 25% (2/8) tiveram seu exame negativado; no entanto, somente 12,5% (1/8) dos parasitos diagnosticados tinham caráter patogênico e os restantes 62,5% (5/8) eram comensais (Tabela 1). Os helmintos encontrados nesta população foram Trichuris trichiura e Strongyloides stercoralis, enquanto que os protozoários diagnosticados foram Entamoeba coli, Giardia lamblia e Endolimax nana, sendo que o parasito mais frequente foi Trichuris trichiura (Tabela 1). Foram diagnosticadas também algumas associações de parasitos (Tabela 2). Na 1ª Etapa foram encontradas duas triplas associações de parasitos, sendo elas com as espécies Entamoeba coli, Giardia lamblia e Trichuris trichiura; e Endolimax nana, Entamoeba coli e Trichuris trichiura. Já na 2ª Etapa verificou-se apenas a presença de uma associação dupla com as espécies de protozoários comensais Endolimax nana e Entamoeba coli. DISCUSSÃO Identificou-se que somente cinco cooperados (62,5%) dirigiram-se à UBS para atendimento, todavia dois destes relataram falta de medicamento para o tratamento de parasitose intestinal. Mesmo alguns dos trabalhadores tendo procurado atendimento médico, foi possível detectar que a quantidade de parasitos encontrados ainda atingia mais da metade dos cooperados (Tabela 1). No entanto, dos parasitos diagnosticados na 2ª Etapa, apenas um era patogênico e as outras duas espécies eram comensais (9). Os resultados da 2ª Etapa podem ter sido influenciados pela intervenção terapêutica ou pela motivação pelas palestras conferidas. Estudo realizado por Nunes et al. (10) monstrou que 14 (63,6%), de um total de 22 trabalhadores, estavam infectados por enteroparasitas enquanto que, para 8 (36,4%) coletores, as amostras apresentaram resultado negativo. Estes resultados são semelhantes aos obtidos na 2ª Etapa desta pesquisa, como mostra a Tabela 1. Em con- 38

Tabela 1. Avaliação das amostras de fezes de oito cooperados pelas técnicas de Ritchie e Faust, frente a parasitos intestinais encontrados na 1ª e na 2ª Etapa, com um período de seis meses de intervalo Coop. 1ª Etapa Medicado Fármaco 2ª Etapa Eficiência do Helm. Prot. utilizado Helm. Prot. Tratamento PT Tt Ss Ec Gl En Tt Ec En 1 x Sim Mebendazol 100.0% 2 x Sim Mebendazol x 100.0% 3 x Sim Mebendazol x 100.0% 62.5% 4 x Não SMPS x - 5 x Não SMPS x - 6 x x x NBPS - x 7 x x x NBPS - x x - 37.5% 8 NBPS - - Hel/Prot 75.0% 37.5% 12.5% 62.5% Tot.(+) 87,5% 75% Coop = Cooperados; PT = Procurou Tratamento; Helm. = Helmintos; Prot. = Protozoários; SMPS = sem medicamento no posto de saúde; NBPS = não buscou Posto de Saúde; Tt = Trichuris trichiuria; Ec = Entamoeba coli; Gl = Giardia lamblia; Ss= Strongyloides stercoralis; En = Endolimax nana; paras. = parasitados; Hel/Prot = % de helmintos e protozoários encontrados; Tot. (+) = total de parasitados. Tabela 2. Frequência de parasitos encontrados de forma isolada ou associada (nas duas Etapas do estudo), de oito catadores da cooperativa de reciclagem Negativo Monoparasitismo (Uma espécie) Poliparasitismo 3 parasitos 2 parasitos Total 1ª Etapa 1 (12,5%) 5 (62,5%) 2 (25%) - 8 (100%) 2ª Etapa 2 (25%) 5 (62,5%) - 1 (12,5%) 8 (100%) trapartida, outro estudo (6) apresentou alta prevalência de infecção por parasitos intestinais, sendo 96,9% (339/350) e 100% (60/60), respectivamente. Esses altos índices podem estar associados a alguns fatores como, por exemplo, renda familiar, condições de higiene pessoal e domiciliar e qualidade de água para consumo, além das condições precárias de saneamento básico, refletindo um baixo conhecimento da profilaxia de protozoários e helmintos. Na 1ª Etapa da pesquisa foram observados uma maior prevalência de helmintos (75%), enquanto que na 2ª Etapa foram encontrados mais protozoários (62,5%) (Tabela 1). Na pesquisa mencionada acima realizada por Nunes et al. (10), dentre as 14 ocorrências de enteroparasitas diagnostificadas, 11 (78,6%) casos corresponderam a protozoários e 3 (21,4%) a helmintos. A infecção ocorrida por protozoários e helmintos ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados contendo cistos, oocistos e ovos de parasitos (11). A maior ocorrência de protozoários pode indicar mudança no perfil de parasitos intestinais nessa população e essa diferença pode estar relacionada à falta de orientação médica e pela automedicação para eliminar helmintoses, fazendo com que os 39

Hernandes JC (1) et al. Coorte coprológica em catadores de uma cooperativa de triagem de resíduos sólidos protozoários permaneçam na flora intestinal (12). Neste estudo, o parasito mais frequente foi o helminto Trichuris trichiura, e a transmissão deste ocorre através do solo, e por este motivo é conhecido como geohelminto (13). Dentre os parasitos patogênicos que foram diagnosticados (Trichuris trichiura, Giardia lamblia e Strongyloides stercoralis), houve uma diminuição ou até mesmo negativaram aos testes em relação à 2ª Etapa da pesquisa (Tabela 1), isto pode ser devido às instruções e palestras realizadas durante o estudo, reduzindo assim os diagnósticos de parasitoses. Com relação às associações de parasitos (Tabela 2), pode-se perceber que entre as duas Etapas, houve uma diminuição dos parasitos encontrados e as associações formadas por eles se tornaram não patogênicas para os indivíduos. Em concordância, na 2ª Etapa da pesquisa, os parasitos encontrados em associação foram Entamoeba coli e Endolimax nana, sendo ambos comensais. Isto indica que o presente trabalho, além de proporcionar os conhecimentos das parasitoses, contribuiu para um melhor entendimento em relação aos meios de contágio e prevenção dessas doenças e uma melhoria na qualidade de vida dos participantes. Nunes et al. (10) nos estudos em coletores de materiais recicláveis e em uma população controle, a única associação encontrada foi no grupo controle, o qual apresentou os parasitos Trichuris trichiura e Entamoeba histolytica, sendo uma associação entre um helminto e um protozoário, ambos patogênicos. Esse resultado é parecido com a 1ª Etapa deste trabalho, onde também foi encontrado o parasito patogênico Trichuris trichiura fazendo associação com outros protozoários. Quando o cooperado procurou atendimento médico na UBS, foi medicado com uma dose única de Mebendazol (500 mg). Estudo realizado por Moraes Neto et al. (13) o tratamento das parasitoses foi diferente do presente estudo, para indivíduos contendo apenas uma espécie de parasito foi administrado por via oral, sobre acompanhamento médico, 2 doses de Mebendazol 100mg por dia, por um período de 3 dias, sendo esse procedimento repedido após 10 dias. Onde a infecção ocorreu por protozoários, foram administradas 3 doses de Metronidazol 250 mg, por 7 dias. Indivíduos com infecções mistas foram previamente tratados com Mebendazol e posteriormente com Metronidazol. Já a recomendação da UBS para os trabalhadores da cooperativa que fizeram parte da pesquisa foi uma quantidade mínima de medicamento, no entanto, por se tratar de um anti-helmíntico, nos catadores que tomaram essa medicação, a eficiência do tratamento foi de 100% com relação aos helmintos presentes, restando apenas os protozoários comensais. O tratamento das parasitoses consiste, além da administração de antiparasitários, também de educação preventiva e de saneamento básico (14). Técnicas coprológicas de sedimentação e flutuação, como as utilizadas neste trabalho são bem conhecidas e solidificadas na área de diagnóstico parasitológico (15), e mesmo requisitando três amostras fecais de cada trabalhador é possível verificar que três trabalhadores, mesmo não procurando atendimento médico e não sendo medicados, não mais apresentaram o parasito patogênico Trichuris trichiura (Tabela 1). Isso pode ter ocorrido por algum processo de autocura, competição entre espécies e pelo método, apesar de bem utilizado nos diagnósticos, a sensibilidade das técnicas coprológicas são inferiores às técnicas moleculares. Como já mencionado, esse é um projeto piloto, e técnicas mais sensíveis, como Elisa, serão consideradas futuramente para um diagnóstico mais preciso, como forma complementar de análise. CONCLUSÃO Os trabalhadores da cooperativa de triagem de resíduos sólidos apresentaram uma alta prevalência de parasitos intestinais patogênicos na 1ª Etapa, inclusive com poliparasitismo. Após palestras sobre educação em saúde, esse percentual diminuiu com relação aos parasitos com carga patogênica. A pesquisa preliminar mostrou que há uma relação entre o trabalho do catador e a presença de parasitos intestinais. Porém, é importante destacar que a mesma, faz parte de uma investigação mais ampla envolvendo outras 4 cooperativas de triagem de resíduos sólidos. REFERÊNCIAS 1. Auller F, Nakashima ATA, Cuman RKN. Health Conditions of Recyclable Waste Pickers. J community health. 2014;39:17-22. 2. Lenis-Ballesteros V, López-Arango YL, Cuadros- Urrego, YM. Health and informal work conditions among recyclers in the rural área of Medellin, Colombia, 2008. Rev Saúde Pública. 2012;46(5). 3. Pineda-Pablos N, Loera-Burnes E. Bien recolectada pero mal tratada: El manejo municipal de La basura em Ciudade Obregón, Hermosillo y Nogales, Sonora. Estud. Soc. [online]. 2007;15(30):168-193. 4. Souza MTS, Paula MB, Souza-Pinto H. O papel das cooperativas de reciclagem nos canais reversos pós-consumo. RAE. 2012;52(2):246-262. 40

5. Cavalcante S, Franco MFA. Profissão perigo: percepção de risco à saúde entre os catadores do Lixão do Jangurussu. Rev Mal-Estar e Subjetividade. 2007;7(1):211-231. 6. Ferreira VS, Lima AGD, Pessoa CS, Paz FSS, Jesus J. Estudo comparativo das enteroparasitoses ocorrentes em duas áreas de Barreiras, Bahia. Natureza on line. 2013;11(2):90-95. 7. Hoffmann RP. Diagnóstico de Parasitismo Veterinário. Porto Alegre; Editora Sulina, 1987. 156p. 8. Faust EC, D antoni JSL, Odom V, Miller MJ, Peres C, Sawitz W, et al. A critical study of clinical laboratory technics for the diagnosis of protozoan cysts and helminth eggs in feces. Am J Trop Med Hyg. 1938;18(2):169-183. 9. Cimerman B, Cimerman S. Parasitologia Humana e Seus Fundamentos Gerais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2001. 402 p. 10. Nunes ALBP, Cunha AMO, Junior OM. Coletores de lixo e enteroparasitoses: o papel das representações sociais em suas atitudes preventivas. Rev Ciência & Educação. 2006;12(1):25-38. 11. Simões M, Pisani B, Marques EGL, Prandi MAG, Martini MH, Chiarini PFT, et al. Hygienic-sanitary conditions of vegetables and irrigation water form kitchen gardens in the municipality of Campinas, SP. Braz J Microbiol. 2001;32:331-333. 12. Takizawa MGMH, Falavigna DLM, Gomes ML. Enteroparasitosis and their ethnographic relationship to food handlers in a tourist and economic Center in Paraná, southern Brazil. Rev Ins Med Trop S Paulo. 2009;51(1):31-35. 13. Moraes Neto AHA, Pereira APMF, Alencar MFL, Souza Júnior PRB, Dias RC, Fonseca JG, et al. Prevalence of intestinal parasites versus knowledge, attitudes, and practices of inhabitants of low-income communities of Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro State, Brazil. Parasitol Res. 2010;107:295-307. 14. Andrade EC, Leite ICG, Rodrigues VO, Cesca MG. Intestinal parasitic diseases: a review of social, epidemiologic, clinical and therapeutic aspects. Rev APS. 2010;13(2):231-240. 15. Navone GT, Gamboa MI, Kozubsky LE, Costas ME, Cardozo MS, Sisliauskas MN, González M. Estudio comparativo de recuperación de formas parasitarias por tres diferentes métodos de enriquecimiento coproparasitológico. Parasitol Latinoam. 2005;60:178-181. Correspondência Juliana Carriconde Hernandes Rua General Argolo nº320/301. Bairro centro. CEP: 96015-160. Pelotas-RS. Brasil Telefone: +55 53 84422658 Email: julianacarriconde@gmail.com 41