Palavras-chave: Lei de Responsabilidade Fiscal, Mudança institucional, Goiás, Minas Gerais

Documentos relacionados
Economia do Setor Público 3º BI Orçamento Público e Responsabilidade Fiscal. Aspectos relevantes da Lei de Responsabilidade Fiscal para um economista

AULA 1 PROF FLÁVIO ASSIS

ART. 1º. A LRF não prevê os crimes de responsabilidade, mas mostra quais as situações que, quando contrariadas, geram crimes de responsabilidade.

CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL II

O problema começa no texto constitucional, pois de acordo com seu art. 31, 4º:

Quando devem ser elaboradas a estimativa do impacto orçamentáriofinanceiro e a declaração do ordenador da despesa?

MINUTA DA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº. 021/2012

RESTOS A PAGAR. Autor: Sidnei Di Bacco/Advogado

Laíse Rezende de Andrade

AS DISPOSIÇÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE DO DINHEIRO PÚBLICO

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

STJ L I RESPONSABILI ADE ... I~ ENFOQUE JURíDICO E CONTÁBIL PARA OS MUNICíPIOS MOACIR MARQUES DA SILVA

Sumário. LRF_Book.indb 15 19/03/ :29:01

Direito Financeiro Juiz Federal - 5ª fase

Sumário. Serviço Público e Administração Pública

Í S Câmara jutmútpal be loutetrão fíreto

Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n o 101/2000) Marcus Paulo da Silva Cardoso

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

-Transparência da Gestão Fiscal

DIREITO FINANCEIRO. A Lei de Responsabilidade Fiscal. Origem e o controle. Prof. Thamiris Felizardo

Administração Financeira e Orçamentária Prof. Evandro França

CONTABILIDADE PÚBLICA

CONTABILIDADE PÚBLICA

ABREVIATURAS INTRODUÇÃO... 17

DIREITO FINANCEIRO ORÇAMENTO PÚBLICO (continuação)

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

SEMINÁRIO FINANÇAS PÚBLICAS

Sumário. Capítulo 1 Orçamento Público 1

Proposta TCEMG 1. INTRODUÇÃO Composição da Prestação de Contas do Governador Alterações na Estrutura Administrativa

Disciplina de Orçamento Público do Curso de Tecnologia em Gestão Pública do Instituto Federal de Brasília IFB. 2º Semestre de Prof. Dr.

PROFESSOR PAULO LACERDA

Contabilidade Pública. Aula 2. Apresentação. Aula 2. Orçamento Público. O orçamento nacional deve ser equilibrado

CAPÍTULO VI VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS EM MATÉRIA ORÇAMENTÁRIA Questões de concursos anteriores Gabarito

CAPÍTULO IV CRÉDITOS ADICIONAIS 1. Introdução 2. Créditos suplementares 3. Créditos especiais

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA


AUDIÊNCIA PÚBLICA PREFEITURA MUNICIPAL DE SIMÕES FILHO. Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2018 LDO 2018 ESTADO DA BAHIA

Tópico 5: RREO e RGF.

O sistema orçamentário como parte do sistema de planejamento

SUMÁRIO. Capítulo 1 Orçamento Público 1

Organização da Aula 2. Gestão do Orçamento Público. Aula 2. Contextualização

Análise Projeto de Lei ao Orçamento (PLOA) ano 2012

CONTABILIDADE PÚBLICA

4 - A LOA compreende, entre outros, o orçamento de investimento de todas as empresas de que a União participe.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

Curso para Jornalistas: Questões Fiscais Vilma da Conceição Pinto* 17 de Março de 2017

Câmara Municipal de Eunápolis publica:

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR N.º, DE (Do Sr. Fernando Bezerra Coelho) de Maio de 2000.

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DIREITO FINANCEIRO. O Orçamento: Aspectos Gerais. Elaboração do orçamento. Prof. Thamiris Felizardo

CONTABILIDADE PÚBLICA

O papel do controle interno na fiscalização do gasto público em Saúde

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

MANIFESTAÇÃO CONCLUSIVA DO CONTROLE INTERNO

Orçamento-Programa. Leis Orçamentárias. Lei de Diretriz Orçamentária LDO. Plano Plurianual PPA. Lei Orçamentária Anual LOA

EMENTA / PROGRAMA DE DISCIPLINA. ANO / SEMESTRE LETIVO Administração Orçamento e Administração das Finanças Públicas ADM h.

DIREITO FINANCEIRO ORÇAMENTO PÚBLICO (continuação) II. LEIS ORÇAMENTÁRIAS (continuação)

Sumário. Capítulo 1. Capítulo 2. Aspectos introdutórios, 21

AUDIÊNCIA PÚBLICA GESTÃO FISCAL. 2º Quadrimestre

DIREITO FINANCEIRO. A Receita Pública. A Lei Complementar nº 101/00 e a receita pública. Renúncia de receita Prof. Thamiris Felizardo

ESTADO DA PARAÍBA PREFEITURA MUNICIPAL DE PIANCÓ Secretaria-Chefe de Gabinete

ORÇAMENTO PÚBLICO E A RESPONSABILIDADE DO PODER LEGISLATIVO

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

Tópico 1 Câmara dos Deputados

L D O e L O A. Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual

MODALIDADES DE GESTÃO NO SUS MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Carlos Neder EM DEFESA DO SUS SAÚDE PÚBLICA DE QUALIDADE CAMPANHA DA FRATERNIDADE 15/02/12

Economia do Setor Público. Profa Rachel

Sumário Parte I ComPreensão dos Fundamentos do estado, das Formas e das Funções do Governo, 9 1 estado, Governo e sociedade, 11

Sumário EDITAL SISTEMATIZADO... 23

PREFEITURA MUNICIPAL DE PESQUEIRA CCI - Controladoria de Controle Interno

O curso regular de AFO 2018 está disponível em: comparativo do edital

PLANO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

PREFEITURA MUNICIPAL DE PESQUEIRA CCI - Controladoria de Controle Interno

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

Finanças Públicas Brasileiras Experiências Recentes entre 1970/

ECONOMIA. Setor Público. Setor Público. Parte 19. Prof. Alex Mendes

LEI 1440/2008 Dispõe sobre as DIRETRIZES para elaboração do ORÇAMENTO do Município de Mangueirinha, para o EXERCÍCIO DE 2009 e dá outras providências.

Mesa 4. Transição de Governo : Desafios Jurídicos e Administrativos e Finanças Públicas

Prefeitura Municipal de Correntina publica:

Ministério da Economia Secretaria Especial de Fazenda. Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias PLDO

CONTABILIDADE PÚBLICA

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

PROJETO DE LEI N o 1.792, DE 2003

Federalismo Fiscal. Guilherme Mercês

ORÇAMENTO PÚLICO - HISTÓRICO Até 1926: atribuição do Poder Legislativo, Ministério da Fazenda organizava a proposta orçamentária.

Controle Informatizado de Dados do E.S. - CidadES Rodrigo Lubiana Zanotti

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL LEI COMPLEMENTAR 101/2000. A LRF não trata dos mesmos assuntos da lei

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

SUMÁRIO CAPÍTULO I DOUTRINA BÁSICA DE DIREITO FINANCEIRO

AUDIÊNCIA PÚBLICA AVALIAÇÃO DAS METAS FISCAIS PRIMEIRO QUADRIMESTRE DE 2016

Divisão da Aula. 1 Visão Constitucional 2 Visão da LRF. 1 Visão Constitucional. Lei Orçamentária Anual - LOA

AUDIÊNCIA PÚBLICA AVALIAÇÃO DAS METAS FISCAIS SEGUNDO QUADRIMESTRE DE 2016

Cargo de Consultor Legislativo Finanças Públicas

11. Demonstrativo de Capacidade e Sustentabilidade Financeira

2ª ENCONTRO DE GESTORES PUBLICOS 21/3/2016. Operações de Crédito

DIREITO FINANCEIRO. O Orçamento: Aspectos Gerais. As leis orçamentárias PPA, LDO e LOA Parte 2. Prof. Thamiris Felizardo

operação de crédito estará proibida no último ano de mandato do Presidente, Governador ou Prefeito Municipal.)

Transcrição:

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, ENTRAVES POLÍTCOS, NORMAS DE FINANÇAS E MUDANÇA INSTITUCIONAL Carolina Urbano Lacerda 1 Resumo 2 A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) gerou mudança institucional? A princípio, a resposta é negativa. Em termos teóricos, o Brasil enfrentava uma crise da administração pública devido à baixa performance e ao alto custo. A explicação para a falha acontece pela contraposição de metas e pela falta de cooperação dos atores sociais. O principal objetivo desse texto é responder empiricamente à referida pergunta. A análise da hipótese é de 1998 a 2002, comparando os governos de Goiás e Minas Gerais, mostrando, através da bibliografia e de documentos, como esses dois governos receberam a LRF e como agiram depois de sua implantação. Palavras-chave: Lei de Responsabilidade Fiscal, Mudança institucional, Goiás, Minas Gerais A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) gerou mudança institucional? Houve incentivo para os atores políticos fazer a mudança? O projeto propõe um estudo sobre a LRF, com o objetivo de analisar se houve, ou não mudança institucional com sua implantação nos estados de Goiás e Minas Gerais. 1 Graduanda em Ciências Sociais na Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: krollzinha_@hotmail.com 2 Trabalho desenvolvido sob orientação do Prof. Ms. José Alexandre da Silva Júnior 1

A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições que tange a renúncia da receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar. (Lei complementar nº101, de 04 de maio de 2000) Grande maioria dos Estados adotou políticas fiscais rigorosas. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) além de fixar limites para as despesas com o pessoal, também proíbe o governo Federal de assumir as novas dívidas adquiridas pelos Estados. A Lei instituiu no Brasil modificações substanciais nas regras de planejamento e controle de contas públicas, visando à disciplina fiscal. Ela possui grande alcance, dispondo e regulamentando aspectos do controle de arrecadações e gastos governamentais. A LRF é valida para todos os entes da federação e seus respectivos poderes executivo, legislativo e judiciário, além de todos os órgãos da administração indireta e empresa estatais dependentes de recursos públicos. Ela impõe normas que melhora a eficácia dos instrumentos orçamentários, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei de Orçamento Anual (LOA), mecanismos de planejamento da administração pública, institui mecanismos para o controle do déficit público e da dívida consolidada do setor público, aprimora a transparência na gestão de recursos, facilitando o acesso pela sociedade à informações a respeito do desempenho fiscal dos governos. Alguns contratos foram firmados entre o Governo federal e os Estados, fixando limites máximos de comprometimento da Receita Líquida Real (RLR) com os encargos 2

da dívida e proibiu-se a emissão de dívida nova enquanto a dívida financeira do Estado fosse maior do que sua RLR anual. Analisando do ponto de vista da mudança institucional ocorrida no país, o Brasil passou por uma administração patrimonialista que definiu as monarquias absolutas, na qual o patrimônio público e privado era confundido. Em seguida instalou a administração público-burocrática, que por sua vez foi caracterizada como lenta, cara, auto-referida e pouco orientada para o atendimento das demandas dos cidadãos. Viu-se então a necessidade de uma administração pública gerencial, voltada para a satisfação do usuário ao final dos serviços de caráter público e a transparência no acesso as informações. As reformas administrativas são políticas públicas e tem como meta a melhor performance de um dado sistema burocrático. Quando há um declínio da performance, o governo cria programas para sua elevação, ou seja, propõe reformas administrativas, estas por sua vez tendem a atingir um equilíbrio fiscal e a mudança institucional. As reformas por mais bem planejadas que elas sejam, tendem a falhar e caracterizam por serem muito fáceis de iniciar, porém muito difíceis de manter. O problema da falha deriva do fato de que as reformas dificilmente atingem seus objetivos propostos, e o problema de cooperação com os objetivos propostos também inibem a elevação da performance. As reformas administrativas são políticas de baixo desempenho e existem razões diversas para tal fenômeno (REZENDE, 2002). De maneira geral isso não significa que as reformas administrativas são sinônimo de falha, as falhas dependem da cooperação ou não de seus atores, da democracia, do desempenho e da relação direta entre descentralização e desequilíbrio fiscal. Reformas são momentos de desinstitucionalização, são tentativas de modificar a dinâmica de funcionamento das organizações, enfim, mudanças nas "regras do jogo", logo, geram incertezas e perplexidades nos atores. Elas devem ser processos institucionalizados, de maneira que as incertezas e dúvidas sejam dissipadas, 3

permitindo que os atores tenham uma clara percepção dos objetivos em jogo, de modo a gerar cooperação. As reformas precisam de apoio político, de setores populares e ao mesmo tempo de gestão competente. As reformas levam tempo (...) é fundamental aceitar o que é possível atingir com as reformas em um dado contexto, mesmo se estes resultados estiverem aquém de suas intenções originais. (BRESSER- PEREIRA, p., 1996) Características político institucionais dos governos, como estrutura do sistema partidário, regras eleitorais, formas de governo, ideologia dos governantes, existência ou não de maiorias sólidas e estruturas das regras que regulamentam a relação entre o poder Executivo e Legislativo são apontadas como as principais causas das dificuldades enfrentadas pelos entes federados em realizar políticas fiscais. (STEIN) Referências BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administração Pública Burocrática á gerencial. Revista do Serviço Público, jan./abr., ano 47, v.120, n.1, Brasília:ENAP, 1996. BRASIL. Lei Complementar Nº 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Brasília. Disponível em <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/lei_comp_10 1_00.pdf> REZENDE, Flavio da C. O dilema do controle e a falha seqüencial nas reformas gerenciais. Revista do Serviço Público, jul./set., ano 53, n.3, Brasília:ENAP, 2002. 4

STEIN, E. Determinantes políticos do déficit fiscal nos estados Brasileiros. Revista Sociologia Política, v.18, n,35, Curitiba, 2010. 5