LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, ENTRAVES POLÍTCOS, NORMAS DE FINANÇAS E MUDANÇA INSTITUCIONAL Carolina Urbano Lacerda 1 Resumo 2 A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) gerou mudança institucional? A princípio, a resposta é negativa. Em termos teóricos, o Brasil enfrentava uma crise da administração pública devido à baixa performance e ao alto custo. A explicação para a falha acontece pela contraposição de metas e pela falta de cooperação dos atores sociais. O principal objetivo desse texto é responder empiricamente à referida pergunta. A análise da hipótese é de 1998 a 2002, comparando os governos de Goiás e Minas Gerais, mostrando, através da bibliografia e de documentos, como esses dois governos receberam a LRF e como agiram depois de sua implantação. Palavras-chave: Lei de Responsabilidade Fiscal, Mudança institucional, Goiás, Minas Gerais A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) gerou mudança institucional? Houve incentivo para os atores políticos fazer a mudança? O projeto propõe um estudo sobre a LRF, com o objetivo de analisar se houve, ou não mudança institucional com sua implantação nos estados de Goiás e Minas Gerais. 1 Graduanda em Ciências Sociais na Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: krollzinha_@hotmail.com 2 Trabalho desenvolvido sob orientação do Prof. Ms. José Alexandre da Silva Júnior 1
A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições que tange a renúncia da receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar. (Lei complementar nº101, de 04 de maio de 2000) Grande maioria dos Estados adotou políticas fiscais rigorosas. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) além de fixar limites para as despesas com o pessoal, também proíbe o governo Federal de assumir as novas dívidas adquiridas pelos Estados. A Lei instituiu no Brasil modificações substanciais nas regras de planejamento e controle de contas públicas, visando à disciplina fiscal. Ela possui grande alcance, dispondo e regulamentando aspectos do controle de arrecadações e gastos governamentais. A LRF é valida para todos os entes da federação e seus respectivos poderes executivo, legislativo e judiciário, além de todos os órgãos da administração indireta e empresa estatais dependentes de recursos públicos. Ela impõe normas que melhora a eficácia dos instrumentos orçamentários, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de Orçamento Anual (LOA), mecanismos de planejamento da administração pública, institui mecanismos para o controle do déficit público e da dívida consolidada do setor público, aprimora a transparência na gestão de recursos, facilitando o acesso pela sociedade à informações a respeito do desempenho fiscal dos governos. Alguns contratos foram firmados entre o Governo federal e os Estados, fixando limites máximos de comprometimento da Receita Líquida Real (RLR) com os encargos 2
da dívida e proibiu-se a emissão de dívida nova enquanto a dívida financeira do Estado fosse maior do que sua RLR anual. Analisando do ponto de vista da mudança institucional ocorrida no país, o Brasil passou por uma administração patrimonialista que definiu as monarquias absolutas, na qual o patrimônio público e privado era confundido. Em seguida instalou a administração público-burocrática, que por sua vez foi caracterizada como lenta, cara, auto-referida e pouco orientada para o atendimento das demandas dos cidadãos. Viu-se então a necessidade de uma administração pública gerencial, voltada para a satisfação do usuário ao final dos serviços de caráter público e a transparência no acesso as informações. As reformas administrativas são políticas públicas e tem como meta a melhor performance de um dado sistema burocrático. Quando há um declínio da performance, o governo cria programas para sua elevação, ou seja, propõe reformas administrativas, estas por sua vez tendem a atingir um equilíbrio fiscal e a mudança institucional. As reformas por mais bem planejadas que elas sejam, tendem a falhar e caracterizam por serem muito fáceis de iniciar, porém muito difíceis de manter. O problema da falha deriva do fato de que as reformas dificilmente atingem seus objetivos propostos, e o problema de cooperação com os objetivos propostos também inibem a elevação da performance. As reformas administrativas são políticas de baixo desempenho e existem razões diversas para tal fenômeno (REZENDE, 2002). De maneira geral isso não significa que as reformas administrativas são sinônimo de falha, as falhas dependem da cooperação ou não de seus atores, da democracia, do desempenho e da relação direta entre descentralização e desequilíbrio fiscal. Reformas são momentos de desinstitucionalização, são tentativas de modificar a dinâmica de funcionamento das organizações, enfim, mudanças nas "regras do jogo", logo, geram incertezas e perplexidades nos atores. Elas devem ser processos institucionalizados, de maneira que as incertezas e dúvidas sejam dissipadas, 3
permitindo que os atores tenham uma clara percepção dos objetivos em jogo, de modo a gerar cooperação. As reformas precisam de apoio político, de setores populares e ao mesmo tempo de gestão competente. As reformas levam tempo (...) é fundamental aceitar o que é possível atingir com as reformas em um dado contexto, mesmo se estes resultados estiverem aquém de suas intenções originais. (BRESSER- PEREIRA, p., 1996) Características político institucionais dos governos, como estrutura do sistema partidário, regras eleitorais, formas de governo, ideologia dos governantes, existência ou não de maiorias sólidas e estruturas das regras que regulamentam a relação entre o poder Executivo e Legislativo são apontadas como as principais causas das dificuldades enfrentadas pelos entes federados em realizar políticas fiscais. (STEIN) Referências BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administração Pública Burocrática á gerencial. Revista do Serviço Público, jan./abr., ano 47, v.120, n.1, Brasília:ENAP, 1996. BRASIL. Lei Complementar Nº 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília. Disponível em <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/lei_comp_10 1_00.pdf> REZENDE, Flavio da C. O dilema do controle e a falha seqüencial nas reformas gerenciais. Revista do Serviço Público, jul./set., ano 53, n.3, Brasília:ENAP, 2002. 4
STEIN, E. Determinantes políticos do déficit fiscal nos estados Brasileiros. Revista Sociologia Política, v.18, n,35, Curitiba, 2010. 5